Alguns dias se passaram e a Yuuei foi transformada em um internato. Apesar da resistência de alguns pais, os professores conseguiram a permissão de todos. Tudo aconteceu como planejado.

Depois daquilo, não houve nenhuma mudança fora do esperado, a não ser no comportamento de alguns estudantes. Embora o clima já existisse, as mudanças feitas na escola com certeza contribuíram para que o contato entre eles e todos os outros alunos aumentasse.

Midoriya e Asui pareciam um casal não declarado. Andavam juntos, treinavam juntos e comiam juntos com cada vez mais frequência. Os dois estavam agindo daquela forma desde o ocorrido na enfermaria. Estava óbvio para todos que aquilo não se devia somente ao fato de estarem morando juntos. O clima entre a dupla verde estava claro como a luz do dia.

"Hoje o Aizawa-sensei exigiu bastante de todos nós", disse ela após uma árdua aula prática no espaço de treinamento.

"Sim...", ele concordou limpando o suor do rosto com as costas da mão.

"Midoriya-chan, muito obrigada."

"Hã? Eu não entendi..."

Aquele agradecimento repentino deixou o garoto confuso.

"Sei que você passou a andar mais comigo porque a Ochako-chan começou a namorar, mas mesmo assim estou muito feliz. Obrigada mais uma vez."

"Não é nada disso!", ele exclamou.

"Kero..."

"Neste exato momento, eu estou com você porque quero estar. Na maioria das vezes foi você quem me chamou pra fazer as coisas, mas em todas elas eu fiquei muito feliz. Ultimamente eu tenho sorrido só de pensar em você, e ficar ao seu lado alimenta ainda mais a minha vontade de sorrir... Eu é que deveria estar agradecendo... Agora que sabe disso, também quero pedir desculpas por ser tão egoísta."

Após dizer aquelas palavras, Izuku curvou a cabeça e esperou ouvir algo da menina sapa, porém, não houve resposta. Tsuyu estava muda.

"Tsuyu-chan?"

Ao erguer o rosto e olhar para ela, o garoto percebeu que as bochechas dela estavam consideravelmente rubras, e isso o fez se dar conta do havia falado.

"O que foi que eu disse?!", gritou em pensamento. "Não acredito que tive coragem de falar isso! Que vergonha! Eu quero sair correndo!"

Sem perceber, Midoriya foi ficando mais envergonhado e vermelho do que ela.

"Midoriya-chan...", Asui falou com um pouco de esforço.

"S-Sim?!"

O menino estava duro como pedra e com os olhos bem fechados. Por mais que tentasse, não conseguia olhar nos olhos dela. Ele estava se sentindo um idiota, no entanto, estava feliz por não ter fugido.

Vendo o quanto estava sendo difícil para o jovem tímido continuar ali, Asui resolveu recompensá-lo pelo esforço (e também se aproveitar da situação). Lentamente, ela se aproximou, ficou na ponta dos pés e lhe deu um leve e breve beijo, que o fez abrir os olhos e se afastar.

"I-i-isso foi..."

"Um beijo."

"T-Tsuyu-chan...", falou levando a mão à boca. "Outra vez... Por quê?"

"Porque eu também gosto de você", respondeu mostrando um de seus raros sorrisos.

"Também... gosta? Hã?! T-também?! V-você sente o mesmo que eu?! Digo, o iceberg na barriga, o coração batendo a mil por hora e tudo mais?!"

"Sim."

"E-então eu estou apaixonado por você... Eu já desconfiava disso... Espera, como descobriu?"

"Depois do que você falou, não teve como eu pensar em outra coisa. Bem, depois falamos mais sobre isso. Vamos sair daqui antes que alguém nos veja com a cara vermelha desse jeito."

"O-ok... Espero que ninguém tenha visto o que acabou de acontecer..."

"Também espero..."

E lá foram os dois, torcendo para que nenhum comentário sobre eles realmente estarem juntos surgisse depois.

Kaminari e Jirou também passaram a conversar mais, e isso fez a imagem que a maioria de seus colegas tinham deles parecer mais real. Talvez fosse a ligação entre suas individualidades ou a grande diferença entre suas personalidades que os tornava tão compatíveis. Lá no fundo, os dois também sentiam isso.

