Equinox escrita por Angel Carol Platt Cullen


Capítulo 38
Capítulo 118


Notas iniciais do capítulo

Aviso: ação



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 Terça-feira (Tuesday) , 22 de julho de 2008

As aulas recomeçaram ontem e hoje já fui chamada mais uma vez para a sala da diretora. Não faço ideia porque, mas vou mesmo assim – o que mais eu poderia fazer? Não poderia recusar. Pode ser como ano passado, uma razão inofensiva, algo que não pode ser tratado em público. Talvez seja algo relacionado com as minhas faltas devido à cirurgia. O conteúdo minha mãe me ensinou enquanto eu estava internada no hospital e não fiquei com dificuldade de acompanhar a turma nesse quesito.

Esme aplicava as provas quando os professores enviavam e vigiava para que eu não colasse. Sempre fui uma menina estudiosa e jamais seria capaz de trapacear. Uma vez, anos atrás, um colega pediu a resposta para mim quando o professor não estava vendo e eu fiquei muito nervosa, vermelha,  com medo de que nos pegasse em flagrante e zerasse nossas provas. Isso não faz parte do meu talento. Não nasci com esse dom, por isso prefiro ser sincera. Eu estudei e por isso tiro a nota que equivale ao meu conhecimento de verdade.

Dizem que ‘quem não cola não sai da escola’. Reviro os olhos quando falam isso, eu não colei nunca na minha vida e vou sair sim. Me dá vontade de mostrar a língua para essas pessoas. É apenas uma desculpa de quem não quer estudar e depois quando precisarem saber não vão saber porque colaram e não está na memória. Por isso eu prefiro estudar. Gosto de entender as causas das coisas. É empolgante e muito fascinante. Ao menos para mim.

Estamos quase chegando quando eu vejo pela porta entreaberta da diretoria meu ex-pai sentado conversando com a diretora. Deixo a monitora que foi me buscar na sala confusa quando saio dali em disparada – como se eu tivesse visto o próprio diabo, o que para mim é quase igual. Agi na hora sem pensar, instintivamente para preservar minha vida. Depois eu volto para pegar meu material, agora eu preciso de ajuda.

Saí correndo em disparada do colégio sem olhar para trás. Eu nunca fui uma desses alunos que matam aula, pois sempre tive pavor de ser pega, mas eu sabia que era pelo portão do estacionamento que esses alunos saíam. O portão principal, que fica na entrada fica trancado sobretudo agora depois do intervalo até o fim das aulas da manhã, por isso tive que dar a volta no prédio.

Só paro para tomar fôlego quando estou a meia quadra de distância do colégio e me sinto relativamente segura do lado de fora. Não sei como eu tive coragem, paro e penso esbaforida. Preciso sai daqui, logo meu pai vem atrás de mim. Isso se já não está no meu encalço. Se não me viu fugir, depois ele deve ter sabido pela funcionária da escola que me conduzia. Ou deduziu devido a demora, afinal não iria demorar tanto para eu chegar lá saindo da minha sala de aula.

Eu não sei como ele conseguiu sair da cadeia, eu me lembro muito bem das palavras do juiz – na hora foi um bálsamo de alívio – quando lhe deu a sentença: ‘ ...sem fiança, em regime fechado e sem possibilidade de recorrer’. Acho que o advogado dele deve ter conseguido apelar de alguma maneira para alguma instância superior.

Mas que magistrado iria permitir a liberdade de um pai que tentou assassinar a filha e faria isso se ficasse solto? Não sei, mas esse juiz terá meu sangue nas mãos se meu pai conseguir me alcançar. Eu lembro a expressão dele quando foi preso naquele dia. Ele ameaçou a mim e meus pais adotivos também – sem saber o que eles são de verdade. Eles são vampiros, mas eu ainda sou humana e vulnerável. Preciso ser protegida por eles.

Meu ex-pai deve ter me seguido assim que eu corri, mas ele não sabe para onde eu fui, ou que direção... Ao menos assim eu pensava, mas ele descobriu onde eu morava com meus novos pais e sabia que era para lá que eu iria.

Chego em casa e Esme me vê da sacada – ela deve ter sentido meu aroma e veio verificar se era eu mesma ou estava enganada, mas era improvável, impossível, que estivesse errada:

— Filha!? – ela diz espantada ao me ver ali àquela hora, eu devia estar na escola. Ela sabia que algo extremamente grave aconteceu, pois eu não iria sair da escola sem motivo.

Minha expressão transparece urgência e aflição:

— Meu pai conseguiu sair de algum jeito da cadeia e está lá no colégio – as palavras saíram num jorro incompreensível, mas mamãe parece que entendeu.

— Calma querida, eu não vou permitir que ele faça qualquer mal à você.

Em milésimos de segundo ela vem abrir o portão para mim e me abraça:

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— Mãe! – me aconchego entre seus braços apavorada, tremendo de medo e cansada.

— Respira filha. Agora você está em casa. Vai ficar tudo bem – ela sussurra me afagando as costas.

Não sei quantos minutos se passaram, mas logo ouvi uma voz familiar:

— Oh que cena patética! Achei você sua pequena vagabunda. Agora você não me escapa – a voz rude pega tanto eu quanto Esme de surpresa, mas logo eu percebo quem é. Esse tom é inconfundível. É o mesmo que ele usava quando me repreendia e depois espancava.

Mamãe me coloca para trás e fica na minha frente para me defender.

