Sobreviventes escrita por Bonnie Wolff


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Repostando essa história do perfil antigo. Alguns erros foram consertados e algumas frases foram adicionadas.
Boa leitura!



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Era uma bela manhã de sol. Do lado de fora da janela conseguia observar um grupo de cães vadios perseguindo uma borboleta. Pareciam estar se divertindo, e desejou ser um deles. Fechando os olhos, quase conseguia sentir o calor do astro em sua pele e o vento forte em seus cabelos.

Suspirou.

Naquele momento, desejava até ser a coitada da borboleta. Ou, quem sabe, o pássaro que, relaxado, limpava suas penas em uma árvore próxima. Na realidade, qualquer animal existente estaria em uma situação melhor do que a dela.

— Entenda, senhora Mellark, que não aceitamos esse tipo de comportamento em nossa instituição. — Mesmo com as portas fechadas, conseguiu ouvir perfeitamente a voz séria da diretora e tentou imaginar a expressão que estaria o rosto de sua mãe. — Ela nunca havia dado esse tipo de problema. Sempre foi uma garota muito alegre, sempre se deu bem com todos os alunos. Estamos tão perplexas quanto decepcionadas.

Estremeceu. Se era assim que a diretora se encontrava, nem queria mais imaginar como sentia sua mãe. Desejou fortemente fugir dali e correr para longe, mas sabia que de nada adiantaria. Seus pais tinham a capacidade de a encontrar onde quer que se escondesse. E sabia o motivo agora.

Não ouviu mais nada durante o que achou ser um longo tempo, e remexeu-se na cadeira. Incomodava-a não ouvir o som da fúria de sua mãe. Abriu os olhos quando ouviu a porta se abrindo e trocou olhares com sua progenitora. Fora o cinza gélido nos azuis amedrontados. O rosto duro e rígido dizia tudo o que ela devia saber, mas o olhar, no entanto, era de dor.

— Iremos conversar com ela. — A mãe virou-se para a diretora, apertando-lhe as mãos em despedida. — Desculpe o trabalho que Willow te deu, sei que algo assim não irá se repetir.

— Assim esperamos.

Viu a mão bronzeada aberta à sua frente e, instintivamente, a pegou de volta. Lado a lado, caminharam para fora da escola em silêncio, o que deixava Willow cada vez mais desconfortável e alerta. Esperou a gritaria, o sermão, uma frase rude. Qualquer coisa que mostrasse a raiva de sua mãe. E nada aconteceu.

Algo estava estranho, percebeu, ao pegarem a rota contrária a que faziam para casa.

— Mamãe? — Olhou para cima, para ela, insegura.

— Deixei seu irmão na padaria. — A mãe respondeu sem a olhar de volta e Willow notou a tristeza e a dor que Katniss tentava esconder em seu olhar. Nunca havia visto essa tristeza e questionou se o motivo era ela. — E você ficará com seu pai até a suspensão acabar.

O sangue da menina gelou, fazendo-a esquecer-se dos sentimentos da mãe. Não queria lidar com a raiva de seu pai. O calmo e gentil padeiro conseguia ser muito pior do que a mulher. A raiva explosiva dela era previsível e fácil de lidar, já a dele...

Estremeceu ao olhar para a entrada convidativa da padaria, estancando no lugar. Não queria entrar, mas sabia que não tinha escolha. Katniss a puxou com delicadeza, mas sem cerimônia para dentro.

— Sejam bem-vindos. — A funcionária, que arrumava os doces na vitrine, as saudou automaticamente ao ouvir o som da porta — Oh, senhora! — exclamou, ao virar-se e reconhecê-las. — O chefe está nos fundos com o mini-chefe. Quer que eu o chame para você?

— Não há necessidade, Maggie, muito obrigada — sorriu, caminhando para atrás do balcão. Sua filha a seguia, se arrastando, tão cabisbaixa que nem notou quando a querida aprendiz levantou ambos os polegares a fim de confortá-la.

