Borboleta de Ouro escrita por OlhodeEstrelas


Capítulo 1
E foi assim, uma nova vida


Notas iniciais do capítulo

Essas palavras saíram diretamente do papel. Foram escritas com ardor e amor.
Leia com seu coração.

Obrigada por escolher esta História.

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/753547/chapter/1

 

Fiz minhas malas com certa pressa. Nada me fizera pregar os olhos desde que aquele e-mail invadiu minha caixa de entrada. Agora tudo parecia mais real.

Eu fui chamada para estudar na Liberty´s School, em Nova York.  Uma das melhores escolas de artes do Continente. Uma escola voltada para Expressão de Arte, em todos os possíveis e impossíveis sentidos. Uma instituição com uma mensalidade alcançável apenas para a elite. Mas, eu estava ali. Eu era a prova viva de que esforço é muito maior do que pedaços de papel que as pessoas chamados "Dinheiro".

Porém, mudanças são mudanças. Não seria só a escola e as novidades dentro dela. Eu teria de morar sozinha, trabalhar, enfrentar preconceitos, enfrentar a saudade... 

Peguei-me então pensando em meus pais. Eles por sua vez não aceitaram a minha inscrição para o concurso, muito menos a aprovação da escola com relação aos testes. Imagino a frustração deles por pensarem que um dia eu me tornaria uma grande médica. Nada menos, nada mais. Eu não os culpo. Até porque quem colocou essa ideia de faculdade de medicina na cabeça de ambos fui eu.

Mas, eles precisavam entender que eu acordei dessa ilusão. Toda vez que pensei em me arrepender veio à minha mente esta frase:

“A dança é o seu pulso, a sua respiração”

Logo, se eu parasse de sonhar sempre a passos largos, de fato eu não seria a mesma, eu morreria por dentro. Entende?

Com as malas já prontas a mais de uma semana, me despedi do quarto azul marinho, dos ursos de pelúcia, dos corredores estreitos, seguindo para o aeroporto com a passagem em mãos e lágrimas teimosas nos olhos. 

Esses sentimentos dentro de mim se misturavam a cada passo que eu dava. A ansiedade atingindo meus pulsos era sem dúvida algo que eu queria sentir a muito tempo. Experimentar tocar a liberdade com as mãos. Apenas sair um pouco da realidade que cercava minha vida todos os dias. Era aquilo que a viagem me faria sentir. Porém, eu não poderia mais voltar. Era uma ida, sem volta.

Fui acompanhada por meus pais e meu irmão mais novo, Lian, até o portão de embarque.

De repente me vi entre a cruz e a espada. Um corredor. Apenas um corredor me separava de um destino sem saída. Ali, eu estava deixando o melhor de mim para encontrar outra vida. A poucos passos de mim estavam as pessoas mais importantes do mundo, e eles pareciam se distanciar por causa do que eu resolvi seguir.

Uma ardência tomou conta do meu peito e as lágrimas voaram.

Um peso. Um sorriso.

Era hora colocar em prática aquilo que coloquei como meta. Eu não brilharia como um Sol, para tudo e todos verem. Mas, seria a estrela que invadiria palcos pela honra da minha família.

—Mana, me mande mensagens está bem?- disse Lian, com a voz arrastada.

—Sim maninho. Não me esquecerei- Sorri tentando confortá-lo - Quanto a você, estude.

Abraçamos-nos. O cheiro de seu doce perfume na gola da camisa me fez ter um flashback. Minha relação com meu irmão era forte. Era um laço de sangue que nem eu, nem ele fazíamos questão de afrouxar.

Abracei meus pais. Esse laço, mesmo que secretamente, possuía várias falhas.

“Eu te amo”                         

Uma única frase que me fez voltar para o começo de tudo.

“Sorria quando entrar no palco filha”

E eu me fui para o final da linha, começando a costurar um novo começo.

“Atenção todos os passageiros do vôo 135, compareçam ao local de embarque”

E eu me fui. Apenas eu e o vento voando comigo.

(...)

As horas se arrastaram pelo ar, e quando acordei de um provável cochilo em minha poltrona, o céu possuía tons escuros de azul. Meu precioso quarto.

Respirei fundo tentando evitar mais lágrimas.

Ao chegar a Nova York, senti até o fluxo do meu respirar ficando diferente. Tudo era mais brilhante aos mus olhos. Peguei minhas malas na esteira e corri em direção à saída daquele lugar para embarcar com muito custo em um táxi e rumar até o campus da Liberdade (literalmente).

