Cem Anos Depois escrita por Adson Kamps


Capítulo 4
IV – O Caçador de Corações


Notas iniciais do capítulo

NÃO ESQUEÇA A ABERTURA!
https://youtu.be/iGJt6tHVJuE



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A Floresta dos Reinos era de longe o lugar mais horripilante que Cinderela já havia estado – e olha que ela dormira muito tempo no sótão sombrio da casa de sua Madrasta. Havia uma aura fantasmagórica no ar que ao mesmo tempo que aterrorizava também incitava a curiosidade da princesa: o que havia de especial naquele bosque que não a permitia envelhecer?

Enquanto se aventurava pelo interior da floresta, a garota não pode deixar sentir que estava sendo perseguida. Sempre olhava para trás, receosa, e procurava andar por entre as árvores, evitando as clareiras com medo de ser vista e de tornar mais fácil uma possível emboscada.

Talvez estivesse ficando paranoica com tudo que vinha acontecendo nas últimas horas: o desaparecimento de Henry e a guerra declarada contra Stefan deviam ter mexido com algo no seu subconsciente que acabara aumentando seus medos. Às vezes pegava-se pensando que não precisaria passar por tudo aquilo se tivesse ficado em casa durante o baile, mas logo descartava a hipótese disso acontecer. Seu noivo a amava e faria de tudo por ela, assim como ela estava fazendo de tudo para salva-lo.

Só precisava saber onde ficava a maldita casa dos anões.

Pelo pouco que a garota havia aprendido sobre os Sete Reinos, os sete anões viveram nas margens do reino de Auradon, mais especificamente no pequeno reinado de Juweland que fora dominado durante o governo de Adam e Belle e posteriormente anexado ao território pela Rainha Má, o que não a ajudava nem um pouco.

Seu conhecimento da geografia era tão precária que nem ao menos sabia se As Ilhas do Sul recebiam esse nome por ficar ao sul de Arendelle ou de toda a península oeste dos Reinos Encantados!

Cinderela caminhava em meio à mata distraída, sem se dar conta de que as árvores ao seu redor iam se curvando e alongando conforme ia saindo do bioma típico de Minuitlands e adentrando os de Auradon. Quando se deu conta do quanto andara e de quão sedenta estava, pegou-se parada de frente para uma gruta ao pé de um morro: uma mina de diamantes.

Não era necessário ser nenhuma gênia para saber onde estava e o fato de ela ter chego lá em tempo recorde também não à incomodou quando percebeu um pequeno fio de água cristalina escorrendo pelas pedras. Se aproximou e bebeu um pouco da água, receosa. Estava insegura sobre como usar a varinha e sabia que ela tinha poder o suficiente para fazer brotar a água mais límpida do mundo com um simples menear de suas mãos, só não sabia como fazer isso.

— Bem, espero que quando eu estiver em apuros essa coisa funcione por conta própria – suspirou exasperada e seguiu em frente.

Passando pela entrada da mina, notou curiosa as sete picaretas, cada uma com um nome dos sete anões encravadas nos seus cabos, simplesmente jogadas no chão, como se tivessem sido largadas às pressas. Aquilo realmente deixou um ponto de interrogação encravado na mente da garota, pois o que se sabia era que ninguém mais trabalhou ali desde que Branca de Neve fora morar com seu príncipe nas províncias de Schneeblanc – outro reino que viera à ser dominado pela Rainha Má.

Resolveu ignorar aquilo, pois era provavelmente uma daquelas perguntas que nunca saberia a resposta e mesmo que soubesse provavelmente não mudaria em nada a sua vida. Continuou seu caminho, ora pulando alguns troncos caídos, ora saltando sobre pequenos desfiladeiros que apareciam vez ou outra na sua frente até que chegou ao destino.

Era uma construção um pouco rústica de madeira sobre pedra com um telhado que aparentava ser de palha – lembrava uma casa de bonecas devido ao tamanho. Ella poderia dizer que o construtor – ou no caso, os construtores — eram homens fortes e sem nenhum senso de decoração de ambiente.

