O Mistério da torre de cristal escrita por calivillas
Outra vez, chegamos a um beco sem saída, pois, se Bernard houvesse mesmo matado a esposa, onde escondeu o corpo? Como ninguém descobriu ou, pelo menos, desconfiou? Poderia estar em qualquer lugar. No passado, a cidade era menos habitada, haveria muitos terrenos baldios para se cavar uma cova e desaparecer com um corpo para sempre. Provavelmente, ele não a sepultou no terreno da casa, pois com as escavações para a construção do prédio, já teria sido achado seus restos mortais. Sendo assim, o mistério do desaparecimento de Mariane seria insolúvel.
— Estamos cansados, vamos jantar e mudar um pouco de assunto – sugeri.
Havia pedido a Teresa que a mesa fosse arrumada na cozinha, assim seria mais informal. Esquentei os pratos e me sentei em frente dele à mesa, era tão bom estar com Eduardo ali, me sentia segura e relaxada. Se tivesse coragem, pediria que passasse a noite, comigo, no quarto de hóspede, é claro. assim, não teria que ficar mais uma vez, sozinha, naquele apartamento.
— E a faculdade, você retornar aos seus estudos, não vai?
— Sim, eu pretendo, só que Victor está querendo muito um filho, então estou pensando em adiar mais algum tempo.
— Mas por que dessa pressa? Vocês acabaram de se casar.
— Porque ele quer uma família, sabe, um herdeiro.
— Isso parece tão antiquado, me lembra dos tempos medievais ou do renascimento, onde o governante precisava de um herdeiro para perpetuar o poder.
— Pois, tenho que lhe informar, meu amigo, que esse pensamento ainda existe nos tempos atuais.
Meu telefone tocou olhei para a tela era Victor, então, pedi licença ao meu convidado e atendi, tivemos uma conversa casual, ele me contou sobre a obra, mas eu não falei que estava jantando com Eduardo, contaria assim que regressasse. Percebi que Eduardo notou esse detalhe, porém não fez nenhum comentário. Eu me despedi do meu marido e voltei minha atenção para o meu convidado.
Mais uma vez, a conversa recaiu sobre Mariane, Bernard e o ciúme, talvez, fosse um ato inconsciente.
— Se ele a amasse mesmo dessa forma tão doentia, não ia querer se separar dela nem na morte — Eduardo comentou de modo casual. – Ninguém que ama de verdade gosta de separar do seu amor.
— Nunca imaginaria que você fosse um romântico, Eduardo. Eu nunca vi você namorando alguém seriamente.
Ele me deu um sorriso triste.
— Você não sabe tudo da minha vida.
Assim, supus que Eduardo teria uma paixão secreta, mal resolvida, fiquei imaginado que poderia ser e se a conhecia.
Eduardo aceitou a sobremesa, algo que Victor jamais fazia, sempre preocupado com sua boa forma.
— Creme brulée – disse, colocando a tijelinha na frente dele. – Uma tradicional sobremesa francesa, quebre a casquinha de açúcar queimado e debaixo dela há um creme delicioso.
Acho que tivemos a ideia ao mesmo tempo, nos entreolhamos, não era possível. Deixamos a sobremesa de lado e voltamos para o computador.
— Será que é possível? – Eduardo ainda tinha dúvidas.
— Pode ser, você mesmo falou que a escultura foi feita tempo depois do desaparecimento de Mariane e é de mármore maciço.
— Sim, mas é o pedestal, ele pode ser o suficiente para esconder o corpo de uma mulher pequena. Talvez, haja alguma abertura.
— Pelo que eu li aqui, a escultura ficava em um jardim, cercada de flores e Bernard podia vê-la da janela do seu quarto – Ele descobre em um site.
— Está vendo, não é uma homenagem, é um mausoléu. Ele deve tê-la matado com seu ciúme doentio e a sepultado bem perto para que pudesse olhá-la todos os dias. Não entendo como não descobriram, quando removeram a escultura do lugar.
— Porque só ossos lá dentro, são leves e não tem odor.
— O que faremos agora?
— Você precisa falar com seu marido, só poderemos prosseguir a investigação com a autorização dele.
— Mas, não sei se Victor permitirá que destruíssemos a estátua.
— Não será preciso, a empresa dele deve ter um ultrassom para pesquisa de estrutura das construções, poderia ser usado para avaliação da estátua.
