Palácio de Ilusões escrita por Raíssa Duarte


Capítulo 14
Capítulo 14




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/753460/chapter/14

 

Rowen acordou com dor de cabeça. Talvez porque passou a noite anterior chorando. Outra vez.
   Já faziam dias. Era melhor levantar-se e mostrar á todos que estava viva.
   Erguendo-se até ficar sentada no colchão, apanhou o pequeno sino sobre a mesinha ao lado da cama, e o agitou até que a criada fora de seu quarto viesse até ela.
   -Alteza. – Fez uma reverência – Deseja ver o médico?
   Não. Ela não estava mais doente.
  -Não. – Negou – Traga meu desjejum, e quero um banho. Traga também minhas damas.
   A serva acenou e saiu.
   Após quase meia- hora, uma bandeja com pão quente recheado de frios, biscoitos com geléia, chá e café vindo do sul a aguardavam, junto com uma tina de água fervendo. Suas damas estavam esperando por ordens, em fileira. Apenas as três.
   A mesma criada que estava ao lado de fora do quarto á sua disposição agora prendia seu cabelo em um coque enquanto ela vestia um roupão.
   -O que foi feito de Cecile? – Perguntou calmamente. Não havia motivo para esperar que a criada saísse. Toda a corte já deveria estar sabendo, aquela altura.
   -Ela foi mandada embora, majestade. – Informou Monyque – Está em sua propriedade de campo.
   Em desgraça, obviamente.
   -Alguém escreveu aos meus pais sobre o ocorrido?
   -A Rainha, alteza.
  Rowen acenou. Ainda não sentia-se pronta para escrever á eles. Era ótimo que Kayla tivesse tomado conta de tal situação.
   -Podem sair, isso é tudo. Todas.
  A criada e as damas respeitosamente obedeceram, deixando Rowen banhar-se sozinha.
  Ela mergulhou dentro da água quente, permanecendo assim por alguns minutos, até que seu corpo pediu por ar e então ela emergiu, pronta para recomeçar com sua rotina. Já ficara na cama absorvendo a pena alheia por tempo demais.
   Primeiro, foi ao médico real perguntar em quanto tempo poderia tentar outro bebê. Depois de seu aborto, ele dissera várias coisas, mas ela não prestara atenção á nenhuma delas. Agora estava mais disposta a sofrer menos e cumprir com seu dever.
 As palavras do médico foram encorajadoras e positivas, mesmo oferecendo muitos ‘sinto muito’ ao longo da conversa.
   Durante sua caminhada até os aposentos da rainha Kayla, ouviu mais condolências. Por mais triste e sentida que estivesse, nada poderia abalar seu objetivo até sua quase sogra.
 Não encontrou Edric no castelo. Felizmente.
  Após encontrar a rainha dando ordens aos criados, esperou por sua vez de falar á sós.
  -Querida Rowen. – Os olhos lilases adquiriram uma leve tristeza. – Como se sente?
   -Bem melhor. – Afirmou. A mentira saiu tão rápida de seus lábios, que ela mal notou.
   -O que posso fazer por você?
 -Você trouxe as garotas até mim, para serem minhas damas. – Foi direto ao ponto. – Sabia exatamente tudo sobre elas. Estava ciente do fato de que uma delas dormiu com meu marido? – A palavra marido saiu com uma nota amarga.
  Kayla ficou calada, mas por fim respondeu;
   -Sim.
  Rowen já suspeitava, mas receber a verdade a machucou mais ainda. Pensara que Kayla era sua amiga. Quase uma segunda mãe.
   -Antes que pense o pior de mim, eu não apoiei o caso, muito pelo contrário. Na verdade, fiquei sabendo sobre a existência dele pouco antes que se encerrasse. Eu ordenei que Cecile se afastasse dele. Para o bem de todos.
  Por isso encontrara-os terminando o relacionamento.
   -Mas ainda assim não me contou.
  -Esperava que eu contasse para minha quase nora grávida que seu esposo estava visitando outras camas? A cama de uma amiga?
   -A preocupação foi em vão, considerando que perdi a criança.
  -Jamais esperei, ou desejei que isso acontecesse. Estava protegendo você.
 Sim, todos estavam protegendo-a, vendando-a e escondendo coisas que concerniam á ela e apenas á ela.
   Rowen sorriu dignamente.
   -Muito obrigada.
   -Eu quis poupá-la, mas você eventualmente descobriria. Eu só queria que soubesse depois. Você não é a primeira rainha traída, e não será a última. É jovem e vai superar. 

Aquele definitivamente não era o tipo de casamento com o qual ela sonhara.
   Saiu altiva, desejando retornar para seu quarto, para sua cama. Estava tudo sendo bem mais difícil do que ela imaginara.
  Mairi fez questão de acompanhá-la, mesmo em ritmo acelerado.
   -O que acha de sairmos do castelo? Até a região nobre... Eu me ofereceria para cavalgar com você, mas sou péssima amazona.
  Por que todos queriam incluí-la em alguma coisa?
   -Você sabia? – Virou-se abruptamente.
 A devouriana levou um tempo até compreender.
   -Não. Eu juro.
  Rowen semicerrou os olhos. Simplesmente não conseguia confiar em ninguém ali.
   -O que acha da minha proposta?
   -Eu gostaria de ficar sozinha.
   Deixou Mairi antes que ela sugerisse mais alguma coisa.
   Provavelmente suas damas de companhia também sabiam. Estavam sempre juntas, deveriam conhecer Cecile o bastante para saber o que ela fazia sempre que eram dispensadas. Na verdade, Cecile poderia muito bem vangloriar-se de sua conquista. Talvez até mesmo rissem dela pelas costas chamando-a de estúpida, cega e ingênua. Talvez o castelo inteiro estivesse fazendo isso.
   Iria livrar-se delas. De uma vez. Mandá-las embora. Mas primeiro, restava outra bagunça em sua vida para resolver.
   Depois de pedir informações, achou Edric no campo de tiro ao alvo. Disseram que ele estivera a manhã inteira lá. Encontrou-o ligeiramente ofegante, e percebeu que alguns dedos estavam ligeiramente esfolados pela corda do arco.
   -Preciso falar com você.
   Ao ouvir a voz dela, ele virou-se surpreso. Estavam sozinhos, pois Edric ordenara que todos o dessem alguma privacidade.
   -Rowen... Você deveria estar na cama.
   -E você com o senhor seu pai. – Respirou fundo. Se começassem uma discussão, teria de passar mais tempo na presença dele. – Ouça, gostaria de propor um acordo. – Ele pareceu subitamente alerta. – Vamos permanecer em quartos separados, como muitos casais da realeza o fazem. – Ela nunca imaginou-se como o tipo de esposa que passava as noites sozinha, acompanhada por um travesseiro gelado ou damas obrigadas a fazer-lhe companhia, mas ali estava ela. – Quando estiver completamente saudável, vamos ficar juntos para conceber. – Ele torceu a boca, desagradado. – Sei que devo ser a última mulher que gostaria de possuir, mas é necessário. Por nossos reinos.
  Dito isso ela se foi, retornando para o castelo. Trancou-se na biblioteca real, e leu o primeiro livro no qual colocou suas mãos, procurando desesperadamente por uma distração.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Palácio de Ilusões" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.