Duas horas até Nevada escrita por Agatha Goldert


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Well, well, me veio inspiração e escrevi essa história.
O enredo todo foi baseado na música Yayo da Lana Del Rey.
A história tá uma delicinha, não precisa conhecer ou gostar da música pra curtir, só segue a leitura, tudo bem? Sem estresse...
https://www.youtube.com/watch?v=Fmjq-4rFjEY
Aqui o link para vocês aproveitarem :)
Boa leitura!



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Eu morava em um trailer no meio do parque da minha cidade. Eu gostava de morar lá, nos dias quentes dava festinhas íntimas com mais dois amigos, Carl e Oliver. Cheirávamos muita cocaína e depois dançávamos até o dia amanhecer.
        Nossos encontros aconteciam do lado de fora do meu trailer azul. Era todo decorado com vasinhos de plantas que eu só consegui cuidar na primeira semana que eu estava morando ali.
Minha vida tinha zero perspectiva, era garçonete durante o dia e a noite tentava me divertir com alguma coisa legal.
         E ilegal.
         Meu amigo Carl conhecia um cara chamado Joseph, lembro que ele tinha uma tatuagem de cobra no braço. As vezes Joseph aparecia no dia seguinte para levar Carl para casa depois da farra.
        — Vocês usam muito essa porcaria. — Um dia Joseph me disse, enquanto eu tomava uma xícara de café sem açúcar pela manhã. — Vão acordar mortos algum dia desses.
Abri um sorriso para ele e respondi.
        — Por que você não vem um dia pra curtir com a gente?
        Na semana seguinte Carl trouxe Joseph. Eles tinham uma daquelas motos grandonas que dava vontade de montar e sair pela estrada tentando encontrar o fim dela.
        Enquanto fumávamos, bebíamos e cheirávamos, pedi para que Joseph me levasse para dar uma volta nela. Ele não queria me levar, estava quase implorando de joelhos.
       — Você tá muito doidona, se a polícia para a gente, tamo fodido.
       — Foda-se a polícia, Jo. Vamos, por favor?
       Joseph era bem mais velho que Carl, Oliver e eu. Devia ter pelo menos uns quarenta anos, mas não conseguia esconder que era tão fodido quanto a gente. Eu acho que ele trabalhava como instalador de TV à cabo. Ele tinha uma beleza diferente. Não sei se eu estava muito chapada, mas eu lembro que ele fazia aquele estilo lenhador só que sem barba. O rosto era lisinho e algumas marcas que eu não consegui identificar do que era. Como eu sei disso? Dei um beijo surpresa para convence-lo de me levar para uma voltinha com ele.
         Ele queria me empurrar, mas não conseguiu. Sou pequena, mas Joseph não conseguiu resistir.
         — Você é doidinha, sabia? — ele disse em meus braços, girávamos pela sala, a música tocando baixo e os outros dois rapazes indo fundo no pó.
         Pó, cerveja, pó, cerveja, pó, cerveja.
         Deixamos os garotos para trás e partimos em cima da moto. Eu precisava sentir o vento batendo no meu rosto.
         Não sei em que velocidade estávamos só sei que a sensação de liberdade era maravilhosa. Eu queria gritar que era livre, mas minha voz não saía.
         — Se ver alguma viatura me avisa. — Joseph disse.
         — Joseph você é muito preocupado. Esse momento é nosso, vamos viver.
         Ele também estava sem capacete, então eu apenas abracei seu corpo e me concentrei no vento cortando meu rosto. A noite era fria, mas cheirava a orvalho. O céu estava estrelado e passava rápido sobre nós.
         Tinha bebido muita cerveja, pedi então que parássemos num posto de gasolina para eu ir ao banheiro.
         Chegando no posto, procurei rapidamente o banheiro enquanto Joseph entrou na Seven-Eleven para comprar mais bebida.
        Quando saí ele estava sentado no acostamento da rodovia bebendo.                Sentei ao seu lado, o motor da moto atrás da gente esquentava nossos corpos na noite fria.
        — Joseph, — eu disse entre um gole e outro — eu preciso que você me tire dessa vida sombria de morar em um trailer.
        Ele ficou em silêncio olhando para a frente.
        — Eu sinto que tem algo de errado comigo. — continuei falando.
        — Bibi, você é uma garota sonhadora demais... — ele disse, dando um gole da garrafa. Encarei-o incrédula com o que estava ouvindo. — Achou mesmo que sair da casa dos seus pais iria dar certo nessas condições?
       Pensei um pouco.
       — Lógico que não, né? — ele mesmo respondeu à pergunta.
       Permanecemos em silêncio bebendo e ouvindo os ruídos da noite em volta de nós.
       — Vamos pra algum lugar? — eu disse.
       — Onde?
       — Não sei.
       Levantamos e subimos na moto mais uma vez. Pegamos a rodovia e eu tentava achar um lugar bacana para ficarmos. Avistei um hotelzinho todo pintado em tons pasteis. Era bem estilos anos cinquenta. Pedi que parássemos ali.
        — Por que aqui? — Perguntou ele.
        — Quero conhecer o lugar...
        Não sei o que aconteceu com Joseph mas aquela noite ele estava topando tudo o que eu propunha.
       Havia um senhor na recepção, pedimos um quarto e Joseph só dizia sim, e sim, e sim, e sim...
        Entramos no quarto, puxei-o pela mão até senta-lo na cama.
        — Por que tá fazendo isso? — finalmente perguntou ele.
         Não deixei ele terminar de falar, apenas sentei em seu colo e comecei beija-lo.
          — ...você tá bêbada. — ele disse. — Não vou fazer nada com você bêbada.
          — Você me acha feia? — perguntei.
