Catarina escrita por Innanis


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos!! Estão bem? Espero que sim!
Mais uma one curtinha, essa com mais contexto, provinda de uma bolha repentina de ideias somada à tentativa de escrever de um jeito diferente.
E plim, Catarina aí pra vocês :3 espero que gostem dela tanto quanto eu gostei enquanto escrevia.
Sem mais delongas, tenha uma ótima leitura ~~



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/752879/chapter/1

E ela era mais uma. Menina. Vivendo pelas terras encantadas de um mundo ominoso.

Fale baixo, mais baixo. Ela ainda não sabe. Você não quer estragar tais crenças quiméricas viciosas que descansam, tranquilas, em seu pensar? Quer?

Mas ela destoava de um jeito. Ela era especial? Não, não, Catarina não era especial.

Ou só não queria ser.

Ela tinha aquele morango oculto sob a proteção aveludada de sua mochila escolar.

Catarina estava assustada.

Ansiosa.

Afobada.

Naquele dia fora repreendida pelas pessoas grandes duas vezes e não era nem mesmo a hora do lanche. Ela fez um repentino bico lembrando-se das palavras amargas desferidas sem dó em sua face.

As pessoas grandes não gostavam de Catarina. Elas diziam que crianças não podem ter opinião própria como Catarina tem. É, ela sabia, ela tinha ouvido de detrás da cortina da despensa naquela manhã.

Aquilo fez uma dor inexplicavelmente pungida espetar seu diminuto coração. O que foi aquilo? Catarina não sabia, mas doía, ela não queria saber. Ela quer distância.

Ela balançou as pernas sob a cadeira amarela. Um súbito impulso de arrancar o relógio da parede e girá-lo até onze horas aturdiu-a por certo momento, mas ela tinha feito uma promessa às assustadoras pessoas grandes e nunca iria machucar as criaturas coloridas daquela sala e de nenhuma outra. Mas de repente Catarina percebeu uma coisa: a professora tinha dado um fim ao seu monólogo sobre alguma coisa de matemática que a menina não tinha prestado atenção. Como podia? Afinal, ela...

Espera. Ela estava olhando para Catarina.

— Catarina? Estou falando com você, querida.

A menina engoliu o nada que havia restado em sua garganta apertada e olhou para a lousa. Ah, é claro. Ela queria que Catarina dissesse a resposta, mas Catarina não sabia a resposta.

Catarina não sabia a resposta para nada.

Ela iria se desesperar. Iria chorar. Iria gritar para que não fosse machucada.

Se ela não ouvisse aquele sublime murmúrio. É dez, Catarina.

Ah não. Lá iria Catarina mais uma vez. Ela respondeu, é claro. Mas aquela voz...

Ela desceu os olhos, seu rosto estava quente. Suas graciosas mãos abriram o caderno em uma das últimas páginas e com os coloridos gizes-de-cera ela derramou tudo sobre aquela superfície pálida. Catarina sabia que tinha algo de estranho com ela. Afinal, se não fosse assim por que as crianças do orfanato a evitariam depois que ela tinha contado?

E ela tinha se esforçado. E como tinha. Tinha dado tudo de si para expelir tudo isso para o espaço sideral cor-de-rosa que ela mesma desenhou ao lado da cama.

O sinal finalmente retumbou por toda a escola e Catarina estacou em sua cadeira. Ah, tinha que ser logo naquele momento? Ela observou enquanto a dona daquela voz entrelaçava os braços com mais duas meninas e saia, saltitante, da sala.

Mas, no fim, Catarina só pôde observar mais uma vez. Ela se encurvou sobre a mochila e retirou o morango de lá. Suspirou, chateada.

Depois de tanto ter tentado, Catarina tinha apenas se conformado com aquilo, mas então percebeu que não sabia o que aquilo era. Era vermelho, bonito, meio azedo, mas também doce.

Ah, mas é claro. Aquilo só podia ser um morango. Catarina precisava dar um morango à Isabella. Só que era tão complexo. Difícil.

Ela nunca conseguia. Quando chegava perto da menina seu corpo enfreava, entrava em curto, dava tela azul. Isabella ria e saia com as amigas mais uma vez.

E mais uma, mais uma...

Estaria Catarina em um ciclo paradoxal infinito?

As pessoas grandes diziam a ela que parasse, que ela era nova demais. Mas a menina nem mesmo compreendia o que eles diziam. Parar com o quê? Nova para quê?

Catarina só precisava entregar um morango, por que as pessoas grandes fariam disso tamanho alarde?

Ela sentiu os olhos arderem, umedecerem. Sim, estava triste, muito triste. Por que ninguém havia a avisado? A preparado? Catarina não queria que aquele martírio recaísse sobre si mais uma vez. Ela queria distância. Distância. Então por que só aumentava? Por que parecia multiplicar e não subtrair? Catarina jurava com os pés juntos que tinha assistido às aulas de matemática... bom, pelo menos à maioria delas.

Mas algo inesperado aconteceu.

Catarina sentiu uma repentina sensação quente no ombro e reergueu a cabeça, que tombara, antes, sobre as mãos. Era uma miragem?

Ou Isabella estava logo ali?

Presta atenção, Catarina.

Na próxima não te salvo.

E riu.

Mas Catarina nem soube assimilar as palavras. Por que Isabella estava falando dentro de uma garrafa?

Aparentemente ela estava ali para buscar algo esquecido na sala e Catarina, definitivamente, ia completar sua missão. Ela ergueu-se e chamou a menina em um tom tão engasgado que a fez rir novamente. Catarina também riu já que ela adorava olhar para aquele sorriso.

Às vezes ela se perguntava por que aquele parecia irrigar toda a plantação de morangos dentro de seu peito. E só aquele.

Ela esticou as mãos e Isabella, à princípio, franziu o cenho enquanto estudava aquela fruta vermelha escorada entre as sutis mãos de Catarina. Só que depois, ah depois, ela deu o melhor de todos os sorrisos. Morango era a preferida dela e Catarina nem mesmo sabia!

— Não entendi nem um pouco, mas muito obrigada, Catarina!

E a abraçou brevemente, mas o suficiente para quebrar a conexão mental de Catarina com os arredores. A menina não estava mais ali. Ela estava saltitando por entre várias e várias plantações de morango. Eles até mesmo começaram a cair do céu.

Catarina não entendia as palavras das pessoas grandes. Catarina não entendia por que sua plantação crescia tão farta agora. E Catarina nem mesmo entendia por quê.

Mas ela estava feliz.

Ela estava mais feliz que nunca.

E queria ficar sob aquela chuva de morangos vermelhos, bonitos, azedos, mas também doces.

E queria ficar ali para sempre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E foi isso, pessoal ~~ uma onezinha bem tranquila sobre uma criancinha que estava amando. Espero mesmo que tenham gostado!

Um bom resto de dia para vocês o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Catarina" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.