Bring Me To Life escrita por Fui embora


Capítulo 4
4/4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/75369/chapter/4

-Dawn, você sabe que isso é para o seu próprio bem.

-Mas, Tara... –A adolescente ensaiou uma reclamação. Tara, porém, não deixou que Dawn continuasse falando.

-Não. É perigoso. Willow está descontrolada, e Buffy quer que você fique em segurança. Eu quero que você fique em segurança. E Spike pode protegê-la. Além de tudo, eu sei o quanto você gosta da... companhia dele. –Tara provocou a mais jovem.

Dawn ficou vermelha.

-Não! –Dawn protestou.

O tom de voz da adolescente fez Tara perceber que havia algo de errado.

-Ele... machucou Buffy. Eu sei que ninguém quer falar sobre isso comigo, todo mundo me acha criança, mas eu sei o que aconteceu.

Tara olhou para Dawn, sorrindo fracamente.

-Não, Dawn. Ninguém acha que você é criança. Eu, pelo menos, não acho.

-Então eu posso ir com você?

O fantasma suspirou.

-Você sabe que não. É muito perigoso, Dawn. Já conversamos sobre isso. Se der errado pra mim, não faz diferença. Eu já estou morta, lembra? –A loira deu um sorriso triste. –Mas você ainda tem muito pra viver. E se... se o plano der errado... pra mim... eu vou precisar que você cuide da Will. –Tara colocou a mão no ombro de Dawn. –Você me promete que vai cuidar da Will caso eu não possa... ficar?

-Tara, por favor, não fala isso. Vai dar tudo certo. Para você e para a Willow.

Uma lágrima caiu dos olhos de Tara. A voz de Dawn era esperançosa, e Tara sentiu uma pontada de medo. Se aquilo desse errado... o que aconteceria com ela?

-Tem certeza de que quer ir? Vai ser perigoso.

A adolescente balançou a cabeça, concordando.

-Ei, eu sou a irmã mais nova da Caçadora. Eu sou A Chave. Você ainda acha que eu tenho medo de alguma coisa?

Tara deu uma risada breve.

-Então, nos encontramos lá.

---

Recuperando-se do ataque surpresa, Willow virou-se para encarar o recém-chegado.

Giles, vestindo uma capa longa e exibindo uma expressão desafiadora em seu rosto, encarava a ruiva.

-Rupert... –A bruxa disse, com desprezo. –O Sentinela agora quer me derrotar? Haha. Ótima piada. Pena que você nunca teve senso de humor.

Impassível, Giles desceu as escadas até a parte principal da Magic Box. Willow percebeu a energia mágica que irradiava do bibliotecário inglês.

-Willow, você precisa ser detida. Eu sinto muito que a situação tenha chegado a esse ponto. –Ele encarava a bruxa. –Eu deveria ter tomado providências já há bastante tempo... Mas insisti em acreditar que você resolveria seus problemas por conta própria. Foi meu erro. Eu deveria saber que nem mesmo você era forte o suficiente para dominar tanta magia...

-Eu não sou forte? Olhe para mim, Rupert. Eu sou o ser mais poderoso do mundo.

Para provar seu argumento, Willow disparou um raio contra o Sentinela. Giles foi arremessado para trás, chocando-se contra uma estante. Ele levantou-se com dificuldade.

-Não, Willow... Você não é o ser mais poderoso do mundo. –Ele devolveu o ataque. A bruxa perdeu o equilíbrio, batendo em uma parede e escorregando até o chão. Enquanto ela se levantava, Giles dizia. –Existe um ser mais poderoso do que qualquer um de nós. Só um tolo para não perceber isso...

-Deus? –A voz amarga de Willow perguntou. –Se houvesse um Deus, ele jamais teria permitido que Tara fosse levada embora... Se Deus existisse, Tara jamais teria... morrido.

A jovem ergueu a mão e lançou um feitiço contra o inglês. Giles sentiu uma dor excruciante no abdome, como se houvesse levado um coice.

-Oof! –Ele exclamou. –É isso... que você... não... consegue enxergar...

