Era uma vez uma babá... escrita por Thays


Capítulo 2
Capitulo 1 - Seja bem vindo Cold


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura



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Acordei com meu despertador berrando ao pé do meu ouvido. Assim que abri os olhos vi que eram 6 horas da manhã. Como eu gostaria de poder dormir mais 1 hora, mas não... Eu tinha um dia cheio pelo frente.

 Levantei-me, troquei de roupa e arrumei minhas coisas pra escola. Sai do meu quarto e fui direto para o de Ariel. Assim que entrei ela estava dormindo num sono profundo abraçada ao seu ursinho, com a chupeta pendurada na boca.

 Não sabia mais o que fazer pra ela largar aquele troço, ela já estava grande demais pra isso.

—Ariel – a chamei e ela nem se moveu. Abaixei-me ao seu lado e tirei sua chupeta. Ela resmungou. – Acorda monstrinho, você tem que ir pra escola.

Ela abriu os olhinhos devagar e me fitou fazendo biquinho. Eu ri.

—Não quelo ir – disse emburrada.

 Me deu as costas e virou para o outro lado como se eu não estivesse ali.

—Ah não? Quer ficar burrinha igual à tia Ney? – perguntei e ela riu. A nossa tia Ney que vinha cuidar da gente de vez em quando era tão alienada que eu tinha certeza que Ariel com 4 anos era mais inteligente que ela. – Vamos levante ou vamos se atrasar.

 Tirei-a da cama e a ajudei a vestir seu uniforme, ela ainda estava meio dormindo quando descemos pra cozinha. Ela sempre ficava sentada no balcão me encarando enquanto eu fazia o seu café da manhã.

 Ariel e eu éramos um pouco parecidas graças à genética forte da minha mãe. Tínhamos o cabelo ruivo, porém o dela era mais escuro que o meu, quase castanho. Nossos olhos um pouco puxados também eram iguais, mas meus olhos eram azuis e o da Ariel castanho escuro. Ah e tínhamos covinhas no mesmo lugar da bochecha.

Ela era basicamente parecida com o pai, pelo pouco que me lembrava dele, e eu infelizmente com a minha mãe já que não tinha como comparar com meu pai pois nunca o conhecei.

—Bom dia – minha mãe desceu a escada já pronta no seu uniforme de camareira e sem olhar na nossa cara pegou uma xícara de café e saiu, – Tchau meninas!

 Eu respirei fundo sem dizer nada. Já estava acostumada com sua ausência e falta de preocupação.

 Eu e Ariel comemos panqueca no café da manha as pressas, pois estávamos atrasadas. Enfiei-a no carro e dirigi até sua escola que ficava 10 minutos de casa.

—Hoje a senhora Poots vem buscar você na escola, mas eu prometo que não demoro pra ir te pegar – avisei assim que chegamos.

—Eu preferia ir trabaliar com você – disse abraçada no ursinho.

—É trabalhar – a corrigi e ela revirou os olhos – E hoje não dá pra eu te levar ta bom. – a ajudei a descer do carro e dei um beijo na sua bochecha – Se comporta e até mais tarde.

 Fiquei olhando até ela entrar na escola. Depois voltei para o carro e voei em direção da minha. Era complicado levar Ariel sempre comigo, era mais uma pra eu dar conta, mas como a mãe da Nicole se ofereceu hoje pra busca-la eu não recusei. Não to podendo negar ajuda.

 Assim que cheguei à escola, Becca estava me esperando no estacionamento. Sua cara não era de muitos amigos, não que ela fosse sempre bem humorada.

—Bom dia Becca – disse andando até ela.

Ela revirou os olhos agitando as mãos no ar, exasperada.

—Que Buenos dias o que – resmungou – Dios mio, são 8 da manhã e Nicole já causou outra vez. – disse apertando os olhos com a ponta dos dedos. Parecia uma mãe preocupada.

Quando ela estava nervosa misturava o espanhol em tudo que falava. Nem sempre eu entendia.

—O que houve agora?

—Santo Dios, não sei, só ouvi uma gritaria e ela foi arrastada pra diretoria de novo – me encarou cruzando os braços enquanto a cabeleira escura e cacheada caia por cima dos seus ombros – E ai, vamos lá?

—A gente não tem escolha né – dei de ombros.