Passaram rapidamente pelo local de fabricação dos produtos da padaria, sentindo o cheiro de pão que ainda estava na fornalha, em direção a porta dos fundos. Ao saírem novamente, encontraram o padeiro agachado na grama, de costas para o estabelecimento. À sua frente, quase escondido pelos ombros largos e firmes do homem, estava o filho mais novo. Os cabelos loiros dos dois reluziam com o sol, deixando a cena inteira mais brilhante. A risada histérica da criança acabou contagiando o mais velho, que ria levemente. Estavam dando restos de pão queimado para alguns animais e, por algum motivo desconhecido, essa simples atividade divertia o menino.

A mãe sorriu, em alívio, amenizando as feições rígidas de seu rosto. Até a dor em seu olhar havia sumido. Ela sempre tinha essa expressão quando o marido sorria. Por um tempo, Willow sentia-se confusa com a reação da mãe. Ultimamente, por outro lado, achava que estava começando a entender.

Ainda assim, era tudo muito confuso.

— Espero que não tenha queimado esses pães intencionalmente, só por pena. — A provocação da mulher interrompeu a alimentação, e os animais se afastaram rapidamente dali. Era como se eles soubessem quem era a mulher e o que ela fazia com os companheiros deles de manhã. Para os animais, todo cuidado era pouco.

O homem, por outro lado, sabia que não precisava se preocupar. Levantou-se, pegando a pequena mão do caçula para o ajudar no equilíbrio e virou-se para ela. O sorriso genuíno em seu rosto aumentou ao observar sua amada aproximando-se dele.

Ainda era um pouco esquisito sorrir assim, mesmo após tanto tempo. Porém, não conseguia evitar. Estava verdadeiramente feliz. Era um dos seus “dias bons”, como Katniss teimava em denominar. Nenhum dos dois tinha tido pesadelos na noite passada e, por isso, conseguiram dormir relaxados após fazer amor. Acordaram tão descansados de manhã que o sexo matinal fora tranquilo e apaixonado, ao invés de desesperado por conforto. Além disso, não havia tido nenhum episódio de alucinação aquela semana e, por isso, pode aproveitar verdadeiramente o dia.

Mesmo após sua mulher aparecer, irritada por ser chamada à escola. A situação não conseguiu o afetar e aproveitou a oportunidade para brincar um pouco com o caçula, deliciando-se com a felicidade inocente que ele emanava.

— Nunca fiz nada por pena — assegurou, puxando-a pela cintura em um beijo de saudação.

Soltou-a com delicadeza. Observou-a corar levemente, sem jeito. Mesmo após mais de 20 anos juntos, Katniss ainda sentia-se envergonhada com as demonstrações de afeto de Peeta. Não era de seu feitio ser carinhosa com alguém daquele jeito e, além disso, sua vida passada a havia deixado mais rígida do que deveria ser.

— E o que temos aqui? — perguntou, abaixando-se para acariciar o rosto redondo de Willow. — Como está? Andou causando muitas confusões?

— O que você acha? — retrucou a mãe, irritada. — A diretora disse que ela socou o filho dos Donner e quebrou o nariz dele.

— É mesmo? — Levantou as sobrancelhas, impressionado e voltou seu olhar pra filha — Então quer dizer que a filha tem o mesmo temperamento da mãe? — Sorriu, bagunçando-lhe os longos cabelos escuros. Willow riu, e o peso aliviou em seus ombros.

— Não é engraçado, Peeta — ralhou a mãe, pegando Rye do chão e fazendo Peeta soltar a mão do filho. Mesmo que o garoto já estivesse na idade de sair do colo dos pais, Katniss não conseguia soltá-lo. Sempre se sentia mais tranquila ao abraçar um dos filhos, era o que dizia. — Ela está suspensa por três dias e precisa escrever um texto sobre o motivo da briga. Ela precisa ler o texto pra turma inteira quando voltar.

Trocaram olhares por um tempo, em silêncio. Novamente havia o sério cinza no caloroso azul. Willow estremeceu ao observar as expressões de ambos os pais mudarem e até Rye ficou em silêncio, como se notasse a tensão no ar. O sorriso do pai murchou e ambos os olhos mostraram a tristeza dolorosa que ela havia visto antes.

— Tem certeza? — Peeta quebrou o silêncio, incerto.

Katniss só acenou em resposta.

E Peeta suspirou, derrotado.

