Era sexta-feira e a aula havia acabado de terminar. Enquanto os alunos retornavam para os dormitórios, Aizawa se dirigia para a sala dos professores. No meio do caminho, ele encontrou Toshinori, que o acompanhou.

"Você parece cansando", o amigo comentou.

"Isso não devia ser novidade pra você", ele rebateu.

"Seu semblante caído realmente não é novidade pra quem te conhece, mas hoje você parece estar mais cansado que o normal."

"Deve ser por causa dos alunos. Eles fizeram bastante barulho hoje."

"Será mesmo?", perguntou dando um sorriso que parecia esconder algo.

"Você percebeu, não é?", revirou os olhos.

"Sim. O Present Mic também."

"Eu imaginei. Acho que vocês começaram a desconfiar depois da conversa que eu tive com ela ontem pelo telefone."

Uma certa professora risonha havia ligado para o professor sonolento no dia anterior, e seus dois colegas estavam com ele na hora.

"Foi exatamente no momento em que ela te pediu em casamento em voz alta", Toshinori riu. "Nós estávamos do seu lado, então..."

"Aquela escandalosa praticamente gritou. Bem, de qualquer forma, eu recusei como sempre faço... Isso foi suficiente pra vocês começarem a desconfiar?"

"É que foi por telefone... É diferente. Você não parece ser o tipo de pessoa que libera o seu contato tão facilmente."

"E não sou. Ela disse que conseguiu o meu número com o diretor."

"Que garota esperta... Bom, eu sei que no final da conversa você disse: 'Tudo bem, te vejo hoje à noite' e desligou. Isso nos fez acreditar que você finalmente deu uma chance pra ela."

"Então foi isso... Nós realmente nos encontramos. Aquela mulher acabou comigo ontem. Estou cansado desse jeito por causa dela..."

"Isso significa que vocês...", falou começando a corar um pouco.

"Não é nada do que está pensando. Depois de jantarmos num restaurante, ela me arrastou pra vários lugares. Foi muito cansativo."

"Ah, entendi."

"Agora me fale de você. Como está indo com a Midoriya-san?"

"Hã? C-como assim?"

A pergunta repentina o deixou meio sem jeito.

"Eu tive a sensação de que você se interessou pela mãe do Midoriya depois do dia que visitamos os pais dos alunos. Você disse para ele que ela lembrava a sua mestra e tudo mais."

"Hm... Você ouviu isso...", falou levando a mão à cabeça.

"Bom, pode ter sido coisa da minha cabeça."

"Eu gostaria que fosse...", falou em voz baixa, mas não o bastante para Aizawa não ouvir.

"Neste caso, te desejo boa sorte", disse o amigo soltando um de seus pequenos e raros sorrisos. "Aposto que o Midoriya ficaria feliz em ter você como pa..."

"N-não diga isso!", exclamou já voltando a corar. "Vamos mudar de assunto..."

No dia seguinte...

"Finalmente chegou o dia!", disse Kaminari em pensamento. "Espera, quem é aquele ali?"

Entre as várias pessoas ao seu redor, estava um conhecido.

"Olá, Kaminari", o colega o cumprimentou assim que o viu.

"E aí, Todoroki."

"Está esperando alguém?"

"Sim, estou", respondeu um pouco sem graça.

"A julgar pelas suas ações, imaginei que estivesse."

"Ações? Que ações?"

"Bem, enquanto eu me aproximava, notei que você estava olhando para os lados e batendo um dos pés no chão", ele explicou.

"Ah, sim... Estou meio ansioso..."

"Sei como é. Estou me sentindo da mesma forma."

"Sério? Por quê?"

"Também estou esperando alguém. Embora eu tenha chegado agora, já faz alguns dias que..."

Shouto pretendia terminar o que estava dizendo, mas uma bela imagem o impediu. Ele havia acabado de avistar Momo. Junto com ela estava Kyouka.

"Jirou...", disse o loiro impressionado com o que estava vendo.

Uma única frase surgiu na mente dos dois estudantes naquele momento.

"Ela está... linda."

As duas logo os avistaram e foram até eles.

"Olá, meninos", a mais alta falou com um sorriso no rosto. "Espero que não tenham nos esperado por muito tempo."

"Então vocês também se encontraram...", a mais baixa comentou.

Não houve retorno. Ambos estavam ocupados demais as medindo com os olhos. Apesar de já estarem acostumados a vê-las usando roupas diferentes dos seus uniformes, eles estavam admirados. Talvez o motivo não fosse necessariamente as roupas, mas algo que vinha de dentro deles mesmos. 

Assim como Jirou percebeu a boca aberta de Kaminari, Yaoyorozu não conseguiu deixar de notar as piscadas a mais que Todoroki estava dando enquanto a olhava. Era como se ele estivesse tentando desfazer uma miragem.

"Todoroki-san...", ela falou com a intenção de iniciar uma conversa e acabar com aquele clima estranho. "A Jirou-san disse que vai ao cinema com o Kaminari-san... Se não tiver escolhido nenhum lugar pra irmos..."

"Eu não escolhi porque pretendia decidir com você quando estivéssemos aqui", disse ele logo após sair de seus pensamentos. "Cinema parece uma boa ideia pra mim."

"Sendo assim, vamos indo", disse a menina das vibrações.

"Certo, vamos então...", ainda meio perdido, Kaminari concordou.

Os quatro seguiram em direção ao cinema. Ao chegarem lá, compraram a pipoca e o refrigerante. Na hora de escolher o filme, Denki sugeriu um de ação e comédia, enquanto Momo quis ver um de romance e suspense. Resultado: salas diferentes. Não foi proposital, mas até que as duplas ficaram felizes por não terem que dividir o mesmo espaço.

Uma hora depois...

"T-Todoroki-kun, me desculpe", falou baixinho. "Já é a terceira vez..."

"Tudo bem...", ele sussurrou.

Toda vez que a morena se assustava com alguma cena, ela escondia o rosto no ombro de Shouto.

Na sala ao lado, o garoto da eletricidade tomou uma atitude que surpreendeu Kyouka.

"P-por que o Kaminari fez isso?!", ela gritou em pensamento. "A cena que tá passando não chega a ser romântica, mas é sentimental... Como a minha mão estava apoiada na cadeira, ele deve ter aproveitado o momento e o clima..."

"E-eu segurei...", o loiro falou para si mesmo. "Será que ela vai me odiar por ter feito isso?"