— O que você está fazendo aqui Beatriz? - Christian diz ríspido olhando para ela e esquecendo que eu estava ali.

— Eu quis fazer uma surpresa, até quando você iria me esconder? 

— Eu não estou escondendo você, nós iriamos acertar as coisas.

— Ah não? Quer dizer que você me contou e eu não lembro? - Digo já num tom elevado.

— Melissa, eu não queria que isso afetasse a gente. Demoramos a nos acertar e eu pensei que você fosse ficar extremamente puta comigo.

— Eu não ficaria se você tivesse me contado, ainda mais numa situação como essa. Uma nova vida não é um assunto qualquer. Eu não acredito que você deixou essa menina sozinha. - Passo uma das mãos nos cabelos e ajeito Bento no meu colo.

— Eu vou fazer o teste de DNA quando a neném nascer. Nós não sabemos se ela é minha filha mesmo.

— Você tá brincando comigo né? - Beatriz diz incrédula.

— Eu não posso fazer nada sem ter certeza Beatriz.

— Isso é ridículo. - Digo com uma súbita raiva já escorrendo pelo meu corpo.

— Você abrigou um filho que nem é seu e ainda tá agindo assim comigo? Depois de tudo? - Beatriz começa a chorar e eu olho revoltada pra ela.

— Olha só, vamos nos acalmar e esperar. A neném vai nascer daqui a um tempo e tudo vai ficar bem de novo. - Kevin fica entre eu e ela.

— Christian, você vai acompanhar essa menina. Ela vai nascer e você vai estar lá. Ela só tem a mãe e você e eu não quero saber o que você acha. - Digo apontando para os dois.

— Eu vou. Eu disse a ela que iria. 

— Você tava saindo com ela quando me conheceu?

— Tava, eu não sabia se você iria querer alguma coisa comigo, afinal a gente só conversava e na primeira vez que saímos eu não sabia que iria durar mesmo. Eu estava inseguro. Mas aí tudo saiu do meu controle e você chegou pra ficar.

— Eu não sei o que dizer sobre isso tudo. Eu só quero esfriar minha cabeça. Eu vou pra casa de Renata e vocês se resolvam. Não me decepcione mais Christian. 

— Não, você não vai sair daqui. Vocês não podem. 

— Nós podemos sim! E já estamos indo. - Subo e pego uma bolsa para Bento e outra pra mim, Chris sobe atrás de nós.

— Está vendo? Era disso que eu tinha medo. 

— Não Chris. Eu acho que você tem medo de crescer. 

— Não fala assim... Você não sabe o que dizendo.

— Sei sim. Eu não devia ter topado isso. Eu só volto pra você quando tudo se resolver, isso se a gente se resolver até lá.

— Melissa, calma. Você não vai deixar essa casa com nosso filho.

— Ele é meu filho! - Grito, Bento começa a chorar e Chris me olha com raiva.

— Está certo. Faz o que você quiser. Eu não vou mais te impedir. - Ele desce as escadas e eu fecho as bolsas. Saio pela porta e ligo pra um Uber. Espero na frente do condomínio, Bento em um dos meus braços e no outro as bolsas. O carro chega e me encaminho para casa de Renata.

Eu estava atordoada. Eu me vi naquela menina, eu vi Christian com medo, eu vi Kevin sem saber o que fazer.

Vidas. Elas são tão naturais que as pessoas esquecem o quão principalmente  mágicas elas são. Elas mudam tudo, elas consagram, elas separam, elas unem, elas amam e desamam. Eu não sabia até quando tudo isso iria durar. Eu não sabia em quem acreditar, eu estava certa? Eu estava errada?

Eu não queria impedir qualquer meio do Christian resolver a vida dele. Se ele iria ser pai mais uma vez, que ele soubesse lidar com isso, que aprendesse. Eu sei que tudo isso seria responsabilidade que ele não estava preparado para receber ainda, mas não seria eu que iria ensinar isso.

Chego a casa de Renata e ela me recebe confusa.

— Mas o que foi dessa vez? - Ela me olha confusa pegando Bento no colo e eu conto tudo.

— Como assim ele escondeu isso de você? Eu vou bater no Chris. Alguém me segura.

— Eu não sei, não tinha porque ele "resolver" isso sozinho. Ela é filha dele.

— Ela pode ser filha dele Melissa. Não tenha tanta certeza.

— Não sei, aquela menina tinha um tom de esperteza na voz mas um penhasco de insegurança no olhar. 

— Pode até ser. Vamos esperar pra ver. 

Renata me abriga no seu quarto e eu não sei até quando ficaria ali. Eu não tinha vontade de voltar para aquela situação. Eu me sentia culpada. Invasiva.

Ajeito Bento na cama de Renata e observo dormir, agora o tempo seria mais uma vez o dono dos meus caminhos.