Um selinho de despedida foi depositado nos lábios do marido e, após um afago delicado na cabeça da filha, Katniss voltou pelo caminho que havia feito. Observou a mãe sumir do seu campo de visão para, só então, voltar-se para o pai.

— Mamãe desistiu de mim, papai? — perguntou, nervosa.

— Nunca, querida — tranquilizou-a, sentando-se na grama. — Ela só foi buscar algo em casa e já volta.

Convidou-a para sentar-se à sua frente e, nervosa com o rumo que as coisas estavam indo, obedeceu.

— Agora me diga: você bateu em um colega. Real ou não real? — questionou, na brincadeira que faziam desde que ela aprendera a falar.

— Real... — murmurou, nervosa.

Sentiu o olhar penetrante de seu pai observando-a, esperando por um motivo. Apesar disso, não conseguiu falar de imediato. Dentro de si, um caos havia se formado. Realmente não era de seu feitio a ação que cometeu, e já havia demonstrado preocupação por seu comportamento recente. Mas ela não conseguia manter-se sã com tudo o que havia descoberto na escola e com tudo o que precisava descobrir.

A Campina que tanto brincavam e riam era um cemitério.

Os memoriais eram símbolos de dor.

Seu padrinho não era só um bêbado qualquer.

Seus pais não eram só adultos esquisitos.

Na verdade, eles eram...

— Pai — chamou, desesperada com a própria confusão — Você e mamãe são heróis de guerra ou assassinos?

O olhar caloroso do pai anuviou-se, perdendo totalmente o foco. Não havia resquício algum da felicidade genuína que havia visto quando o encontrou essa manhã. Os músculos inteiros se tensionaram e Willow sentiu medo. Ela já não olhava mais para o calmo e gentil padeiro que era seu pai, nem para o desesperado homem que via de relance quando ele tinha seus episódios. Já não sabia mais para quem olhava e isso a deixava amedrontada.

E, antes que percebesse, já estava contando o motivo de sua dúvida.

♠♠♠

— Willow! — chamou Duncan, uma de suas melhores amigas, quando ela entrou na sala. Apressou-se para sentar na carteira ao seu lado, a qual ela havia guardado com a própria mochila. — Você ouviu? — perguntou, animada, enquanto Willow arrumava as próprias coisas. — Micah Donner disse que a aula de hoje é sobre os Jogos Vorazes e a Rebelião do Tordo.

— Ah. — respondeu somente.

— Ele nos contou que uma de suas tias avós morreu nos Jogos Vorazes e a outra morreu na Rebelião. Seu pai só conseguiu escapar, pois foi para a floresta.

— Micah gosta de falar muitas coisas que não são verdade. — Sorriu, travessa, fazendo a amiga rir ao seu lado.

— Você só diz isso, pois ele vive te importunando. — Willow revirou os olhos, mostrando que isso não a incomodava. — Acho que ele gosta de você.

Ficou surpresa com a provocação da amiga e quis responder à altura, mas a professora já havia entrado em sala e pedido silêncio. A amiga ria silenciosamente e Willow corava de irritação, mas nada podia fazer.

— Eu preciso da atenção de todos vocês nas aulas dessa semana. — Começou a professora em um semblante sério. — Não quero nenhum tipo de brincadeira ou interrupções sem sentido nas próximas aulas — alertou, sem o sorriso gentil que havia normalmente em seu rosto. — O assunto que trataremos nas próximas semanas é sério, de um passado doloroso e sangrento, porém muito importante para todos vocês. — O clima ameno da sala acabou e a tensão era palpável. — Mostrarei detalhes à vocês sobre os Jogos Vorazes e a Revolução do Tordo. Algo que tirou a vida de milhões de pessoas.

Enquanto a professora ia passando slides de fotografias das vítimas da guerra, os alunos prendiam a respiração. Algumas meninas soluçavam ao ver crianças sangrando, mulheres mutiladas e corpos carbonizados. Eram imagens aterrorizantes e, de canto de olho, Willow notou que Micah havia fechado os olhos em uma careta de dor. Em algumas delas, era possível reconhecer um antigo Distrito 12 ou os restos dele.

Era assustador.

