Cem Anos Depois escrita por Adson Kamps


Capítulo 1
I – A Queda do Rei


Notas iniciais do capítulo

Caso tenha caído aqui de paraquedas NÃO PULE A ABERTURA DO CAPÍTULO:
https://youtu.be/7qMfGYCjCPk
Boa leitura :3



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Stefan nunca vira tempos tão sombrios sobre seu reino, nem mesmo quando era príncipe Morndämm e este estava em guerra contra Minuitlands. Sua filha Aurora, ainda quando bebê, fora amaldiçoada por uma fada maligna para que caísse num sono profundo que a levaria direto à morte.

Maldita seja Malévola por amaldiçoar sua pequena criança e as Três Boas Fadas, por nem ao menos terem conseguido segurar sua filha em casa até que o feitiço passasse. Seu pai bem disse que ele nunca deveria confiar em seres como os Moors, pois eles tinham algo chamado magia, e esta além de sempre vir com um preço, não tinha nenhuma linha que a separasse em má ou boa: não, ela era completamente maligna.

Já se passaram cinquenta anos desde que Aurora picara o dedo no fuso da roca da Fada Negra, e Stevan, com seus oitenta e quatro anos, vira seu reino e tudo ao seu redor envelhecer enquanto a garota permanecia com aparência de dezesseis, deitada naquele esquife de ouro e prata. Era incrível como a praga de Malévola afetara até mesmo as rosas nas mãos de Aurora, que mesmo após tantos anos permaneciam vermelhas e vivas como se tivessem sido colhidas a menos de um dia.

Era o seu fim, e ele sabia. Afinal, ninguém em sua época chegava até os oitenta anos, quem dirá ultrapassa-los – até mesmo para um rei isso era considerado muita coisa. Sua esposa, por sua vez, não tivera um destino tão parecido: a Rainha Leah perecera em um dos novos ataques de Minuitlands, que vira a fraqueza do reino como uma oportunidade para invasão. Flora, Fauna e Primavera também tiveram suas vidas ceifadas ao gastarem toda sua energia para proteger a torre que se tornara a cripta da princesa.

Poucos de seus súditos ainda viviam dentro das fronteiras de Morndämm, já que por conta das guerras a maioria se viu obrigado a abandonar suas moradias e debandar para outros locais onde a paz e a calma – na medida do possível – lhes dessem alguma esperança para recomeçar. Porém em nenhum momento Stefan pensou em abandonar seu reino junto à eles, não, ele sabia que seu destino era outro.

O rei queria ficar o máximo de tempo com sua filha, até que suas forças estivessem no fim. O feitiço lançado sobre a torre parecia também conservar a si próprio, pois a necessidade de comer e beber era muito menor do que fora na época de ouro de seu reino – enquanto Aurora aparentava não precisar de nada para se manter viva. Porém ele estava ciente de que quando sua filha acordasse e o visse ali, morto – provavelmente apenas um esqueleto em vestes reais – ela iria desesperar-se e não teria capacidades físicas e principalmente mentais para seguir em frente; então, para que o futuro de sua filha não fosse o mesmo que o seu, ele não morreria naquele lugar, sentado no que lhe servira como um último trono real: um banco de madeira de três pernas.

Já havia muito que pensara em possibilidades para uma morte rápida e indolor – isso se ela existisse. Desde enforcamento até rituais semelhantes ao Seppuku atravessaram a sua mente, porém, para seu desgosto, o que lhe pareceu menos pior era a única janela da torre.

Nos últimos anos – Stefan não se lembrava quando e tão pouco fazia questão de faze-lo –, um rio brotara diretamente do subsolo do castelo e descera a encosta onde havia sido construído o palácio, levando os escombros e as pedras que sobravam daquela que um dia fora uma bela construção.

Para o rei pareciam apenas semanas ou poucos meses, mas o rio se mostrava tão profundo como se estivesse ali há anos! Mesmo com todo esse estranhamento estava decidido: seria ali a sua sepultura.

Levantou do banquinho ao lado do esquife de sua filha e se abaixou sobre a garota. Os longos cabelos louros que lembravam a luz dos primeiros raios de sol da manhã – que ele deixara de admirar há tanto tempo – também o lembravam muito a mãe da garota. A pele alva e os lábios vermelhos como a rosa que segurava sobre o peito contrastavam perfeitamente, e o homem sorriu ao ver seu bem mais precioso já crescido.

Uma única pérola d’água escorreu de seus olhos: queria tanto ver sua filha casada com o garoto de Humberto, Phillip. Queria estar vivo para ver seus netinhos correndo pelo salão de seu castelo, porém nada disso seria possível. Nunca seria. Despediu-se de Aurora com um beijo na testa e foi dirigindo-se em seguida a janela da torre. Olhou uma última vez para tras e sorriu minimamente.

Seu rosto voltou-se para frente e se perdeu no horizonte onde a lua começava a se por. Se o rei tivesse prestando um pouco mais de atenção no céu de seu reino, teria percebido como ele se movia mais rápido do que seria considerado normal, porém tantos anos confinados somados a sua idade avançada não lhe permitiam mais estranhar essas coisas.

É agora ou nunca, pensou e com muita dificuldade subiu no parapeito da janela. Respirou o ar profundamente e sentiu o vento tentando lhe empurrar de volta para torre, mas não era isso o que ele queria. Deixou seu corpo amolecer-se e quando notou já estava em queda.

Toda a sua vida passava diante de seus olhos – um clichê real, que ele tanto tentará evitar, mas que finalmente chegara. Viu toda a sua infância no palácio que um dia fora de seus pais e quando eles lhe disseram que uma de suas amigas de infância, a princesa Rachel havia sido prometida à si e que algum tempo depois vieram lhe dizer que na verdade Stefan se casaria com a irmã mais nova de Rachel, a princesa Leah.

Lembrou-se da sua primeira vez tendo Leah como esposa, e de todas as suas tentativas falhas de conseguir um herdeiro. Viu sua esperança ser renovada quando viu sua esposa parir a pequena Aurora, para novamente ter seus sonhos esmagados por um feitiço. E então, nos últimos segundos de queda, uma questão passou na sua mente: Teria Malévola sobrevivido durante todos esses anos?

Mas ele nunca teria a resposta para essa pergunta.

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Notas finais do capítulo

Só lhes peço uma coisa: um reviewzinho :3



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