Filhos da Magia escrita por Taetación


Capítulo 14
Capítulo 13 - Uma pequena mentira




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Senti meu batimento cardíaco, forte e rápido, por todo meu corpo; minha pele queimava, como horas debaixo do sol; minha visão apenas me mostrava o coração de cada ser na sala, pulsante. Seus rostos... não os reconhecia, o cheiro forte de cerveja me causava ânsia, meio tonta, mas o medo que emanava me fez retomar a minha consciência. 

“Demônio, demônio” chamavam, olhando-me como se fosse uma aberração. 

“Akemi, ignore isso” a voz de Ichiro já não se parecia com a minha, era distorcida e ecoava “Sua raiva deve ser mantida. Agora, arrependa-se pela destruição que fez.” ordenou. 

E então, eu comecei a tomar consciência do que fazia e de tudo que causei. As janelas estavam rachadas, mesas e cadeiras jogadas no canto da sala; e eu estava no meio dela, ao meu redor, magos, feiticeiros e meus amigos - com olhares assustados e raivosas, mas não mexiam um músculo - no chão, as garrafas quebradas e seus líquidos esparramado, o que fazia uma má combinação comigo, pois meu corpo estava em chamas. 

O fogo estava sobre mim, como um longo véu, dos pés à cabeça. Não doía, nem ao menos sentia a presença do fogo, apenas apreciava o poder fluindo em mim, puro e forte. No entanto, meu momento foi estragado por aqueles olhares. 

Meu coração falhou uma batida. Eu vi os olhos amendoados que olhava pra mim. Ele mordia os lábios, encarando o chão, mas eu sabia que ele estava abalado - o que me fez corroer por dentro. Esse era o único com quem me importava, o resto que se exploda. 

A decepção tem gosto amargo. Aquela sensação permanecia embaixo da minha língua e azedava mais a cada segundo, depois descia rasgando pela minha garganta e doía em meu estômago como um soco certeiro. A vergonha pesou meus ombros. Tudo que pude fazer foi sentir meu poder esvazia, assim como minha coragem e encará-los. 

— Desculpem … — eu não pretendia soar tão fraca quanto a minha voz fez. 

Minha voz sufocou com o nó na garganta. Abracei minhas pernas e encostei a testa nos joelhos, tentando não chorar. Atrás de mim, ainda sentia a presença de outras pessoas. Mantive-me atenta, mas não totalmente ameaçada. 

— Precisa se acalmar. Vamos. Levanta. — Tyler sussurrou em meu ouvido, ajudando a me erguer e me mantendo em pé, pondo meu braço ao redor de seu pescoço. Eu consegui senti sua pele queimando, ou seria a minha? 

— Me desculpa, Tyler. — sussurrei enquanto ele nos levava para fora. 

Silêncio dele foi o que recebi, mas as pessoas ainda estavam inquietas. 

“Talvez tenha sido longe demais, Ichiro…” eu sabia que ela conseguia ouvir meus pensamentos e sentir a culpa me consumindo. 

Apenas demos a eles o que queriam. Raiva. Te darei mais comandos mais tarde. Continue com o… lobo, e fique alerta.” fria e seca, sua voz ecoava em minha mente. 

Apenas fechei meus olhos e deixe-me ser levada por Tyler. 

Pudera ouvir os passos pesados do lobisomem contra o piso de pedra, o ranger da porta e o aconchego que meu quarto me dava. Abri os olhos, diante as paredes de pedra, a famosa pintura da profecia no teto - era impossível deitar e não encarar a imagem -  uma cama de casal com dossel de veludo verde, os estandartes pendurados, tudo organizado como se alguém tivesse limpado. Isso fez meu estomago revirar. Lembrei-me de que K’onar não estava comigo e que meu livro ficou no quarto. Merda! 

Tyler me colocou sentada na cama, e mantive a cabeça baixa. Ele se sentou no chão, com a cabeça erguida, procurando meus olhos. 

— Não vou olhar — sussurrei — É vergonhoso… eu não sei o que aconteceu. 

Meu peito doí pela mentira. 

“Você está indo bem, Akemi. Ele tem que acreditar em você! " 

Engoli seco e umedeci os lábios. 