Rebecca falava inglês muito bem só que sua língua materna era o espanhol, então na sua casa ou quando ela fica nervosa ela desembestava a falar tudo misturado.

 Já Nicole era uma criatura muito complicada de se conviver, ela tinha um gênio muito difícil e a criação dela não ajudava muito. O lema da família Poots era, o que não se pode resolver no dialogo resolvemos no soco e ela leva-la isso a serio.

 Becca e eu já perdemos a conta de quantas vezes tivemos que livrar ela de mal bocados por causa da sua língua solta.

Caminhamos pelo corredor da diretoria e eu podia ouvir os gritos da diretora lá de dentro, tinha alguns alunos do lado de fora bisbilhotando e nos encarando.

Eu e Becca ficamos do lado de fora esperando por ela cerca de uns 15 minutos até ela sair de lá de dentro com a maior cara de debochada e como se nada tivesse acontecido. Nicole tinha o cabelo loiro escuro, era Chanel de bico e seu estilo era meio indefinido, tudo dependia do seu humor. Hoje, por exemplo, ela parecia uma patricinha, de vestido e saltos e maquiagem impecável. Sim ela parecia uma Barbie. Mas era só abrir a boca que ela já parecia um traficante do morro e fazia desaparecer todo o encanto.

 Rebecca já era o contrario, tinha traços fortes mexicanos, olhos e cabelos escuros e enrolados, sua pele era bronzeada e ela sempre se vestia com cores fortes. Hoje ela estava de saia rendada vermelha e blusa branca. Ela chamava bastante atenção, mas ela era muito na dela.

—O que você aprontou agora? – perguntei fuzilando Nicole com o olhar e ela sorriu.

—Nada ué – deu de ombros – Foi só aquela vagabunda da Amber. Ela esbarrou em mim e derrubou refrigerante no capo do meu carro. Eu só coloquei ela no lugar dela, nada demais.

 Eu a encarei desconfiada. Não existia “nada demais” com a Nicole, ainda mais quando ela ia parar na diretoria.

—Você é insana – uma garota gritou atrás da gente. Uma delas era a Amber, segurava uma sacola de gelo no rosto e estava furiosa. A outra que estava gritando com a gente, era a sua amiga. – Você esfregou a cara da minha amiga no asfalto. Qual o seu problema?

—Me segura que eu não posso me aproximar delas, 10 metros de distancia por uma semana e detenção – Nicole sussurrou pra mim se segurando e eu me puis na frente dela. – Eu ainda mato essa garota.

Mesmo tendo sussurrado a amiga da Amber escutou e tomou as dores da amiga.

—Vai ter que passar por cima de mim. – disse ela.

—EU MATO VOCÊ E AINDA USO SEU CADAVER PRA MATAR ELA! – Nicole gritou e eu e Becca nos apressamos em puxar ela pra longe.

 Quando percebi que os outros alunos estavam se amontoando a nossa volta e a diretora saiu da sala dela eu e Becca arrastamos Nicole pelo corredor.

 Eu respirei fundo no caminho. Era só mais um dia na minha rotinha louca.

—Esta cada dia mais difícil ser sua amiga – Becca disse bufando – Você da muito trabalho.

 Nicole deu de ombros não se importando. Quando chegamos à sala de aula a porta estava fechada, eu bufei irritada. Eu não podia perder mais aula, já não bastava quando eu chegava atrasada por causa da Ariel.

—Ótimo, se eu perder mais uma aula por sua causa Nicole, eu mesma quebro você – disse brincando.

—Depois eu que sou a agressiva – ela disse passando por mim – Relaxa e deixa comigo.

 Ela bateu na porta duas vezes e quando a professora não abriu, ela mesma abriu a porta e enfiou a cabeça pra dentro da sala. Eu vi de longe a professora fechar a cara pra ela.

—Senhorita Poots a aula já começou faz 10 minutos – a professora disse.

—Eu sei professora, me desculpe o atraso, eu estava na diretoria. – disse balançando o papelzinho na mão que mostrava que ela provavelmente estaria em detenção no fim do dia. – Será que eu posso entrar, não quero perder essa aula maravilhosa. – disse irônica. – Por favorzinho.

 A professora fechou a cara e cruzou os braços.

—Entrem!

Eu quis enfiar minha cara no esgoto quando a sala inteira nos encarou. Ser amiga da Nicole da nisso, você é tachada como delinquente.

