Sempre a via sozinha no canto, os ombros encurvados para frente com a franja do cabelo curto lhe cobrindo os olhos exóticos que mostravam a que família pertencia. Sua marca registrada assim como as de minhas bochechas era a minha.

A voz dela soava baixa, trêmula e gaguejada quando alguém lhe dirigia a palavra, a sua face avermelhada e os dedos que batiam um no outro quando envergonhada ou nervosa diziam o quão tímida era toda vez que a cumprimentava.

Fiquei muito surpreso quando fomos escalados para o mesmo time, mas não demorou para que ficássemos próximos e confiássemos uns no outro.

Ela era tão gentil e meiga, sempre delicada e isso me fazia perguntar como poderia ter escolhido ser uma ninja. Quando soube sua história e o porquê de querer ser forte, de se empenhar tanto e se ferir nos treinos e missões para alcançar seus objetivos, isso me trouxe ainda mais admiração por sua pessoa.

Fez-me querer ser forte, de treinar arduamente para me tornar mais forte. Só que sua perseverança me ganhou, dia após dia o desejo por vê-la ser autossuficiente para se proteger e aos que lhe eram importantes me fizeram ajudá-la. Ajudá-la a ser forte sozinha.

Foi por essa época que me via completamente enfeitiçado por ela, mas sabia que seus lindos olhos estavam vidrados em outra direção.

Eu gostava dela o suficiente para desejar que ela fosse feliz com o dono de seus mais sinceros e puros sentimentos. Era isso que me fazia sorrir todo o dia para ela.

Isso me bastava.

O que nos trás ao momento atual.

Kiba suspirou com os pensamentos, fragmentos de recordações para ser mais exato, os seus olhos semicerrados fitavam o horizonte onde o sol tinha acabado de se pôr, as estrelas começavam a tomar conta de escuridão da noite. Seu braço esquerdo acomodava o ombro da amiga que ressoava em um sono profundo, a camiseta no peito estava molhada pela onda de lágrimas que tinha dominado ela naquela tarde em que passaram juntos. Suas mãos pequenas entre os pelos de Akamaru deitado ao lado com a cabeça no colo dela.

— Hina... – chamou baixo enquanto chacoalhava o ombro dela para acordá-la.

Os olhos levemente inchados pelo choro da Hyuuga tremeram antes de se abrirem sonolentos, virou-se para o amigo dando conta de que tinha adormecido em um desabafo sem noção. Sorriu culposa e desviou o olhar para o céu estrelado.

— Desculpa Kiba-kun… – pediu apertando as mãos uma na outra.

— Não me peça desculpas. Estarei sempre aqui para quando você quiser… desabafar.

— Eu sei... – murmurou carinhosa. Sabia o quão bom era o amigo, ele sempre estaria ao seu lado não importando a ocasião.

— Hina… Hinata…

— Hm? – indagou para o silêncio do outro, suas mãos agora ocupadas em dar carinho ao cachorro que tinha virado a barriga pra cima.

— Eu… Não é nada. – desconversou pondo-se de pé, não era momento e nem hora para falar de seus sentimentos. Sorriu entendendo a mãos à amiga. – Que tal irmos comer dango no seu restaurante favorito?

— Eu iria adorar. – concordou aceitando a mão que lhe era ofertada. Em um impulso de coragem que não tinha Hinata o abraçou com um braço, o outro ainda segurava firme a mão dele como se tivesse medo que ele fugisse. – Obrigada. – sussurrou agradecida e, antes que se afastasse, deixou um singelo beijo na bochecha marcada dele.

A luz lunar não era o suficiente para que Hinata notasse a vermelhidão do rosto alheio, mas a forma como Kiba riu trêmulo e bagunçou nervosamente os cabelos castanhos foram sinais da vergonha dele que conseguiu captar. – Vamos!

Akamaru latiu e seguiu em frente como soubesse exatamente aonde iriam. Kiba sem soltar a mão pequena entre a sua seguiu falando sobre assuntos aleatórios, arrancando da Hyuuga risos baixos e melodiosos.

O som que o moreno mais gostava de ouvir. Não importava o quanto Hinata chorasse, por mais que seu desejo fosse de matar o infeliz que trazia mágoa a amada, ele estaria ali para colocar um sorriso no rosto de anjo dela.

Sempre a faria rir para esquecer os problemas. Esse era sua função como melhor amigo.

— Hei! Kiba. Hinata. – o grito não só chamou a atenção dos dois como também de todas as pessoas que por ali passavam, desconfiava que até mesmo o Kazekage, Sabaku no Gaara, tivesse escutado lá em Suna a voz estridente do loiro.

Naruto acenava eufórico chamando-os para se juntarem a eles, estava de pé ao lado de Sakura que balançava a cabeça em negação. Kiba resmungou e deu um passo para trás puxando a amiga consigo, não queria estar na companhia daqueles dois naquele momento. Gostava muito deles e estava feliz por estarem juntos, mas isso não queria dizer que gostava de ver a Hyuuga triste por conta de aqueles dois estarem namorando.

Hinata sorriu e ignorando o protesto do moreno, se aproximou dos dois.

— Boa noite Naruto-kun, Sakura-chan.

— Boa noite Hina. Kiba. Querem se juntar a nós? Acabamos de pedir. – Sakura fez um gesto para a mesa para que se sentissem a vontade para se sentarem.

