Ladrão de Fé escrita por Kathar


Capítulo 1
Roubando a pureza




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Jonathan tinha exatamente dezessete anos, não havia feito a muito tempo. Ele cursava o terceiro ano do ensino médio e era um fanático religioso, confiava toda sua vida a Deus. Ia todos os dias até a igreja sem distinção. Podia ser católica ou evangélica, mencionando seu Deus, ele ficava satisfeito, afinal, via erros leves nas duas crenças.

 

 

Além de ler a palavra, interpretá-la e conversar com Deus, Jonathan gostava de adereços negros ou metálicos; tinha por exemplo, um crucifixo dourado, preso a uma corrente na mesma tonalidade. Tinha também um anel negro, com algumas cruzes e detalhes na cor prata, deixando-o digno de ser usado por um fiel.

 

 

Ele era loiro, cabelos razoavelmente curtos, cortados sempre com a navalha. Apesar de cristão, ele gostava de visuais despojados. Seus olhos eram castanho-claríssimos, beirando a verde. Deixavam muitos morrendo de inveja.

 

 

Sua família era deveras conservadora, e apesar de sua idade, Jonathan nunca havia se relacionado com ninguém de forma alguma. Talvez seu futuro estivesse mesmo na castidade, servindo para Deus por toda a sua vida, sendo padre.

 

 

Num dia que tinha tudo para ser normal, o loiro chegou a escola. Cedo como sempre. Alguns alunos o gozavam, mas ele não dava a mínima.

Uma garota de sua sala, estava com o braço cheio de pulseiras multicoloridas, e o garoto não resistiu, teve que pedir uma delas para a menina.

 

 

“—Oi Brenda!”

“—Fala Jonathan!” – Ela sorriu para o loirinho. Brenda era bonita, tinha seios grandes e o corpo cheio de curvas, nem por isso o garoto ficava a assediando ou ‘secando-a’ com seus olhos. Provavelmente, por este fato, Brenda tinha vontade de ter algo com o cristãozinho loiro.

“ – Que pulseiras legais são essas?” – Indagou curioso como sempre, fitando os pulsos da garota.

“—Uma modinha legal que saiu agora…. Cada pulseira tem um-“ – Infelizmente, a garota foi interrompida pelo loirinho, e este mal sabia que este simples detalhe, mudaria por completo sua vida.

 

 

O problema, era que as malditas pulseiras tinham um significado.

 

Amarela –dar um abraço no rapaz; Laranja – significa uma “dentadinha do amor”; Roxa – já dá direito a um beijo com língua; Cor-de-rosa – a menina tem de lhe mostrar os seios; Vermelha – tem de lhe fazer uma lap dance; Azul – sexo oral praticado por quem teve a pulseira arrebentada; Verdes – são as dos chupões no pescoço; Preta – significa fazer sexo com o rapaz que arrebentar a pulseira; Dourada – fazer todos citados acima.

 

Era uma moda que se espalhava rapidamente entre os adolescentes, e quase todos sabiam o que as pulseiras significavam.

 

 

Não era saudável sair por aí usando este tipo de adereços numa cidade como a que eles moravam. Uma cidade grande, com pessoas dispostas a fazer de tudo caso encontrassem uma brecha. Brenda era consumidora assídua das pulseiras, e já pagara o preço por fazê-lo.

 

 

Ela usava exatamente por isso, já havia perdido a conta da quantidade de pulseiras suas que haviam arrebentado.

 

 

“—Ei, Brenda, não quer me dar uma dessas?” – Perguntou tranquilamente, sorrindo para a menina.

“—Pode até pegar mais de uma se quiser…” – Falou, e riu maliciosamente ao ver o menino abusar de sua boa vontade e pegar de algumas cores.

 

 

Ele havia ganho um relógio preto e dourado, de seus tios, por este motivo pegara uma preta e uma dourada. Pegou também uma vermelha, afinal, a camiseta que costumava ir para a igreja era vermelha.

