A Rainha da Dor escrita por Ursula Gomes


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Nem toda Historia tem apenas dois lados, a maioria tem vário. Espero que gostem.



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As pessoas sempre querem o que você tem, mas nunca querem saber o que passou para conseguir.

Me chamam de Rainha má, falam que persigo aquela menina nojenta, mas ninguém, absolutamente ninguém se dá ao trabalho de ao menos perguntar o porquê, um simples por que.

Então vou escrever aqui. O que torna alguém um vilão não é a existência do “mocinho”, mas sim muitos vilões fantasiados de mocinhos.

Tudo começou quando eu era ainda uma menina, nunca tive uma família, minha mãe me odiava, meu pai me tolerava, ele havia abandonado minha mãe por outra, tinha outra família, uma família que ele escolheu ao invés do casamento arranjado com minha mãe.

Eu era muito parecida fisicamente com ele, acho que por isso tanto ódio.

Ela exigia nada além da perfeição, e mesmo assim sempre tinha algo errado, algo mal feito, algo ruim.

E eu sempre fiz tudo, tudo o que ela pediu, sem questionar, por que tudo que queria era amor, só um pouco de amor, de orgulho.

E inclusive, nunca questionei quando ela me prometeu ao rei, mesmo que eu literalmente tivesse idade para ser sua filha, afinal, a filha dele tinha a minha idade.

Porem apesar disto, foram os melhores dias de minha vida, eu tinha tudo que queria, ninguém desmerecia nada que eu fazia, eu era a rainha, e se tinha que me deitar com alguém que não desejava... bom, era um preço pequeno...

O rei era também muito bondoso, sempre me respeitou, sempre pediu minha permissão, sempre me escutou, arrisco a dizer que, apesar de não deseja-lo como marido o amei e respeitei por isso.

Porem, sua filha não gostou tanto.

Talvez por ter a idade dela, talvez por ter me casado com seu pai, Branca de neve, a princesa, me odiava.

Ela vestiu preto em meu casamento.

Ela nunca me dirigia a palavra.

Ela fingia que eu não existia, e por mim estava tudo bem.

O reino me amava, meu marido me respeitava, e eu estava feliz, até fui considerada a mulher mais bela do reino.

Porem engravidei de meu primeiro filho, e nunca fiquei tão feliz, todo o reino comemorou, e minha enteada me deu o mais bonito dos presentes. Ela disse que me ajudaria quando meu corpo mudasse.

No momento não entendi muito o que ela quis dizer, e quando minha barriga começou a crescer fiquei ainda mais feliz, mesmo com as marcas que apareciam em mim. Meu marido também não se importava.

Logo uma percebemos que o bebe crescia rápido demais, e então percebemos que eram dois, dois bebes, o reino caiu em festa por uma semana.

Minha enteada agora conversava comigo, mas parecia ter algum tipo de problema com o fato de que eu estava engordando.

— Madrasta, os bebes estão crescendo tão rápido, é uma pena que vai deixar de ser tão bonita.

— Branca, a beleza é passageira, o amor é importante.

Eu sempre respondia assim, porem em algum momento aquilo começou a me afetar.

Porem, eu caí em sua teia em uma tarde, eu já estava com seis meses de gestação, caminhávamos juntas nos jardins, e vi o rei conversando com uma jovem criada, ela era bonita, e ele parecia estar se divertindo muito. Então Branca atacou.

— Sabe... Meu pai nunca viu o corpo de uma mulher após a gestação, minha mãe morreu no parto. Ele pode ficar um pouco perturbado, ainda mais a sua que é de dois.

— Não acho que ele se importe com isso.

— Ó madrasta, é tão ingênua, ele se casou com você tendo apenas te visto, ele não te conhecia antes.

— Mas agora conhece.

— É claro, mas sabe o espelho que te dei? Ele é encantado, ele sempre diz quem é a mais bela do reino, basta perguntar, e como é você, isso pode te alegrar.

Naquela mesma noite, antes de meu marido se deitar, eu testei o espelho. Eu era inocente, sonhadora e crente, então na frente do espelho disse.

— Espelho... espelho meu... Quem é a mais bela do reino.

— Você, minha rainha.

E fui dormir feliz.

Logo essa pergunta se tornou rotina, todas as noites, eu fazia a mesma pergunta, e o espelho dava a mesma resposta.

Porem, quando estava com sete meses, meu marido em viagem, comecei a passar mal, muito mal, pedi a Branca que chamasse o médico real.

As horas passavam, e eu sentia cada vez mais dor e enjoo, mas o medico nunca chegou, meu erro foi confiar, sempre foi confiar, eu não chamei mais ninguém, apenas desmaiei de dor...

Acordei imersa em sangue, meu sangue, com as criadas da manhã gritando de pavor.

Quando o medico finalmente veio era tarde demais, meus filhos estavam mortos.

Eu nunca chorei tanto, foi a pior dor que já senti.

Eu me mudei de quarto, não podia ficar lá, só levei meu precioso espelho, porém, quando eu mais precisava, sua resposta mudou.

— Espelho, espelho meu, quem é a mais bela do reino.

— Branca de Neve, minha rainha.

— Por que?

— Você esta marcada, usada, não é mais bela.

As coisas só pioraram quando meu marido retornou, ele não me tocava dês de que minha gravidez se tornou avançada, porem mesmo que já tivesse me recuperado, ele não me quis.