Esperou em um os lados da clareira, logo em frente à casa e olhou em volta. Era muito diferente de tudo o que ouvira falar: a Floresta dos Reinos sempre fora inspiração para muitos poetas de toda região dos Sete Reinos por conta de sua beleza e magia encantadora – alguns até a chamavam de Floresta Encantada—, mas agora naquela noite sem lua ela mais parecia um bosque onde se passam contos de terror do que histórias de fadas.

Cinderela imaginou onde estariam os animais companheiros de faxina da Branca, pois até agora os únicos seres vivos que encontrara foram uma ou duas corujas, no máximo. Nem grilos, nem sapos e tão pouco cigarras. Nada cantava no bosque aquela noite a não ser o farfalhar do vento nas árvores.

Sem esperar mais, caminhou em direção da casa e mexeu no trinque. Por algum motivo está estava apenas encostada – talvez os anões não tivessem nada de muito valioso guardado dentro da sua residência para tranca-la. A garota só entrou na residência e desembestou-se à espirrar.

— Francamente... – Murmurou após muito fungar. Elas esperava sim, uma casa com um pouco de poeira, mas aquilo era demais até para si. Sacou a varinha de dentro de uma das mangas do seu manto vermelho e, lembrando-se dos seus tempos de Gata Borralheira, entoou o verso: – Bibidi-Bóbidi-Boo!

Uma forte rajada de vento partiu da ponta da varinha e espiralou pela casa toda, abrindo as janelas e quaisquer outra passagem para levar a poeira para longe. Satisfeita com o resultado de seu “primeiro feitiço”, Cinderela começou a vasculhar pela casa inteira a procura do bendito coração. Virou e revirou todos os cômodos até que estes estivessem mais bagunçados que antes.

Cansada e impaciente, sentou-se sobre um banquinho e começou a resmungar:

— Tomara que esse coração não venha com uma coberta de pelos viva em torno de si, ou então estarei perdida. – Assoprou uma mecha de cabelo para tira-la da frente dos olhos. – Pense Ella, se eu fosse um anão, onde esconderia minhas coisas?

Olhando para frente, em direção à porta, a princesa reparou em algo que passara despercebido durante sua procura: uma esfera vermelha caída no chão, lembrando levemente uma fruta: uma maçã. Catou-a e quando trouxe mais para perto de si viu que uma parte dela faltava, uma parte que havia sido mordida. Com um susto deixou-a cair, pois agora sabia do que tratava-se aquilo. Agachou-se e a pegou novamente, agora com cuidado para não ser envenenada – tolice dela ter esse medo? Talvez – e guardou-a dentro de uma cesta de palha em cima da mesa a sua frente.

Ótimo, já tinha uma arma caso precisasse se livrar de alguém, mas até agora nada do Coração do Lobo. Agarrou a cesta mantendo-a bem ao lado de seu corpo e caminhou até a lareira, onde curiosamente algumas faíscas ainda refletiam no caldeirão. Não, aquele brilho vinha de dentro do caldeirão.

Parada em frente à lareira e prestes a abrir o recipiente, lembrou-se de uma história onde três javalis conseguiram matar um lobo jogando ele em águas escaldantes dentro de um caldeirão; será que seria aquele caldeirão a sua frente? Abriu-o então e quão grande foi a sua surpresa ao ver uma caixa de madeira no fundo. Uma tranca em forma de espada fincada em um coração fechava o objeto.

Retirando com cuidado de lá de dentro, abriu-a e constatou que havia completado o seu objetivo; lá dentro estava o Coração do Lobo. Virou-se de costas sorrindo e foi caminhando em direção à porta, pronta para fugir daquele local que estava lhe causando arrepios quando esbarrou em algo. Em algo não, em alguém. Meio desnorteada olhou para cima, e naquele momento soube que a sensação de perseguição não era falsa, era muito real.

 

— Ora, ora. O que temos aqui? Parece que alguém fez o meu trabalho – disse a enorme sombra, abaixando-se e pegando o coração que havia saltado da caixa durante a queda – Como eu deveria lhe agradecer? Se é que eu deveria.

— De isso para mim ­– disse a garota levantando-se – Ou vai se arrepender amargamente.

Viu os olhos da sombra lhe encarando, mas logo foram fechados, pois ela caíra na gargalhada.

— Hahaha! E o que vai fazer? Jogar a capa em mim? Hahaha!

