O Mistério da torre de cristal escrita por calivillas


Capítulo 18
Segredos sombrios




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/753384/chapter/18

Victor fez o que prometeu, entrou em contato com a família Lyon, que apesar da sua má vontade, providenciou o sepultamento dos restos mortais de Mariane no jazigo da família. Eu e meu amigo Eduardo fomos os únicos a comparecer a pequena cerimônia e encomendei algumas flores, seria uma forma daquela moça não parecer tão esquecida por todos. Por fim, voltei para minha casa, na expectativa de uma nova vida.

Meu marido estava bastante empenhado na ideia de termos um filho, não que esteja reclamando, ele havia mudado bastante, me cobria de atenções e presentes. Nossas noites eram quentes e cheias de paixão, parecia outro homem, tanto que criei coragem para fazer a pergunta que vinha me angustiando, há algum tempo. Aproveitei o momento exato que estávamos na cama, meio entorpecidos após o sexo.

— Victor, posso fazer uma perguntar?

— Claro – respondeu, sem abrir os olhos.

— O fato de você querer tanto um filho tem a ver com o controle da empresa? – Tentei parecer o mais casual possível.

Ele se voltou para mim, com os olhos bem aberto.

— Onde você ouviu sobre isso?

— A senhora Valdez me disse que seria uma clausula do testamento da sua avó, para garantir a continuação do nome da família.

 — Como ela soube sobre esse fato? – Ele estava perturbado.

— Pelo que ela insinuou, era bem próxima do seu avô. Talvez, ele tenha comentado em algum momento mais íntimo. Então, é verdade?

Silêncio. Ele me encarando, a expressão séria, mesmo aflita sustentei o olhar.

— Sim – Enfim, afirmou, arregalei os olhos e me sentei, pois, ainda tinha esperança que fosse somente uma fofoca inventada por uma velha ciumenta.

Não sabia o que pensar, nem o que fazer, tentei sair da cama, mas ele segurou pelo pulso, me detento, lutei para escapar, mas ele continuou me prendendo.

— Me solta! – gritei, porém ele não me ouviu.

— Por favor, Lívia. Vamos conversar, você não pode ir assim.

— Por que não? Você me enganou. Para você, eu só sou uma parideira de um filho, para conseguir o controle da empresa.

— Não é nada disso, Lívia! Sim, para eu ter o controle tenho que preciso de um filho, mas não de qualquer mãe, mas da minha esposa. Eu a escolhi porque é uma mulher especial.

— Não me venha com essa, você me amava. Você me escolheu como escolhe uma roupa ou um carro, porque era o que melhor o servia.

 — Fique calma, Lívia! Não é nada disso! Eu quero construir uma família com você, sei que não começamos de maneira certa, mas podemos ser felizes juntos. Como eu disse, você é muito especial para mim – Sua voz era suave e tranquilizadora.Com a mão livre, Victor afagou o meu rosto, tentei me afastar, sem querer acreditar.

— Por que não me contou sobre essa clausula antes?

— Porque já esperava por esse tipo de reação. Estou fazendo possível para que nosso casamento dê certo.

— Como? Se tudo começou com uma mentira!

— Tudo tem que começar de alguma maneira. Venha, querida. Calma-se, não adianta se revoltar, já que estamos casados agora, porque eu a queria ao meu lado. Então, vamos dormir, amanhã você verá essa história com outros olhos.

Fiquei indecisa, não sabia o que pensar, nem tinha para onde ir, então, respirei fundo para me acalmar e deitei ao seu lado. Demorei muito a dormir, minha mente fervilhava, com toda aquela história sórdida. Ao contrário dele, que dormiu bem depressa, com o braço apoiado sobre mim, talvez, para que não escapasse. Desejei com todas as minhas forças que não estive grávida, pois não sabia o que fazer da minha vida. Mesmo assim, lentamente, entrei em um nível de letargia, no limbo entre o estado de alerta e o sono.

— O que você está fazendo aqui? — Como em um sonho, indaguei a Mariane, parada no meu quarto. Ela estava diferente, mais parecida com o seu retrato a óleo pendurado no lavabo. – Está tudo resolvido, você deveria ter encontrado sua paz e ido embora.