Para ser mais específico, ele pegou variadas pulseiras, recusando apenas a cor-de-rosa. Não gostava dessa cor.

 

 

“—Me deixa partir a preta?” – Indagou pervertida, lambendo os lábios ao olhar para o menino.

“—Oras, mas é claro que não! Acabei de ganhá-las!” – Contestou abraçando bem seus materiais da escola e correndo até a sala de aula.

 

 

A manhã passou sem delongas, aulas razoavelmente chatas, professores passando pilhas de exercícios, alunos conversando, brigando, se pegando nos corredores.

Tudo normal demais. Tanto, que chegava a ser irritante, maldita rotina que não mudava nunca.

 

A hora da saída era esperada por quase todos os alunos da escola. As excessões eram os alunos que vivia presos em casa e só podiam aprontar na escola, ou então os nerds que mesmo quando as aulas terminavam iam infernizar os professores, que também estavam ansiosos para chegar em casa.

 

 

Jonathan não eram um desses nerds, apesar de inteligente, ansiava chegar logo em casa, ir conversar com seus pais e terminar os exercícios, afinal, a noite queria estar livre.

Para ir para a igreja, é claro.

 

 

O sinal tocou e os alunos guardaram suas coisas e correram para a saída, tomando as direções de suas casas, ou esperando os ônibus. Até mesmo esperando seus pais.

Jonathan era um dos que ia a pé. Ia sozinho, não tinha medo do caminho até seu calmo lar.

 

 

Caminhava despreocupado, olhando para a frente, no entanto, logo percebeu que era seguido, instantaneamente olhou para trás, tendo certeza de sua tese. Era seguido por três outros garotos.

 

 

O do centro, era baixinho, talvez dez ou quinze centímetros menor que o loiro. Ele tinha os cabelos bem pretos, cortados apenas um pouco abaixo do queixo, um pouco bagunçados. Seu físico era esguio, andrógino, mas ele tinha certeza de que era um menino por conta de seus olhos azuis e apertadinhos e sua boca fina. Aqueles três estavam perto o suficiente para ele perceber detalhes e ele percebia que o menor dos três era sim, realmente bonito.

 

 

O que estava mais a esquerda também tinha os cabelos escuros, negros como breu, no entanto, compridos, quase na cintura, presos num rabo de cavalo. Seu porte era atlético, tinha músculos bem definidos, e isso era visível graças a suas roupas coladas ao corpo.

 

O terceiro, que estava posicionado mais a direita, era quase idêntico ao da esquerda, contudo, seus cabelos eram ruivos e presos numa trança folgada que não passava do meio de suas costas.

 

Era um trio bastante bizarro se fosse observar bem. Dois gêmeos –um ruivo e um moreno- e um garoto baixinho, que parecia liderar os outros dois bem maiores.

 

Os três estavam usando camisas iguais, negras com alguns desenhos que eram misturas de linhas, círculos e curvas brancas. As blusas pareciam ser todas do mesmo tamanho, porém, enquanto nos gêmeos ficava rente ao corpo, denunciando seus músculos bem trabalhados, no moreninho chegava quase ao meio das coxas, dando a impressão de que ele era ainda menor.

 

 

Jonathan preferiu não ficar ali, discutindo com ele mesmo as bizarrices daquele pequeno grupo, optou por continuar andando, talvez eles não o estivessem seguindo afinal.

 

Erro seu.

Olhou mais uma vez para trás, não mais os visualizando, entretanto ao andar mais um pouco, bateu de frente com eles que haviam entrado por uma cadeia de becos e parado a sua frente. Fora muito rápido. Os gêmeos bem maiores que Jonathan estavam a sua frente, sérios, enquanto que o menor de todos ali, portava no rosto um sorriso discreto, olhando fixamente para o loiro com suas orbes azuis e frias.

 

 

“—Hmm… Então quer dizer que agora nós temos mais um usuário das pulseiras.” – Disse isso, e estendendo o braço, arrebentou a pulseira arroxeada, sorrindo ao ver uma expressão entre confusa e assustada no rosto do loiro.