Willow se aproximou do Sentinela, sem dar atenção às palavras. A necessidade de aumentar seu poder falava mais alto. Precisava ter para si aquela grande magia que emanava de Giles. Com ela, seu poder se estenderia de tal maneira, que a bruxa acabaria tão poderosa quanto uma deusa, quase como a antiga inimiga Glory.

-Ah, Rupert... Eu sempre achei que você tivesse todas as respostas. Lembra-se de quando você era o bibliotecário da Sunnydale High? –Willow balançou a cabeça, como se estivesse perdida em lembranças. –Eu o idolatrava. O bibliotecário britânico, dono de uma invejável coleção. E depois, a descoberta: você era o Sentinela, o Watcher. Tem idéia de quanto isso me impressionou? Acredite, foi bastante... –Willow encarou os olhos de Giles, com uma expressão quase piedosa. -Mas eu comecei a perceber algumas coisas. Tsc, tsc... Deve ser complicado perceber que a sua função é meramente figurativa, não é, Rupert? Que a única coisa que você deve fazer é assistir... –A voz da ruiva era desdenhosa. -A inveja. A impotência diante do perigo.... Você não podia suportar que eu era quem tinha mais poder. Mais poder que você. –Ela olhou para o chão, onde Buffy ainda estava inconsciente. –Mais poder que Buffy. Foi por isso que você fugiu.

Giles tentou executar um feitiço, mas seu esforço foi inútil. Willow repeliu o ataque.

-Você está gastando muita energia mística para se manter, Willow. Uma hora, você vai se esgotar... Vai se esgotar por completo.

-Blá blá blá...

-Willow... –Giles disse, com dificuldade. –Você... precisa parar. Se continuar assim, a magia vai te matar.

-O que eu preciso... –Ela estendeu suas mãos na direção de Giles. –É do seu poder.

A bruxa encostou as mãos no peito do Sentinela, e uma luz alaranjada brilhou. O inglês soltou um grito de dor. Alguns instantes depois, ela se afastava de Giles, meio tonta.

-Uau. Uau. Quem é o seu fornecedor? Isso é... uau!

Um brilho maníaco iluminava os olhos de Willow, e ela sorria. Giles estava caído no chão, bastante enfraquecido.

-De verdade, isso é incrível... Giles... nenhum... mortal... nunca já... teve tanto poder. Nunca. É como se... eu estivesse conectada a tudo... eu posso sentir... é como se... eu... eu pudesse sentir... -O sorriso de Willow desapareceu; ela arfava . -...todo mundo... Meus pais. Cada aluno na UC Sunnydale... O presidente... O Dalai Lama... Bill Gates... Steve Jobs... Robert Tapert... JK Rowling... George Lucas... Ellen DeGeneres... Angelina Jolie... Angelina Jolie... Você... E Buffy. E Anya e Xander e Dawn e... Tara... Tara. Eu... eu... posso sentir Tara.

A ruiva começou a olhar em volta. Inexplicavelmente, ela sentia as emoções de Tara, como se ela estivesse viva. E, ainda mais que isso, como se Tara estivesse ali, perto dela.

-GILES! O que está acontecendo? –Willow exibia um olhar terrificado. O homem caído no chão levantou a cabeça, apesar da exaustão. –Giles, o que significa isso?

Com dificuldade, o bibliotecário respondeu.

-O que você não percebe... Willow... é que Tara... ela...

O inglês desmaiou, sem forças.

-GILES!!! Giles, o que está...? Ugh!

A bruxa caiu no chão. Uma dor terrível afligia o corpo de Willow. Ela sentia o mundo inteiro com mais intensidade. Não era uma sensação agradável: suas vias respiratórias queimavam e ardiam, como se ela respirasse dentro de um recipiente cheio de metal derretido. Seu coração estava sendo apertado, e ao mesmo tempo ela sentia pontadas terríveis, como se diversas estacas a perfurassem. Sua cabeça rodava, e um zumbido incessante lhe enchia os ouvidos. Mas o pior eram os sentimentos. Willow sentia emoções opostas: raiva e paz, ódio e amor, tristeza e felicidade. Aquilo lhe levaria à loucura.

