Estava lá, bem lá no fundo, em nenhum momento o deixou, e com o tempo só pude vê-lo crescer, aquele buraco que consumia seu coração, Kristoph. Você enxerga agora, maninho?

Uma chuva fina batia na vidraça do escritório, cada gotícula de água deslizando pelo reflexo de sua face, uma projeção opaca dentro da noite. Podia ver o cabelo preso caindo por sobre seu ombro, um penteado que agora desprezava com ardor. Podia ver as linhas tensas em sua testa, aquela testa. Klavier aproximou a palma aberta da janela, sentindo o tato frio do vidro, e então, fechou bem os olhos. No fundo de sua memória escutava uma voz vibrando, forte e firme – Não se esqueça pelo que luta, promotor Gavin! – Se conheciam há apenas alguns meses, e ele já o tinha desvendado, parecia que falava com seu coração, estendia os braços para alcançá-lo e envolvê-lo em segurança. Era como se soubesse da escuridão que consumia o íntimo dos irmãos Gavin. Mas diferente do irmão mais velho, diferente de si, ele enxergou a luz e dissipou o que o afligia. E agora...

— Onde esteve esse tempo todo, Apollo Justice. Essa jaqueta não combina nem um pouco com você, ja?

Deveria retribuir.