Palácio de Ilusões escrita por Raíssa Duarte
—Ao que tudo me mostra, a morte veio por meio de causas naturais – Afirmou o médico terminando de averiguar o cadáver.
Edric, seu pai e o primogênito do duque de Ravenstone estavam assistindo á toda a perícia médica realizada. Edric teve de controlar o próprio estômago quando foi ver o cadáver já examinado, aberto em pontos precisos. Não era uma visão agradável.
Depois de dar os devidos pêsames ao novo duque, Edric saiu. Ironicamente, sua irmã livrara-se do homem. E que alívio ela não ter sido realmente responsável por sua morte.
Encontrou Mairi dormindo profundamente sob suas cobertas, e Rowen sentada, lendo um livro. Ela ergueu os olhos quando sentiu sua presença e fechou o encadernado com um dedo no meio.
-Como está minha irmã? – Perguntou em voz baixa para não acordá-la.
-Ela esteve bem assustada, levou um tempo até se acalmar, mas acabou dormindo. Sua madrasta está conversando com as filhas do finado Lorde.– Curiosidade faiscou em seus olhos escuros – Já descobriram a causa da morte?
-Sim. – ele olhou para Mairi que ressonava baixinho – Por incrível que pareça, ela não o matou.
Rowen colocou a mão sobre o peito, parecendo aliviada.
Edric controlou o riso, mas não o sorriso.
-Você achava que ela o havia matado?
-Queria não achar. – Suspirou ela. – Mas sua irmã tem um temperamento...
Ele estendeu a mão para ajudá-la a se levantar. Ela ajeitou o livro e saíram calmamente do quarto.
-Você não faria o mesmo? – perguntou ele.
-Tenho quase certeza que não. – Ela respondeu – Provavelmente iria me acostumar com a idéia, e então gradualmente aceitá-la.
Como fizera com o casamento.
Edric por um instante sentiu-se novamente sufocado. Como ser submisso a tal ponto?
-Mesmo se seu marido fosse um Ravenstone?
-Sim – ela acenou. – Se fosse meu dever.
E era por isso, que ele gostava de evitá-la, pensou.
De algum modo, todas as conversas que tinham terminavam com Rowen dizendo “Não é certo.”, “Não devemos”, “É meu dever”. Seu pai já o obrigava a fazer e seguir uma série de coisas... Ele ia as malditas reuniões, sentava-se por horas sem fazer absolutamente nada, apenas ouvindo seu pai discutir com homens embromados e carrancudos sobre terras, população, dinheiro, e reinos vizinhos. Quando não chegava atrasado, o que era incomum, não dignava-se a prestar atenção em absolutamente nada que dialogavam, e bebia vinho, pensando no que faria nas horas seguintes quando fosse liberado.
Sem Fergus, tinha de aproximar-se mais dos filhos de lordes para não caçar e divertir-se sozinho.
-Eu... – Ela o parou, colocando a mão em seu braço. – queria falar com você sobre uma coisa...
Ela mexeu os dedos, nervosa.
-Algum problema? – perguntou – você ainda não se sente bem?
-Não, não é um problema... – murmurou – na verdade é uma solução... – esta última parte ela parecia ter dito para si mesma.
-Rowen... – ele pediu, paciente.
-Vamos ter um bebê. – Ela disse rapidamente, e daquela vez, Edric desejou que ela tivesse dito com mais calma.
Ele ergueu as sobrancelhas surpreso, abriu a boca como um parvo, e então fechou outra vez, pois não tinha nada de útil para dizer naquele momento.
Ela esperou por uma reação.
Nada. Estava em choque.
-Acha que devemos contar ao seu pai e sua madrasta agora? – Mordeu o lábio, incerta.
Ele acenou, ainda de maneira estúpida. Provavelmente não seria mais o mesmo depois daquela notícia, pois teve plena certeza de que não estava pronto para ser pai. Talvez nem quisesse.
Aquele era o motivo para sempre tomar providências ao deitar-se com mulheres. Isso e para não infectar-se com doenças venéreas. Mas com Rowen era óbvio que não poderia usar nenhum método contraceptivo. Precisavam reproduzir-se o mais rápido possível.
Eles disseram a novidade ao rei e a rainha, que claramente ficaram exultantes. Para seu pai a criança era mais uma peça no tabuleiro para assegurar o poder na família.
Rowen escreveu uma carta para seus próprios familiares. Ele notou como enquanto ela escrevia, a mão esquerda ficou sobre a barriga.
Ao menos agora não precisariam mais fazer sexo.
◇◇◇
—Estão chamando-me de viúva negra. – Comentou raivosamente Mairi, bebendo sua xícara de chá.
-Os comentários vão diminuir. Você preferia os antigos? – Questionou Rowen bebendo também. Nos últimos dois dias os enjôos matinais pararam de vir. Seu bebê e ela aparentemente haviam chegado á uma espécie de consenso. Ela comia todos os pratos horríveis que a cozinheira do palácio garantira que fortaleceriam a criança e em troca ele a deixaria comer outras coisas sem despejá-las para fora depois.
-Sim, prefiro. Dos comentários anteriores sou realmente culpada. Mas estes são maldosos e desnecessários. Não matei o velho. Ele simplesmente parou de respirar enquanto eu...
-Enquanto você... – Instigou curiosa.
Mairi suspirou e se aproximou para que apenas Rowen ouvisse.