 

 

Não esperou ele contestar ou algo do gênero. Aproximando-se perigosamente de Jonathan, enlaçou sua cintura com uma mão, enquanto com a outra puxava seu rosto para baixo, invadindo a boca do garoto habilmente com sua língua curiosa, que não parava sequer um segundo de avaliar aquela cavidade, tocar aqueles lábios de uma maneira quente, luxuriosa, arrancando todo o fôlego do loiro ali.

O menor passava seus dedos pela nuca e cintura do outro, dando chupões na língua deste, afastando-se um pouco para mordiscar seus lábios e em seguida voltando a atacar-lhe a língua, envolvendo as duas, fazendo uma dança num ritmo único.

Demorou bastante para afastar-se. Sem dúvida, o pequeno tinha um ótimo fôlego.

Claro que Jonathan tentava afastá-lo, debatendo-se, no entanto, por estar tão perplexo não tinha tanta força, isso sem mencionar que o menor apesar do físico magro tinha muita força nos braços.

 

 

“—Você tem uma boa boca…” – Murmurou limpando os lábios com as costas da mão. “—Tem gosto de menta…”

“—Ei Chris…” – Falou o moreno maior, olhando para o outro gêmeo, o ruivo. “—Não acha que ele foi rápido demais? Digo… Ele nem falou com o menino…” – Ele sussurrava para seu irmão, olhando de soslaio para o moreno menor.

“—Não. Ele está usando as pulseiras, se está usando isso, é porque estava dando permissão. Lembre-se que estamos aqui para quebrá-las.” – Sussurrou sério, sem olhar para o moreno.

“—Chris, seu irmão é muito burro, explique para ele que se não quiser arrebentar as pulseiras, devolva-me a camisa.”

“—Não! Ele quer… Não é Rafael?!” – Fuzilou o moreno com o olhar, ao passo que este acenava positivamente com a cabeça e os olhos levemente arregalados.

 

 

Pareciam estar em um mundo paralelo, os três ali conversando. Tanto, que Jonathan achou que o caminho estava livre para ele se retirar. Teria que se confessar e pagar penitência pelo resto da vida por ter sido beijado por um homem. Era um pecado absurdo!

Ele se virou ainda ofegante, disposto a sair correndo dali, porém, teve o braço segurado pelo menor, que o analizava de baixo para cima.

 

 

“—Por que fez isso!?” – Indagou o loiro revoltado, olhando novamente para o pequeno.

“—Porque você estava com as pulseiras, oras… A roxa me dá direito a um beijo, se bem que você nem me beijou, ficou parado como uma estátua. Agora você vem conosco, tem mais algumas pulseiras que podemos arrebentar.” – Falou puxando-o pelo braço.

“—Não vai me levar para canto nenhum, eu tenho que ir para casa!”

 

 

O pequeno parou por alguns segundos, voltando a aproximar-se do cristão que levou as mãos a boca, numa espécie de proteção.

 

 

“—Calma, eu não vou te morder.” – Falou lançando-lhe um olhar de desaprovação.

 

 

O menor abraçou Jonathan, passando as mãos por seus bolsos e tirando seu celular dali. Ele sorriu vitorioso, balançando o aparelho em frente ao rosto do loiro.

 

 

“—Sua mãe vai ficar orgulhosa de você.” – O moreninho sorriu e começou a andar, murmurando algo para os gêmeos, que acenaram positivamente e começaram a arrastar Jonathan enquanto seguiam o moreninho.

 

 

“—A propósito... Qual é mesmo seu nome?”

“—Jonathan, e o seu?” – Indagou, remexendo-se enquanto seus braços eram puxados pelos gêmeos.

“—Não lhe interessa, só me chame de ‘Dom’.”

“—Mas Chris…” – Falou o moreno maior. “—O nome dele não é…” –Não terminou de falar pois recebeu um tapa na nuca, tapa este desferido por seu irmão.