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— Que medo! - diz meu pai ironizando. Ele nunca teve qualquer escrúpulo, se Esme fosse apenas uma mulher humana com certeza meu pai não hesitaria em bater nela. Mas por sorte, para mim, e azar para ele, ela não é assim tão indefesa quanto parece.

Meu ex-pai deveria ter medo sim, aposto que Esme está lançando agora um olhar de fúria. Alerta que ele ignora. Valentões são assim mesmo, se acham os tais, invencíveis, até se depararem com alguém mais forte do que eles.

Mamãe deve também ter se lembrado de como seu ex-marido a maltratava. Meu ex-pai usou a mesma palavra que Charles usava para insultar Esme. Ela estava nas mãos dele como eu estava nas mãos de meu pai humano, totalmente desprotegida. Mas agora eu tenho quem olhe por mim e ela não vai me deixar desamparada. Mesmo não sendo vadias, somos caluniadas por esses canalhas covardes que só sabem se prevalecer sobre alguém mais fraco. Filhos do capeta!

— Se afaste – avisa mamãe.

— Ora, sai da frente você. Não quero machucar uma mulher. - Diz meu ex-pai debochando, pois se for necessário ele vai agredir Esme também. Ou ele pensa que pode fazer isso, só acha, mas não. – Me dê a menina e ninguém se machuca.

'Penso: Ninguém? Só eu que vou ser machucada.

Não, não quero acreditar que Esme vai fazer o que ele quer. Não, por favor, não (Minha confiança vacila por um segundo). Ele vai me ferir ou coisa pior. Vai me matar aqui na frente dela. E isso seria um desastre meu sangue derramado. Depois de me exaurir, Esme poderia partir para cima de meu pai também, o que não me importa, mas não me deixe morrer. Eu sou jovem demais para morrer! Imploro em silêncio à minha mãe.'

— Não! – diz mamãe firme, e eu fico agradecida por ela não recuar e permanecer me protegendo. Me sinto até um pouco envergonhada por ter duvidado dela. É claro que ela não me abandonaria desse jeito. Agora eu sou sua filha.

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Tão rápido que eu nem percebi, meu ex-pai tentou me puxar, mas Esme previu o golpe e desviou antes; depois lhe deu um soco que o nocateou. Ele caiu no asfalto e bateu a cabeça desmaiando. Eu não senti nenhuma pena. Ele não sentiu compaixão quando me batia e eu implorava para ele parar, nem mesmo agora ele parecia ter qualquer remorso pelo que pretendia fazer. Eu vi em seus olhos. Ele iria mesmo me atacar caso Esme não o tivesse impedido.

Mamãe chama a polícia com o telefone celular para não ter de se afastar de mim, nem deixar meu ex-pai escapar. Fica vigiando ele até a chegada da viatura.

Quando os policiais chegam reconhecem meu pai humano e mamãe relata o que ele tentou fazer conosco. É claro que vamos mais tarde até a delegacia prestar queixa e fazer um boletim de ocorrência.  Esme jamais deixaria essa atitude passar em brancas nuvens.

Levamos também as imagens do circuito de segurança da nossa casa. Se eles não crerem apenas no depoimento de mamãe, não for suficiente por  si só, ainda temos as imagens que comprovam o que ele quis fazer.

Voltamos para a escola para buscar meus materiais depois que levaram meu ex-pai para a delegacia. Vou pegar minha mochila na sala enquanto Esme explica tudo para a diretora e para a coordenadora. Não há perigo em eu ficar sozinha - agora meu pai está preso e esperamos que fique mesmo e por muito tempo - logo vou até a sala da direção  encontrar mamãe.

As duas mulheres ficaram muito constrangidas pelo que fizeram, inadvertidamente quase contribuíram para meu assassinato; apesar de Esme não ter sido nenhum pouco ríspida, elas mesmo se sentiram mal por causa de suas próprias consciências. Elas não sabiam que não poderiam ter permitido a visita de meu pai humano.

Se ele foi solto, não iria cometer um crime para voltar para a prisão, assim elas imaginaram, mas foi por pouco que eu não fui morta. Ambas afirmaram que isso não vai mais se repetir – não vai mesmo, meu ex-pai voltou para a penitenciária de onde espero que não saia tão cedo; e, também, no final desse ano eu vou embora daqui para os EUA para longe onde acredito que ele não irá me encontrar.

...XXX...

 

Mais tarde eu me lembro de minha mãe humana ao retornar da delegacia com Esme e peço para Carlisle ir até minha casa anterior rapidamente para ver se está tudo bem.

Dessa vez tomara que meu ex-pai fique preso realmente. Mas aqui é o Brasil, um país estranho em que o impossível é possível, e não devemos acreditar muito, cegamente. Estou ansiosa para ir embora para os Estados Unidos logo, eu preciso, eu corro risco de morrer se ficar aqui. Eu sei que Carlisle e Esme podem me proteger se precisar, mas hoje foi a prova de que corro risco de verdade. Eles não podem me proteger o tempo todo, por mais que queiram.

Mas, por outro lado, minha mãe humana e meus irmãos vão ficar aqui. Eu não  consigo não me preocupar nem ficar indiferente. Ela pode não ter se importado comigo o bastante para denunciar meu ex-pai, mas ainda sinto alguma coisa por eles. Principalmente meus irmãos. Espero que a justiça brasileira os proteja. Talvez daqui 10 anos eu volte para ver como as coisas estão e me assegurar de que está tudo bem e eles estão em segurança.

...XXX...


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Notas finais do capítulo

fotos do capítulo 118:
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