Névoa Álgida escrita por JezielSMarques


Capítulo 20
Capítulo 9 – Duas rainhas, dois cavaleiros e...




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DUAS RAINHAS, DOIS CAVALEIROS E...

 

XXXVIII

 

2º dia da 4ª semana desde que eu cheguei a este mundo, completando 1 mês hoje.

A rotina de cavaleiro é mais chata do que pensei, mas não tão chata quanto a rotina de estudante.

Das 06h00 às 18h00, minha função é apenas acompanhar a Apollinariya em audições solicitadas pelos súditos, em julgamentos julgados por ela, etc. Durante o período das 19h00 às 22h00, é realizado os treinos. E felizmente obtive bastante resultados no manuseio da lâmina, já o manuseio da manopla sem resultados relevantes. Em contrapartida, a Juno consegue usar seus dois Artefatos com poucas dificuldades. O Edward disse que é normal, pelo fato da Juno ser ativa no mundo dela e eu ser apenas um civil no meu mundo.

A Antonija e Yuliya são silenciosas por natureza, pelo menos na minha presença, por isso não conversamos nada além do necessário. Mas elas qualificam-se como excelentes companheiras, creio que numa possível batalha eu poderia confiar minha vida a elas. Ambas dão duro nos treinamentos, e, não somente dão duro, como obtém resultados relevantes. Não importa como, tenho que fazer o mesmo, para que possa cumprir o juramento feito naquela noite da nomeação.

Pode não fazer sentido alguém que renasceu noutro mundo se empenhar tanto em coisas que até alguns dias atrás não lhes diziam respeito. Mas foi justamente por ter outra chance de viver, que faço o que faço. Graças ao ato de invocação dos heróis que eu posso viver novamente.

E não é somente por gratidão ou por juramentos, todavia, admiração. Nos últimos 11 dias a pessoa da Apollinariya tem me cativado cada vez mais. Mesmo com seu jeito sério, sinto prazer em servi-la. O seu brilho atrai minha lealdade de forma natural, que não há necessidade de juramentos ou sentimentos de gratidão para que eu a sirva.

— Bressiani... Bressiani...

Feliks sussurrou no meu ouvido.

— ...

O sol ainda não se pôs e me deparo novamente com a figura deste homem careca. Ao perceber que acordei, ele se levanta.

— Qual seria o motivo da sua aparição, ou melhor, invasão tão repentina?

— Hoje é o dia que a rainha do reino vizinho vem nos visitar, lembra?

— Sim... Lembro.

— No dia 5º da semana passada falei a respeito do herói deles, lembra?

— Sim, lembro disto também.

Feliks começou a andar de um lado para o outro com a mão direita firmada no queixo.

— Suponhamos que ele te desafiasse para uma luta.... Você estaria preparado?

Se me lembro bem o herói do Reino do Amanhecer, Bernard, é usuário do Artefato chamado Headblades de Agnes.  Ele chegou a esse mundo 3 anos atrás. Levando em consideração sua experiência, lutar com ele seria loucura.

— Obviamente que não. Mas é somente suposição, certo?

— E se não for?

— Então pode ir preparando meu tumulo. Por que as perguntas?

Feliks dá um breve suspiro e diz:

— É tradição que os cavaleiros dos reis, se enfrentem em duelos ao fim dos encontros entre reis. Tais duelos, são sanguinários, que visam, em alguns casos, matar o adversário.

— A Juno não pode ir no meu lugar? Ainda não estou pronto para algo assim.

— Você é o cavaleiro da monarca, então somente você pode lutar.

— Então existe alguma forma de eu lutar e sobreviver?

Desapontado, Feliks balançou coma cabeça.

— Não posso dizer que há tal forma, mas garanto que irei fazer o possível. – Disse Feliks.

— ...Farei o possível também...

Sim, farei o possível. Não a envergonharei, Apollinariya. Mesmo que o custo seja minha vida. É o mínimo que possa fazer para lhe retribuir todos os ganhos materiais e imateriais que recebi neste 1 mês.

 

XXXIX

 

O salão de festas está praticamente vazio.

Apollinariya sentada no trono, que parece mais uma cadeira. Eu de pé a sua destra, Anna de pé ao lado esquerdo e Yuliya guardando a porta. Além do Edward recostado a parede numa das extremidades do salão.

Para um encontro entre reis, isto está simples demais. Mas a simplicidade é a marca registrada da Apollinariya. E as coisas simples, ressaltam o seu brilho natural.

As portas se abriram.

A mulher, chamada Abigail, dita rainha do Reino do Amanhecer, trajando uma armadura de corpo inteiro. A sua esquerda uma espadachim de duas lâminas e a sua direita um homem alto de longos cabelos grisalhos. De acordo com o Feliks, a espadachim se chama Acsa, a serva e protetora da rainha e o homem se chama Rubens, conhecido como o warlock mais poderoso do Amanhecer e o mais poderoso dentre todos os warlocks. E... Ele, o herói, Bernard, trajando um sobretudo negro e o rosto ocultado por um capuz.

O caminhar deles, ou melhor, dela, Abigail, emana o medo em essência.

