O ginásio estava tão convidativo para Armin quanto em um dia comum de aula. Música alta, gente suada e gelo seco não era nem de longe o programa preferido dele, mas discutir com Alexy era uma batalha perdida e o cansaria ainda mais do que ficar parado cozinhando dentro de um terno de alta costura que Alexy o ordenou que vestisse.

— Faça um esforço, Armin — Alexy disse quando jogou o terno em cima da cama dele. — Será nossa última coisa juntos como alunos da Sweet Amoris. O baile de formatura é onde tudo pode acontecer. E a Lynn ficaria desapontada se você não fosse. Na verdade, todos ficaríamos.

— Na verdade vocês se divertiriam a mesma coisa. Tenho certeza.

— Claro que não — Alexy pareceu ofendido. — Não é a mesma coisa sem você.

As certezas de Armin só se confirmaram quando Kentin chegou ao baile, e Alexy pareceu interessado demais em conversar com ele e argumentar sobre a gravata que o colega usava. Ex-colega, agora. Armin tinha de se lembrar que o ensino médio tinha chegado ao fim. Não se surpreenderia se, naquela noite, Alexy finalmente se confessasse para Kentin. Armin duvidava que o antigo aluno da escola militar realmente soubesse dos sentimentos que Alexy guardava por ele, mas achava difícil que Kentin fosse correspondê-lo. Kentin parecia ainda ser apaixonado por Lynn, e quem era Armin para julgá-lo por isso?

Parecia que todos esperavam encontrar o amor naquela escola.

No fundo, Armin também esperou. Principalmente quando se aproximou de Lynn. Ela era bonita, inteligente e entendia as referências gamers dele (se bem que Lynn parecia ter afinidades com todo mundo, como se sempre soubesse a resposta certa a dizer para cada um (provavelmente ela usava cheat)). E talvez os sentimentos de Armin por ela tinham deixado-o cego o bastante para notar que os olhos de Lynn brilhavam por outra pessoa. Primeiramente, ele pensou se tratar de Kentin, mas só foi depois que acordou para a vida e entendeu que o coração de Lynn batia mais forte por Castiel, mesmo que eles sempre parecessem estar em uma guerra de alfinetadas sem fim.

Quando Armin parou de divagar, reparou que Lynn tinha chegado ao ginásio, acompanhada de Rosa e do irmão mais velho de Lysandre. Ela trajava um belo e revelador vestido azul e tinha deixado os cabelos escuros caírem como cascata por seus ombros e costas. Não demorou muito para notar Castiel se aproximando deles. Armin viu o sorriso da amiga, e sorriu também. A verdade era que Armin estava feliz por Lynn. Ele mais do que ninguém sabia como ela merecia a felicidade.

Ele só se sentia mal por ele mesmo. Era como se não houvesse mais espaço para um gamer entre eles.

Armin suspirou e caminhou para o corredor que dava acesso aos dois vestiários. Mantinha as mãos nos bolsos da calça social, desejando que seu PSP se materializasse ali. Pelo menos ele poderia se distrair naquela noite.

Quando chegou perto do vestiário masculino, percebeu que não só ele tivera a ideia de se isolar.

Ambre estava bonita naquela noite. Na verdade, Armin nunca a achou feia, apenas detestável e maluca, mas também nunca tinha ousado comentar sobre a beleza dela para os amigos ou o irmão porque sabia que levaria uns bons tapas. Mas naquela noite, ela estava mais bonita que o comum, em um vestido verde escuro de rendas e decote exagerado. E sozinha, Ambre parecia apenas uma moça mexendo no celular na festa de formatura ao invés de uma peste que adorava pentelhar a vida dos outros. E fazer coisa errada na aula de ciências.

Sua mente repassou a cena daquele dia na sala de ciências, quando foram uma dupla e o experimento deles acabou interrompendo as aulas e fumaçando toda a escola. Armin acabou deixando escapar um sorriso. Apesar de tudo, ele se divertiu e sabia que Ambre também tinha achado engraçado aquele momento, pelo menos um pouquinho. Ela ainda era babaca, mas estava suportável aquele dia, e desde então, Armin teorizou que toda sua babaquice era para esconder algo de seu passado, como acontecia com alguns personagens dos games que ele jogava. Ironicamente, desde aquele dia, Ambre começou a conversar com ele durante as aulas de ciência e fazer comentários fúteis e desprovidos de inteligência, mas por algum motivo, ele gostou disso. Talvez do mesmo jeito que Lynn gostava das alfinetadas de Castiel.

— O que está fazendo aqui? — Ambre levantou os olhos da tela do celular.

— Pergunto o mesmo — Armin recostou-se na parede. — Imaginei que estivesse dançando. É isso que garotas gostam de fazer na formatura, não é?

— Caso você não tenha visto, eu não tenho um par — ela respondeu. — E eu me recuso a dançar com meu irmão.

Armin pensou em uma coisa.

— Não é curioso? Somos as únicas pessoas que estudamos com nossos gêmeos na escola.

— Estudávamos — Ambre o corrigiu. — A escola acabou, Armin.

Também somos os rejeitados. Você pelo Castiel e eu pela Lynn, pensou Armin, mas óbvio que ele não diria isso para ela.

— Oh, olha só quem quer me dar aulas — Armin debochou.

Ambre tentou revirar os olhos, mas acabou rindo da situação. Ela é bonita quando ri.

— Mas qual é o seu problema, afinal? Você não tem mais nada útil para fazer além de me irritar?

Armin sorriu.

— Eu só estou sendo gentil, garota. Sem sua pequena corte, você deve estar se sentindo sozinha hoje.

Ambre guardou o celular em sua pequena bolsa que mais se assemelhava a uma carteira, e se aproximou dele. Os saltos dela os faziam ter quase a mesma altura.

— Por quê? Você quer me fazer companhia agora? As aulas de ciências ao meu lado não foram o suficiente, Armin?

— Pelo visto não — Armin respondeu antes de ser puxado pela camisa e ter seus lábios colados com os dela.

Os beijos se transformaram em amassos em poucos segundos. Armin imaginava que sua boca estava manchada de batom vermelho e que o vestido caro de Ambre estava todo amarrotado. Estava estranhamente bom, até que Ambre o soltou.

— Eu ouvi um barulho — ela disse, preocupada.

— Também ouvi. Está tendo uma festa bem do nosso lado.

Ambre socou de leve o abdômen dele.

— Não, seu imbecil. Eu realmente ouvi um barulho aqui!

— Se fosse alguém, já teríamos sido interrompidos — observou Armin.

Ambre sorriu, e só agora Armin reparou que as bochechas dela estavam coradas.

— É, faz sentido.

A música tocava mais alto do outro lado da parede e os dois voltaram a se agarrar. Provavelmente eram o casal mais inesperado daquela escola, afinal eles eram de lados opostos, mas que mal tinha? Armin nunca mais veria metade daquelas pessoas e Ambre seria uma delas. Então, por que não se divertir um pouco e levar uma última recordação engraçada de Sweet Amoris?

A voz de Alexy ecoou em sua cabeça:

"O baile de formatura é onde tudo pode acontecer."

Armin tinha que concordar dessa vez.