Para não causar suspeitas, Uraraka e Bakugou passaram a se evitar após a noite anterior, e funcionou muito bem. Ninguém reparou que aquela atitude era proposital, isso porque os dois nunca foram amigos próximos. Ambos seguiram assim até a chegada do final de semana, o qual foi muito esperado por todos os alunos.

"Vou dar uma volta... Talvez isso me ajude a esquecer a sensação que tá enchendo o meu saco desde aquela noite...", pensou Bakugou enquanto saía de casa.

Diferente de Uraraka, que já tinha uma noção do que poderia estar acontecendo, ele não estava sabendo lidar muito bem com aquilo. Depois de caminhar um pouco, o garoto parou numa praça e sentou num banco que havia ali para observar as nuvens.

"Parece que vai chover", murmurou para si mesmo ao ver que o céu já estava começando a ficar cinza.

Enquanto observava as nuvens de chuva se formando, ele notou que uma delas tinha um formato parecido com o rosto de alguém.

"Aquela nuvem lembra uma panqueca. Olhando daqui, parece redonda e achatada como..."

De repente, Bakugou saltou do banco. Um gato que passava por ele até se assustou e correu.

"O que foi isso? Por um instante eu pensei ter visto a cara de panqueca naquela nuvem. Merda, a sensação estranha voltou. Toda vez que penso nela me sinto desse jeito, e só pra piorar, está acontecendo com cada vez mais frequência. Tem sido assim nos últimos dias."

Enquanto o jovem Bakugou se lamentava no banco da praça, naquele exato momento, em um shopping da mesma cidade, duas pessoas acabaram se encontrando por coincidência.

"Kirishima?", perguntou ao ver o garoto de cabelos vermelhos em uma loja de jogos.

"Oh, Ashido! O que tá fazendo aqui?", perguntou com certa curiosidade.

"O mesmo que você!", respondeu fazendo sinal de positivo com a mão e dando um sorriso.

"Também veio comprar jogos?!", com animação, ele perguntou.

"Jogos não, roupas. Eu quis dizer que estou aproveitando o tempo livre assim como você está."

"Ah, agora entendi."

Ao sairem da loja, os dois começaram a passear pelo shopping. Foi algo quase automático, e quando se deram conta de que estavam caminhando juntos, simplesmente deixaram a situação fluir.

"Ei, tem um parque aqui perto... O que acha de darmos uma passada lá?", Ashido perguntou.

"É uma ótima ideia", ele respondeu.

E lá foram eles para o parque. Assim que chegaram, foram abordados por uma criança que passeava por ali com a mãe.

"Nossa, a cor da sua pele é muito legal, moça", disse a pequena garota. "Você tem uma namorada muito bonita, moço."

"Ah, obriga... O quê?! Namorada?!"

Antes que pudesse agradecer pelo elogio, Ashido tomou um susto com a segunda frase da criança. Kirishima não soube como reagir diante daquele comentário. O máximo que conseguiu fazer foi uma expressão de surpresa.

"Eu não cheguei a pensar nisso... Qualquer um pode pensar que somos namorados nos vendo juntos assim."

Ao pensar naquilo, as bochechas do garoto coraram na mesma hora.

"Oh, perdoem a minha filha", disse a mãe logo após voltar a atenção para a menina. "Não foi a intenção dela atrapalhar o encontro de vocês."

"Não precisa se descul... O quê?! Encontro?!"

Novamente Ashido foi surpreendida. A mulher, que estava falando com alguém no celular, retomou a conversa e foi embora com a filha.

"Poxa, ela nem deu tempo pra gente se explicar", disse Ashido meio sem graça.

"P-pois é...", ainda se recuperando, ele falou.

"Bem, de qualquer forma, isso me deixou feliz. Opa, acho que pensei alto demais."

Vendo que falou algo que não pretendia, a garota de cabelos rosados deixou escapar uma risada.

"O que você quis dizer com isso?", o garoto indagou com curiosidade.

"Vai saber... Acho que fiquei feliz por terem pensado que somos namorados...", ela respondeu já voltando a sorrir.

"Será que você ficou tão feliz quanto eu?", perguntou o garoto com o tom de voz mais baixo, porém, não o bastante para que Mina não ouvisse.

"Hã?"

"Ah, a-acho que também pensei alto demais..."

A vontade que ele tinha naquele momento era de enfiar a cara no chão como um avestruz, no entanto, sua vontade de prosseguir com a conversa era maior.

"Kirishima... Você me acha atraente?", perguntou se aproximando.

Ela estava curiosa, apesar da vergonha. Dava pra ver que a vermelhidão estava começando a tomar o seu rosto cor-de-rosa, mas aquilo não era nada comparado ao estado de Kirishima.

"M-mas que pergunta absurda! É claro que te acho atraente!", ele respondeu ficando ainda mais vermelho.

"Nossa, obrigada!", disse ela lançando um olhar que sempre mexia com o garoto.

"Não me olhe assim, Ashido... Desde quando eramos do primário, eu já tinha sentimentos por você, e toda vez que me olhava assim de longe, meu coração já acelerava. Agora que o seu rosto está extremamente perto do meu, fica difícil resistir..."

Era como se aqueles olhos escuros e ao mesmos tempo claros estivessem sorrindo para ele.

"Sempre que os seus olhos sorriem pra mim, eu sinto vontade de..."

Quando ele percebeu, seus lábios já estavam bem próximos dos de Ashido. E ela, por sua vez, não só percebeu que um beijo estava por vir, como queria recebê-lo. Os dois estavam tão concentrados em fazer aquilo, que nem notaram os pingos de chuva chegando, a não ser um deles, que caiu justamente no olho de Kirishima.

"Ai, meu olho!", exclamou enquanto se afastava da garota.

"Tá tudo bem?", a jovem perguntou com preocupação.

"Eu tô bem. Foi só um pingo de... Chuva? Começou a chover e eu nem percebi."

"Oh, nem eu."

Os pingos começaram a aumentar e, como consequência tanto as roupas dele quanto as dela foram ficando mais molhadas, só que havia um "pequeno detalhe" com relação a camiseta dela.

"A-Ashido... Tá transparente... E-eu consigo ver..."

Usar uma camiseta branca e de tecido fino não foi uma boa opção para aquele dia...