Equinox escrita por Angel Carol Platt Cullen


Capítulo 30
Capítulo 110


Notas iniciais do capítulo

~~ continuação do capítulo anterior pois ficou muito longo e eu achei melhor dividir



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18 de abril de 2008

...

Finalmente eu percebo que falta apenas um trecho do quintal para terminar. Logo o sol vai se pôr e vai escurecer, então eu preciso ir mais depressa porque sem o sol eu não vou conseguir enxergar muita coisa para varrer direito. E daqui a pouco Carlisle vai chegar e eu não quero estar aqui fora ainda quando ele voltar – se não ele pode brigar com Esme, eu sei que papai não faria isso, mas não posso evitar pensar como minha mente foi habituada a pensar.

  Não que eu tenha medo que ele me veja aqui no jardim, bom talvez no fundo eu tenha um pouco de medo sim. O que será que ele iria pensar? Será que ele iria me bater? Não, claro, agora eu sei, mas na hora eu não podia deixar de lembrar o que eu vivi. Meu pai era muito bravo e por qualquer coisinha explodia. Eu nem sabia por quê. Era um motivo aleatório. Uma coisa à toa.

  Não, ele não seria capaz. Abano a cabeça. Como pude pensar nisso? Fico indignada comigo mesma. Ele nunca me deu motivo para desconfiar, mas é por causa que eu nunca sabia qual o motivo que provocaria uma reação exagerada do meu pai e eu fico com medo dele. Eu sei que Carlisle é diferente, completamente o oposto. Mas eu estou condicionada e até perder esse habito que eu adquiri como autodefesa vai levar algum tempo agora que não é mais necessário me precaver ou ao menos tentar antever algo que pode acontecer.

  Acho que eu tenho medo que Carlisle me faça algo porque esse foi o único ‘exemplo’ de paternidade que eu conheci mais de perto. Não que meu pai poderia ser considerado um modelo, algo a ser seguido. Ele era mais uma amostra do modo de educação tradicional, antigo e violento, que não é certo e a meu ver produziu tragédias, levando a se repetir a cada geração o mesmo, num ciclo vicioso sem fim. Eu fui resgatada desse ciclo. Mas eu mesma havia decidido romper esse efeito em cadeia; eu não queria ter filhos de maneira nenhuma para não fazer, mesmo que inconscientemente, o mesmo com eles do que meu pai fez comigo.

  É claro que tinha os pais dos meus colegas de escola, mas eu não os conhecia tão bem para saber como eram em casa. Ao menos sua relação com os filhos quando iam buscar no final das aulas era diferente do que eu vivia. Meu pai nunca foi me buscar na escola, também não precisava, pois eu morava apenas uma quadra e podia ir e voltar a pé. Sozinha. Se tem uma coisa que eu aprendi com a minha ‘família’ foi que as aparências nem sempre são verdade. Na fachada éramos uma família comum, mas em casa as máscaras caiam e o sorriso que tínhamos que mostrar para a sociedade se tornava lágrimas.

  Até mesmo os Cullen que aparentemente são uma família feliz, e são mesmo, não são exatamente uma família humana. Eles aproveitam a aparência humana para poder viver sem levantar suspeita em meio à população. Para as pessoas eles são apenas mais uma família, bem de posses graças ao emprego de papai, mas isso não é nada estranho e podem passar incólumes desde que não machuquem ninguém.

  Se pretendessem atacar um humano não viveriam em nosso meio. Exatamente porque eles são pacíficos vivem em áreas ‘urbanas’. Se bem que a nossa casa em Forks não fica bem na cidade. Preferem morar perto de florestas por ser mais conveniente para sair para caçar sem chamar a atenção. Podem fazer isso discretamente e ninguém perceberia, ou podem sair de noite, mas de dia ou de noite é indiferente ninguém pode os ver de qualquer maneira mesmo.

  Devido ao jeito como era meu pai humano, até mesmo aceitar a figura amorosa de Deus foi difícil para mim. Eu me lembro que quando era criança eu tinha aquela imagem do Deus severo em mente. Para corroborar minha mãe humana também me dizia às vezes ‘Deus castiga!’. Foi quando eu comecei a fazer catequese que aprendi que Deus é um pai amoroso, não apenas vingativo que pune por prazer ele aconselha e apenas faz justiça quando os Seus filhos o abandonaram. Por isso eu acho que Carlisle me lembra muito mais Deus do que meu ex-pai.

