Palácio de Ilusões escrita por Raíssa Duarte


Capítulo 22
Capítulo 22




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—Você avisou que iríamos visitar a vila? – Mairi perguntou.
   Lady Caroline a olhou como se perguntasse ‘Acha que não penso nas coisas?’. Ou foi apenas impressão sua.
   -Mas é claro, alteza. Não posso deixar a princesa Rowen, então uma de minhas criadas vai acompanhá-la.
   -Eu posso muito bem ir sozinha.
   -A senhora sua mãe me alertou sobre isso, então não. Mas eu e a princesa esperamos que divirta-se muito.
   -Nós todas vamos nos divertir. – disse a princesa Rowen, descendo a escadaria devagar, segurando o corrimão. Buggy a acompanhava com o mesmo cuidado.
   -Alteza, eu não achei... – Começou Caroline, embasbacada.
   -Desculpe, pedi que sua criada não lhe dissesse antes, pois não tinha certeza se realmente iria...
   Alguém com certeza receberia uma reprimenda, pensou Mairi. Mas todos os criados eram muitíssimo bem tratados pela patroa. Ela era gentil e até mesmo familiar com eles. Talvez porque deveria ter trabalhado com eles quando também era uma serviçal.
   Mas aquilo sim era de colocar um sorriso involuntário no rosto.
   Rowen ainda estava um pouco pálida, os lábios não muito avermelhados como de costume, mas estava bem vestida para um passeio.
   -Majestade, se nos der alguns minutos, estaremos prontas para acompanhá-la. – Olhou para as mulheres também chocadas, que imediatamente concordaram com um gesto de cabeça, e dirigiram-se escada acima para aprontarem-se.
   -Eu dei um susto muito grande. Acho que deveria ter avisado antes de simplesmente sair pronta. Espero que sua criada não receba um sermão, eu queria que fosse uma surpresa.
   -E que surpresa. – Comentou Mairi.
   -Obrigada. – Rowen ajeitou uma mecha de cabelo que havia se soltado do penteado. – Por tentar me animar e tirar-me da cama. Eu estava sentindo pena de mim mesma, deixando as paredes absorverem minha tristeza e a devolverem para mim. – Ela ergueu a cabeça timidamente e sorriu um pouco. – Então... Para onde nós vamos?

                         °°°

Pela primeira vez em dias, Rowen realmente aproveitou a curta distância da carruagem até a vila, para observar os campos, e de fato eram lindos. Ela gostaria de ver mais durante sua volta para o castelo.
   Quando desceu com Mairi, havia muitas pessoas á sua espera, que permaneceram no mesmo lugar, observando-as com curiosidade e interesse. Alguns receosos, mas ainda assim, todos ali.
   Rowen dialogou gentilmente com o administrador da área. Ele ficava responsável por assuntos menores, os que considerava mais sérios, levava para o lorde da região, marido de Caroline, e este por sua vez, levava os mais urgentes para o rei.
   Rowen e Mairi também conversaram com os cidadãos, receberam bênçãos e presentes, coisas pequenas e delicadas, muitas feitas a mão e artesanato, mas para a amoriana todos tiveram um significado especial, representavam a consideração que eles tinham por ela. Uma estrangeira, da qual eles apenas ouviam falar, mas que já depositavam confiança. Ela esperou e desejou ardentemente ser digna de tal respeito.
   Visitaram orfanatos, lojas e padarias. Ouviram pequenas descrições do que poderia ser melhorado e as princesas asseguraram que levariam tudo ao rei, mas no conceito geral, a vila estava segura, bem e estável. Edward poderia ser um homem sem coração que gostou de humilhá-la, mas era competente em seus deveres. Assim como Lorde Venel.
   Já estava entardecendo quando Rowen e Mairi retornaram para a carruagem com Caroline.
   -Veja só! – Apontou Mairi, entusiasmada.
   -O quê?
   -Você riu! Agora pouco, você riu!
   -Bem, eu suponho que a visita foi divertida.
   -Ah, então você realmente precisa viajar comigo mais vezes, isto foi apenas um aperitivo. – Afirmou a moça com ar altivo, enquanto vestia luvas de couro que ganhara de presente, já testadas pela guarda. – Viram? – mostrou – Aqui existem talentos escondidos! Vou levar aquela costureira para a cidade!
   Rowen riu outra vez. E mais uma. E então gargalhou mais quando percebeu o quanto sentia falta de rir.
   -Vocês estavam certas. – Constatou segurando uma compota de doces caseiros. As guloseimas obviamente ainda seriam examinadas, mas Rowen não achava que a natureza daquele presente fosse sinistra. – Passei por coisas ruins, mas a única no caminho de minha felicidade sou eu. – Olhou para as pequenas lembranças que cobriam o espaço ao seu lado. – E percebi também que quero ser amada por essas pessoas, por este povo. Eu quero ser uma boa rainha. Acredito que devo primeiramente ser uma boa princesa. O que significa; sem mais quartos escuros para mim. - Focou seu olhar em sua dama em um agradecimento mudo.
   -Concordo, majestade. – Sorriu Caroline. – Mas infelizmente não vai poder passar o tempo todo viajando, terá deveres na corte, mas por hora, sua maior preocupação é melhorar.
   Rowen assentiu, sorridente. Ela tinha a impressão de que agora melhoraria muito mais rápido. Encontrara sua força.

