Kotarô pensou que talvez tivesse assumido uma responsabilidade muito grande, mas talvez não fosse nada demais afinal. Estava sentado na areia, observando o mar, enquanto as garotas conversavam entre si, algumas se perguntando quando os outros voltariam, outras sobre o azar de terem ido parar naquela ilha.

Céus, elas realmente tinham detestado aquela ilha. Escuridown era mesmo tão ruim assim? Não fazia aquele calor infernal como no último lugar onde estiveram, nem tinha chuveiro de água fervendo! Pensando bem, não tinha chuveiro nenhum… ele não fazia ideia de como fariam para tomar banho, e também não tinham nada para comer… certo, talvez Escuridown tivesse um ou dois probleminhas, mas nada grave.

Foi o que ele pensou até ver a água se agitando, como se algo estivesse vindo na direção deles.

— Pessoal – ele chamou, sem tirar os olhos da água – Venham aqui.

— O que foi? – Natsumi se aproximou dele.

— Parece que tem alguma coisa na água – Kotarô mal apontou na direção onde a água se agitava quando um animal enorme saiu dela. Estava apenas com a cabeça de fora, mas não era difícil adivinhar do que se tratava.

— A-Aquilo é… um crocodilo?! – Nodoka exclamou apavorada.

— Mas crocodilos não vivem em água salgada! – Haruna falou como se isso pudesse fazer com que o crocodilo percebesse que estava no lugar errado e desse meia-volta. Ao invés disso, continuou avançando até a areia.

— Parece que esse aqui vive – Yue respondeu – Um crocodilo poroso, é o maior crocodilo do mundo. Deve ter uns sete metros.

— É maior do que aquele dragão! – Konoka levou as mãos à boca. Ela olhou ao redor atordoada, e só então lembrou de que Setsuna tinha ido para a floresta - Setchan… ela não está aqui. Ele vai nos devorar!

— Não se devorarmos ele primeiro – Kotarô respondeu.

— O que?! – Natsumi exclamou.

— Não sabia? Carne de crocodilo é comestível.

— Como você pode pensar em comida em uma hora dessas? – Natsumi exasperou-se.

— Estou faminto – ele defendeu-se.

— Comestível ou não, temos que acabar com ele, ou seremos devorados – Asuna falou.

— Agora você falou minha língua! – Kotarô caminhou na direção do animal, que avançava cada vez mais rápido.

— Ei! Você não pode enfrentar essa coisa sozinho! – Natsumi exclamou.

— Do que está falando? – Kotarô perguntou - Eu prometi ao Negi que protegera vocês, lembra? – Kotarô lembrou – E prometi a você que te protegeria. Não é uma lagartixa gigante que vai me derrotar.

Ele avançou contra o crocodilo, que abriu a boca quando o garoto aproximou-se, mas Kotarô saltou sobre ele e experimentou enfiar as garras em suas costas. Não funcionou, as escamas eram muito duras. Ouviu passos de repente e saltou para longe segundos antes de Asuna atacar o animal com a espada de seu Artefato, Bellatrix Sauciata, uma espada enorme que ela conseguia empunhar sem dificuldade, e forte o suficiente para esmagar uma rocha. Infelizmente, ela errou o alvo.

— Uau! Você pode usar seu Artefato mesmo sem o Negi por perto? – Kotarô perguntou surpreso.

— Lógico! Senão as Cartas de Pacto não teriam a menor graça – Asuna respondeu, voltando-se pra o crocodilo, que não tinha desistido de suas presas.

— Isso muda as coisas – Kotarô virou-se para as demais meninas – Haruna, consegue criar alguma coisa que proteja você e as outras?

— Deixa comigo! – Haruna invocou os poderes de seu Artefato, Imperium Graphices, conjurando um bloco de papel e uma pena e começou a desenhar algo nele. Aos poucos, uma bolha de ar brilhante começou a surgir ao redor das meninas, formando uma espécie de barreira. Como seu Artefato tinha a capacidade de trazer à vida tudo o que ela desenhava, era muito eficiente tanto no ataque quanto na defesa.

No entanto, antes que a barreira estivesse concluída, o crocodilo tinha avançado contra elas em uma velocidade inacreditável, provavelmente pensando que era melhor devorar seis pessoas do que duas. Haruna estava no centro, criando a barreira, mas desenhar era uma tarefa difícil e ela não seria rápida o suficiente. As duas que estavam na ponta eram Konoka e Natsumi. Céus, se algo acontecesse com Konoka Setsuna mataria Kotarô! Mas, principalmente…

— Inugami-ryuu Kuuga!

Kotarô nunca pensou que usaria um ataque de longa distância onde ele dispara uma explosão de ki a uma distância em forma de presas contra um mero crocodilo. Mas não podia permitir que aquele monstrengo gigante devorasse suas amigas. Não podia deixar que ele ferisse Natsumi. Depois daquilo o animal tinha sido feito em pedaços e Haruna tinha terminado a barreira a tempo de proteger as amigas e a si mesma do sangue de crocodilo que voou para todo lado, manchando a areia de vermelho.

— Ei, você mandou bem! – Asakura ergueu o polegar para ele.

— Só foi meio exagerado, não acha? – Asuna comentou, voltando ao normal.

— Por que está reclamando? Eu derrotei o crocodilo, é isso que importa! – Kotarô exclamou – E também garanti o nosso jantar.

— Tem certeza de que isso é comestível? – Natsumi abaixou-se para examinar os restos mortais do crocodilo depois que Haruna desfez a barreira.

— É claro – ele respondeu - Não é a primeira vez que como carne de crocodilo. E duvido que seja a última.

— Quando foi que você comeu carne de crocodilo? – Natsumi olhou surpresa para ele.

— Isso foi… hã… bem antes de conhecer vocês – Kotarô virou o rosto para o lado. Droga, não deveria ter dito aquilo. Agora as garotas o encheriam de perguntas que ele não iria querer responder. Sobre o tipo de vida que ele levava antes de conhecê-los e tipo de trabalhos que fazia.

— Kotarô – Haruna colocou as mãos nos ombros dele – Você está com cara de quem está escondendo alguma coisa. O que é? – a garota perguntou e ele engoliu em seco. Haruna era sinônimo de confusão, era impossível esconder as coisas dela.

— Deixe-o- em paz, Haruna – Natsumi pediu.

— Ora, não me diga que você também não está curiosa? – Haruna rebateu.

Natsumi não respondeu. É claro que ela estava. Kotarô nunca falou muito sobre como era sua vida antes de conhecê-los, é lógico que ela queria saber mais sobre ele. Mas forçá-lo desse jeito… também não parecia correto.

— Olhem! – Nodoka exclamou de repente – Eles voltaram!

Todos se viraram para a floresta, na direção em que Nodoka apontava. Negi, Setsuna e Kaede tinham retornado com a madeira que tinham ido buscar para construir a cabana. E o grupo surpreendeu-se ao ver o estado em que eles estavam.