Férias Imorais nas Ilhas Canibais escrita por Rick Batista


Capítulo 1
Ilha estranha com gente esquisita


Notas iniciais do capítulo

Espero que se divirtam lendo tanto quanto eu me diverti escrevendo. Curtam o início das férias.



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 — É hoje que você deixa de ser virgem, meu brother! — Léo me disse, com seu sorriso sacana. — Essa ilha é o paraíso das gatas, e você meu parceiro, ganhou ingresso vip pra ele.  

Eu apenas o encarei, sério como de costume, antes de responder com minha falta de vontade habitual: 

— Só se for pra você. Gatas com certeza tem, mas isso tem em tudo que é praia do Rio também. O difícil sou eu pegar alguma. 

Era uma triste verdade. Em meus vinte anos de solidão, o mais perto que cheguei de transar foi... 

— Aí que você se engana meu parceiro. — Prosseguiu o infeliz, mostrando a vista paradisíaca que tínhamos do nosso hotel cinco estrelas. — Te garanto que antes do fim das férias, você fica peladinho com uma gostosa. Isso, ou não me chamo Léo . 

E estendeu a mão, querendo selar o acordo. 

— ...se acredita mesmo nisso. — E apertei, sem grandes esperanças. 

Aahhh ...ilha Korassaum. Apesar do nome esquisito, era um lugar bem incrível! Coqueiros gigantescos, bichos exóticos, água cristalina e no centro de tudo, o mais bizarro: um vulcão! "Sem drama, brother. Tá mais inativo que meu vô aposentado". Foram essas as palavras dele, me acalmando. E confesso, saber disso me deixou bem mais relaxado. Relaxado como na sessão de massagem no hotel. Cara, que mãos divinas aquela coroa tinha. Ela era muito boa naquilo, como massagista oficial do hotel, e nativa da ilha. A maioria dos empregados tinham aqueles traços de índios, e acho que eram mesmo.

— Você tem um cheirinho bom. — Ela me disse, enquanto eu me levantava pra sair. 

Meio que sorri sem jeito, me perguntando se aquilo foi uma cantada ou não. Assim, até que a coroa não era de se jogar fora, mas ainda me restava alguma dignidade. Ilha estranha, pensei. 

Era meu primeiro dia lá. Tinha um mês inteirinho pra curtir aquele lugar, hospedado no melhor, maior e único hotel. Mas apesar da brincadeira, o hotel era muito incrível! Enorme, super confotável e estiloso. E lá estávamos nós, dois pobretões em meio a um monte de turistas de toda parte do mundo, e nativos super atenciosos e sorridentes. Eu aproveitaria cada segundo! 

O buffet era de babar, daqueles que você quer pegar um pouco de tudo e enfiar no prato. Um pouquinho de arroz, de camarão, carne de pato, pastel, batata frita, peixe, cebola, assado, lagarto, nozes, macarrão, salada, e claro, sem esquecer do delicioso molho de... 

— ...sangue de gente. — Voz do Léo , reconheci logo. — Tive que ficar submerso por seis horas naquele rio de sangue, até os malditos irem embora. 

Lá estava ele, fazendo o que fazia melhor: pegar garotas! A loira sentada com ele era bem bonita, e parecia estar caindo fácil na lábia. 

— Não posso acreditar. — Disse ela, segurando as mãos dele, e confortando um canalha que tremia e lacrimejava. — Como você conseguiu sobreviver por quinze dias sozinho numa ilha, sendo caçado por mercenários, terroristas e canibais? 

Os olhos inocentes dela brilhavam, reparei enquanto passei pela mesa deles. Burra como uma mula. 

— Eu tinha que sobreviver. Precisava viver! — dizia ele, voz hesitante. — Jurei pra mim mesmo que não podia morrer antes...antes de encontrar o verdadeiro amor. 

Eu revirei os olhos, a primeira garfada da minha montanha na boca. 

— ...e você encontrou? — Claro, ela tinha que perguntar. 

— Até ontem, eu diria que não. — E olhou pra ela, os olhos da loira brilhando. — Até ontem. 

Pronto, xeque-mate! Logo meu celular vibrou com a mensagem já esperada: "deixa o quarto vago essa noite, que hoje o papai aqui vai comer em casa XD". Não sei se ficava mais impressionado com a facilidade com a qual ele pegava as meninas, ou que digitava escondido com uma só mão. 

