A Guerra Santa. escrita por Dead man walks


Capítulo 1
Prólogo.




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As ruas pareciam calmas como de costume; a brisa era soprada fresca, as folhas de outono caíam graciosamente, a chuva salpicava a calçada. A terra tremia. Para aqueles alheios aos reais acontecimentos tudo não passava de um pequeno tremor tectônico ou coisa do tipo. Contanto que estivessem seguros, não se importariam.
O chacoalhar do asfalto cessou e alguns corações passaram a bater mais calmos, aliviados com o que já passara.
Mas tudo apenas começava.
~

— As autoridades locais vão cuidar de tudo, avisei-as previamente de que seguissem nossas instruções cegamente.
— E farão? Não é fácil confiar cegamente numa organização desconhecida.
— Desconhecida? Somos a igreja, eles apenas não sabem disso.
~

A fera rugia selvagem enquanto avançava, cada passo marcava profundamente o asfalto abaixo, cada balançar de mãos era o suficiente para arrancar uma árvore de seu caminho. Sua corrida não parecia ter fim, era desajeitada e espalhafatosa. Era uma criatura sem qualquer controle de suas ações, entregue somente a sua insanidade e desejo de destruição. Por fim, parou. Encarou um homem que se fosse ligeiramente menor teria a metade de sua altura, mas ainda não chegava a tanto. Aquele súbito encontro pareceu acalmar o descontrole do gigante cor de ébano, como se partilhassem uma relação de súdito e mestre. E realmente partilhavam. Seu corpo se esvaiu ao vento e o homem, que parecia de tamanho insignificante ao seu lado, pôs-se a caminhar, cantarolando.
~

Cabelos escarlates esvoaçavam contra a brisa serena, eram brilhosos e longos; dariam inveja até mesmo a mais vaidosa das mulheres. Mas o arco era seu verdadeiro talento. Retesou a corda de seu arco, posicionando a flecha sobre a corda e disparou. O projétil perdeu-se entre as nuvens, subindo quase que retilineamente, antes de cai com perfeição no exato local em que seu atirador previra: a maçã sobre a cabeça de sua mestra. A mulher permanecera fria durante todo o tempo, exalando a confiança que tinha nas habilidades de seu arqueiro. Também sabia que ele não hesitaria em matar por ela quando fosse necessário, não lhe recusaria uma ordem sequer.
Minutos depois, deitou-se sobre o divã. Seu servo servia-lhe as frutas dispostas em bandejas ao redor, para ele, não era sua mestra, era sua rainha. Seu único norte.
~

Um rei sábio capaz de governar as massas como um regente faz com suas orquestras, qualquer um que pudesse vê-lo agora não imaginaria como fora em outra vida; um símbolo gritante de poder, porém de maneiras não tão nobres para com aqueles abaixo de si. Nada disso agora importava.
Seu mestre o invocara, porém, no segundo em que o vira, em suas vestes finas e com a postura de rei, percebera que era ele o súdito. Curvara-se instintivamente, pondo-se de joelhos e com a testa rente ao chão. Seu rei nem mesmo o notara; tratou de erguer um castelo logo que foi materializado neste mundo, todo sorrisos, como se fosse observado por uma multidão enquanto erguia sua estrutura. Não podia controlar tal coisa, seu carisma era como uma maldição, inconscientemente conquistando aqueles a sua volta.

— Levante-se, mestre. Temos trabalho a fazer. Fortalezas para erguer, aliados para invocar.

Não hesitou em levantar, estava envolvido hipnoticamente nos charmes de seu rei e não havia nada que pudesse fazer a respeito. Se outros pudessem vê-lo estariam igualmente capturados; boa coisa que a guerra só se fazia a luz daqueles que participavam.
~

Sentado no mais próximo que foi encontrado de um trono, o rapaz dono de profundos olhos esmeraldas tinha a espada à colo, com uma expressão divida entre seriedade e serenidade. Era um costume antigo manter a lâmina sobre as costas, à vista de quem pudesse vê-la, diziam que impunha respeito aos espectadores. Mas não havia ninguém ali para ver, o rapaz apenas meditava em sua solidão, mergulhado no silencio gritante. Sua preparação para a guerra, dissera ele.
~

Num silencioso escritório um esguio detetive revirava papeis sobre sua escrivaninha; fazia anotações, abria gavetas, fechava gavetas, relia suas anotações. Tudo isso até ser interrompido.

— Igreja — murmurou —, disse para que não interferissem em nada além do que eu deleguei, senhores. O que fazem aqui?
— Uma anomalia, Sherlock. Três servos e nenhum mestre designado a eles. Caos, isto é pior do que o caos. Não sabemos que servos são. Podem muito bem causarem estragos além do que podemos encobrir.
— Assumirei o caso, — entoou, suspirando — afinal de contas, sou o Ruler desta guerra.


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