Heavy. escrita por Emptykng


Capítulo 1
Heavy in Your Arms




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/753801/chapter/1

And is it worth the wait
All this killing time?
Are you strong enough to stand
Protecting both your heart and mine?

O vento gelado cortava meu rosto, a ferida aberta ainda me trazia dor — uma dor menor que a de ser a causa da morte de todos que já amei, eu confesso, mas ainda era uma dor que me incomodava muito — e tudo que eu queria nesse momento era ouvir uma voz amigável, uma voz conhecida, uma voz.

Era carregado em silêncio, ninguém falava nada. Nós dois sabíamos que aquele seria o fim. Era um consenso-não-falado que morreríamos naquela noite, o único problema é que a hora que aquilo ocorreria era uma incógnita.

Eu pesava em sua corrida, isso eu percebia. Mesmo que ele nunca fosse admitir isso, eu o atrasava e o tornava um alvo fácil. Ele era pouco mais rápido que os monstros, mas ainda mais lento que humanos — e de todo o meu pouco conhecimento de sobrevivência, esses podem ser ainda piores.

O cenário ao redor parecia um filme de terror: o céu era um crepúsculo sem cores, as nuvens escondiam o brilho do sol, a neve caia forte e congelava meu corpo onde tocava, me fazendo não só gastar energia para me manter consciente, mas também aquecido.

Finalmente o silêncio foi quebrado.

— Você consegue andar? — Ele olhava para mim preocupado, mesmo depois do que aconteceu.

— Sim, só não sei se meus órgãos vão decidir continuar no lugar deles — Ri. Ele odiava esse tipo de humor e eu sabia disso. Eu não queria que ele continuasse.

— Não é hora pra piadas. Você consegue ou não andar? — Ele parou abruptamente, me colocando sentado, com as costas apoiadas em uma árvore. Ele estava visivelmente cansado, respirava fundo e de forma controlada.

— Eu não preciso. — Falei enquanto olhava para o céu, que agora era mais noite que dia.

— Não seja estúpido, eu ainda posso te salvar, você sabe disso.

— Esse é o problema.

— O que você quer dizer com isso? — Todo o clima pesado só pareceu piorar. Agora o maior problema não era tentar me manter vivo, era explicar aquilo para ele sem parecer um babaca.

— Você é o problema. — E eu consegui falhar miseravelmente em não soar babaca.

— O que você quer dizer? Eu—

— Isso. Você é o problema. Você não desiste de mim. Eu já te dei tantas chances de você simplesmente me abandonar, antes de... antes de eu estragar tudo. — Só percebi que chorava quando senti minhas lágrimas escorrendo. Eu sempre achei que se chorasse nesse clima minhas lágrimas congelariam e arrancariam minha pele. Acho que por um tempo desejei isso.

Logo após isso ele se sentou ao meu lado, esquecendo que esse era o fim do mundo e cada segundo contava. Por algum motivo, parecia que seus segundos comigo valiam a pena, mesmo que eu não acreditasse nisso.

— Você sabe porque nunca te abandonei? — Suas palavras saiam pesadas. Parecia que cada uma daquelas palavras doía, uma dor que ele não aceitava sentir.

— Porque você me odeia e queria me ver de perto quando morresse? — Brinquei, e, pela primeira vez, ele riu. Não uma risada forçada, não uma risada genuína, uma risada nervosa.

— Porque, mesmo que eu quisesse, eu nunca conseguiria. Você vive com piadas sombrias sobre seu desejo de morrer e ser abandonado, mas seus olhos parecem pedir socorro. E parecem soltar um tipo de encanto em quem os observa por muito tempo.

Um silêncio mortal se instalou. A lua começou a ser visível, parecia que a neve ia cessar por um tempo.

— Você ainda tem noção de meses? — Perguntei sem o olhar.

— Sim, por que?

— O mês ainda é o mesmo? Sabe, da ultima vez que eu te perguntei.

— Sim, esse é o último dia, por que?

— Bem, essa é a segunda lua cheia do mês. Acho que é uma boa data para descansar, sabe. No fim do ciclo lunar.

Ele me olhou assustado, como se não esperasse por aquilo.

 

— O que você quer dizer com isso?

— Bater as botas.

— Mas-

— Shh. Não complica. Hoje em dia é luxo escolher o dia, ainda mais um dia tão importante pra... Não sei, a terra? A lua? — Ele me olhava, procurando um sinal de ser uma piada. Não era.

Mais uma vez o silêncio se instalou.

— Posso te perguntar uma coisa? — Ele me olhou fundo nos olhos, dessa vez não tinha como não o encarar.

— Por que você quer tanto morrer?

— Bem, você viu o que aconteceu antes? Repita isso mais duas vezes.

Ele não sabia o que falar. Parecia tentar procurar algo para falar que fosse me ajudar, procurava a isca que tirasse minha alma desse mar de culpa.

— Você pode me ajudar — Falei sério — Corte meu sofrimento, é difícil ficar sem reclamar com esse corte aberto. Sabe, dói. 

— Você quer tanto isso?

— Sim.

Mais uma vez um silêncio. Dessa vez não foi cortado. Ele se levantou e pegou sua faca. Olhou para os meus olhos por alguns segundos e eu ouvi o som da faca cortando o ar enquanto apreciava o brilho da lua azul.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigado a todos que leram!
Se tiverem alguma crítica (lembrem-se criticas construtivas são boas e sempre necessárias, mas não confundir com criticas destrutivas) por favor, me mandem elas.
Qualquer erro me avisem.

Paz,
?”



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Heavy." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.