Ele mal me olhava, nem conversava, mesmo que eu pedisse.

Assim eu me tornei obcecada em recuperar minha beleza antiga, chamei cada médico, mago e bruxo do reino, usei cada unguento e tratamento, tudo em vão.

Porem, meu mundo desabou em uma noite chuvosa, meu marido trouxe uma criada a nosso quarto, e me deu as notícias.

A criada esperava um filho dele, e a ordem era para que eu fosse para as montanhas, diríamos que eu havia engravidado novamente, e tido o filho nas montanhas, em tranquilidade, para não correr risco de perder o novo bebe.

Aquilo matou algo em mim. Eu sentia tanta dor, que não sentia nada.

Nesse mesmo dia a ultima bruxa que consegui contratar veio me ver, eu a recebi em meu quarto, não queria sair, porém, diferente dos outros, quando expliquei minha situação e lhe disse meu desejo, ela pediu para me analisar.

Ela recolheu muco de meu ventre, e depois queimou com algumas plantas, a fumaça preencheu o quarto, cheirava a cadáver.

E o espelho, que era dourado e lindo se tornou negro, completamente negro.

Eu me assustei, e perguntei a ela o que acontecia, e então eu soube, soube toda a verdade.

— Menina, alguém lhe odeia muito. Você foi envenenada e amaldiçoada de dentro para fora, isso matou seus filhos, e o que fez isso foi aquele espelho.

— Não é possível, minha enteada o deu para mim, disse que iria me ajudar.

— Aquele espelho é um objeto maldito, ele mente para você enquanto suga sua vida, e então, antes de te matar, ele destrói seu espirito. É um objeto mentiroso criado para machucar corpo e mente.

E então tudo fez sentido, tudo se encaixou.

Eu paguei a bruxa o triplo do que ela havia pedido, e mudei meu pedido, queria que ela mudasse o espelho, para sempre me dizer a verdade, e roubar meus sentimentos.

A bruxa o fez, e saiu, eu notei seu olhar, preocupado, mas o estrago estava feito. Era a minha hora de agir.

Fui até o espelho, e fiz minhas novas perguntas.

— Espelho, espelho meu, O rei só se casou pela minha beleza?

— Sim, minha rainha.

— Ele me traiu?

— Sim minha rainha

— Espelho, espelho meu, branca de neve me envenenou?

— Sim, minha rainha.

Era tudo que precisava ouvir.

Com isto, montei minha vingança. Depois de ver tantos bruxos e magos trabalharem acabei por me interessar por magia, e por isso aprendi um pouco por conta própria. Então fiz três venenos.

O primeiro para a criada, que além de perder o filho nunca mais conseguiria tocar outra pessoa, ou ser tocada, o segundo para o rei, que viveria em morte, sem controle sobre o corpo, mas com a mente viva, para me ver destruir e controlar tudo.

O terceiro para branca de neve, ele a faria a mulher mais bonita do reino, porem ela nunca conseguiria ser feliz, teria tudo, e nada ao mesmo tempo. Mas primeiro, ela seria um exemplo.

Chamei todos até a sala de chá, e servi eu mesma seus vinhos, disse que era um brinde ao novo príncipe, e a um recomeço. Todos acreditaram, todos beberam.

O rei foi o primeiro a cair, enquanto seu corpo falhava. E ele tocou a criada enquanto caia, ela gritou de dor enquanto a marca de onde ele havia a tocada ficava marcada na pele dela, como uma queimadura. Logo depois o sangue começou a vasar por entre suas pernas, ela sentia o próprio filho a queimar de dentro para fora, e ser queimado por ela, porem ela não morreria, apenas a criança.

Branca gritou aterrorizada, e eu continuei sentada bebendo o meu vinho, apenas quando os guardas chegaram e eu fingi que ela os havia envenenado, para tomar o trono, e a criada havia provado meu vinho antes de mim, foi que ela percebeu.

Mas eu deixei que fugisse, a fiz correr até a casa dos pobres anões, mandei o caçador para ser enganado, tudo para que ela pensasse estar segura no limite do reino vizinho, e então lhe enviei a maçã.

Mesmo se não tivesse sido acordada pelo príncipe ela acordaria em breve. E sentiria a maior felicidade de sua vida, por que a tristeza não é boa o suficiente se você não conhece o máximo da felicidade.

E então, depois de dois dias, felizmente o necessário para ela se casar com o tolo príncipe. A tristeza, tão forte quanto a felicidade, doendo constantemente, uma dor tão forte que se tornava física.

Sabem por que a história termina aonde termina? Por que não durou muito, ela não aguentou, se matou em menos de um mês, desesperada para fugir da dor.

E claro, eu mesma forjei minha morte, porem neste mesmo dia uma jovem menina chegou ao palácio, muito parecida com o rei acamado, claramente sua filha, a jovem logo foi coroada princesa regente, e controla tudo, porém, dizem, que sua sobra é igual a da antiga rainha... Transmutação não é uma magia muito complicada, principalmente se for usada apenas para pequenos aparecimentos a público.

Não preciso que concordem comigo, ou gostem de mim, o espelho já me retirou tais sentimentos. Deixando apenas a satisfação, a vingança bem-sucedida é deliciosa.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, cuidado com quem é muito bonzinho, as aparências podem ser falsas.



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