O Mistério da torre de cristal escrita por calivillas


Capítulo 13
Visões desconcertantes.




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Depois das apresentações, seguiram-se diálogos educados e impessoais.

— Então, vocês eram vizinhos da nossa Lívia – Verônica perguntou para os meus convidados. Notei um certo tom ácido na sua voz.

— Sim, morávamos no apartamento do lado dela, crescemos juntos – Eduardo explicou de modo educado.

— Então, vocês devem saber muitos segredos de Lívia? — Verônica provocou, percebi que Monique estava pronta para uma resposta malcriada.

— Não há segredo nenhum, Lívia sempre foi uma garota sincera e uma boa neta e amiga – Eduardo respondeu prontamente, respirei aliviada.

— E vocês, como se conheceram? – Monique perguntou ao outro casal de irmãos.

— Eu e Victor fizemos faculdade juntos e sou amigos desde então – Alex respondeu.

— Em que você trabalha, Eduardo? – Verônica perguntou, parecia bastante interessada no meu amigo, aquilo me incomodou um pouco.

— Sou professor de História.

— Que interessante! E você, Monique?

— Sou cabeleireira. E você, Verônica?

— Infelizmente, não faço nada, sou apenas uma parasita, que vive do dinheiro dos pais.

— Vamos jantar – anunciei, querendo acabar com aquela conversa.

— Victor me contou que vocês estão pensando em filhos – Alex comentou, de modo casual, enquanto tomávamos nossos lugares à mesa. Eu me senti incomodada por ter esses detalhes da nossa vida intima revelado.

— Mas, vocês acabaram de se casar! — Monique deixa escapar, perplexa.

— Não é bem assim, ainda não decidimos, estamos apenas conversando sobre o assunto – disse, olhando para o meu marido pelos cantos dos olhos.

— Contudo, não queremos esperar muito, já que nós dois não temos família, queria muito ter uma.

— Os pais de Victor morreram em um acidente de avião, quando ele ainda era uma criança e foi criado pela avó, assim como eu – expliquei aos meus amigos.

— Eu acho louvável vocês quererem uma família logo. Victor sempre me falou que pretendia ter filhos, assim que se casasse – Alex comentou, não me lembrava que Victor houvesse dito isso para mim, quando namorávamos.

 No fim do jantar, Monique praticamente me coagiu para mostrar o apartamento para ela, Eduardo declinou o convite e Verônica disse que já conhecia muito bem o lugar, sendo assim ficaria por ali mesmo, respirei aliviada porque poderia conversar a sós com a minha amiga. Começamos pelo andar de baixo.

— Então, o que você achou de Verônica? – perguntei a Monique, assim que nos vimos sozinhas.

— Não acho que esteja rolando nada entre Victor e Verônica, ele mal olhou para ela a noite toda, apesar de ela gostar de alfinetar você, talvez, seja só dor de cotovelo.

— Você tem razão, Monique. Não tenho porque eu sentir ciúmes do meu marido.

 — Amiga, que lugar é esse?! – Ela olhava em volta, admirada. – Muito lindo, apesar de tanta coisa velha.

— Não são coisas velhas, são antiguidades, Victor é colecionador. Aqui, nessa sala, ele guarda a maior parte das peças, nessas vitrines. Aqui tem são livros raros e cartas antigas de personagens históricos, até alguns manuscritos originais.  

— Eduardo precisa ser isso. Vou buscá-lo agora, nem que tiver que arrastá-lo até aqui.

Ela saiu e eu fiquei sozinha, naquela sala íntima, nesse momento, tive a nítida sensação de estar sendo observada, olhei em volta, nos cantos mal iluminados. Estava ficando louca, não havia ninguém ali. Então, eu me assustei com o meu próprio reflexo em um espelho, ri de mim mesma, depois parei para verificar a minha maquiagem, foi aí que eu vi, a imagem refletida atrás de mim, não era mesma sala que estava, era outro lugar com uma decoração luxuosa e mais antiga, podia reconhecer alguns dos objetos que ornavam o nosso apartamento atualmente. De repente, uma mulher entrou chorando, reconheci de imediato a bela moça do quadro, Mariane, e um homem a seguia aos berros, provavelmente, o marido dela, que parecia furioso e transtornado.  