“—Cala a boca Rafael.”

 

 

OoooOoooOooo

 

 

O caminho foi longo, cheio de discursões por parte de Rafael e Chris que sempre eram repreendidos por Dom.

 

O moreno menor parecia ciente de tudo o que acontecia ao seu redor, por isso, quando chegava perto de algum lugar onde tinha muita gente, segurava na camisa do Rafa e o chamava de ‘Oni-sama’.

 

Jonathan não podia falar nada, se reclamasse era punido por Chris, que obedecia ao Dom cegamente.

Havia levado socos no estômago e tapas no rosto, por isso, o loiro resolvera se aquietar.

 

 

“—Finalmente chegamos… Já estava cansado de tanto andar, sem falar que estou com sede e com fome.” – Reclamou Rafael, o ruivo, abrindo enormes portões de ferro e começando a andar por um caminho de pedras, ladeado por árvores frondosas.

 

 

O lugar era esplêndido, o cheiro de eucalipto tomava conta da enorme propriedade. Rafael ia na frente, quase correndo em direção a enorme porta de madeira com dobradiças e maçaneta de prata.

 

 

“—Rafael! Você não é o dono da casa! Tenha paciencia…” – Falou Dom, fazendo um sinal para Chris vir trazendo Jonathan enquanto ele corria até a porta, tocando a campainha.

 

 

Segundos depois, uma garota de aparentes dezoito anos abriu a porta. Ela estava usando um vestido negro, com babados brancos. Seus cabelos eram castanho-claros, presos num coque alto e seu rosto era pálido. Ela era muito bonita. Fez uma exagerada reverência para Dom, que a ignorou e adentrou na casa, sentando-se em um sofá, esperando os outros três entrarem na aparente mansão.

 

Rafael só entraria depois de Chris, era uma espécie de hierarquia…

 

O ruivo soltou Jonathan lá dentro, e este viu que Dom o mandava sentar. O loiro não contestou a ordem e sentou-se em um sofá, olhando para seus próprios joelhos.

 

 

“—Aílla, pegue algo para bebermos e comermos… Ah, e prepare meu banho.”

 

 

Ela nada disse, apenas fechou a porta ao ver Chris e Rafael finalmente passarem e sumiu em uma das salas, indo provavelmente fazer o que ‘Dom’ havia pedido.

 

 

“—Está com fome, Jonathan?”

“—Não, obrigado…”

“—Mas você vai comer. Vão esperar eu terminar meu banho e almoçaremos, assim, poderei quebrar suas outras pulseiras.” – Olhou para o loiro, que continuava parado, quieto. “—Fique tranquilo, serei gentil.”

 

 

Ele falou isso e levantou-se, caminhando para uma outra sala.

Era praticamente impossível não admirar a beleza daquele pequeno garoto. Seus gestos eram leves, assim como suas feições, que mostravam claramente qualquer que fosse a sua expressão.

Os cabelos quase femininos, repicados, ladeando aquela face pálida, bem desenhada. Ele nem ao menos parecia real. Seus movimentos eram tão leves que o garoto parecia flutuar sobre o chão de mogno.

 

 

Sem falar naquela enorme mansão, o mínimo que se pensaria, era que pertencia a algum milionário que gostava de conforto e beleza. Era tudo decorado com um bom gosto ímpar. O chão de mogno, assim como os móveis amadeirados. Os que não eram assim, tinham a cor vinho, que era idêntica a das cortinas.

 

As paredes eram brancas, quebrando o clima pesado que a madeira e o vinho ocasionavam.

 

Num canto daquela grande sala, havia uma estante também de mogno, com compartimentos cujas portas eram de vidro. Os compartimentos todos, estavam recheados de garrafas de bebidas caríssimas, desde vinho até vodka.

 

Jonathan começou a pensar na possibilidade do ‘Dom’ ser algum ‘filhinho de papai’, do tipo que tem tudo e que vai em busca de bobagens, fazer algo irresponsável só para chamar a atenção de sua família. Ele não aparentava ter mais de quinze anos. Após refletir por alguns instantes, Jonathan resolveu se manifestar, queria saber mais sobre o pequeno.