  Não que eu tenha saudade de apanhar e gostaria que Carlisle me batesse, ele jamais faria isso. Primeiro porque ele não é esse tipo de ‘homem’, covarde em bater em uma menina, e, segundo porque ele sabe que ele sendo vampiro e eu humana poderia me matar. Nem ele sendo médico poderia me curar. E terceiro, Esme não iria aprovar essa atitude do marido. Seria como se a traísse. Ela me ama e eu a amo. Se ele fizesse isso iria fazer comigo o que meu pai humano fez. Eu amo ele tanto que iria ser uma grande decepção. Machucaria mais minha alma do que meu corpo. E quarto motivo, porque pelo que eu entendi o meu avô também agredia papai e ele sabe como é ruim e não faria isso comigo. Ele foi educado assim e sabe que essa maneira não é boa.

  Ninguém sente saudade de sofrer violência injustamente, a não ser que tenha alguma doença como ser masoquista. Penso que Carlisle jamais me agrediria porque ele não é violento que tem prazer em ver o sofrimento alheio - sádico, muito pelo contrário ele é pacifico e totalmente contra qualquer tipo de violência. Eu lembro como ele ficou quando eu disse que meu pai fez com que eu me machucasse com o caco de vidro.

  E também porque Carlisle sabe que se ele me batesse eu poderia morrer. Como realmente desejei que acontecesse quando meu pai humano me agredia. Eu achava que uma hora eu não iria aguentar tanta surra, mas parece que meu pai sabia qual era o limite. Ele parecia que iria perder o controle e eu esperava que acontecesse. Ao menos a minha morte acabaria com o sofrimento e poderia servir para alguma coisa, ser útil. Talvez ele fosse preso. Ou ninguém perceberia.

  Perceber,  é claro que perceberiam. Quando eu não aparecesse mais na escola, pois eu não costumo faltar, iriam sentir minha falta e estranhar minha ausência. Mas talvez não teriam como provar que meu pai foi meu assassino, a não ser que minha mãe o acusasse, o que eu duvido que ela faria. Nunca me protegeu, não adiantaria agora. Ou ao menos ela iria denunciá-lo para poupar meus irmãos e impedir que ele fizesse o mesmo com eles agora que terminou com um saco-de-pancadas procuraria outro. Era assim que eu me sentia, um saco-de-pancadas. Preferia que eu fosse um objeto, não teria sentimentos nem sensações. Não sentiria dor nem física, nem emocional. Mas eu era um ser humano, e infelizmente nunca fui tratada humanamente e com a dignidade correspondente. Eu era tratada pior que um animal.

  Ele poderia escapar da justiça terrena, mas não escaparia da Justiça Divina. Eu acredito. E sei que os Cullen apesar de serem vampiros não são do mal. Assim como as pessoas podem escolher eles também tem opções, o livre-arbítrio.’

  Nesse momento Esme aparece do meu lado e eu quase levo um susto. Ela diz ao ver meu sobressalto:

— Desculpe querida, eu não queria assustar você. Já está tarde, vamos entrar? Não precisa terminar, deixa para amanhã – agora parece que ela lembrou que amanhã não tem aula.

— Só mais um pouco mãe; já vou para dentro – digo; como sempre procuro fazer o melhor, sou meio perfeccionista podemos dizer.

— Vou esperar mais dez minutos, e se você não entrar eu venho te buscar .

— Já vou, mãe.

  Ela volta para nossa casa tão veloz quanto apareceu. Nossa! Nunca tinha visto Esme tão brava, bom, não comigo. Até parece que eu estou fora de casa, mas eu estou aqui dentro e além do mais fazendo algo que a meu ver seria muito bem-vindo.

  Será que ela está preocupada comigo aqui sozinha no escuro? Mas ela sentiria caso outro vampiro se aproximasse e poderia vir me socorrer. Eu não estaria desprotegida. E não estou fazendo por mal, não a estou testando ou desafiando. Não estou confrontando-a, sou totalmente não ‘confrontacional’. Só estou sendo uma boa menina, e isso não é mau, é?

(No caso era, mas eu não fazia por intenção.)

  Eu recolho o último monte de folhas. Pego as ferramentas, a pá e a vassoura para voltar para casa. Quando entro encontro mamãe descendo as escadas:

— Já estava indo te buscar – ela diz com certa censura no tom de voz em geral doce e afetuoso.

— Obrigada pela preocupação, mamãe – digo para tranquiliza-la e desmontar que compreendo o motivo de sua atitude.

— Não estou brava com você, sweetie. Eu sei que você não fez por mal, sua intenção era a melhor. Não pense que não gostei que você foi limpar o quintal sem que eu pedisse ou mandasse. Claro que eu fiquei feliz.

— Mas...

