Velho Sieghart escrita por HALLDJAH


Capítulo 1
Ercnard Sieghart está morto.




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Novamente a mesma cena. Ele está correndo como um animal numa floresta estranha, e seu coração bombeia ódio. Ele ergue uma lâmina maior do que seu próprio corpo,e com apenas uma mão a balançava ao vento. Era tudo muito confuso. Não sabia discriminar o que sua lâmina acertava, pois nada oferecia resistência. Cascas de árvores voavam junto com pedaços de animais...? Era tudo muito estranho e sufocante. Sangue verde brotava aleatoriamente na cena dantesca. Afinal, era mesmo sangue? Não existe nenhuma criatura conhecida com esse tipo de sangue. Em sua mente a palavra "goblin" respondia as perguntas de seu coração, mas não existia tal coisa no mundo real... real... realidade? O que ele estaria fazendo naquela situação? como chegou ali?

— MERDA! - berrou como o habitual. Outro sonho estranho.

Acordou nervoso e confuso, mas logo ficou aliviado por reconhecer onde estava. Estava em casa; na mesma que esteve durante os últimos 10 anos. Ele se reconheceu como estando em seu corpo. Era o mesmo velho mal encarado de sempre. Suas costas doloridas como de costume, suas cicatrizes em seus devidos lugares, e seus pelos que não viam tesoura a tempos.

Ercnard Sieghart estava a tempo demais vivendo naquela casa de madeira. Ele a achou enquanto perambulava pelas florestas no entorno da gigante cidade de Ernas, e a arrumou para que pudesse viver ali... e lá se foram 10 anos. Recentemente tinha conseguido concluir seu projeto pra consertar um gerador velho, e finalmente podia gelar suas bebidas e parar de salgar a carne. As coisas pareciam finalmente estarem certas, mas então vieram os sonhos estranhos, e um sentimento de ódio crescente que vinha em ondas, e quase o arrancava de seus sentidos normais.

Mais uma manhã que acordou gritando. Se sentia envergonhado por isso, mas "dane-se", pensava ele. Nenhuma viva alma dentro de quilômetros; ele podia fazer o que quisesse enquanto permanece em seu mundinho. Mundinho esse que estava perto de ser abalado; em aproximadamente 3,2,1...

— ALO VELHO, EU SEI QUE TÁ AI! - Gritou a enérgica voz da juventude, que vinha do lado de fora de casa. 

Sieghart trancava suas janelas com tábuas durante a noite pra não ser acordado pelo sol ; então tinha que tentar enxergar quem o incomodava naquela hora pelas frestas entre uma madeira e outra.

Sem sucesso.

O velho não sentia que o dono daquela voz tão juvenil poderia ser uma ameaça. Vestiu um trapo qualquer e resolveu abrir a porta. A figura do jovem a sua frente era terrivelmente familiar, mas Sieghart não conseguia se lembrar de onde conhecia àquele rapaz.

Do alto de sua juventude, cabelos vermelhos penteados pra cima, e uma cara de perplexidade, o garoto falou a primeira coisa que veio a cabeça.

— Você tá parecendo um bicho. 

Se fosse em outra circunstância o homem simplesmente rebateria a frase do garoto com uma porta na cara e um xingamento, mas naquele momento algo estava o travando de qualquer reação. Aquelas cabelos vermelhos eram conhecidos. Aquele entusiasmo ao falar o lembrava de alguém. Alguém que já estava morto. Quem estava morto? Ele não sabia, mas seja quem fosse, estava com certeza morto.

— Jhin? - a palavra saltou do rosto barbado quase como um acidente.

— Que? meu nome não é esse não, cara. 

— Que nome? - Sieghart levou as mãos ao rosto. - Quem é você? Por que eu não fecho a porta na sua cara agora?

— Minha mãe me mandou aqui . Na verdade ela não me mandou, mas eu vim.

— E dai? Eu não te conheço... - e foi fechando a porta.

— Bem que ela falou que você é um babaca.

— Eu não tô nem ai pra você ou sua mãe, mas já que veio até aqui... me explica em cinco minutos qual foi.

— Você é meu pai.

— Tá... - chegou terminou de fechar a porta.

Que história era àquela? Como ele poderia ser pai de alguém se ele mal vai a cidade, mal vê gente, e muito menos se comunica com alguém? Parecia alguma espécie de golpe, mas... quem se daria ao trabalho de ir até ali pra dar algum golpe justamente nele? Abriu a porta novamente.

— Qual o nome da sua mãe? 

— Elesis. Ela tá doente.

Um frio subiu pela espinha de Sieghart naquele momento. Ele ainda não sabia de quem era aquele nome, mas novamente suas emoções e lembranças estavam enlouquecidas dentro dele. Ele precisava ver Elesis mesmo sem se lembrar quem era ela. Sua memória teria deteriorado com o tempo de solidão? Não sabia responder. Tanto a aparência do garoto, quanto o nome da mulher lhe provocavam uma sensação estranha. Sieghart não sabia que tinha tantas perguntas até que as respostas começaram a se desenhar em sua mente. 

— Você quer me levar até onde essa mulher está?

— É.

— Espera ai fora que já tô saindo.

Novamente trancou a porta e dessa vez saiu arrumado. Sua barba e cabelo ainda estavam deploráveis, mas pelo menos vestiu alguma roupa menos puída. Em suas costas uma mochila com umas coisas que tinha que trocar na cidade, e em sua cintura uma machadinha pra eventuais problemas. Sieghart e o garoto partiram dali.

— Minha mãe falou que você matava gente.

— É o que sua mãe falou, é... ? O que mais?

— Que seu nome é Ercnard Sieghart, e que se eu quisesse te convencer de algo era só falar esse nome.

— Tsk... ela mentiu pra você.

— Então você não matava gente?

— Não. Ercnard Sieghart está morto.


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