 

 

“—Rafael…” – Sabia que nada conseguiria se fosse tentar conversar com Chris, ele parecia fechado demais.

“—O que foi, loirinho?” – Rafael não era exatamente ‘burro’, ele só se afeiçoava com facilidade às pessoas e era um pouco incoveniente, além de gostar de falar.

“—Quantos anos tem o Dom?”

“—Sabe que eu não tenho certeza? Eu acho que são dezessete… Dezoito… Ei, Chris, quantos anos ele tem?”

“—São dezenove.” – Respondeu seco o gêmeo ruivo, sem dar atenção a conversa. Parecia que não havia nada de mais em falar da idade do Dom.

 

 

No entanto, dezenove anos?! Ele não parecia ter mais de quinze! Aquele corpo esguio, as feições andróginas… Ele tinha a voz realmente grossa, mas Jonathan nunca associaria isto ao fato de ele ser tão mais velho.

Certo, não era tão velho assim, o próprio loiro tinha já dezessete anos, mas pelo fato de o outro ser menor que ele…

 

 

“—Dezenove?!” – Indagou assustado, olhando para Chris. No entanto, quem fez um comentário foi o moreno, o Rafael.

“—É! Nem parece, não é? Quando o Chris disse que eu teria que andar com ele também, eu fiquei incomodado, mas ele é inteligente, e pode até ser carinhoso quando quer. Pena que ele só faz isso com o Chris.” – O moreno era mesmo tagarela, chegava a ser engraçado.

 

 

Rafael era do tipo com quem Jonathan conversaria, mas a presença intimidadora do irmão deste, cortava todo o ‘clima’. Se não estivesse tão ansioso para sair dali e chegar em casa, conversaria sobre assuntos mais divertidos e fúteis com o moreno.

 

 

“—Mas porque vocês andam com ele?”

“—Vocês não tem nada melhor para falar, não?” – Disse Chris, com uma voz de repreensão. Ele era assustador. Felizmente não demorou para o ruivo levantar e ir até a cozinha, parecia óbvio que o assunto o irritava, ou constrangia… Quem poderia saber?

 

 

Jonathan olhou um pouco incomodado para o ruivo que se retirava, a curiosidade estava atacando-o novamente, no entanto, achou melhor não tocar no assunto.

Ao menos por enquanto.

 

 

“—Ei, Rafael.”

“—Me chame de Rafa… E eu acho que é melhor não falar sobre isso, meu irmão ficou irritado.” – Falou com a voz um pouco trêmula, olhando para a  porta pela qual o ruivo havia passado.

“—E ele manda em você, Rafa?” – Indagou levantando e sentando ao lado do moreno, olhando-o.

“—Só vou falar, porque gostei de você, garoto. Que isso fique bem claro.”

“—Aham!”

 

 

Tudo começou a mais ou menos… Hmm… Um ano, ou um ano e alguns meses.

 

 

“—Rafa, não precisa ser tão específico!” – O loirinho sabia que um dos dois que haviam saído podiam voltar a qualquer minuto.

 

 

Certo, certo. Bem, eu tinha apenas quinze anos, assim como meu irmão. Eu não iria a escola neste dia pois estava doente. Após um dia que para mim foi completamente tedioso, o Chris chegou em casa, com os cabelos sempre arrumados completamente bagunçados e com o rosto avermelhado, ele estava ofegante.

 

“—Ei, Chris, o que aconteceu?”

“—Nada! Não foi nada!”

 

Nós tinhamos nos mudado a pouco de uma cidade maior, era a capital, lá já tinham dessas pulseiras, mas elas não significavam nada. Meu irmão que sempre gostou de preto, tinha um monte delas.

Tinhamos um ritual. Todos os dias, minutos antes de dormirmos –nós sempre dormimos juntos, numa cama de casal, nunca brigávamos--, eu contava as pulseiras dele e ele contava as minhas.