— É claro que eles vão se juntar a nós. Seriam loucos se recusassem o melhor ramen do mundo, não é?

Hinata riu enquanto Sakura revirou os olhos, Kiba resmungou um idiota bem baixo sendo ouvido apenas pela morena.

— Obrigada Naruto-kun, Sakura-chan. A oferta é tentadora... – começou para não magoar os sentimentos do loiro que sorriu – mas terei que recusar. Kiba-kun vai me levar para comer dango.

— Oh! Um encontro? – Naruto indagou com um sorriso insinuoso, recebendo um tapa forte na cabeça pela namorada. – Itai Sakura-chan, eu não falei nada demais...

— Pode se dizer que sim. – respondeu Hinata deixando todos estupefatos, com um sorriso em despedida ela se virou e puxou um Kiba atônito para o lado oposto. Procurou por Akamaru dando-se conta que ele não se encontrava por ali, talvez já estivesse no restaurante, pensou alheia a confusão que ocorria no interior do moreno.

— Hinata! – murmurou urgente, ambos pararam no meio da rua, Hinata alguns passos à frente, ela não tinha coragem para se virar. – O que foi isso?

— Is-sso o qu-e, Kiba-kun?

— Suas palavras... agora pouco...?

Kiba sentiu quando o coração pulsou dolorido para acelerar ainda mais no peito ao notar a mão trêmula da Hyuuga entre a sua, aproximou-se e ergueu delicadamente o queixo dela para lhe fitar a face corada.

— E-eu... – Hinata respirou fundo tentando buscar coragem para lhe confessar aquilo que a corroia há dias. Encontrou-a nos olhos castanho de Kiba que lhe fitavam com tanta emoção. – Kiba-kun... sabe por que eu chorei hoje?

— Por causa daqueles dois... não é? – resmungou com um mau humor repentino.

— Sim e... não.

— Como assim?

Hinata olhou ao redor antes de puxar Kiba para um canto mais isolado, estavam atrapalhando os transeuntes. Ali onde ninguém a interromperia, ela pegou ambas as mãos morenas e as apertou de encontro ao peito. Precisava confessar tudo que a afligia mesmo que isso pudesse fazê-la perder um amigo precioso, mas isso não queria dizer que não sentia medo. Estava morrendo de medo.

Quando a guerra acabou e tudo recomeçou a voltar aos eixos, Naruto e Sakura começaram a namorar. Hinata não podia dizer que ficara totalmente feliz, tinha uma pequena parte sua que sofria pela rejeição, mas também tinha aquela parte, a maior dela que ficou feliz sim, com a notícia.

Amava Naruto o suficiente para desistir dele, para que fosse feliz ao lado de Sakura, a pessoa que sempre amou e que agora o amava de volta, de uma forma genuína. Queria que ambos fossem felizes e rezava por isso.

Agora, desejava alguém que a amasse e que pudesse amá-lo de volta com todo o seu ser.

— E-eu... – Hinata começou após um período de silêncio, olhou nos fundo dos olhos castanhos para não fraquejar, mas a voz trêmula e gaguejada tirava um pouco a sua confiança. – Queria seguir em frente, por isso me mantive ocupada com missões e com o Clã… só que… que nesses meses que se pass-saram eu… e-eu percebi que algo mudou… pouco a pouco os me-eus sen-entiment-os mudaram… e-e eu est-tou com medo… muito medo… dê per-erdê-lo…

As últimas palavras saíram sussurradas e se Kiba não estivesse tão próximo, não teria escutado. Porém, isso era o de menos. Pensava estar sonhando, com certeza era um sonho… só poderia ser, ele não se lembrava de ter caído em um genjutsu.

Mais um longo período de silêncio se fez presente. Kiba olhava para Hinata sem ver, ela abaixou os olhos temerosa. Sabia muito bem que seu coração não suportaria mais uma rejeição e não só isso, perderia também o seu melhor amigo em consequência. Não estava forte o suficiente para isso.

— Des-sculpa… é me-elhor eu ir embora… – murmurou com os olhos úmidos. Largou as mãos alheia que caíram junto ao corpo imóvel do outro e deu um passo para trás.

A voz de Hinata o acordou daquele transe que entrou, puxou-a pela mão de encontro ao seu corpo e a abraçou.

— As suas palavras significam mesmo o que eu acho que é? Sério, sério mesmo? E-eu não estou sonhando, estou? Hina…

A enxurrada de perguntas pegou a Hyuuga desprevenida, rodeou ele com os braços apertando-o de encontro ao seu corpo. Nas pontas do pé por ser menor que ele, ela acomodou o rosto entre a junção do ombro e pescoço dele, desabafando em um choro sentido.

— Eu acho… que estou gostando de você… Kiba-kun. – confessou com a voz abafada, sabendo que mentia quanto ao seu acho. Sentia o amor crescendo cada vez mais dentro de si e sabia que era uma questão de tempo para poder revelar aquilo em voz alta para ele.

Kiba sabia disso. E ele esperaria o tempo que for para tê-la por completo.

— Eu te amo, Hinata.

Por enquanto, bastaria que ela soubesse os seus verdadeiros sentimentos.

Já era hora dela sentir o que era ser amada, para poder, no fim de tudo, amar novamente.