-Will, você pode parar com a dor. –Uma voz suave disse em sua cabeça. A bruxa sabia que conhecia aquela voz, mas estava tão desorientada que não conseguia se lembrar quem era que falava com ela daquela maneira tão doce, tão amorosa.

-É. Eu posso. Tenho que parar com a dor. –Willow se levantou cambaleante. –Vou fazer com que ela desapareça.

-Willow...! –A voz chamou de novo, suplicante, mas a ruiva não deu atenção. Seu rosto estava determinado com uma nova resolução.

-Ah, seus pobres bastardos! –Magia começou a brilhar pelo ar, pequenos raios emanando do corpo de Willow. –O sofrimento de vocês tem que acabar.

A energia zunia e estalava no ar.

-Willow, me escute...! –A voz chamou mais uma vez. -Há uma maneira de resolver tudo isso...

Mas a bruxa estava surda aos apelos daquela voz. A dor que sentia era insuportável. Ela fechou os olhos, e desapareceu.

Ao mesmo tempo, uma forma translúcida e tremeluzente surgiu no meio da Magic Box. Tara olhou em volta, percebendo que Willow não estava ali mais.

-Ah, deusa!

---

-Tara!- Dawn exclamou no momento que atravessou a porta.

A loira virou-se para encarar a amiga.

-Tara! Você... você voltou à vida? –A mais jovem perguntou, enquanto abraçava a outra.

-Não, Dawnie. Willow.... –O fantasma suspirou- Ela foi embora antes que eu aparecesse. C-consegui fazer com que ela me ouvisse, mas acho que ela nem... r-reconheceu a minha voz.

As duas ouviram um barulho. Alguém se movia às costas de Tara.

-Willow?

Não era a ruiva. Buffy estava acordando depois da surra que havia levado.

-Dawn... Tara... Tara? –A caçadora piscou, incrédula. –Tara! Você está viva! O plano deu certo!

A Summers mais velha se levantou com dificuldade, determinada a abraçar a amiga.

-Não, Buffy. Ainda estou morta. –Tara olhou para baixo. Uma parte de seu cabelo caiu na frente de seu rosto. –Willow foi embora antes que eu aparecesse.

-Foi embora? Pra onde?

Tara balançou a cabeça.

-Não tenho idéia.

-Mas eu tenho. –As três garotas viraram a cabeça na direção de Giles, que havia acabado de acordar. O Sentinela estava deitado, respirando e falando com dificuldade. –Posso vê-la. Ela vai... acabar... Com o mundo.

-Ela está tão poderosa assim?-Dawn perguntou.

Giles assentiu com a cabeça.

-Ela... está indo a um templo satânico.

-Onde? –Buffy perguntou. –Giles, me diz onde é que ela está que eu vou correndo e...

-Não, Buffy! –Tara interveio. –Nenhuma força mística pode deter Willow. O ritual que fizemos, que deu o poder a Giles... –Tara balançou a cabeça, organizando as idéias.- É complicado explicar isso agora. Mas sua força de Caçadora seria inútil contra Willow... Giles, onde é esse templo satânico?

-Em...ugh... Kingman’s Bluff.

-Não tem nenhum templo em Kingman’s Bluff. –Buffy disse.

---

O chão começou a tremer quando Willow estendeu os braços. Aos poucos, uma torre surgiu do chão, se erguendo. No alto, havia um símbolo; um tridente com um pentagrama de cabeça para baixo na haste. Logo abaixo, havia quatro gárgulas em volta da torre; uma delas estava sobre a cabeça da estátua horrenda de um demônio. Seu corpo era de mulher, estava nu e envolvido por uma cobra gigante. A boca do demônio estava aberta, revelando uma língua bifurcada.

---

-Proserpexa? –Tara perguntou. Buffy olhou para ela, sem entender. O fantasma continuou falando. –O templo... era de Proserpexa, não era, Giles?

O inglês acenou com a cabeça, concordando.

-Isso é ruim? –Buffy perguntou.