As minhas eram roxas, as dele eram pretas. Cada um de nós, tinha exatamente vinte e oito delas.

 

Mas neste dia, quando fomos contar nossas pulseiras, ele tinha apenas vinte e sete. Eu ainda não estava bem, ninguém sabia o que eu tinha, talvez uma virose, quem sabe. Podia ser também o fato de eu não estar me adaptando ao clima dessa cidade.

 

Passei mais de uma semana em casa, na cama sempre, e a cada dia que ele voltava da escola, tinha menos uma pulseira, e sempre voltava exausto, bagunçado e ofegante.

 

 

“—Rafa, você não perguntou porque ele sempre voltava com uma pulseira a menos?”

“—Ele ficava corado e me dizia que tinha perdido.”

 

 

Bem, algum tempo depois eu melhorei, então finalmente poderia conhecer a nova escola. Na noite anterior ao meu primeiro dia de aula, o Chris brigou comigo.

 

“—Você não vai para a escola com essas pulseiras!”

“—Ei, Chris, você não manda em mim, e outra coisa… Você vai com as suas para a escola, porque eu não posso ir?”

 

Nós brigamos muito, só que a noite já estávamos bem… Eu sempre gostei muito do meu irmão e sabia que ele gostava de mim.

 

Quando fomos contar nossas pulseiras, antes de eu tirar as minhas, o Chris arrebentou uma delas e me beijou.

Eu já havia beijado muitas garotas, fazia sucesso de onde vim, mas o beijo do meu irmão… Era calmo, ele enrroscava sua língua na minha, e vasculhava minha boca, eu sentia um gosto bom… Gosto de geléia de goiaba, a favorita dele.

 

Parecia que ele estava pedindo desculpas por brigar comigo. No começo eu fiquei relutante, pensando sobre nós dois sermos homens, mas somos irmãos, devemos nos amar incondicionalmente, não é verdade?

 

 

“—Bem… Na verdade…”

 

 

Só nos afastamos quando o ar se fez necessário, só ouvíamos a nossa própria respiração e o vento que batia contra a janela de vidro. Eu olhava fixamente para ele, sabia que nós dois estávamos chorando, sabia o que ambos sentiam… Nós sentíamos o mesmo, éramos um só. Eu olhava nos olhos dele e implorava para que aquele momento não acabasse nunca.

 

Se não tivesse acabado, eu não estaria aqui.

 

Ele me disse que encontrou um cara de maior, mas que era pequeno e parecia uma menina, esse cara tinha chamado ele para ir até sua casa. Ele parecia inocente, Jonathan…

 

Quando meu irmão estava tomando sorvete, aqui mesmo nessa casa, neste sofá onde estamos sentados… O Dominique partiu a pulseira dele com só um puxão.

Meu irmão ficou irritado, mas aí o Dominique levou ele até um computador que tinha por aqui e mostrou o que significava.

 

O ‘Dom’, como pediu para ser chamado por você, sempre soube usar muito bem as palavras, por isso convenceu o meu irmão a transar com ele.

 

Então todos os dias ele transava com meu irmão por causa das pulseiras. Meu irmão escondeu o fato de eu usar as pulseiras para me proteger. Ele estava preso pelas pulseiras pretas, não poderia tirá-las.

 

Loirinho… Eles nunca se beijaram, ou sequer se abraçaram… Eu sei que o meu irmão gosta do Dominique, por isso ele o obedece, mas eu não consigo aceitar os fatos.

 

A moda das pulseiras por fim chegou aqui, Dom coagiu meu irmão a começar uma ‘caça’ às pulseiras, fazendo ‘coisas’ com quem estivesse as usando.

 

Eu sou virgem ainda, mas foi porque meu irmão fez um acordo com o Dom, ambos são legais e eu gosto do pequeno…

 

 

“—Nossa Rafa…”

 

 

O loiro estava sem palavras, olhando para o moreno que falara tudo com o rosto baixo, com a voz banhada por uma dor absurda, mas sem derramar seuqer uma lágrima. O tempo de chorar já havia ido embora, não adiantaria mais nada.