-Eu ia satisfazê-lo de outro modo para que ele pensasse que consumamos o casamento. Mas antes mesmo de terminar, ele caiu duro.
-Outros modos? – perguntou ainda mais interessada.
-Qualquer coisa para não tê-lo dentro de mim.
Rowen franziu o cenho.
-Mas como enganá-lo?
-Ele estava bêbado como um gambá. Só precisava dar prazer e pronto.
Rowen arregalou os olhos e corou desde as bochechas até o pescoço.
Mairi riu.
-Eu disse que os boatos antigos têm sua verdade.
A princesa amoriana não queria soar impertinente, mas ficou curiosa. Constance nunca falara nada do tipo.
-O que você fez?
Mairi pela primeira vez desde que se conheceram pareceu constrangida.
-Coloquei minha mão lá. – Quase afogou as palavras no chá que bebia, envergonhada.
A boca de Rowen abriu-se mais uma vez.
Então aquela era a famosa ‘liberdade’ que mulheres de má reputação ofereciam. Mas uma princesa? Sua cunhada? Aquilo chocou Rowen mais do que tudo.
-Você não me parece bem...
-Foi só o susto...
-Rowen, se pretende continuar sendo próxima á mim precisa saber que fiz muitas coisas como esta com homens. E não me arrependo. O motivo de estar aqui e não no Norte com a família de minha mãe é porque seduzi o noivo de minha prima. E fui para lá, porque tive um comportamento repreensível, bebendo mais do que o apropriado e tornando-me próxima demais de jovens nobres. Não é só por ser uma princesa que meus pais buscam-me tão desesperadamente um marido, é para limpar meu passado e impedir que eu faça coisas semelhantes no futuro.
—Mairi, não deveria fazer isso. - Censurou- Este tipo de comportamento é completamente inadequado para moças como nós. Você está procurando sarna para se coçar...
Rowen parou assim que percebeu que ela provavelmente ouvira tais coisas a vida toda, e ela seria apenas mais uma. Não se conheciam há tanto tempo assim para que pudesse julgá-la, e francamente, apesar de considerar as ações de sua cunhada impróprias, ela não fizera nada para magoá-la, e nunca ouvira relatos de que já machucara alguém. Se Mairi não fazia este tipo de coisas ruins, então era uma boa pessoa.
Encerraram a conversa de um jeito estranho, parecendo pouco amistosas uma com a outra embora não houvessem discutido seriamente.
Rowen decidiu levar Buggy pelos jardins. Naquele dia não quisera suas damas de companhia seguindo-a para todos os lados, então dispensou-as.
Adoraria poder cavalgar, mas todos no castelo diziam que não faria bem ao bebê.
Normalmente, uma notícia daquelas viria acompanhada de um banquete para toda a corte, mas após a morte recente do duque, foi considerado de muito mau gosto, então comemorariam em outro mês.
Caminhar com seu cão era a única atividade que poderia realizar sem que alguém viesse em seu encalço pedindo que se sentasse ou deitasse para descansar.
◇◇◇
—Rowen não quis que vocês a acompanhassem? – Perguntou Edric abotoando a calça.
-Ela quis ficar sozinha. Disse que ia passar um tempo com sua irmã. Eu não reclamo. Sua alteza é gentil, mas é realmente cansativo passar tanto tempo seguindo alguém. É muito bondoso da parte dela nos liberar, conheço rainhas que até dormem com as damas. – Ela passou o cabelo ruivo para um dos ombros, pedindo ajuda com o espartilho. – Se Vossa Alteza não se importar... eu pediria á uma criada, mas não posso ir até lá assim.
Edric riu e apertou o melhor que pôde. Possuía experiência em retirar espartilhos, não colocá-los.
-Minha madrasta vai encontrar um pretendente adequado para você, e eu vou me assegurar. – Ele beijou o lado livre do pescoço.
-Muito obrigada – ela sorriu. – Preciso de um marido o mais rápido possível. O senhor meu pai me mataria se soubesse. – Riu quando os beijos continuaram. – Preciso ir. – Disse quando já estava devidamente vestida.
No caminho, encontrou Rowen. Ela parecia melhor em comparação aos últimos dias.
-Como foi com minha irmã?
Ela franziu o cenho.
-Como sabia que estive com sua irmã?
Maldição.
-Perguntei aos criados. Viram vocês juntas. – Mentiu de maneira veloz.
-Bem... tivemos uma conversa esclarecedora. – Ela pigarreou – Eu achava que era mentira ou apenas falácia, mas hoje percebi que os boatos são verdadeiros. A própria Mairi contou-me que realmente fez tudo que dizem que ela fez.
Sua irmã não se fazia de rogada... pensou ele.
-Eu tentei não censurá-la, mas acho que fiz mesmo assim. Acho que está chateada comigo. Ela deveria entender que não deve fazer isso, ou as coisas ficarão piores. A reputação é tudo que ela tem e está arruinando a si mesma.
Edric sentiu uma leve raiva alastrando-se sobre ele.
-Acho que já existem pessoas demais julgando minha irmã por escolher tomar as próprias decisões e divertir-se um pouco.
-Mas é errado. – Insistiu ela.
-Então que seja! – Exclamou ele, pegando-a de surpresa – O que minha irmã faz ou deixa de fazer não é da sua conta, Rowen.
-Só estou preocupada.
-Então faça um favor a todos e preocupe-se em silêncio.
Edric saiu, deixando-a sozinha e sem reação.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Alguém aí com raiva do Edric?
O/