-Péssimo. Na hierarquia dos demônios ela, bem, ela é bem importante.

Giles se esforçou para ficar sentado.

-Tara... você precisa ir. Você ainda tem uma chance.

O fantasma concordou com a cabeça. Ela se virou para Dawn.

-Lembre-se da sua promessa. Se eu não... voltar... você vai tomar conta da Will pra mim.

-Você vai voltar, Tara!

A mais jovem jogou seus braços em torno do fantasma.

-Você vai voltar, Tara! –Ela repetiu, abraçando a amiga.

Tara fechou os olhos e se concentrou em Willow. Logo estava envolta naquela sensação de ser puxada para frente. Um instante depois, ela sumiu.

Dawn abaixou os braços ao perceber que Tara não estava mais ali. No mesmo momento, Anya começou a acordar.

-O que aconteceu?

Buffy rapidamente explicou a situação para a demônio da vingança.

-E Xander? Onde ele está?

Giles, Buffy e Dawn se entreolharam, não sabendo a resposta.

---

Tara abriu os olhos. Seus amigos e a Magic Box tinham desaparecido. Ela estava num cenário arenoso, quase desértico. Ela podia ver ao longe a torre recém-revelada. Mas não via Willow.

“Deve estar do outro lado”. O fantasma começou a caminhar na direção do templo.

-Da caverna das sombras esquecidas... Acorde, irmã da escuridão, acorde. Proserpexa... deixe que as chamas purificantes das profundezas queimem as almas sofredoras e traga uma morte doce.

Raios elétricos começaram a surgir no ar, entre Willow e a imagem do demônio. Surgiu um vento, levantando muita areia, e fazendo com que as poucas árvores ali perto perdessem suas folhas restantes. O chão começou a tremer. Várias bolas de luz verde fluíam de Willow para a imagem.

De repente, Xander surgiu, se colocando entre a bruxa e o templo.

As luzes pararam imediatamente.

-Xander! –Tara viu quando o carpinteiro surgiu na frente de Willow. Ainda estava longe para que pudesse ouvi-los, mas sabia que a situação não ia nada bem.

Xander foi arremessado para trás por um raio lançado por Willow. A bruxa recomeçou a transferir magia para a imagem, mas o carpinteiro se levantou. Ela parou novamente. Tara podia ver que Willow estava zangada, querendo acabar com Xander. Quando o fantasma finalmente se aproximou do templo, ela pode ouvir sua namorada dizendo para o rapaz:

-...Você vai me parar, dizendo que me ama? Isso é patético, Xander.

Willow ergueu a mão para atacar seu amigo, mas antes que ela pudesse executar qualquer feitiço, Tara disse:

-Não. Willow, você não vai machucar mais ninguém.

Ao ouvir a voz, Willow perdeu a noção do que estava fazendo, ou do que tinha acontecido nos últimos dias.

-Tara? Tara, é você?

O fantasma saiu de trás do templo de Proserpexa.

-Sim, Will.

-Você... você está viva?

Tara balançou a cabeça, negativamente.

-Não. Eu estou morta. Sou um fantasma.

-Tara...

Tara se aproximou de Willow, passando por Xander, que sorria discretamente.

-Bem na hora! –Ele falou, para si mesmo.

-Will... O que aconteceu com você?

A ruiva estendeu a mão direita, na direção de Tara. A loira, porém, fez um sinal para que ela parasse.

-Você não vai conseguir encostar em mim. Eu sou só um fantasma, Willow.

-Não... Você não pode ser só um fantasma. Eu quero você. Comigo. Viva. Pra sempre.-A voz de Willow era chorosa. Ela encarou Tara, e então mudou o tom, enraivecida. –Mas se não podemos ficar juntas...

Tara fez uma cara triste.

-Você vai acabar com o mundo, Willow? –Ela encarou a ruiva que tanto amava. Era dolorido demais vê-la naquela situação. Depois de um longo silêncio, Tara continuou. –Vai acabar com o mundo porque eu morri?

-Tara... Não é isso. É que...