[...]

Na hora da saída Rebecca não parava de falar no encontro que iria ter hoje à noite.

—Vamos comigo ao shopping, preciso comprar um vestido pra hoje! – Becca disse toda alegre.

—Quem é o safado? – Nicole perguntou.

—Não vou contar – Becca disse sorrindo envergonhada. – Você adora estragar meus encontros querendo conversar com os caras que eu vou sair.

—É o que tem de errado nisso? – perguntou.

—Você assusta eles! – eu respondi por ela e Becca gargalhou.

—Também não vou ir com você nessa droga de shopping, não precisa da minha ajuda se eu assusto seus boys! – disse fazendo draminha.

—Você não ia de qualquer jeito, esta de detenção. E eu preciso trabalhar Becca. – eu disse e Nicole mostrou a língua pra mim. – Eu preciso ir meninas, a gente se vê amanha e eu passo a noite na sua casa Nicole pra buscar a Ariel. Tchau. – disse entrando no carro.

[...]

 O apartamento da família em que eu trabalhava era uma cobertura de dois andares e ficava meia hora da escola. Eu cuidava de duas crianças de 5 anos. Anna e Benjamin, eles eram gêmeos e não davam tanto trabalho. A senhora Miller ás vezes trabalhava em casa no escritório e às vezes na empresa, o marido dela eu quase não o via, pois trabalhava muito e tinha a faxineira May que estava lá todos os dias.

Assim que cheguei foi Anna quem me recebeu na porta. Ela estava toda suja de chocolate e seu cabelo todo bagunçado.

—Vivi! – ela correu e me abraçou envolvendo os bracinhos na minha cintura. Eu sorri afagando seu cabelo. – Cadê a Ari?

—Oi linda, a Ariel não vem hoje. – disse pegando ela no colo.

—Ah, por quê? Queria brincar com ela – fez beicinho e eu sorri.

—Hoje você vai brincar comigo – disse e ela sorriu.

—De boneca? – perguntou e eu assenti. – Então vamos pro meu quarto.

Eu a ajeitei no meu colo e subi as escadas enquanto tentava tirar os pelos de pelúcia que estavam grudados no seu cabelo. No caminho para o corredor encontrei a mãe dela saindo do escritório.

—Ah, oi senhora Miller, não sabia que ia trabalhar em casa hoje. – Disse colocando Anna no chão.

—Oi vivi – ela sorriu tirando os óculos – É hoje o dia esta cheio. Escute bem, as crianças não almoçaram ainda e o Ben esta preso debaixo da cama, não quer sair de lá, e se puder arrumar o quarto deles ficarei muito grata. Ah e gostaria de saber se pode ficar um pouco mais tarde hoje, meu filho mais velho vai chegar e teremos um jantar, se puder arrumar as crianças pra mim, pois não vou ter tempo pra isso.

 Respirei fundo.

—É claro, não se preocupe com nada.

—Obrigada Vivi, você é um anjo. – ela sorriu pra mim e depois saiu ás pressas.

Ótimo, hoje ia ser um dia daqueles. Mandei uma mensagem pra Nicole avisar a mãe dela que ia chegar mais tarde pra buscar a Ariel. Passei o dia tentando fazer o Ben sair debaixo da cama, mas ele não queria de jeito nenhum.

—Qual o problema Ben? Não pode passar o dia todo ai – eu disse me agachando pela terceira vez. – Benjamin!

—Não vou sair, o Chuck vai me pegar! – disse emburrado e eu suspirei.

 Depois de horas eu consegui tira-lo de lá quando ele dormiu. Já disse a senhora Miller que não era bom eles verem filmes de terror. Ainda mais o Ben que era muito sensível. Enquanto eles dormiam eu arrumei o quarto e escolhi a roupa para a noite. Anna estava animada com a chegada do irmão mais velho.

—Eu não sabia que você tinha outro irmão – disse pra ela enquanto penteava seu cabelo.

—Eu tenho e ele é bem grande – disse distraída com a bonequinha nas mãos. – Grande assim oh. – disse levantando os pezinhos e apontando pra cima.

—Caramba – disse rindo.

 Terminei de arrumar Anna e percebi que estava atrasada. Todos os Miller estavam prontos e o jantar já estava na mesa e Ben não queria entrar no banho. Eu estava quase optando pela força bruta de tanto desespero.