 

 

“—O acordo consiste em eu ajudá-los a capturar os usuários das pulseiras. Sinto muito Jonathan, mas você estava usando, e ainda de várias cores… Eu não posso fazer nada por você. Há uma espécie de tabela com as cores e significados das pulseiras. Amarela significa um abraço, laranja ele te dá mordidas de leve, roxa é um beijo de língua, foi a primeira que ele arrebentou, cor-de-rosa você tem que mostrar o peito, mas esta você não tem, a vermelha você tem que dançar para quem quebrou a pulseira, azul você tem que fazer sexo oral em quem arrebentou, verdes são as dos chupões no pescoço, preta é fazer sexo com quem arrebentou a pulseira e a dourada e fazer isso tudo.”

“—Mas que horror! Eu não posso fazer isso Rafa, vou ser punido por Deus!”

“—Você entrou nessa de cabeça, carinha, sinto muito.”

 

 

Aílla, a empregada, entrava na sala usando o celular do Jonathan. O plano do Dom era que ela ligasse para a casa do loiro e dissesse para os pais deste que ele estava com ela, e que chegaria mais tarde.

Como o pequeno previu, os pais do Jonathan ficaram orgulhosos, achando que seu filho finalmente virara ‘homem’.

Ele apareceu na sala só de roupão e depois dele veio Chris, que estava arrumando a mesa para o almoço.

 

Dom almoçaria de roupão.

 

Depois de todos eles comerem, deram um tempo até que o menor levara o loirinho para um quarto… Chris e Rafael também estavam no quarto.

 

 

OoooOoooOooo

 

 

Os gêmeos haviam vez ou outra trocado beijos quentes. Apesar de ambos estarem excitados eles não ousavam avançar nos toques.

 

Já o moreninho e o loiro que estavam sobre a cama, estes haviam arrebentado quase todas as pulseiras, só restavam a amarela e a dourada.

 

Dom estava sentado encostado na cabeceira da cama, com um cigarro de menta nos lábios e uma taça de vinho em uma de suas mãos. Jonathan estava deitado de bruços na cama, exausto, envergonhado, sentindo-se completamente sujo, apesar de tudo, ele havia gemido e implorado por alívio várias vezes.

 

O loirinho sentia uma dor forte em sua entrada, Dom havia dito que cuidaria dele e o levaria na escola no dia seguinte.

Já era quase meia noite, o maior, Jonathan, ficara ali estirado, sem conseguir dormir por causa da dor.

 

Dom tinha mandado os irmãos embora por volta das oito da noite, estes pareciam a cada segundo mais próximos.

 

 

“—Amanhã te levarei a escola e irei te buscar para arrebentarmos a última pulseira.”

“—Última? Mas ainda tem duas… Ou estou ficando louco?” – Falou com a voz por um fio, saindo dolorida.

 

 

Dom puxou as cobertas, jogando-as sobre ele e Jonathan, puxando do punho do maior a pulseira amarela e o abraçando, dormindo daquela forma.

 

Misteriosamente depois de alguns instantes, o sono embalou também o loirinho.

 

 

Só sobrara a dourada.

 

Ao menos, até o dia seguinte.


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Notas finais do capítulo

N.A./ A ideia desta fic me veio quando eu estava na igreja… Não me apedrejem!
Sério, eu estava lá, assistindo a missa e daí me veio esta ideia a cabeça, eu ia cantar no coral, por isso tive que anotar a ideia principal no jornalzinho da igreja. ><’’’

Sinto que ainda preciso me preparar mais até escrever um lemon, ou até um lime. Por isso, a fic ficou assim…

Mas eu gostei! O que vocês acharam? Me critiquem, me elogiem ou qualquer coisa assim, mas comentem! É minha primeira oneshot

Atenciosamente,


L. Kathar ~b29;