Gällīnssęc æñ: Hajånky, ø4 - 4.826
Ano cristão: 29 de fevereiro de 1.637

Diário de bordo do navio Golden Früh,
C. Starke

Bem, por onde começar?
Não sei. Não sei se alguém acreditará no que transcreverei aqui. Mas preciso deixar as memórias em algum lugar, para me livrar delas. E, enquanto escrevo essas palavras, diferentemente das outras nesse diário, elas estão fracas e tremidas, tal como a minha saúde. Espero, sinceramente, que seja um efeito passageiro da batalha, não o que as horríveis palavras daquela miserável bruxa perfizeram.
Então, devo começar do início? Mas o início é confuso demais. Imortalidade, sabe?
Apesar de minha mãe jurar por anos que meu pai era um ser, digamos, divino, eu o imaginara como um amante formidável, nunca imaginaria que o ser imprestável que me deu vida realmente era DIVINO.
PELOS MARES! IMAGINE. EU. FILHO. DE. UM. MISERÁVEL. DEUS.
Eu q…
Desculpe, acho que o deus em questão não gosta de ser xingado, principalmente, quando quem o xinga é o próprio filho. Acho que, apesar da sua ausência por mais de 30 anos, ele quer tentar me punir. Quando o deus em questão é o do mar, e você está no mar, tudo fica mais fácil.
Mas a minha concepção não importa, o que importa é que meu pai é um deus, imortal, que mesmo que as pessoas não o venerem mais, ele continua por aí, sendo amante de muitas mulheres. Nojento, minha opinião.
Mas, enfim, então eu sou um filho do deus do mar e, mesmo que eu não soubesse, havia uma profecia sobre a minha existência. Claro que poderia ser sobre qualquer filho do meu pai, mas a “dádiva” caiu sobre a minha responsabilidade.
Acontece, que há muitos anos uma mulher, belíssima, convenceu a diversos deuses dos mares, mais especificamente sete deles, a abençoarem em troca de imensa fartura e longevidade para as suas crenças. Mas, o que aconteceu, foi que o poder da moça chegou a tal nível que ela foi corrompida por este. E, ela ficou sedenta por mais e mais poder.
Então, mesmo não sendo natural, eles se juntaram e tentaram aprisionar a mulher. Mas, acontece, que os deuses não podem interferir diretamente na vida de algum ser humano sem a permissão expressa desse. Insano, não?
Sendo assim, essa bruxa maligna continuou fazendo suas bruxarias por onde passava. O que fez com que os setes deuses se reunissem mais uma vez para que tentassem consertar a burrada, na minha humilde opinião, que fizeram.
Nessa reunião, errada, presumo eu, uma velha vidente do mar, conhecida de todos, foi chamada. Ela previu que apenas mortais teriam a chance contra a maldita. Mas mortais tocados pelos poderes e genes de cada deus ali presente. A única coisa que os deuses poderiam fazer, era criar uma ilha, perdida, que fosse a prisão que os Escolhidos a levariam. Depois os Escolhidos seriam os únicos com poderes suficientes para matá-la.
E foi assim que, depois de novecentos anos, os sete Escolhidos se encontraram. Sete escolhidos que na hora em que se viram. Notaram que era incrivelmente errado estarem ali, juntos. Não por alguns, como eu, serem piratas, ou meros pescadores, ou corsários, ou ainda oficiais das realezas. Era errado pela nossa natureza divina.
Pelo o que eu entendi, deuses diferentes raramente se encontram. E quando se encontram…. bem, veja a louca feiticeira do mal.
Essa não era uma noi….
Desculpe, acho que me equivoquei. A doença da bruxa já me pegou. Estou com horríveis urticárias e cada vez que coço, elas se espalham mais. Mas preciso terminar, preciso alertar às pessoas a ficarem longe daquela ilha.
Por dias, como as páginas anteriores desse dizem, caçamos a mulher. Não sabíamos que estavam em seu encalço, só o que víamos eram as belezas que nossos pais enfeitiçaram nossas mentes para ver. No meu caso, aquele navio magnífico cheio de riquezas indisíveis. Como eu queria tê-lo ignorado!
Quando chegamos a ilha, todos os nossos homens caíram em um sono profundo. Foi aí que nossos pais, finalmente, se mostraram para a gente. Disseram quem eram. A profecia que cumpríamos. E como estavam orgulhosos de termos cumpridos nossos destinos. Disseram que a tripulação ficaria bem, só os Escolhidos tinham permissão de aportar na Ilha. Olhando os outros eu vi quando uns caíram de joelhos admirados com seus pais e como estavam orgulhosos de conhecê-los, eu queria socar o babaca do meu pai.
Mas, metade da profecia estava cumprida. Agora tínhamos que seguí-la. Quando a encontrássemos, devíamos matá-la com as armas que nossos pais nos deram. Simples, não?
Não. Não foi. Realmente a encontramos. Mas dia 29 de fevereiro não é um dia auspicioso. Lutamos, bravamente. Alguns perderam membros, mas nenhum chegou a morrer. Ali.
Não tenho vergonha em dizer, afinal sou um pirata, mas fugimos. E a bruxa continuou ali, fustigada pela luta, mas viva. Seu grito agonizante ainda soa em meus ouvidos, junto com a praga que rogou em nós.
Acho que até o momento da minha morte, o que não deve demorar, visto que mal consigo respirar, eu lembrarei da melodia macabra.

Hoje, eles tentaram acabar comigo.
Há, é uma bela piada!
Mas o que acompanhará contigo
Essa será uma bela praga!

Por mais que o mar te proteja,
Ali será sua jaula final.
Quando saíres dali e o mundo te vê veja,
Eu regressarei, afinal.

A criança tocada por mim,
Me libertará dessa ilha prisional.
E, quando for o vosso fim,
Eu serei a rainha de tal.

Ela lançou uma praga sobre nós. E acredito ser o meu momento final. Não sei quando os outros irão, mas todos vamos. Espero que um dia, novos Escolhidos acabem com ela.
Até lá, pelo visto, morrerei e ficarei para sempre no mar. Mas, como desejo final, manterei esse diário seguro. CUSTE O QUE CUSTAR!

Até à vista,
Capitã Iøëne Starke

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Gällīnssęc æñ: Flęrskriª’, 15 - 52ø6
Ano cristão: 9 de fevereiro de 2017