Percebi que enquanto eu comia, algumas garçonetes me olhavam, sorridentes. Todas nativas, sorrindo e cochichando. Eu sorri e acenei pra elas, e elas sorriram de volta. Nossa, a ilha era realmente estranha, notei. 

Como comi mais que mendigo na ceia de Natal, passei o resto da tarde descansando a barriga no quarto, vendo a tv gigante colada na parede. E mal a noite caiu, começou o som de festa. Resolvi descer, até pra não correr o risco de atrapalhar os planos do cara. 

O céu estava incrível! Uma lua prateada cercada de estrelas. Não pude deixar de pensar que era tipo eu, cercado de gatas, mas sem conseguir chegar em nenhuma. Triste 

 realidade. 

— Bebida, senhor? — Perguntou o garçom, sorrindo e me encarando estranho. 

Peguei o copo e sorri sem graça, me afastando. Virei tudo sem perceber, o nervosismo me fazendo esquecer que nem bebo. Depois cuspi e tossi, vermelho. Ao menos estava me sentindo mais quente e animado depois disso. 

Geral dançava ao som da batida da banda local. O grupo cantava com um sotaque estranho, e tocava principalmente axé. "O seu amor é canibal, comeu meu Korassaum mais agora eu sou feliz. O seu amor é canibal...". 

— Aie, amei essa ilha! Bem que falaram que é apaixonante! — Casal de meninas malucas a minha esquerda. 

— Guenta Korassaum, o love está no ar!" — Casal de garotos coloridos a minha direita. 

— Vira, vira, vira, viraviravira...—  Disputa de encher a cara com um grupo de fortões sem camisa. 

Enquanto eu me afastava da bagunça, começou o estouro de fogos de todos os tipos e cores. O barulho e explosões no céu me cegando. 

— Opa, opa, opa. Se liga onde anda, garoto! — Reclamou a baixinha em quem esbarrei. 

— Desculpa, é que não te vi. — E seria difícil mesmo ver, sentada no meio da areia com um notebook, no meio daquela zona, pensei. Gatinha por sinal. 

Mais fogos, e então percebi que o som da música parou de repente. O povo cochichando como se aguardasse por alguma coisa. 

— Você nem faz ideia do que vai rolar aqui, né? — Perguntou ela, me encarando com um sorriso maligno na face bonitinha. 

Balancei a cabeça em negativa, ela aumentando ainda mais o tamanho do sorriso macabro.  

— Nossa, isso vai ser bem divertido. — E após dizer isso, botou uma máscara de gás que tirou sei lá de onde, se afastando. 

Eu fiquei pasmo demais com aquilo pra conseguir formular alguma pergunta. Só comecei a pensar se minhas duas passagens pra férias completas na ilha Korassaum com tudo pago, que ganhei no sorteio da Jequiti, realmente valeriam a pena. 

E foi nesse exato momento que começou. Primeiro a sensação do chão tremendo mais que chihuahua nervoso. E logo os tambores, começando devagar, mais aos pouquinhos acelerando. O povo se olhava, insanamente animado. E então reparei que eles também olhavam pra outra coisa. Nada mais, nada menos que o vulcão! 

Perdi um minuto procurando até chegar na garota. Afastada da bagunça e com a máscara, parecendo cosplay de bombeiro.   

— Só me diz uma coisa, garota: se esse vulcão tá inativo, por qual raio de motivo ele tá tremendo!? 

— Inativo? — E ela soltou uma gargalhada daquelas, com a voz modificada pela máscara. — Difícil ter vulcão no mundo mais ativo que esse ai! 

Maldito Léo, pensei eu. 

Não podia acreditar que o safado me arrastou para uma ilha com um vulcão ativo sem avisar. Afinal, foi ele quem fez a pesquisa. Também não podia acreditar que todo mundo estava feliz e saltitante esperando um maldito vulcão estourar. Mas era isso mesmo.  

E ele tremeu. E trovejou. Mas não foi lava que saiu dele. Foi um gás cinzento e espesso, que começou em instantes a tomar toda ilha. 

"O amor está no ar!", os malucos gritavam, como um bando de papagaios enlouquecidos. E estava mesmo, eu logo perceberia. E naquele momento eu tive certeza: aquela ilha era mesmo muito estranha! 


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Notas finais do capítulo

Pretendo encerrar essa história em 3 ou 4 capítulos, todos postados até o dia 30. Deixe um comentário dizendo o que gostou ou não, pois sua opinião é importante, críticas construtivas são sempre bem vindas e comentar não morde.