— Eu sei, não é o que parecia. Mas filha, você tem de entender que é muito preciosa para mim e eu tenho medo de perdê-la. Não quero correr esse risco desnecessariamente. Eu amo muito você. Eu sou mãe, sei que é difícil para você entender como eu me sinto... Sim, eu estava preocupada com você. Não apenas por causa de outros vampiros, com esses eu poderia lidar facilmente, mas também estava apreensiva por causa de ladrões ou outros criminosos que poderiam atacar uma menina indefesa. Mesmo dentro de casa, eles não têm limites.

— Mãe, você sentiria se alguém se aproximasse de mim.

— Sim eu estava atenta a cada passo seu, vigiando sem ver. Você só iria parecer vulnerável sozinha no jardim, mas eu a defenderia.

— Se fosse um bandido humano seria pior por quê?

— Eu teria que ter mais cuidado para não matá-lo de tanta raiva para proteger você. Talvez eu ainda pudesse salvá-la se fosse um humano.

— E se fosse um vampiro você poderia sentir o cheiro dele também, não é?

— Sim, mas se fosse um da minha espécie poderia ser tarde demais quando eu chegasse lá fora, mesmo que fosse o mais rápido que posso.

— Me desculpe por tê-la feito passar por isso, mamãe.

— Tudo bem agora, querida. Você está aqui e bem e isso é o que importa. Mas não faça isso comigo de novo, filha.

— Eu prometo. Estou bem, mãe. Sã e salva.

— Graças a Deus! Mas você não está exatamente bem, você está esbaforida minha filha. Não precisava se esforçar tanto, querida.

— Eu queria terminar logo. E depois que você disse que eu tinha que entrar logo, fui ainda mais depressa.

— Ah meu amor, não precisava. Eu não iria fazer nada – diz contrita.

— Então eu não deveria ter obedecido? – pergunto confusa.

— Não, filha. Você fez muito bem em terminar logo. Eu estava me consumindo em aflição por sua causa.

— Me desculpe, mamãe. Eu estou bem, mãe. vou ficar. Só preciso descansar.

  Antes que eu percebesse Esme me traz um copo com água gelada.

— Obrigada, mãe.

— Não há de que.

  Eu deixo a vassoura e a pá na área de serviço e subo com ela para meu quarto. Lá chegando me deito em seu colo sobre uma toalha para não sujar as cobertas da minha cama porque estou suja e suada.

  Esme liga a TV enquanto afaga meus cabelos e diz:

— Não precisava ter feito isso sweetie, você sabe que eu e seu pai não exigimos nada de você, pois sabemos o que você pode e não pode fazer como humana. Nós dois podemos limpar o jardim rapidamente e sem nos cansarmos.

— Eu sei mãe, eu só quis ajudar e ser útil. Às vezes me sinto abusando de vocês e não quero ser um peso. Não quero me sentir um estorvo ou um fardo e explorar vocês por ser humana.

— Oh meu bem! Você não dá trabalho nenhum, muito pelo contrário você é uma menina excelente, uma ótima filha. Bem educada. Seus pais tinham um anjo e não enxergavam.

— Obrigada mamãe. Sou humana, mas posso fazer alguma coisa. Não quero que vocês façam tudo por mim, não quero usar isso como desculpa, embora seja verdade. Não que eu não goste de ser cuidada, é claro que sim, mas não sou incapaz.

— Claro que não é, querida. Você é humana e possui algumas limitações devido a condição humana, mas você não é inútil. Quem a fez se sentir assim? Seus pais, de novo. Mas você não é, sabe que não. Eles exigiam muito de você. Como eles podiam exigir tanto e nunca deram nada? Não é justo!

Após uma pequena pausa de segundos, Esme continua:

— Mas nós não nos sentimos explorados, querida. Fazemos isso com prazer e satisfação. Cuidar de você não é uma tarefa árdua. Você é uma menina muito boa, fácil de lidar. Só tratar você com carinho e respeito. O que você nunca teve, por isso não me admira que seus pais a achassem difícil ou temperamental. É gratificante criar você. Não sinta como se você fizesse algo reprovável.

— Eu só quero ajudar, mãe. Você lava, passa, cozinha, limpa... Eu não acho justo você fazer tudo sozinha. Eu preciso ajudar, não posso ficar apenas vendo sabendo que posso fazer algo. Não consigo suportar a ideia de que estou abusando de você.

— Para mim não é tão ruim como era para você. Você merece descansar um pouco, eu sei que na sua casa você tinha que fazer tudo também. Não se preocupe eu não me canso, eu sou uma vampira você sabe. Não me incomoda ter que fazer quase todas as tarefas de casa, Carlisle também colabora, eu não faço tudo sozinha. Ele é um ótimo marido!

(Agora eu sei que ela também fazia tudo em casa e o ex-marido dela não valorizava. Ela me entendia tanto! Mais do que eu pensava.)

...XXX...


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