 -Ben, por favor, não me faça ir ate ai te pegar – disse ameaçadora. Ele sorriu tirando a roupinha. Ótimo, gosto quando coopera comigo. De repente começou uma agitação no andar de baixo e ele ficou eufórico

 – Meu irmão chegou! – gritou.

 E saiu correndo pelado pela casa. Eu bufei e voei atrás dele. Meu deus.

—Benjamin Miller volta aqui agora! – ele gargalhou como um pestinha e correu mais rápido, virou o corredor comigo em seu encalço e desceu as escadas, quando eu ia descer atrás dele trombei em alguma coisa e cai no chão que nem fruta podre. – Merda.

 Eu abri os olhos devagar e um garoto estava me encarando no pé da escada com a maior cara de confuso. Ele definitivamente era um Miller. Era alto e tinha ombros largos, cabelos castanhos chocolate e os mesmos olhos verdes das crianças. Ele sorriu pra mim e eu fiquei sem graça quando ele me ofereceu sua mão.

—Desculpe – ele disse sorrindo torto. Aceitei sua ajuda e peguei na sua mão me levantando, mas minha alma ainda estava jogada no chão recolhendo o resto da minha dignidade. – Você esta bem? Você apareceu do nada e... Quem é você afinal?

—Ah já se conheceram? – a senhora Miller apareceu do nada com Ben no colo antes que eu pudesse responder. Engoli em seco.

—Mais ou menos – o garoto me encarou de cima a baixo.

—Essa é a babá das crianças, Viviana. Vivi este é o meu filho Cold! – disse orgulhosa.

O garoto sorriu pra mim de novo e eu fiquei vermelha de vergonha. Merda ele era tão bonito.

—Oi – eu disse num fio de voz.

—Bom te conhecer – disse e depois encarou a mãe com o irmão no colo e cerrou os olhos – Não tem comprado roupas pro Benjamim mãe? – perguntou rindo.

—Ah me da ele aqui – eu disse o pegando do colo da senhora Miller – Eu ia dar banho nele e ele saiu correndo. Deixa eu ir lá terminar de arruma-lo. Com licença.

 Eu dei as costas a eles e sai praticamente correndo e me enfiei no quarto com Ben. Queria afoga-lo na banheira por me fazer passar a maior vergonha da minha vida.

 Terminei de arruma-lo e descemos os dois, o resto da família já estava na mesa. Quando me aproximei vi que o Cold ajudava Anna a cortar sua carne no prato e eles conversavam. Meu Deus, ele era muito bonito não vou negar. Não posso ficar reparando muito nisso, pois eu trabalho na casa dele agora, mas era inevitável não notar. Ele parecia muito com o senhor Miller, o rosto sério e o cabelo num corte todo bagunçado sexy. Merda eu não posso olhar pra ele.

 Eu apareci na sala de jantar com Ben sem dizer nada e o ajeitei na mesa sentindo o olhar do garoto em cima de mim. O ajudei com a sua comida e quando ele estava se virando sozinho rezei pra que eu já pudesse ir embora.

—Senhora Miller se não importar queria saber se já posso ir, eu terminei tudo e preciso buscar minha irmã.

—Pode ir Vivi, nos vemos amanhã. – ela disse e eu respirei aliviada.

 Dei um beijo nas crianças e fugi dali sendo encarando descaradamente pelo garoto que me derrubou no chão.

 Eu fiquei um tempo sentada no meu carro refletindo sobre como eu trabalharia nos próximos dias tendo que conviver com esse garoto lindo. Pode parecer clichê, mas caramba eu não sou cega. Mas daqui pra frente eu teria que fingir que era. Era o único trabalho que aceitava minhas condições familiares, onde eu podia levar Ariel, chegar mais tarde quando minha mãe dava trabalho com as bebidas e ás vezes faltar e ainda assim recebia bem. Não estava a fim de perder meu emprego por causa de um garoto qualquer.

 Eu balancei a cabeça espantando esses pensamentos e liguei o carro indo até a casa de Nicole buscar o meu pacotinho.


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Notas finais do capítulo

Mandem comentários se estão gostando ou não da historia. A opinião de vcs é o que me motiva.

Espero que tenham gostado desse primeiro cap, nos vemos no segundo capitulo. Bom fim de semana!



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