Ao jardim que velamos um para outro por todo esse tempo, eu dedico minhas memórias póstumas. 

À ti, eu dedico não tão somente este jardim, como também cada rosa que há de nascer no mundo.

Tão singular é tomar no peito a bravura de entregar-lhe o meu amor enquanto eu não estou presente. E veja bem, eu sei que tu nunca cederia ao impasse de expor sentimentos tão complexos nos quais, notoriamente, tu não sabe enfrentar. Eu não o culpo. Nunca o culpei. Porque assim como tu, eu precisei suportar as turbulências de um coração despreparado para os pasmos de uma vida tumultuosa. 

A diferença entre nós dois, querido, é que tu soubeste tirar proveito de tuas tantas máscaras com afinco. Já eu, teu pobre companheiro, pago por meus tolos dogmas, os quais não zelei e tutelei como deveria. 

O meu silêncio tornou-se a semente que germinara em meu íntimo corrompido. E quando dei por mim, os espinhos que cultivei perfuraram-me os membros e as perfumadas pétalas, que tanto me encantam, sufocaram-me a garganta. 

Sei que quando tiver em mãos estas memórias rabiscadas em uma amarfanhada folha de papel, já terá defrontado-se com meu corpo imerso na primavera particular a qual presentearam-me uma última vez. Tu tinhas conhecimento de meu amor pelas flores. Teu orgulho nunca o permitiria de entregar-me uma, mas cada palavra amiga tua fazia surgir em meu peito uma rosa; e eu sou grato por isso. Sei que não irá deixar-se levar pelo pranto enquanto observa meu pálido e sereno rosto entre as pétalas vermelhas, tampouco admitirá para si o quão devastadora é a perda de teu companheiro, à quem tanto fez-lhe raiva, porém, esteve ali quando mais precisou de um afago no peito.

Mas quando tu, por um acaso, sentires a saudade propagar-se em teu coração valente, olhe para as rosas. 

Eu vou estar em cada uma delas.