Durante o trajeto, me permiti abrir a janela e me deliciar com a visão da cidade. Com a velocidade do tráfego ali em frente, pude aproveitar os painéis iluminados que juntos, compunham uma poluição visual para meus olhos. Uma poluição cheia de vida e cor.

Foram-se os gigantes minutos e eu pude, finalmente, desfrutar de minha nova cama, num quarto branco e vazio. É claro que toda uma parte burocrática se fez entre um período e outro, mas eu prefiro pular para a parte em que meus olhos se fecharam bruscamente e o escuro me abraçou junto às cobertas...

6h00 – Terça

Para mim, a parte mais difícil foi escolher uma roupa apresentável. Eu, insegura em um nível extremo, me peguei entre o casual confortável e o profissional moderno. No fim das contas, optei pela camisa branca três tamanhos maior que meu corpo, a calça jeans preta e meus lindos coturnos.

Oras, antes não fosse o conforto, eu nunca deixaria de me vestir bem por causa disso. Meus moletons deveriam esperar a hora certa, não?

Em momentos como esse, gosto de pensar o quão bom seria se eu fosse mais rápida. A realidade, por fim, era totalmente contrária. Logo, tive que me contentar com o resto de biscoito que comprei na máquina de petiscos, e uma garrafa de água.

Saí praticamente voando da área dos dormitórios colada a uma bolsa que não parava de balançar. Eu não estava sozinha ali mas o que me importava era a saída e não os olhos arregalados e as caras de zumbi.

Sim, eu concordo com o que você provavelmente deve estar pensando: "Que antiprofissional! Chegar atrasada no primeiro dia de aula? Um absurdo!"

Tão mais tão absurdo quanto isso aqui embaixo-

Tecnologia: Coringa da atualidade.

Graças a um crachá, no qual devo ter recebido durante a reunião burocrática (se é que esse termo faz sentido) e passado precisamente no leitor da catraca, consegui salvar meus preciosos e escassos segundos.

Por um momento, meu coração pareceu sair para fora de mim para dar uma espiada descarada por conta e risco, e esqueceu que quem comanda aqui sou EU!

Tudo ali, sem dúvida, era grande. Muitos alunos. Muitos andares. Muita coisa.

Minha consciência a esse ponto só conseguiu arrastar meus pés até a secretaria. Procurada com muito suor (talvez frio), pode ter certeza.

Respirei fundo e entrei pela porta de correr, onde me deparei com um balcão alto de madeira de bétula, um lustre de cristal que dava uma reviravolta pelo design antigo do local e quadros com fotos de famosos que provavelmente já haviam pisado ali. Atrás daquela quase parede de madeira, estavam sentadas de forma impecável três secretárias. Uma delas de cabelos loiros se dirigiu até mim com um sorriso reconfortante no rosto. Parecia tão tranquila em meio àquele possível mar de problemas a resolver...

E eu ali, soando frio como uma idiota. O que eu de fato estava pensando?

—Você deve ser a Senhorita Will, certo?

—Certo – devolvi o sorriso talvez para mostrar a ela minha conta de respeito por um trabalho árduo. Não. Eu chegava a tremer violentamente, qual era exatamente o meu problema mesmo?

Ah, sim, eu não estou em qualquer lugar. ESTOU A QUILÔMETROS DE CASA. Não posso simplesmente largar a bolsa no chão e correr para os braços de meu irmão e o colo de meus pais.

Garota lerda, ACORDE!

Mas, voltando ao assunto:

— Eu sou Jessica Howkins, mas pode me chamar de Jess- fez uma pausa para conferir se eu estava prestando atenção e continuou- Me acompanhe, por favor.

Caminhamos por um corredor grudado em portas de madeira com vitrais até chegarmos numa porta frontal. Enquanto isso, Jess me explicava algumas regras básicas. Ela me entregou uma pasta cheia de documentos e uma chave ligada a um chaveiro simpático em formato de borboleta. Sorri com o pequeno presente, porém, o mesmo se desfez ao ouvir a porta se abrir me revelando uma sala com uma aura totalmente diferente do corredor. As paredes escuras contrastavam com os quadros gritantes e a mesa de vidro. Junto a luzes discretas havia também um lustre imenso onde voavam borboletas de vidro colorido, suspensas pelo teto. Minha boca conseguiu se abrir num ‘O’ muito bonito. Me impressionei com a imensidão de arte daquela sala presa apenas por quatro paredes.