-Não, Willow. –Tara interrompeu. –Isso não tem nada a ver comigo. Tem a ver com a magia. Ah, Will... Você ainda não entendeu?

-Não, Tara! Não tem a ver com a magia. Sem você, a magia não é nada... Sem você, o mundo não é nada.

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Tara.

-Ah, Will... Por que? Você estava tão bem. Sem magia. Por que você fez tudo isso? Tanta dor, destruição... Por que, Willow?

-Foi por você, Tara! –Willow deixou-se cair de joelhos no chão.

-Não, Will. Você sabe que eu quero que você esteja bem. Mas com a magia, você não fica bem. Não mais. Nunca mais.

-Mas você está aqui! Isso deve significar que há uma forma de te trazer de volta...

-NÃO! Willow, se você me ama... Por favor. Pare de usar magia. Agora.

A ruiva estava assustada.

-Tara... eu preciso da magia. Para ter você de volta.

A loira balançou a cabeça.

-Não, Will. Você não percebe? É a magia que está nos afastando. –Enquanto dizia isso, Tara deu um passo para frente. Estavam a poucos metros de distância uma da outra.

-Se eu desistir da magia, você volta pra mim?

-Isso não é uma barganha, Willow. Você precisa deixar que a magia vá embora. Sem pensar em condições. Sem pensar em mim. Faça isso por você.

-Por que? –Willow protestou. Parecia uma criança mimada. –Você não quer ficar mais comigo?

-Oh, Willow... Tudo o que eu mais quero é ficar com você. Mas não é possível. –As lágrimas caíam aos montes dos olhos de Tara. –Ver você assim é doloroso demais. Você está descontrolada. Precisa se tratar. E eu...

Tara engoliu em seco. Precisava criar coragem para continuar falando.

-E você...?

-Eu preciso seguir em frente, Willow. Mas com você desse jeito, é impossível. Só me traz sofrimento.

-Eu não quero que você sofra, Tara. De jeito nenhum. Você quer que eu desista do meu poder? Eu desisto. Por você, eu faço qualquer coisa.

Tara deu mais alguns passos. Agora, estava a poucos centímetros longe de Willow. O fantasma estendeu a mão.

-Não faça isso por mim, Willow. Faça isso por você. Porque é você quem está viva. É você quem precisa ficar bem.

Uma lágrima brotou no olho de Willow. Desde a morte de Tara, aquela era a primeira lágrima que não era de revolta. A mão estendida de Tara tocou na bochecha de Willow. O coração da ruiva batia forte em seu peito, e ela sentiu um calor irradiar da palma da mão do fantasma de Tara. De repente, Willow estava arrependida de todos os erros que havia feito até então. Não só dos ferimentos, destruição e morte que ela havia causado nos últimos dias, mas de todas as coisas erradas que havia feito em sua vida. Brigas em casa. Invasão a sites e computadores. “Empréstimos” de ingredientes mágicos na Magic Box. Tudo. O toque de Tara estava fazendo Willow se arrepender de tudo.

-Tara... Eu me arrependo. De tudo! –A voz dela estava chorosa e sincera. –Eu... eu não quero mais a magia. Leve-a embora. Por favor.

Willow abraçou Tara, e começou a sentir o mundo tremer. A magia fluía para fora de seu corpo. A ruiva chorava e soluçava, abraçada no fantasma de sua namorada.

Depois de um tempo que pareceu uma eternidade, o tremor terminou.

-Muito obrigada, Will... –Tara disse. Ela virou o rosto de Willow na direção do seu próprio, e lhe deu um beijo. Willow, de olhos fechados, sentiu a boca do fantasma. Parecia ser igual a quando Tara ainda estava viva. O beijo foi calmo, e ao mesmo tempo cheio de saudade. E despedida. Depois de um longo tempo, Tara se afastou. –Não se esqueça, Will: eu te amo.

Willow abriu os olhos, mas foi ofuscada por uma intensa luz azul que brilhava exatamente onde Tara estava.

Temporariamente cega, Willow desabou. Estava exausta.

-Xander? –Ela chamou, ainda sem enxergar.