Com medo a garota viu aquela coisa retirar da lateral de seu corpo uma adaga de prata que brilhava na leve luz da varinha. A VARINHA pensou recobrando um pouco da sua inteligência.

Ergueu o instrumento magico e entoou:

— Mostre-se agora Caçador! Bibidi-Bóbidi-Boo! – e todas as velas da casa se acenderam, revelando o rosto dos dois inimigos.

— Caçador? – perguntou e voltou a cair na gargalhada – Pode me chamar de Gaston mon chéri. E você seria ahn... Chapeuzinho Vermelho? Hahaha! – voltou a rir.

— É Ella para você! – disse colocando a varinha abaixo do queixo do homem e pressionando a ponta da mesma – E se eu fosse vossa senhoria, mon chéri, me deixaria ir em paz e ainda levar este coração! Eu tenho uma varinha e não tenho medo e usa-la!

Demonstrando sua irritação, Gaston deu um tapa na mão da garota mandando o objeto mágico para longe do alcance dela. E enquanto a mesma permanecia distraída agarrou-a pelo pescoço, prensando suas costas na parede logo em seguida.

— Não tenho tempo para seus joguinhos mágicos, menina! O coração é meu e você não pode fazer nada para me impedir de leva-lo! – disse apertando ainda mais a sua mão em volta do pescoço de Cinderela.

— Por favor, me dê ele – disse a garota perdendo sua audácia e coragem, quase desmanchando-se em lágrimas na frente do homem – Eu preciso dele para achar o príncipe Henry para... Cinderela – era tão estranho falar de si mesma em terceira pessoa.

— E você acha que o meu motivo é menos nobre que o seu?! – gritou o Caçador. – Eu também quero encontrar o meu amor! Ela está presa com uma Fera e só o Coração do Lobo pode me guiar até ela!

Quase desmaiando pela falta de ar, Ella pode ver atrás do homem uma figura feminina se aproximando com a adaga que Gaston havia deixado cair. Só precisava enrolar mais um pouco caso aquela moça fosse ajuda-la.

— Sabe... Gaston, certo? – Tentava fazer com ele os mesmos joguinhos que via suas irmãs postiças fazerem com os outros. – Acho que você não devia ir atrás do seu amor – o homem franziu o cenho curioso – Porque qualquer Fera no mundo é melhor que você!

— Ah! – ele começou a esmagar o pescoço da garota, mas logo sua mão perdeu a força e uma expressão de surpresa tomou o seu rosto. Abaixo do seu coração a ponta de uma adaga surgiu, e logo ele foi chutado para longe de Cinderela.

Caída no chão e recuperando o ar, a garota da capa vermelha viu sua salvadora estendendo-lhe a sua mão, que logo foi aceita para erguer-se do chão

— Você está bem?

— Sim, obrigada – disse ofegante, mas ainda curiosa sobre quem seria aquela garota – Quem é você?

— Meu nome é Aurora, sou do reino de Morndämm – Cinderela arregalou os olhos. Aquilo era impossível, não podiam ter se passado cem anos naquele feitiço da Fada Madrinha, não haviam se passado nem cem horas! – E você? Quem é?

Temendo uma reação negativa de Aurora por ter sido o reino do seu príncipe a atacar Morndämm, Ella resolveu mentir dizendo sua segunda identidade – Eu sou Ella, a Chapeuzinho Vermelho.

Sem que a garota de vermelho tivesse a chance de revidar, Aurora partiu com tudo para cima de Cinderela brandindo uma espada e colocando-a contra o pescoço dela ­– Chapeuzinho Vermelho?! A única que eu conheço é morena e ainda era criança por morar no meio da Floresta dos Reinos – passou a apertar ainda mais a lâmina contra a traqueia da outra, irritada – Diga-me quem você realmente é, agora!

Nervosa e quase perdendo o folego novamente com a pressão da princesa a sua frente, Ella olhou para o lado e só teve tempo de ter um vislumbre de um Gaston quase morto agarrando o Coração do Lobo – Se eu não acharei Belle, você não achara seu príncipe!

— Não! – Gritaram as duas em uníssono, mas o homem já havia esmagado o objeto e caíra morto, com um sorriso vitorioso nos lábios.

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