A porta que se escancarou me deu o privilégio de ver uma cadeira alta e estofada que gentilmente balançou e virou-se numa freada só, me revelando um par de olhos azuis penetrantes e um sorriso de dentes perfeitos; as mãos descansando sob os braços do assento e um corpo másculo atrás de um terno preto acompanhado de cabelos loiros jogados para o lado.

Eu ficarei bem. É só esse moço desaparecer desta sala. Ou talvez, parar de me encarar.

“Quantos anos ele tem?” foi a única coisa que minha mente me permitiu pensar.

— Rebeca Will- estremeci com a voz grave e jovial ao mesmo tempo- Bem-Vinda!

O convite de meu mais novo diretor fez com que minha companheira Jess me empurrasse para dentro da sala enquanto sussurrava um “Vai dar tudo certo” e logo desaparecesse por entre a porta, agora fechada.

—Sente-se, por favor, senhorita Will- disse ele, ignorando meu nervosismo quase gritante.

Entreguei os documentos a ele, que automaticamente começou a falar sobre a academia. Sobre tudo. E eu, obviamente, prestei atenção em tudo como uma boa aluna novata.

Uma hora se passara, e quando estava a levantar da cadeira, um tanto desnorteada pelos choques que o ser à minha frente, que descobri se chamar Gabriel Evans me causou com aqueles olhos azuis, (eram até ilegalmente azuis) -acompanhado de 25 anos de puro profissionalismo e sofisticação- decidiu tomar a palavra novamente. 

—Antes de ir, poderia-me dizer sua meta para esse período de iniciação, senhorita Will?- disse, por sua vez, entrelaçando as mãos e as apoiando sobre a mesa sensível.

— Por favor, me chame apenas de Rebeca, senhor Evans. E, respondendo a sua pergunta- me distanciei um pouco da mesa para chegar mais perto da porta e sentir a deliciosa textura da maçaneta roçar em meus dedos e me proporcionar uma chama de saída- Tudo o que eu desejo alcançar é o conhecimento. Pode-se dizer que sou uma borboleta descobrindo asas. Agora eu sou uma das peças do jogo e vou fazer de tudo para chegar ao fim da partida, mesmo não ganhando. Vou depositar meu suor, meu sangue e minhas lágrimas em tudo o que fizer. Minha honra ecoará pelos ouvidos alheios, porque o que eu faço é minha respiração e meu pulso. Agora estou ascendendo sobre os DNAs vazios. Eu sou parte de um futuro dançante. E não vou renunciar ao meu cargo. Porque agora eu sou livre.

Terminei desconhecendo o fôlego que não tinha mais forças para atingir meu pulmão cansado. Aquelas palavras são pesadas para mim, mas não para o destino que eu encontraria através daquelas salas de dança. 

Sem delongas, vi um grande sorriso rasgar a face daquele ser sobrenaturalmente peculiar (como pode um cara de vinte e cinco anos pode mandar num quase império?!).

—Vejo em minha frente uma borboleta de ouro. Não deixarei você escapar dessas portas tão cedo. Estou encantado com tanta determinação para uma garota de 18 anos.

Ah claro. Eu tenho 18 anos. Esqueci-me desse pequeno detalhe enquanto falava como uma mulher experiente de 30 e poucos.

Xinguei e beijei os pés das palavras que deslizaram de minha boca ali.

—Obrigada Senhor Evans- sorri feliz e aliviada.

— Teremos uma apresentação no teatro daqui à duas horas. O que acha de falar isso à nossos alunos?

Como se respira mesmo?

Oh sim, lembrei. MAS QUE DIABOS ELE ESTÁ PEDINDO?!

Um tique me impediu de cair estirada no chão.

—Sim senhor, com todo o prazer. Com licença.

Saí da sala numa condição de êxtase nível suprema. Eu podia sentir meus pés no chão ao mesmo tempo em que eles voavam livres. Isso estava acontecendo comigo. Era real. 

Eu senti meu coração se banhar em ouro. A honra que eu prometi estava emergindo da minha pouca experiência. Minha mente parecia explodir.

“A dança é o seu pulso e sua respiração, borboleta de ouro.”

Ah, seu eu tivesse medido o valor dessa frase antes...

Foi assim que o verdadeiro vôo começou.

                                     


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Te vejo no próximo?

Então ta...

Comente, Recomende, Favorite!

Ficarei muito feliz!

Mais beijos de estrelas....

Ass: Silen



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Borboleta de Ouro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.