Ela ouviu os passos do amigo, mas antes que ele se aproximasse, Willow desmaiou, esgotada.

---

Parecia que havia sido atropelada por um caminhão. Sua cabeça estava pesada. Os músculos todos dos braços e das pernas estavam doloridos. Estava deitada em sua cama. Ainda de olhos fechados, Willow tentou se virar na cama. Uma mão macia encostou em seu ombro, impedindo o movimento.

-Tara...? –perguntou. A voz de Willow saiu áspera, depois de tanto tempo sem falar. Ela abriu os olhos.

Ao invés de Tara, era Dawn quem estava ali. A adolescente parecia abatida.

-Não se mexa. Você precisa ficar parada, pra se recuperar... Ou foi isso que o médico do Conselho disse.

-Médico do Conselho?

Dawn concordou com a cabeça.

-Giles achou melhor chamar alguém especializado... Por causa da perda de energia mística que você teve, lá em Kingman’s Bluff.

Willow percebeu que sua garganta estava seca, e pediu água. Dawn saiu do quarto.

“Então... aquilo não foi um pesadelo. Aconteceu de verdade. Eu quase destruí o mundo... E Tara... Oh, deusa! Tara...”

Dawn entrou de novo no quarto, segurando uma jarra com água e um copo. Ela o encheu de água e entregou para a ruiva na cama. Willow bebeu com dificuldade.

-Dawn? Há quanto tempo eu estou aqui?

-Dois dias.

Willow encarou o teto, pensativa. Precisava perguntar sobre Tara, mas estava com medo de ouvir a resposta.

-Você ficou cuidando de mim?

A mais nova concordou com a cabeça.

-Tara me pediu que cuidasse de você quando ela...

-Não estivesse aqui? –Willow interrompeu Dawn, subitamente triste. –Então ela foi embora, de verdade, não é?

Antes que Dawn pudesse responder, Buffy, Giles e um senhor com uma longa barba branca entraram no quarto.

“Parece o Dumbledore”, Willow pensou.

-Ah, você acordou. –O homem disse. –Eu sou o Dr. Blake. Como você está se sentindo?

-Como se um caminhão houvesse me atropelado.

O médico deu um sorriso, e se aproximou de Willow, para examiná-la. Enquanto isso, Dawn e Giles conversavam em voz baixa, e Buffy fazia uma ligação.

-Xander? A Will acordou. ... Vocês demoram muito? ... Ok, então. Até daqui a pouco. –Ela desligou o telefone, e se aproximou da cama. –Will, tudo bem?

A ruiva concordou com a cabeça, apesar de não ter certeza da resposta.

-Buffy... eu... eu preciso pedir desculpa. Pelas coisas que eu disse. –Willow suspirou. –Pelas coisas que eu fiz.

A Caçadora segurou a mão de sua amiga, e apertou brevemente.

-Tá tudo bem, Will. A gente entende o que você sentiu... Mas, por favor, promete pra mim que você nunca mais vai tentar destruir o mundo. –Buffy deu um sorriso. -Já temos vilãos demais para enfrentar, e você é a mais forte da Scooby Gang. Se você for nossa inimiga, estamos perdidos.

Willow deu um sorriso fraco, e se ajeitou na cama. O Dr. Blake terminara de checar os sinais vitais da bruxa, e havia se afastado.

-Buffy... O que aconteceu? Em Kingman’s Bluff? Depois que... –Ela não teve forças para continuar a frase. Uma lágrima escorreu, rolando quente por sua bochecha.

-Você desmaiou, e caiu no chão, antes que Xander estivesse próximo o bastante. Você bateu a cabeça.

Instintivamente, a bruxa passou a mão pela cabeça, e sentiu um galo dolorido na parte de trás. Mas Buffy não tinha dito o que era mais importante para Willow.

-Hum... e quanto... –A ruiva inspirou com força. –E quanto à Tara?

-Ela salvou o mundo, Will. O poder que você roubou de Giles fez com que você entrasse em contato com seus sentimentos. Com isso, Tara pode se aproximar de você, e fazer com que você voltasse a sentir. Amor. Era o plano dela... devolver seus sentimentos para que você voltasse a ser você. –Buffy sorriu. –E funcionou.

