Quando eu poderia pagar por um quarto de hotel tão cheio de riqueza, quanto aquele no qual estávamos? Digo, Lana e seu namorado pediram uma suíte no final do corredor e me deixaram com um quarto mais acanhado, longe dali, mas eu não estava reclamando. Ficar longe dos murmúrios daquele rapaz desagradável era um ótimo presente de fim de noite. 

Mas tocaram em minha porta. Uma batida leve e decidida. De toalha e muito envergonhada, assisti a minha nova chefa adentrar ao meu bagunçado templo provisório, sorrindo ao pontuar alto com a voz cheia de graciosidade a minha "quase nudez". 

Sentando em minha cama, ela disse precisar fazer uma ligação pessoal dali, pois não queria que seu namorado ouvisse, já que ele odiava escutar suas queixas. Eu, como resposta, apenas sorri e voltei ao meu banho, muito mais vermelha do que envergonhada - se fosse possível de acontecer tal coisa. 

Então, após um banho quente e demorado, me vi postergando a abertura da porta. Minha mão estava no trinco, contudo eu ouvia um leve choro e vários desabafos escondidos através de criticas ásperas. 

— Ele é grosso até com ela - dizia Lana - Daquele tipo que ele era com você, mas pior. Ele só sabe reclamar e reclamar e reclamar! Parece uma matraca. Além de ser extremamente grosso comigo. O que eu fiz pra ele ser assim?! - uma pausa fora feita, mas ela logo prosseguiu - Eu sei que ele precisa de médico, claro que ele precisa! Vai ter essa festa por causa do lançamento da nova revista, logo no próximo final de semana e eu vou ter que aguentá-lo até lá... Não aguento nem agora... 

Não aguentava ouvir moças queixando-se sobre seus relacionamentos. Moças bonitas e decididas, como Lana, vivendo pesadelos nas mãos de homens egoístas. Moças perfeitas na visão de mulheres sensíveis, moças cujo perante seus parceiros, pareciam incompletas. Mas, na minha, eram inteiras. E sabe, adorava consola-las. Pois, apesar de ser muito tímida, eu era também muito compreensiva com a dor delas. E muito lésbica. 

— Ele me faz odiar-me! Tudo que faço está errado - meu coração pulou. Como uma moça tão linda poderia se sentir tão mal? Eu via-me nela, de certa forma - Não sei mais o que fazer... Acho que vamos terminar logo. 

Quando decidi sair do quarto, peguei-a ainda no celular. Fingi não saber sobre nada, mirando-a de soslaio enquanto ela observava o céu noturno. Sua voz aflita, seu corpo esbelto pairando sobre o estofado, os olhos inchados, tudo ajudava na perfeição daquela mulher. Como poderia ele desmerecer algo tão belo quanto a Lana? 

— Que olhar! - ela afirmou ao me ver perdida em suas curvas. Vestia um shorts de ginastica com ótimo caimento em seu corpo e as coxas pareciam mais atraentes, talvez até mesmo maiores? Como não olhar para ela? - Você é lésbica ou algo assim?

Eu neguei com a cabeça, envergonhada. Ela deveria achar que eu era uma louca, uma tarada. Desejei esconder-me no banheiro até ela sair, mas ela parecia mais se divertir com o deslize. Um sorriso desbotou da boca tragicamente melancólica. 

— Bom, eu não ligo se for - levantou-se, guardando o celular - Eu não tenho preconceito. 

— Eu também não - e ela desfez o sorriso, logo questionando-me sobre os afazeres do dia seguinte. 

Passamos o dia a dia dela em questão de minutos. Ela pediu-me para lembrar-lhe de ligar para sua família e comprar um bolo para o aniversário do irmão e mandar entregar-lhe em casa, longe dali. Também queria um pouco de espumante para depois do show da noite seguinte e nada de visitas. Não queria ser importunada por gente ligado as mídias, mas queria ver alguns fãs. Deu-me o nome de uns trinta, que foram escolhidos para tirarem uma foto junto dela após o encerramento. E ah! se isso importa, ela também queria me ver. Claro, como funcionaria dela. Mas, que eu trouxesse alguns cigarros e não queria seu namorado por ali. Ele era irritante. Homens são irritantes, não é mesmo?