— Estou cansado de esperar que você me dê um filho! Eu quero um herdeiro que mantenha o nome da minha família!

— Desculpe-me, Bernard! – Ela murmurava, entre lágrimas.

— Se eu não conseguir esse herdeiro por bem, será por mal – ele a segurou e a jogou no chão, ela gritava e esperneava, enquanto ele puxava suas roupas, com violência.

— Não! – falei alto, foi como despertar de um transe.

— O que houve?! – Monique e Eduardo entraram juntos pela porta, com ar assustado.

— Nada, eu apenas pensei que vi algo.

 — Sente-se um pouco, Lívia. Você está pálida – Eduardo me levou até o sofá.

— Parece até que você viu um fantasma – Monique brincou. – Desculpe, foi mal. Quer um copo d’água?

 — Não, obrigada, estou bem.

Durante o resto da noite, eu me senti muito estranha, será que estou enlouquecendo? Misturando as nossas histórias. Precisava de ajuda para descobrir o que, realmente, aconteceu com Mariane, só havia uma pessoa que poderia me ajudar.

— Eduardo, como posso descobrir sobre uma pessoa que viveu, há muito tempo? – perguntei, assim que consegui ficar sozinha com ele.

— Dependente, há quanto tempo, quem é essa pessoa e o que aconteceu com ela.

— É uma mulher que desapareceu no começo do século passado, aqui nesse lugar.

— Como nesse lugar?

— Na casa que havia aqui antes. Era da família Lyon.

— Acho que já ouvi falar.

— Todos pensaram que ela fugiu com um amante, mas eu acho que aconteceu algo muito grave com ela.

— Como o quê?

— Um assassinato.

— O que vocês dois estão conversando? – Victor se aproximou, com um sorriso que não refletia nos olhos.

— Sobre seu interesse por antiguidades – menti.

— Você tem peças bem interessante e bonitas aqui – Eduardo corroborou com a mentira, respirei aliviada e um sorriso real iluminou o rosto do meu marido.

— Sim, eu amo esses objetos de artes, um gosto que herdei da minha avó. Desde pequeno, ela me arrastava para leilões e museus para lhe fazer companhia.

— Deveria ser bem entediante para uma criança – Eduardo comentou.

— No começo, era, mas, depois, fui pegando gosto e me apaixonei.

— Lívia estava falando da antiga mansão, que havia no lugar desse prédio – Eduardo continuou.

— Sim, uma mansão muito estranha, sombria, malconservada. A família havia abandonado, depois da morte do herdeiro. Dizem que ele enlouqueceu, depois que a sua esposa fugiu com o amante. Então, a minha empresa a comprou e a demoliu para construir esse edifício residencial com um novo conceito em moradia.

 — Muito interessante!

— Não sabia que foi a sua empresa era a construtora desse edifício – digo, surpresa.

— Sim, foi ideia minha comprar a mansão Lyon e demoli-la. E, também, de usar o lustre de cristal e a estátua na decoração do vestíbulo. Eram peças magníficas, que não podiam ser menosprezadas.

— A estátua do vestíbulo é do estilo neoclássico, não é? – Eduardo perguntou.

— Era um estilo bem em voga até os meados do século XIX, já em desuso no começo do século XX, mas, pelo que parece Bernard Lyon era apreciador dele, gosta dos ideais greco-romanos – Victor respondeu, satisfeito pelo conhecimento do meu amigo.

— Você sabe quem é a modelo?

— Sim, a esposa de Bernard, Mariane. Ele contratou um antigo discípulo de Antônio Canova para realizar o trabalho.

— Ele devia amá-la muito, para homenageá-la com uma obra tão bela – Eduardo observou.

— Sem dúvida.

— No entanto, toda vez que eu olho para ela me lembro de um mausoléu, ela é tão sombria, não parece que celebra o amor – opinei. Os homens me fitam, admirados com minha observação.

— Não veja boba, querida. Só um homem apaixonado mandaria fazer algo parecido para a esposa.


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