-Mas, o que acon...

Antes que Willow completasse a frase, Anya entrou no quarto.

-Willow! Você acordou. Até que enfim, achei que nós teríamos que ficar cuidando de você pelo resto da vida. –A demônio da vingança virou-se para trás, e berrou. –É verdade, ela está acordada!

-Olá, Anya... –Willow murmurou, meio emburrada. Estava tão perto de saber o que havia acontecido com Tara, mas a chegada de Anya interrompera. –Cadê o Xander?

-Está estacionando o carro. Parece que um dos vizinhos está dando uma festa e...

-Oh! –De repente, Willow prendeu a respiração, e parou de ouvir todos os sons que estavam a sua volta.

Porque Tara entrava no quarto, segurando um vaso de margaridas.

-Tara! –Willow disse. Sentiu como se fosse embora toda a dor e cansaço que estava sentindo até então. –Tara!

-Will. –Ela deu um sorriso. O sorriso torto que era sua marca registrada, e que ela não sorria desde que havia morrido.

A loira se aproximou da cama, enquanto os outros saíam do quarto.

-Trouxe isso para você. –Tara disse, entregando o vaso de flores. –Lembra o que as margaridas brancas significam?

Willow acenou com a cabeça.

-“Você é tudo para mim”. –Willow deu um sorriso, enquanto colocava o vaso na mesa de cabeceira. Quando ela se ajeitou de volta na cama, para olhar para Tara, a loira sentou-se na beirada da cama e segurou a mão direita de Willow.

-Will, você está bem?

-Agora, mais que nunca. –A ruiva olhou nos olhos azuis de Tara. –Tara, o que aconteceu? Eu lembro de Kingman’s Bluff... e do beijo. E então a luz azul, e eu desmaiei.

-Aquilo era um portal, Willow. Um portal para a vida ou para a morte. Ele só surge em tempos críticos para a Terra. Em épocas de possíveis Apocalipses, que...

-Já estivemos em mais de um Apocalipse –a ruiva interrompeu - e nunca aconteceu nada assim antes. Não que eu esteja reclamando, é claro.

Tara deu um sorriso leve.

-Você chegou muito perto de acabar com o mundo, Will. Mas eu cheguei em você antes que isso acontecesse. O portal é uma conseqüência de um... aborto de Apocalipse. Um aborto que você criou, ao me beijar, Will. –Tara apertou a mão de Willow. –Porque, fazendo isso, você desistiu completamente de acabar com o mundo. Então, o portal se abriu, e eu fui levada para uma outra dimensão.

-Outra dimensão?

-É. Anjos me receberam, e me deram uma escolha. Eu podia escolher qualquer lugar de qualquer universo, em qualquer época, e seria mandada pra lá. Podia pedir que me levassem para o Céu, ou para perto da minha mãe... -Tara inspirou. - Mas eu sabia que meu lugar era com você. Mesmo podendo escolher, eu não tinha escolha. Porque você é tudo pra mim, Willow. E eu devia voltar para você.

Willow engoliu em seco, tocada pelas palavras da mulher que tanto amava.

-Tara... eu tive tanto medo de ter que viver sem você. –Uma lágrima caiu dos olhos de Willow. –Não poderia ficar sem você.

-Nem eu, Will. É por isso que fiquei como um fantasma, aqui em Sunnydale, vendo tudo que acontecia.

-Ah, Tara, eu sinto muito por tudo que eu fiz. Eu estava descontrolada, sem saber o que fazer...

Tara abraçou Willow, e deu um beijo em sua testa.

-Shhh, amor, não precisa se desculpar. Eu entendo.

A ruiva estava chorando.

-Não, Tara... Eu nunca deveria ter feito aquilo. Nunca. Foi contra todas as coisas que nós conversamos. Eu devia ficar sem magia. E...

Antes que Willow continuasse, Tara lhe beijou. Ela colocou uma mão no pescoço de Willow e a puxou para mais perto.