— O difícil será explicar a ele como cheguei a essa conclusão.
— Isso que ainda não entendi, Lívia, por que você começou tudo isso?
— Eu não sei, talvez, pelo retrato dela. De certa forma, eu me reconheci nela, a moça pobre que se casa com um homem rico.
—E as semelhanças param aí, eu espero? – Pressenti um certo tom de preocupação na voz dele.
— Sim, as semelhanças param aí.
Antes de Eduardo ir embora, desci com ele até o hall, examinando a estátua com cuidado, sob o olhar curioso do porteiro da noite.
— Meu irmão é um historiador, interessado em artes – menti, enquanto Eduardo verificava cada detalhe no mármore, não encontrando nenhum sinal de uma abertura, que se houve deveria estar muito bem lacrada.
— Por favor, Mariane, me dê um sinal que estou no caminho certo – Mesmo com medo, pedi, naquela noite, sozinha, na minha cama, mas não obtive resposta.
Quando Victor chegou da sua viagem, eu estava aflita e ele muito bem-disposto, queimado de sol, mais bonito que nunca.
— Foram as horas no canteiro de obras – ele me explicou, colocando a mala no chão, quando brinquei sobre a sua aparência.
— Espero que tudo tenha corrido bem.
— Melhor do que eu esperava, mas, o lugar era muito rústico, quase sem conforto. Senti muito a sua falta, minha querida. – Ele pegou minha mão e beijou meus dedos, de um modo doce e delicado. – Ainda bem que Alex estava lá para ajudar a passar o tempo.
— Alex viajou com você?
— Sim, a Rahner o contratou como consultor dessa obra.
— Eu não sabia que Alex trabalhava para você.
— Agora, trabalha. Mas, nesse exato momento só quero matar a saudade da minha esposa. Você está bem? – Ele me envolveu pela cintura e me puxou contra o seu corpo e me beijou.
— Bem melhor agora, com você em casa. Eu me senti tão sozinha.
— Se tivéssemos um filho, você não teria tempo para se sentir assim.
— Sim, você tem razão, querido – Queria amolecê-lo para a conversa, que pretendia ter mais tarde, teria de esperar o momento certo para falar.
— Eu trouxe algo para você? – Ele me soltou, pegou na mala uma pequena caixa de joias e me entregou eu a peguei e abro, surpreendida.
— São lindos! – disse ao vislumbrar o par de brincos de safira e diamantes. – Mas, por quê?
— Um homem não pode dar um presente a sua mulher?
— Sim, pode, mas como conseguiu isso em um canteiro de obras no meio do mato? – perguntou, em dissimulado tom de brincadeira.
— No aeroporto.
Nem imagino porque Victor compraria um presente desse para mim, em um aeroporto. Culpa? O pensamento veio a minha cabeça, contudo, eu o afastei.
Mais tarde, na nossa cama, Victor estava muito viril e entusiasmado, mesmo com longa viagem, não parecia nada cansado. Após o sexo, com aquela sensação de sonolência, vi aí a oportunidade de tocar em assuntos delicados.
— Eu fui tomar chá com a senhora Valdez.
— Espero que tenha sido agradável.
— Não muito, acho que ela não gostava muita da sua avó.
— Minha avó não era uma pessoa das mais fáceis de se gostar – ele respondeu, sem abrir os olhos.
— Eduardo veio jantar comigo, na quinta — Ele se virou para mim. Agora, eu tinha a sua atenção.
— Por quê? – Seu tom era sério.
— Ele está me ajudando com a pesquisa sobre Mariane Lyon.
— Eu não consigo entender sua obsessão por essa mulher.
— Só queria descobri o que aconteceu com ela – Eu me virei de lado e apoiei no cotovelo para olhá-lo melhor, queria ver sua expressão quando contasse minhas suspeitas – E sabe o que achamos que Bernard matou Mariane e escondeu o corpo, mentindo para todos, que ela fugiu com um amante.
— Sabe o que eu acho disso, que eu tenho uma mulher muito criativa, que poderia escrever um livro policial – respondeu, sorrindo.
— Isso é sério, Victor! Eu desconfio que ele escondeu o corpo na mansão.
— Impossível, teria sido descoberto durante a construção.
— Não se tivesse no único objeto intacto que sobrou daquela casa.
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