— Muitas pessoas perderam a vida. Famílias inteiras foram dizimadas. Os velhos e adultos que vocês veem andando nas ruas foram os poucos sobreviventes do massacre que aconteceu. — O olhar da professora era duro e Willow entendeu o que estava implícito. Todos os adultos, inclusive ela — Levantem a mão quantos de vocês possuem algum membro familiar que perdeu a vida nesta época.

Todos os alunos levantaram a mão.

Todos, com exceção de Willow.

— Senhorita Mellark. — A professora chamou, e a menina sentiu o tom nervoso o qual ela falava — Por qual motivo não levantou a mão?

— Eu... eu realmente não sei — confessou, gaguejando. Os olhos arregalados pela atrocidade que havia visto nas fotos. Era tudo surreal demais, intenso demais. Como ela não sabia sobre esse passado tão sombrio?

Uma foto da Campina do distrito 12 estava estampada na tela. Não sabia como chegou a reconhecer aquele lugar, pois não era o mesmo local verde e bonito que tanto brincara. Havia um poço profundo, uma vala cheia de esqueletos. De um povo que se fora há muito tempo.

— Não sabe? A família Mellark inteira morreu tentando escapar do bombardeio ao Distrito 12. Seu avô, avó e dois tios. Primrose Everdeen, sua tia, faleceu na guerra, enquanto trabalhava como enfermeira. E você não sabe de nada disso?!

— N..não — gaguejou, nervosa. Lágrimas começavam a acumular em seus olhos.

Ela não sabia de nada.

Por qual motivo aquele passado era tão chocante para ela?!

— Estou verdadeiramente surpresa que você não saiba de nada disso — confessou a professora, enquanto todos os alunos da classe encaravam a garota, atônitos. — Afinal, seus dois pais participaram dos Jogos Vorazes.

Seu sangue gelou. Ela sabia vagamente o que eram os jogos, não havia como saber. Mas a notícia dos dois pais.. Os seus pais?!

Ao olhar para a tela viu uma cena de o que parecia ser uma das edições dos Jogos Vorazes. Reconheceu sua mãe mais jovem, o terror estampado em seu rosto, sendo perseguida por um grupo de adolescentes fortemente armados. O sangue, o suor, as lágrimas... O terror.

Era demais para Willow.

Duncan, ao seu lado, agarrou sua mão no exato momento em que um soluço dolorido escapou de seus lábios. As lágrimas desciam freneticamente e Willow não tinha mais capacidade de impedi-las.

— E sua mãe... Katniss Everdeen... — A professora continuou, mas Willow já não queria mais ouvir. Chega, por favor, chega. — Ela foi o nosso Tordo.

E, então, como se a fala da mulher fosse sua deixa, a tela de slides ficou escura e um vídeo começou a ser passado. O que Willow não sabia, mas viria a tomar conhecimento, é que aquele era um dos muitos prompts que foram feitos para a guerra. Aquele, em especial, mostrava uma Katniss em um Distrito 8 em chamas. A frase “se nós queimarmos, você queimará conosco” ressoava pela sala inteira.

Ressoava na mente de Willow.

Como uma alucinação.

Como um pesadelo.

Como uma cicatriz.

Como os olhares desesperadores que seus pais às vezes trocavam e ela não conseguia entender. Como o grito agonizante de sua mãe e as falas tranquilizadoras de seu pai. Como a rotina anormal da família que ela nunca havia aceitado completamente.

Até aquele momento.

A aula prosseguiu normalmente e, a cada vídeo, foto ou explicação da professora, Willow ficava mais em choque. Sempre tivera curiosidade sobre as coisas que seus pais não diziam e se vira louca de ansiedade para aprender na escola aquilo que escondiam.

Porém se arrependia.

Agora, naquele momento, gostaria que tivesse permanecido ignorante.

Achava que nunca mais poderia olhar para os pais da mesma maneira, na mesma inocência. E isso lhe doía. Ver os pais da maneira que havia visto lhe doía mais do que tudo. Os jovens mostrados à ela não eram os pais amorosos e apaixonados que conhecia. Não os reconhecia. E não tinha vontade de os conhecer.

Quando aquela aula finalmente terminou e a professora os liberou para o intervalo entre a aula e outra, Willow correu para o banheiro. Precisava lavar o rosto, se acalmar, pensar e refletir sobre os próximos passos. Precisava fugir daquela sala, daquele local tão horrível de memórias sangrentas.

