O Véu do Entendimento escrita por Madame Andrômeda
Perambulando pela loja de matérias de construção, ela pensou na sua própria casa.
Ou na falta dela.
A variedade notável de todos os tipos de arranjos cujo seus propósitos estavam em auxiliar na melhoria ou na formação de um lar, traziam à tona uma reflexão específica na mulher que vagava sem rumo pelo recinto.
Ela havia chegado ali através de turbulentos pesares. Estando à deriva da solidão instalada no fundo do seu peito – tal que apertava e latejava sob a nébula de suas memórias – passou a trilhar caminhos inusitados apenas para tentar fazer parte do mundo exterior, tentando ao máximo distanciar-se da dor habitada no seu interior.
Ao observar a área de azulejos para janelas, viu-se nos reflexos da vidraça iluminada pela luz branca do ambiente. Reparou na sua faceta atual, sua face opaca transferida entre pigmentos violetas. O olhar vazio cravado em suas írises castanhas-escuras era ressaltado pelas suas pupilas ocas.
Logo a diante em seu percurso, inspecionou o terreno onde haviam derivadas portas em exibição. Refletiu sobre adentrar uma casa montada em sua imaginação dado o acesso de uma das portas que mais cativara a sua atenção.
Locomoveu-se para os balcões bem distribuídos de cozinha, nesse espaço, era fácil localizar alguns utensílios básicos de culinária. O cheiro impregnado o ar era o de objetos novos de fabricação e a mulher queria tanto fazer parte desse cenário de inovação.
Mármore, madeira, argila.
Blocos de tijolos, latas de tintas.
O longo corredor que seguia em linha reta oferecia tudo isso.
A proposta de uma construção de algo novo ou o ajuste de algo velho.
Queria tanto ter a capacidade de encontrar equipamentos para a reconstrução de si mesma com a mesma facilidade que poderia arranjar produtos para a sua casa imaginária.
Ainda assim, sabia o quão poderia ser trabalhoso preencher cada lacuna de cor e cada cômodo de conforto. Mas haviam instruções a serem seguidas para cada tarefa.
Em si, não existiam pistas claras para serem acompanhadas.
Só havia a névoa mental, o pesar, alguns exercícios de pensamento que eram raros de se surgirem efeitos duradouros devido sua insuficiência de fortalecer-se em meio as advertências. Estava a sós, afinal.
Casas são feitas para abrigar. Para confortar e para se viver.
Corpos são feitos para abrigar o próprio ser.
Em ambos casos, a solidão os arruinaria.
Pois uma casa sem cuidados é tal como um corpo sem cuidados. Vazia, sombria e caindo aos pedaços. O corpo sem vida é semelhante a essência da casa já em ruínas.
A mulher que divagava pela loja de construções não tinha forma. Já não tinha mais vida. Estava em ruínas e sozinha da maneira mais absoluta possível. Sozinha em sua angústia, em sua mente, em sua prisão de arrependimentos passados que eram apenas translúcidos no sofrimento constante de sua alma penada.
E seus olhos, tais considerados as janelas da alma, se fecharam entre lágrimas pesadas provinda de sua reflexão de consciência final, assim que o interruptor da luz do ambiente fora enfim desligado.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
O véu é um tecido transparente que pode ser usado para cobrir ou esconder alguma coisa. Normalmente é uma metáfora usada para aqueles que tem o pretexto de esconder uma realidade.