O chuva batia com força na janela. A tempestade ficava mais intensa a cada minuto, se aqueles deuses mitológicos realmente existissem, Zeus deveria estar muito bravo em algum lugar.

— Percy – o moreno ouviu a melhor amiga chamar da cozinha, para onde ele se dirigiu.

Percy e vários outros amigos haviam se reunido no apartamento de Annabeth naquela noite para uma sessão de filmes, desde que eles haviam começado a faculdade era cada vez mais difícil dos amigos se encontrarem, mas todos os outros haviam ido embora antes de começar a chover e Percy, que havia ficado para ajudar a amiga a arrumar a bagunça, acabou ficando preso no apartamento da loira.

— Não parece que a chuva vai diminuir tão cedo, então estava pensando que poderíamos ver mais um filme e comer alguma coisa – Annabeth estava sentada no balcão ao lado da pia, que estava cheia, e os pés descalços fora do chão – Eu acho que Magnus comprou alguns falafels a mais para ele e para Alex ontem e sobraram alguns na geladeira.

— Desde que você não me faça assistir nenhum documentário chato sobre mitologia de novo, Sabidinha, eu topo.

Percy sorriu para Annabeth e a garota sentiu seu coração disparar, ela fazia o seu melhor para disfarçar o sentimento pelo melhor amigo, o que era bem difícil já que ela e o moreno de olhos verdes passavam mais tempo juntos do que Annabeth passava com o seu primo Magnus, com quem dividia o apartamento.

— Então vai escolher o filme e eu procuro algo para comermos.

— Algo azul? – perguntou o amigo fazendo cara de cachorro que caiu da mudança.

Annabeth revirou os olhos, mas não conseguiu conter o sorrio.

— Vou ver o que posso fazer.

Percy era uma pessoa incrivelmente indecisa quando se tratava de escolher filmes, então Annabeth sabia que teria tempo suficiente para achar algo para comer e talvez até cozinhar algo azul para ele.

Magnus realmente havia deixado alguns falafels na geladeira – ele certamente reclamaria por ela ter comido, mas nada que Annabeth não conseguisse remediar comprando outros para ele acompanhado de uma maratona de Doctor Who – e a garota também achou algumas balas no armário. Ela podia ouvir Percy grunhindo de indecisão na sala então ela decidiu fazer uns cookies azuis, não eram tão bons quanto os de Sally, mãe de Percy, mas o garoto parecia gostar tanto quanto.

Meia hora depois, os cookies estavam prontos e o garoto ainda estava soltando reclamações na sala de estar, mas as reclamações pararam assim que Annabeth entrou na sala com a bandeja cheia de cookies, balas e falafels.

— Sabidinha, você fez cookies azuis? Você é a melhor! – Percy plantou um beijo na bochecha de Annabeth.

O rosto da garota ficou vermelho e ela não sabia se sentia mais vontade de dar um soco no melhor amigo ou um beijo.

— Então o que escolheu? – perguntou se jogando no sofá.

— Estou em dúvida – ele pode ouvir ela murmurando que era obvio, mas preferiu ignorar – entre A Pequena Sereia e A Pequena Sereia 2.

— Pelo amor dos deuses, Percy! Não vou assistir A Pequena Sereia de novo com você, assistimos essa semana com a Estelle e tive que aguentar você cantando “Aqui no Mar” três vezes antes de continuar o filme.

— Pequena Sereia 2 então será – respondeu com um sorriso.

Annabeth bufou e desistiu de tentar contraria-lo. Ela se levantou e apagou a luz, se sentando de novo e pegando um cookie da bandeja.

Os primeiros minutos foram tranquilos, mas quando Melody, a filha rebelde de Ariel, estava feliz da vida cantando após ter ganhado sua cauda de sereia, Annabeth começou a perceber o quão cansada estava. Uma maratona de três filmes mais uma rodada de Twister acabaram sendo mais cansativas do que ela esperava, principalmente quando Leo Valdez decide encenar partes do filme na frente da TV e inventar regras novas para o jogo.

Do lado de fora, a chuva parecia ter diminuído e, percebendo a chance de poder ir dormir, a loira virou-se para o amigo, mas Percy parecia estar em um sono tão profundo que ela podia ver Sebastião e Linguado nadando ao seu redor.