— Seus pais são assassinos. — Ouviu alguém gritar e estancou na porta da sala. Girou o corpo nos calcanhares, voltando-se para dentro do ambiente. Era Micah e seu rosto vermelho de raiva lhe mostrou que não era uma de suas provocações usuais. Pelo o que Willow lembrava da aula, a tia avó de Micah morrera no 50º Jogos Vorazes, o qual seu padrinho fora vitorioso. E sua outra tia avó, mulher do prefeito, morrera no bombardeio do Distrito 12. — Você é filha de psicopatas assassinos.

— Cala a boca — pediu, sussurrando.

Era demais para ela. Ter alguém verbalizando suas dúvidas, era demais. Eles eram seus pais. Amorosos, leais, bondosos. Seus pais. Não aqueles monstros que foram mostrados em sala.

— Sua mãe tem sangue de todo o Distrito 12 em mãos e muito mais. — A garoto continuou, chegando mais próximo dela. O restante das crianças permanecia calado. — Você é filha de uma psicopata!

— CALA A BOCA! — exigiu, chorando. Antes que pudesse perceber, seu punho já havia acertado o rosto do garoto.

Sangue escorria pelo nariz de Micah, que gritava de dor. Willow gritou de volta, furiosa. A professora voltara correndo pela gritaria e separou os dois com rapidez. A cena era horrível de se ver, o sangue manchando tudo que tocava, incluindo a blusa da menina. As crianças gritavam e a confusão era imensa.

— Você é imunda igual a sua mãe! — gritou Micah, em meio a dor. Sua professora tentava ver o estrago no nariz, sem sucesso.

— Cala a boca, seu idiota! — Willow gritou de volta, preparando-se para mais um soco.

Outra professora apareceu, segurando Willow pelas costas. Ela foi arrastada para fora dali até a direção, as lágrimas sofridas não paravam de escorrer.

♠♠♠

Suspirou pesadamente ao terminar de falar. Olhou para frente, encontrando os olhos azuis de seu pai. Ao lado dele, sua mãe estava sentada com um livro em mãos. Havia voltado à padaria no meio da história de Willow e, silenciosamente, sentara-se para ouvir. Em sua perna, dormia um relaxado Rye, muito novo para entender a tensão de todos. Até o bêbado do seu padrinho tinha aparecido, após ver Katniss sair de casa com o livro que haviam feito. Sabia o que isso significava.

Willow reconhecia claramente aquele livro. Os pais o guardavam com todo o cuidado e vez ou outra, os pegava trabalhando em uma página nova. Quando questionados, diziam que era o livro da família, mas nunca a deixaram lê-lo. “Ainda não é a hora, Willow”, diziam. Aparentemente, eles haviam decidido que ela agora estava pronta. Mesmo que curiosidade infantil para desvendar aquele mistério houvesse desaparecido totalmente naquela tarde.

— Está mais calma agora? — perguntou a mãe, preocupada. Ela simplesmente assentiu.

— Não podemos te dar a resposta para sua pergunta — respondeu o pai, lhe dando um pequeno sorriso nervoso. — Você precisará tirar suas próprias conclusões.

— Depois de ler este livro. — O livro da família foi entregue em suas mãos e ela sentiu o peso dele em seu peito, como se a sufocasse.

Olhou para o seu padrinho e, em resposta, ele sorriu. Deveria estar tentando tranquilizá-la, mas Willow entendeu. Podia contar nos dedos quantas vezes havia visto o padrinho sorrir.

Percebeu quando as mãos de Katniss apertaram levemente as de Peeta.

E sentiu um pouco de alívio entrando em seu corpo.

Mesmo que ainda não conhecesse toda a história, achava que estava começando a entender. As cicatrizes… Os pesadelos… As alucinações do pai e a bebedeira sem fim de Haymitch…

Não era tão difícil de entender.

Afinal, eram sua família.

Abriu o livro em sua primeira página certa de que, qualquer história do passado que existisse nele, a faria os amar e respeitar ainda mais.

 


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Notas finais do capítulo

Ao terminar de ler, por favor, deixe seu feedback construtivo nos comentários.
Até o próximo capítulo!



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