Mas, ela apenas me encarava com tristeza, seus olhos se voltaram para o meu marido dormindo profundamente ao meu lado. O que estava acontecendo? Não, eu não era igual a ela, não estava presa a um homem doentio ou excessivamente ciumento, que acabou por matá-la. Era certo que Victor havia mentido para mim, omitido os fatos cruciais. Haveria outros segredos e mentiras? Como poderia descobrir sobre toda a farsa que meu casamento parecia ser?

— Lívia – O som do meu nome me trouxe de volta ao mundo real.

Abri os olhos e encontrei meu marido me olhando de um jeito estranho.

— Você estava tendo outro pesadelo – ele me disse, de modo sério.

 Definitivamente, precisava descobrir se meu marido escondia alguns outros segredos, mas como poderia fazer isso, sem despertar suspeita. Talvez, precisasse fazer uma pequena visita a empresa, quem sabe, se lá poderia descobrir alguns rumores cochichadas pelos cantos. Afinal, Victor era um homem rico e bonito, poderia encontrar alguém do seu próprio grupo social para procriar, em vez de mim, uma garota simples e órfã que por sorte foi contratada por sua empresa.

— Bom dia, Aline – cumprimentei minha ex-colega de trabalho atrás do balcão da recepção.

— Senhora Rahner! – Ela se espantou ao me ver, pois, certamente, não parecia em nada com a moça que se sentou na cadeira ao lado da dela, por vários meses. É um prazer em recebê-la aqui. Vai até a diretoria?

 — Por favor, Aline. Eu continuo me chamando Lívia. Sim, vou ao escritório do meu marido, mas antes vou dar uma passadinha em outro lugar – respondi quando ela me entregou um crachá que permitia o meu aceso ao prédio.

No elevador, apertei o botão do 5º andar, não seria uma visita de cortesia, mas poderia ser muito reveladora, se eu usasse os argumentos certos.

No departamento de RH, pedi para ser anunciada a Alice, que me recebeu prontamente, com um misto de espanto e falsa gentileza.

— Que grata surpresa, senhora Rahner, qual será o prazer da sua visita? – indagou, com um sorriso que não refletia nos seus olhos.

— Bom dia, Alice, é muita gentileza me receber – digo, com dissimulada simpatia. – Sabe, é um motivo tolamente romântico já que eu e meu marido nos aproximamos de nosso primeiro aniversário de casamento, por isso, pretendia-lhe fazer uma surpresa, uma brincadeirinha.

— Sim, e em que eu posso ajudá-la quanto a isso?

— Pretendia montar uma pequena apresentação sobre a nossa história juntos. Sabe como é? Como nós nos conhecemos, nos apaixonamos, então, eu gostaria de saber por quem eu fui escolhida para trabalhar aqui, será uma homenagem singela, entende?

— Estou entendendo, senhora Rahner. Mas, infelizmente, não poderei ajudá-la.

 — Como não?

— Porque, simplesmente, não sei quem a escolheu para o cargo que ocupou nessa empresa.

— Não?

— Não – ela sacudiu cabeça para reforçar a resposta, com um sorrisinho cínico nos lábios. – As fichas das candidatas foram direto para o andar de cima, para a diretoria, e de lá já veio o nome da escolhida, a senhora.

— Então, foi alguém lá da diretoria que me escolheu? – Fiquei aturdida.

— Sim, senhora. Quem sabe, o seu próprio marido, podíamos até pensar em paixão à primeira vista – notei o discreto tom de ironia.

Sai da sala de Alice, à espera do elevador, cogitava a possibilidade de ter sido o próprio Victor que me colocou dentro da empresa, planejou tudo para me conhecer, até mesmo o esbarrão no nosso primeiro encontro. Por quê? A única possibilidade me veio à mente, era órfã, sozinha no mundo, pobre e indefesa, uma mulher facilmente manipulável, alguém que ele poderia dominar e ter seu tão desejado filho. E quando a criança nascesse, o que aconteceria comigo? Um divórcio vantajoso e a perda da guarda da criança. Era uma hipótese muito desprezível para ser verdade. Seria isso que Mariane queria me avisar?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Mistério da torre de cristal" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.