Annabeth empurrou o corpo de Percy para que ele ficasse deitado no sofá e foi buscar um cobertor, mas ao cobrir o amigo ela o ouviu murmurar o seu nome.

— Achei que você estava dormindo, Cabeça de Alga – respondeu Annabeth, mas ao encarar o moreno percebeu que ele realmente estava dormindo.

O rosto de Annabeth esquentou e fez questão de se afastar, mas Percy, ainda dormindo, segurou o braço da loira, como se estivesse representando o sonho que tinha em sua mente, e a puxou para si.

— Percy... Percy... – Annabeth murmurou desesperada – Perseu, me solta.

Mas o garoto continuou no sono profundo e envolveu o corpo de Annabeth com os braços e as pernas, como se ela fosse um ursinho de pelúcia gigante. A loira tentou se soltar mais uma vez, mas isso só fez Percy apertá-la mais ainda e murmurar “Eu sou uma sereia, mamãe”, fazendo Annabeth segurar o riso, apesar da tensão.

Vendo que não ia conseguir se soltar do abraço do amigo, Annie começou a perceber como o peito de Percy era confortável para descansar a cabeça e como os braços dele envolviam seu corpo inteiro, dando a volta em sua cintura. Os amigos já haviam se abraçado antes, mas na maioria das vezes Annabeth tentava se afastar o mais rápido possível para que o moreno não percebesse seu coração disparado, mas desta vez o sono era maior do que o bom senso.

Annabeth abriu os olhos, mas se arrependeu no mesmo segundo por causa da luz forte que atravessavam as janelas sem cortinas. O relógio na parede indicava que já era onze horas.

— Bom dia, Sabidinha – ouviu a sua voz favorita falar muito perto de sua orelha e se assustou, caindo do sofá – Nossa Annie, sei que não sou um galã de Hollywood, mas não sou tão feio, ou pelo menos é isso que minha mãe me diz.

Normalmente, Annabeth teria dado risada, mas ela ainda estava atordoada por ter acabado de acordar e por perceber que havia passado a noite abraçada com seu melhor amigo/amor platônico no seu sofá e... merda, Magnus deve ter chego pela manhã e visto os dois no sofá, o que geraria vários momentos constrangedores quando Percy fosse embora.

— Annabeth, você está bem? – ele parecia estar começando a se preocupar com o silêncio da amiga, ainda caída no chão.

— Não! Eu não estou bem.

Percy se abaixou preocupado, passando os olhos pelo corpo da loira checando se ela tinha algum machucado.

— Você se machucou quando caiu? O que aconteceu? – ele parecia desesperado e tentou ajudá-la a levantar, mas foi ignorado e afastado pela amiga.

— Não! Eu me esforcei tanto por tanto tempo para disfarçar tudo isso, pra ir tudo por água abaixo em uma noite porque você estava irritantemente fofo dormindo, porque seu peito parecia ridiculamente confortável e porque seu abraço era estupidamente perfeito para me encaixar. Não! Eu me recuso a deixar todo o meu esforço para disfarçar os meus sentimentos ir por água abaixo porque você, Percy Jackson, dorme como uma pedra e diz o meu nome durante o sono. POR QUE VOCÊ ESTÁ SORRINDO?

Enquanto ouvi Annabeth reclamar, um sorriso se formava no rosto de Percy. Então ela se sentia da mesma forma que ele, ela também sentia seu coração disparar quando ele sorria, ela também arranjava desculpas para ficar um tempo a mais com ele quando os amigos iam embora.

— Perseu Jackson, se você estiver dando risada da minha cara eu juro que vou te socar tão forte que você... – Annabeth parecia prestes a chorar, mas isso não diminuía a raiva da garota.

— Annabeth Chase, cala a boca.

— O quê? – em todos os anos de amizade e amor platônico, Percy nunca tinha mandado Annabeth calar a boca.

— Eu disse cala a boca, porque eu quero te beijar e não dá para fazer isso se você continuar me xingando.

Antes que Annabeth pudesse dizer qualquer coisa, os lábios de Percy encontraram os de Annabeth em um beijo em que os dois esperaram anos para acontecer e, agora que aconteceu, não acabaria tão cedo.