Sempre fui uma boa mentirosa, quando eu realmente quero. 

— Algo aconteceu com meu corpo. Me senti mole, fraca e então eu apaguei… eu te ataquei, não foi? — numa fração de segundos eu olhei em seus olhos negros, eles brilhavam com dor, e isso refletia em mim fisicamente — E o outro cara… nunca foi minha intenção, eu juro! — minha voz falha e um soluço me impede de respirar. 

Curvei-me, pondo a testa nos joelhos sem controlar as lágrimas. De repente, a mão de Tyler afagou minhas costas, sussurrou alguns “vai ficar tudo bem”. Acho que naquele momento ele se sentiu tão mal quanto eu. 

— Me desculpa? — olhei para ele, com os olhos marejados. 

— Claro. — então, me abraçou. 

Eu realmente apreciava abraços nessas situações, mas dessa vez não foi proveitoso. 

Eu chorei até ficar com dor de cabeça, tinha que me esforçar para as lágrimas caírem. Pensei em minha família, mas sentia ódio reprimido, pois a imagem de Nicholas aparecia. Além do mais, a kitsune ria feliz com a minha atuação. 

Você aprendeu uma grande lição hoje, Akemi. O lema que algumas Kitsunes levam é: não confie em ninguém”  Ichiro riu “ Mas o nosso, hoje, será : faça-os confiar em você” 

A luz do sol cegava meus olhos, pude escutar o cantar dos pássaros. Cubro minha cabeça com o cobertor macio que me envolve, então, minha memória volta. Abro os olhos alarmada, dando uma olhada na sala em que estava, era meu casual quarto. Respirei fundo, confusa e com dor de cabeça. Nem ao mesmo me lembro de como eu dormi, mas se passaram horas desde do incidente. 

O dia parecia caloroso, mas meu quarto estava frio. Minhas blusas de manga comprida já não me aquecem mais, fazendo-me querer voltar a dormir, mas minha situação não permitia. Como de costume, ando até o banheiro. 

O único local do castelo em que foi modernizado, com água quente e vasos adequados, uma banheira enorme, até mesmo aromatizadores. Encho a banheira de água, um pote contendo pétalas pretas - o normal para o mundo mágico, começou a ser normal para mim também - as joguei na água junto com um sabonete líquido, despi-me e entro na água morna, esfrego minhas mãos por cada sentimento de pele, limpando meu corpo, então, fecho os olhos. 

Um pequeno momento de descanso não faria minha dor física e psicológica ir embora, mas ajudaria a me organizar. Em momentos de loucura, precisamos de algo em que possamos nos segurar, firmar, pensei que seria minha irmã, mas ela está mais longe do que meus braços podem alcançar.   

— Está mais perto do que pensa, querida. 

Abri os olhos de imediato, num pulo, mas me acalmei segundos depois. Era Ichiro, uma manifestação - vulgo, assombração -  dela, mas com as minhas feições, porém seu cabelo estava curto igual a de um homem. 

— Quer me matar do coração? — sibilei, voltando para água, ficando submersa da boca pra baixo. 

— Eu te matar? — fez uma careta — Mas fácil você se matar sozinha. 

“O que quer, Ichiro?” indaguei em meus pensamentos. 

— Vim te dar mais comandos, soldado! — sorriu — Quero que ataque Nicholas. 

Arqueei a sobrancelha. 

“O que ganharei com isso?” 

— Um soldado não questiona, faz! — disse, rispidamente. 

Rosnei baixo, causando bolhas na água. 

“Fale...” 

— Deixe-o saber ou suspeitar que nós desconfiamos dele. Frases com duplo sentido, entendeu? 

“Sim." 

— Ótimo! É melhor estar preparada — olhou para a porta — Alguém se aproxima. 

Espiei a porta de madeira. Passos começaram a se aproximar. Olhei novamente para Ichiro, mas ela tinha sumido. A maçaneta girou, estiquei a mão para pegar o pote de vidro das pétalas e o mergulhei na água. A porta abriu, e o cheiro que me dá ânsia invadiu. 

— Pode entrar, Tyler. 