                         °°°
   Edric encontrou seu irmão mais novo sentado na cadeira do conselho, na qual mal conseguia manter-se ereto.
   -Olá, Edric! – sorriu em movimento. Provavelmente estava balançando as pernas suspensas pelo assento.
   O rapaz sorriu para o irmão, embora estivesse confuso.
   Sentou-se em sua própria cadeira e ouviu todos os relatórios. Estavam em relativa tranqüilidade. Nenhuma tensão com outros reinos. Comércio estável, pretendiam fazer alterações no porto e na armada.
   A única pessoa menos interessada do que ele era, obviamente, Edmond. Mas não foi exatamente motivo de orgulho. Edmond tinha seis anos, ele vinte e seis.
   -Talvez o príncipe herdeiro possa avaliar pessoalmente o andamento das construções quando elas começarem.
De repente, todos os olhares estavam nele. Até o do menino.
   -Desculpe?
   Alguns ficaram claramente impacientes e frustrados, incluindo seu pai. Ele dera a prova concreta de que não estava prestando atenção no tema atual.
   O homem que deu a sugestão, um lorde do qual ele não lembrava o nome, pigarreou com as bochechas vermelhas de raiva.
  -O príncipe herdeiro gostaria de inspecionar pessoalmente as construções navais quando estas começarem? – Repetiu vagarosamente, como se Edric possuísse um intelecto incapaz de acompanhar a conversa.
   -Mas é claro. – respondeu ele, resistindo ao impulso de responder lentamente também. Aquilo seria extremamente imaturo de sua parte.
   -Milordes, acredito que encerramos por hoje. – Todos os lordes reverenciaram o rei, e saíram formalmente.
   -Vá para sua mãe. – Ordenou Edward. Edmond obedeceu prontamente.
Quando as portas se fecharam e Edric ficou sozinho com seu pai, sentiu que ganharia um tipo diferente de sermão.
   -Edmond não é muito novo para vir até estas reuniões? Ele não vai entender nada.
   -E você entende? – seu pai andou até a sua janela, observando o lado de fora do palácio, e então olhou para ele. – Vamos, cite-me o nome destes lordes. Serei generoso, cite quatro.
   Edric abriu a boca, e então fechou.
   Seu pai riu.
   -Você nunca desaponta, não é? – retornou para sua mesa, sentando-se na poltrona acolchoada – Estou ensinando seu irmão desde pequeno, o que deve fazer para ser um rei.
   Edric acenou, batendo com os dedos no punho de sua cadeira.
   -Eu falhei com você, admito isso. Eu o negligenciei até que se tornasse este bêbado caçador de saias. Mas acredito que você goste dessa vida de devassidão.
   -Acertou em cheio.
   -Então vou poupá-lo de uma vida para a qual não nasceu. Vou ter uma conversa com o conselho, e passar todos os seus direitos á Edmond. Poderá passar o resto de seus dias vadiando pelo continente como sempre quis, com sua própria renda anual.
   Edric riu.
   -Não pode estar falando sério.
   -Eu estou. Em outro reino, talvez os nobres se recusariam a fazer algo tão pouco comum como exilar o primogênito e herdeiro ao trono, mas você facilitou tudo ao conquistar a antipatia de cada lorde do conselho. – Seu pai serviu a si mesmo uma taça de vinho do porto. – Eles apoiarão minha decisão então é mais do que necessário que eu comece á preparar seu irmão para seus deveres como futuro monarca.
   -O que acontece com Rowen? – ouviu-se perguntar.
   -Ela pode escolher segui-lo em vergonha como uma esposa fiel, pode pedir por um divórcio, o que seria algo extremamente delicado, exaustivo e talvez até infrutífero. Ou pode abandoná-lo e voltar para Amorim com seu nome.
  -Os pais dela não aceitarão tão docilmente. Vai arriscar um incidente diplomático?
   -Você é uma catástrofe que ninguém poderia prever. Não posso ser culpado por suas ações. Não vou arriscar o futuro da dinastia e do reino por você. Eles, como monarcas, entenderão.
   -Me detesta á esse ponto?
   -Eu fiz de tudo para torná-lo um homem, mas você se recusa á crescer.
   -Confesse que no fundo está adorando.
   Seu pai o olhou por um longo tempo, avaliando suas feições.

—Você procurou por isto. Assim como ela. Mas felizmente, já estou devidamente experiente contra isto. Você quer contar para sua esposa ou deixará que eu faça as honras?
   Edric levantou-se e saiu do estúdio completamente enfurecido.
   Quando entrou em seu quarto, sentou-se diante do bloco de cartas e mergulhou a pena com tanta força no tinteiro que a quebrou. Bufando, apanhou outra e suavizou a pegada.
   Pensou em como escrever, considerando que não o fizera em momento algum. Ele duvidava que Rowen leria qualquer uma de suas cartas, e mesmo se fizesse, ele não tinha o que dizer á ela.
   Não havia maneiras de florear a situação. Deveria dizer a ela cada palavra de seu pai sobre sua deserdação. Mas conforme escrevia, lembrou-se dela pálida e fraca em uma cama, mal se alimentando, e sendo seguida por Cecile á cada momento. Ela já sofrera humilhações e baques demais.
   Amassou o papel e deixou-o sobre a escrivaninha.
   Saiu de seu quarto, ainda bravo.
   Precisava socar alguma coisa.


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Notas finais do capítulo

/O
E agora?



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