Abigail para de frente aos degraus e levanta mão direita.

— Saudações, filha de Vasili.

— Saudações, Soberana das Guerras. – Replicou Apollinariya. Que em seguida levantou-se e foi até Abigail.

— Soberana das Guerras? – Abigail soltou um breve riso, menos que 1 segundo — Meu nome sempre é relacionado ao derramamento de sangue neste reino, triste.

— E o meu nome é sempre relacionado ao de meu pai por aqueles de teu reino, triste.

Pode não parecer, pelo fato do tom de voz de ambas ser sereno, mas essa discussão contém um peso em cada palavra.

— Vamos direto ao ponto: quais os termos.

— Querendo evitar uma guerra antes mesmo de eu anuncia-la, filha de Vasili?

— Sim, não quero a população sofrendo o mesmo que 13 anos atrás.

Abigail retirou a espada da bainha, atitude suficiente para que eu também retirasse a minha também, contudo, Bernard, em questão de segundos já estava com a lâmina da sua headblade direcionada ao meus pescoço. E Edward foi em direção a Abigail, mas Rubens se pôs na frente. E Yuliya, que havia aberto a porta ao rugido da lâmina saindo da bainha, teve seu caminho bloqueado por Acsa.

Apontando a espada para Apollinariya, Abigail disse:

— Termos? E se um dos muitos termos fosse entrega-la aos meus soldados como se entrega uma meretriz, e, ao final de tudo ter sua cabeça numa bandeja, filha de Vasili?

— Se fosse pelo bem da população, eu aceitaria este e os outros termos.

— ...

Abigail colocou a espada novamente na bainha.

Leves risos, por parte de Abigail, tomaram conta do ambiente.

— Filha de Vasili, ou melhor, Apollinariya. Tu e teu pai em nada diferem. Ambos podem ser chamados de reis fidedignos. Mesmo após a morte. Termos, não é mesmo? Estes são meus termos: rendição total. O Reino de Sacramento deverá ser integrado ao Reino do Amanhecer de forma incondicional. E em troca não tocarei num fio de cabelo de todos os que nele habitam. A Casa Real de Remissão ficará sob meu teto e não mais governarão até que me convenha lhes restituir tal autoridade. Aceitas?

— Sem objeções.

Abigail apontou o dedo para mim.

— Você, cavaleiro, tenho ciência de tua deficiência de combate, mas, não serás isento da tradição. Este encontro entre reis, deve ser selado com o combate entre os cavaleiros de ambos. Sendo assim, comecem.

Ninguém ousou questionar Abigail.

 

XL

 

Todos se retiraram do salão, com exceção de Apollinariya e Abigail, eu e Bernard.

Ambas as rainhas, sentadas nos tronos, lado a lado.

E ambos os cavaleiros, de pé, frente a frente.

— Ao levantar da minha mão, iniciem o combate. – Disse Apollinariya.

Bernard parece tranquilo, fazendo um “X” com os braços, aquela provavelmente é a posição de combate dele. E julgando pela forma da posição, aquilo é uma posição de ataque direto.

Eu retirei a espada da bainha e fiquei em posição de defesa, mas armado para um contra-ataque, assim como o Philip me ensinou.

Ao levantar da mão de Apollinariya, Bernard partiu para cima de mim.

Bloqueie os seis golpes de suas headblades, mas, ao tentar contra-ataca-lo...

Não consegui prever. A headblade da mão esquerda foi em direção a minha garganta. Contudo, ela parou a poucos milímetros de distância. Ou melhor, tudo ficou parado.

O clima gelou repentinamente.

Ela, a mulher alta vestindo uma túnica negra e o chapéu de bruxa apareceu.

Caminhando lentamente até mim ela disse:

— Que maldade da parte deles te forçarem a lutar contra alguém notavelmente superior.

Segurando Bernard pelos ombros, ela o arremessou alguns metros de distância. E ele caiu no chão estático, como se fosse um objeto sólido.

Semelhante à outra vez, eu não consigo me mover e mesmo assim tento de forma tola. Mas diferente do Bernard ou da Apollinariya e Abigail, pareço ser o único a estar com a mente funcionando ou invés de “congelada”.

A mulher alta segurou meu queixo com a mão direita e aproximou seu rosto do meu.

— Você não pode morrer ainda, Matheus. Te trazer para cá foi difícil, então faça jus.

“Como ela sabe meu nome?”, seria um pensamento idiota, alguém com tamanho poder não teria dificuldade para saber o nome de outra pessoa.

Contudo, mesmo que ela saiba o meu nome, eu não sei dela, por isso, movendo os lábios com extrema dificuldade eu disse:

— Q-ue.. em... É...

— Quem eu sou? Boa pergunta: quem eu sou? Eu já fui duas pessoas, e, agora sou uma terceira. Mas acredito que você se importe mais em saber quem eu era.

Ela largou o meu queixo e se virou-se de costas para mim.

— Ainda não é a hora. Você e nem ninguém deste mundo suporta minha presença por mais que poucos minutos. Quem sabe noutro dia, eu possa te contar quem eu era.

Meus olhos se fecharam a medida que ela se distanciava, até que apaguei.


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