Sei todo o roteiro de cor e salteado. Você entra por aquela porta num rompante, mas nada diz. Aninha-se em meus braços enquanto chora calada, vez ou outra soluçando uma tristeza. Vejo as lágrimas escorregarem de suas bochechas e se agarrarem ao queixo como gárgulas. Os olhos tremeluzem de dor e não deixo de pensar em como você é uma excelente atriz. 

Você murmura meu nome sob a maquiagem borrada, a voz soando trêmula e espiralando um sutil rastro da erva que te consome. Ergo teu queixo e miro os orbes caleidoscópicos, infinitos como universos e vazios como minhas preces. 

Conheço todas as suas falas. Você logo diz que precisa ir, que não merece alguém como eu, mas sei que, para ti, sou apenas um cabide em que se pendura quando volta da rua. Suas palavras são tão ocas quanto teu coração que se esfacela em monocromia; mesmo assim, bebo delas em talagadas sofridas apenas para saciar minha sede de você.

Posso ouvir o diretor anunciar um corta! sem mais nem menos, encerrando minha medíocre participação. Você seca as bochechas úmidas, retoca o batom vermelho e parte, com a bolsa e meus sentimentos à tiracolo, pronta para contracenar com o elenco principal. 

E aqui estou, sem nome e sem identidade, sempre à espreita em seus tantos filmes de romance. Não tenho sequer falas — nem me é dada a chance de confessar um simples "eu te amo". Estou farta de ser sempre a coadjuvante desse enredo fracassado — não acha, pois, que eu agregaria muito mais valor à história se me escalassem como sua parceira romântica, querida?