          — Lógico que não, por que essa pergunta agora? — estranhou ele.
          — Quero transar e você tá fugindo.
          — Você sabe que eu não resistiria.
          — Então não resista. — rebati sorrindo. Dei mais um beijo leve em seus lábios e levantei. — Já volto.
          Fui até o pequeno banheiro que tinha no quarto e fechei a porta. Me apoiei na pia olhei meu reflexo no espelho. Meu cabelo loiro ainda estava preso naquele penteado esquisito que eu tinha que usar na lanchonete. Soltei os grampos e eles caíram sobre meu rosto. O lápis de olho tinha escorrido e me deixava com uma aparência estranha.
         Na minha cabeça a palavra viciada começou a gritar.
         VICIADA.
         VICIADA.
         VICIADA.
         Como eu queria ter uma carreira para cheirar naquela hora e esquecer as minhas ideias medíocres. O efeito do pó já tinha passado e eu estava ficando deprimida. Odiava a ideia de ter que transar daquele jeito.
         Molhei meu rosto na água fria. Bebi a água da torneira. Respirei fundo uma, duas, três vezes. Aquele homem não me merecia, ele era bom. Eu era um pedaço de merda.
         Na minha quinta respiração profunda, me veio uma vontade de chorar, acabei desabando ali mesmo. Eu não sabia porque estava chorando. Eu acho que chorei alto porque logo Joseph bateu na porta, nervoso. Perguntou o que estava acontecendo.
         Ele acabou abrindo a porta me viu no chão de calcinha e sutiã caindo em lágrimas.
        LIXO.
        LIXO.
        LIXO.
         Ele me tirou do chão e perguntou o que estava acontecendo. Lembro de ele ter falado algo sobre ir embora, estava nervoso. Acabei saindo do banheiro correndo e indo para cama. Me encolhi e fiquei observando a janela e a rua lá fora. Era o que eu fazia desde pequena quando começava a chorar, olhava para o nada e tentava imaginar qualquer outra coisa. Naquele momento minha cabeça tentava lembrar que rodovia o hotel ficava.
         Joseph sentou-se ao meu lado na cama, tirou a minha concentração e eu quis chorar de novo.
         — Eu também não tenho a vida que eu queria, sabe? — Ele disse de repente. Eu não estava a fim de falar sobre a vida.
          Para me distrair, devagar, eu fiquei de pé na cama, e tirei o que restava das minhas roupas. Meu rosto devia estar inchado, mas eu não me importava. Totalmente nua, eu comecei uma melodia na minha cabeça enquanto dançava lentamente. Não sei se eu estava sensual, mas a energia que eu sentia era real.
                    Let me put on a show for you, daddy.
                            Let me put on a show.
                     Let me put on a show for you, tiger.
                                        Let me
                                        put on
                                        a show…
           Eu vi Joseph umedecer os lábios rapidamente. Continuei minha dança para ele ser completamente enfeitiçado pelos meus movimentos. Acabei sorrindo espontaneamente. A dor ia embora aos poucos e o tesão começava a tomar lugar.
           Ele me puxou pela mão, fiquei por cima dele, que pôs o dedo nos meus lábios, tentei lamber, mas foi rápido demais. Me deixou na vontade.
          Quando dei por mim estava jogada na cama com ele em cima de mim.            Docemente ele perguntou:
          — Quer fazer isso mesmo?
          — Quero. — respondi prontamente. Qualquer coisa para esquecer de mim mesma, pensei.
          Joseph beijou todo o meu rosto como nenhum cara havia feito antes de transar. Por uns momentos eu esqueci de tudo, esqueci da cocaína, esqueci da bebida, esqueci meu trailer velho, esqueci minha mãe apanhando do meu pai, esqueci deles gritando comigo como se eu fosse o problema e a culpada de tudo. Esqueci da minha vida de merda.
          Fizemos amor gentilmente aquela noite.
                                                      ***
          No dia seguinte, eu acordei zonza e com dor de cabeça. A noite tinha sido intensa, olhei para o lado e Joseph dormia de bruços tranquilamente.                  Peguei um dos lençóis da cama e me enrolei neles. Imagens da noite anterior vinham em flashs na minha mente. Não queria chorar de novo.
          Procurei entre as gavetas do quarto algo que eu pudesse escrever. Encontrei um pedaço de uma nota fiscal velha e um lápis, e escrevi:
          Obrigada.
          Coloquei ao lado de Joseph na cama. E saí.
          Na recepção, era uma senhora que estava lá dessa vez, e que me viu sair, mas ignorei.
         — Ei, mocinha, aonde vai? Não pode levar a roupa de cama pra fora! Ei!
         Deixei o hotelzinho em tons pasteis para trás e me dirigi à rodovia.
                    Olá, Paraíso, você é um túnel forrado com luzes amarelas
                                             Em uma escura noite
                                           Yayo, sim, você, yayo
         Quando Joseph acordou, leu o bilhete e olhou pela janela, avistou uma movimentação estranha, pessoas e uma ambulância. A janela estava um pouco suja, mas através dela viu um cabelo loiro coberto por um lençol no meio da rodovia.

 


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Notas finais do capítulo

Yayo, é uma gíria para cocaína.
Fato curioso: enquanto eu escrevia e ouvia a música várias vezes para alimentar a inspiração, exatamente quando dei o ponto final do último parágrafo, a música acabou, rs.
Coisa doida...
Nos vemos na próxima, até lá!
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