-Não, Will. Pare de se lamentar. –A loira falou, entre os beijos. –Não tem como mudar o passado... Mas podemos fazer o presente valer a pena... E construir um futuro sem preocupações.

Continuaram se beijando por mais algum tempo, até que ouviram alguém na porta.

-Ahem, Tara... Eu sei que você está com saudade da Will, mas nós também. –A voz de Xander fez com que as duas garotas se separassem, enrubescendo um pouco.

Tara voltou a segurar a mão de Willow, e Xander e os outros, menos o médico, entraram de novo no quarto.

Willow olhou para aquelas pessoas. A sua família. Ela sabia que tinha feito coisas terríveis, e que precisaria recompensar por tudo aquilo. Mas eles continuavam ali, dando-lhe força, preocupados com o seu bem-estar. Eles a amavam. E Tara estava viva novamente, sentada ao seu lado, segurando sua mão. E nunca mais iria embora.

---

-Posso abrir os olhos? –Willow perguntou, enquanto era guiada por Tara.

-Ainda não.

-Você está me deixando curiosa... –Willow reclamou.

-Espera...-Tara sorriu enquanto ajudava Willow andar. –Pronto, pode se sentar. Só abra o olho depois que estiver sentada.

A ruiva fez o que Tara disse. Quando abriu os olhos, viu que estava sentada sobre uma toalha de piquenique. Uma cesta estava colocada no meio da toalha.

-Um piquenique?

-Lembra que tínhamos combinado um... assim que saíssemos do quarto? –Tara falou sugestivamente, sabendo que Willow entenderia a referência. –Eu estive ocupada nos últimos dias, como um fantasma, mas agora que tudo voltou ao normal, achei que seria a hora de cumprir o combinado.

Willow fez uma cara de contrariedade.

-O que foi? Não gostou da idéia do piquenique?

-Não é isso, Tara... é que... você está fazendo piada com o que aconteceu. Eu não gosto disso.

-Will, já passou. Eu estou aqui agora. Mas se você não gosta que eu fale disso, eu não falo. Nunca mais.

Tara deu um beijo rápido em Willow, e então se virou para abrir a cesta.

-Panquecas?

Willow sorriu. Amava as panquecas que Tara fazia, assim como todas as outras coisa que tinham a ver com a mulher que amava.

-É claro.

Tara passou um prato para Willow, e logo em seguida encheu um copo com suco. Ao invés de pegar o copo, a ruiva ficou encarando os olhos azuis da outra.

-O que foi?

-Tara... eu sei que eu falei que não queria mais ouvir sobre... aqueles dias. Mas tem uma coisa que eu preciso perguntar... Você viu tudo o que eu fiz, não é?

A loira balançou a cabeça.

-Tudo, tudo, não. Mas grande parte.

-Mas você viu muitas coisas erradas que eu fiz, não foi? –Tara acenou afirmativamente. –Então... por que é que você continua comigo?

Tara se aproximou de Willow, e segurou sua mão.

-Precisa perguntar? Eu te amo, Willow. E no amor a gente precisa entender os outros, e perdoar os erros, se eles acontecem. Mesmo enquanto eu via as coisas que você estava fazendo, eu continuava te amando, e me doía ver aquilo. Mas isso já é passado. Temos agora o presente, e um futuro inteirinho pela frente, e...

Tara voltou a mexer na cesta de piquenique. Depois de alguns instantes, ela encontrou o que estava procurando, e se virou para Willow.

-E, como eu pretendo estar com você por todo o meu futuro, eu preciso perguntar... –Tara estendeu a mão, revelando a caixa pequena que estava na cesta. -...Willow Rosenberg, quer casar comigo?

Willow arregalou os olhos, surpresa com o pedido.

-Tara! É claro que eu quero...

A ruiva deixou o prato de panquecas de lado, e se aproximou de Tara, beijando-lhe apaixonadamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu sou contra casamento, mas, aparentemente, Tara e Willow tem uma opinião diferente da minha sobre esse assunto.
Review final?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bring Me To Life" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.