— Tá louca? Você está tomando banho! — murmuro, incrédulo. 

— Então, por que estava abrindo a porta, em primeiro lugar? 

Essa foi boa ” aplaudiu, Ichiro, e eu sorri um pouco. 

— Eu vim dizer que Nicholas quer te ver. Estou indo. 

Com passos apressados, ele saiu do quarto, batendo a porta forte. 

“ Está pronta?” 

— Sim. — respondi, saindo do banheiro e me enrolando em uma toalha branca. 

Sem tempo a perder, sai do banheiro em direção a minha cama. Lembro-me de jogar minha mochila embaixo da cama, junto com meus equipamentos de batalha, peguei tudo e coloquei sobre o colchão, roupas, sapatos e armas. 

Já conheci pessoas que diziam que a aparência é o que mais importa. Honestamente, isso nunca valeu pra mim, até minha percepção sobre as pessoas e a mim mudar. Se eu mudei, os deixarei saber, como um aviso silencioso. 

Eu gosto de vermelho.” comentou, Ichiro. 

"Eu sei” lembrei-me do fogo em minha volta “ Eu também.” 

Em meio a roupas velhas e sem graça, encontrei uma saia curta preta meias longas pretas, uma bota preta velha e surrada, e um blusa vermelha com mangas longas, vesti-me com tudo isso e dei uma olhada no espelho. 

Eu não reconheci o medo. 

Eu não tinha medo. 

Era apena eu. Meu novo eu. 

Deixei os cabelos molhados e os deixei de lado, comecei a ficar ansiosa e sem paciência com a aparência. Sai do quarto, não havia ninguém no corredor, segui meu caminho até o habitual local de encontro entre mim e Nicholas. 

Sem bater, entrei na sala. E lá estava o mago, dentado em seu trono, com o olhar atento sobre mim, analisando-me. Odiei isso. Fechei a porta atrás de mim, caminhei até a mesa em frente ao trono, nela estava meu livro. 

Lembre-se, você está sofrendo.” reforçou, Ichiro. 

“Como sempre.” respondi. 

— Akemi, se sentindo bem? —  indagou o mago. 

—  Nem um pouco. — desviei o olhar para baixo. 

— Já esperava essa resposta — levantou-se do trono, andou até mim e começou a me rodear. Continuei cabisbaixa — Eu tenho o que você precisa. 

Olhei-o, confusa.   

— Conhecimento? 

— Eu posso tirar isso de você. 

 Isso … — repeti. 

— Exato. — sorriu. 

Não acredite nele. É impossível tirar uma kitsune de sua hospedeira sem matá-la” sussurrou Ichiro. 

Fecho as mãos num punho, contendo a raiva. Vê-lo frente a frente e não poder estrangulá-lo me enfurecia, tanto que me batia a vontade de chorar de raiva. 

— Como? — perguntei com a voz falha. 

— Eu posso descobrir uma forma, procurando no seu livro! — ele disse em um tom otimista — E assim, quitamos o nosso trato. Eu ganho experiência e te passo e você se livra desse monstro dentro de você. 

Soou tão certo. Tão contente. Tão forçado. 

Quanto mais perto do livro, mais perto da saída ele estará. E, ao mesmo tempo, pegarei o necessário para desvendar o livro por mim mesma, e acabar com esse babaca. 

—Isso soa ótimo! — sorri fraca — Eu não quero… machucar mais ninguém. 

Inesperadamente, Nicholas envolve os braços em minha volta, abraçando-me. Fiquei estática, sentindo as lágrimas quentes caírem, meu estômago revirar. Porém, lutei contra a raiva do meu corpo, e o abracei de volta, forte, caindo em um choro dolorido.   

— Eu gosto de você, Akemi —  sussurrou em meu ouvido. Meu corpo paralisou —  E tudo vai ficar bem, okay? 

Apenas assenti, deixando-o consolar-me em seus braços. 

Ele não está em suas mãos ainda. Tenha cuidado” 

— Okay. 


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Notas finais do capítulo

apareci, logo, estou viva
sorry pelo atraso, vai se repetir , eu juro!
isso sempre acontece comigo, mas aki estou eu
corrijo depois
até outro dia



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