"Jirou, não entre ainda!", Kaminari exclamou ao vê-la em frente ao prédio da classe 1-A.

O loiro queria muito falar com ela depois da aula.

"O que foi, Kaminari?", perguntou enquanto o observava se aproximar.

"Que bom que te encontrei antes de você entrar. Bom... Eu estava pensando... O que acha de irmos pra algum lugar no final de semana? Pode ser o cinema ou algo assim..."

Apesar de ele não ser do tipo tímido, dava pra ver que o mesmo estava um pouco nervoso.

"Um... encontro?", ela murmurou.

"O quê? Pode repetir? Você falou muito baixo."

O pedido do garoto fez Kyouka dar um passo para trás. Ele não havia entendido as palavras dela, mas conseguiu ouvir alguma coisa. Isso foi o suficiente para dar um susto nela e fazê-lá mudar de assunto rapidamente.

"N-não foi nada...", desviou os olhos. "Cinema? Pode ser..."

"É sério?!", perguntou empolgado. "Você vai?!"

"Sim, eu vou estar livre", respondeu já abrindo a porta e entrando. "Nossa, eu tô morrendo de fome."

"Eu também", disse ele indo logo atrás.

Horas depois, anoiteceu e todos foram dormir. Durante a madrugada, uma aluna que acordou com sede foi checar a geladeira de seu quarto. Como a água havia acabado, ela teve que descer até o primeiro andar para pegar na cozinha. Chegando lá, encontrou Todoroki e Hagakure na sala.

"Todoroki-san? Hagakure-san?", falou esfregando os olhos. "Vocês por aqui..."

"Ah, o meu estoque lá em cima acabou, então vim buscar algo pra comer aqui", a menina invisível explicou enquanto balançava um pacote de batata frita.

"Entendo... A fome da madrugada me ataca às vezes também", ela riu. "E você, Todoroki-san?"

"Vim procurar uma coisa que perdi...", o jovem respondeu olhando ao redor. "Eu não queria estar procurando agora, mas quando percebi que tinha perdido, não consegui dormir mais."

"Nem adianta querer saber o que é", Tooru informou. "Eu já perguntei e ele disse que não pode contar pra ninguém."

"Entendo...", disse ela encarando Todoroki com certa curiosidade.

"Bem, eu vou voltar pro meu quarto. Boa noite."

"Boa Noite, Hagakure-san."

"Boa noite, Hagakure."

Logo após isso, a vice-representante foi beber água. Quando terminou, rotornou para a sala e viu que seu colega ainda procurava a tal coisa que perdeu.

"Eu posso te ajudar a procurar se me disser o que é..."

"Não se preocupe. Posso achar sozinho."

Além de querer ajudá-lo, Momo estava um tanto curiosa. Ela não acreditava que algo irrelevante tiraria o sono de alguém como Shouto.

"Eu gostaria de saber que coisa é essa, mas parece que ele não vai contar mesmo..."

Vendo que suas chances eram baixas, a menina preferiu não insistir.

"Tudo bem. Eu já vou indo então." 

Ela realmente pretendia voltar para o quarto, no entanto, um pedaço de papel que estava embaixo da mesa chamou sua atenção.

"O que é isso?", perguntou já se abaixando para pegá-lo. "Acho que alguém escreveu..."

"Isso é meu", ao ver o que ela estava segurando, o garoto a interrompeu. "Não leia."

"Foi você que escreveu aqui?"

"Não fui eu... Digo..."

"O que você escreveu?", indagou ainda mais curiosa.

"Me dê isso", disse indo na direção dela.

Todoroki estava tão focado em pegar o papel que nem reparou que tinha uma almofada no chão. Como se não bastasse apenas tropeçar nela, ele caiu em cima de Yaoyorozu, a qual perdeu o equilíbrio e acabou caindo também. Por sorte, o sofá que estava atrás dela amorteceu a queda dos dois.

"Me desculpe. Eu não vi a almofada."

"T-tudo bem..."

"O que há com o seu rosto?", o garoto pergutou a encarando. "Está ficando vermelho... Espera, você está com vergonha?"

"Eu..."

As palavras pareciam não querer sair. Momo só conseguiu corar mais.