O Véu do Entendimento escrita por Madame Andrômeda


Capítulo 1
a névoa que a cerca.




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Perambulando pela loja de matérias de construção, ela pensou na sua própria casa. 

Ou na falta dela. 

A variedade notável de todos os tipos de arranjos cujo seus propósitos estavam em auxiliar na melhoria ou na formação de um lar, traziam à tona uma reflexão específica na mulher que vagava sem rumo pelo recinto. 

Ela havia chegado ali através de turbulentos pesares. Estando à deriva da solidão instalada no fundo do seu peito – tal que apertava e latejava sob a nébula de suas memórias – passou a trilhar caminhos inusitados apenas para tentar fazer parte do mundo exterior, tentando ao máximo distanciar-se da dor habitada no seu interior. 

Ao observar a área de azulejos para janelas, viu-se nos reflexos da vidraça iluminada pela luz branca do ambiente. Reparou na sua faceta atual, sua face opaca transferida entre pigmentos violetas. O olhar vazio cravado em suas írises castanhas-escuras era ressaltado pelas suas pupilas ocas. 

Logo a diante em seu percurso, inspecionou o terreno onde haviam derivadas portas em exibição. Refletiu sobre adentrar uma casa montada em sua imaginação dado o acesso de uma das portas que mais cativara a sua atenção. 

Locomoveu-se para os balcões bem distribuídos de cozinha, nesse espaço, era fácil localizar alguns utensílios básicos de culinária. O cheiro impregnado o ar era o de objetos novos de fabricação e a mulher queria tanto fazer parte desse cenário de inovação. 

Mármore, madeira, argila. 

Blocos de tijolos, latas de tintas. 

O longo corredor que seguia em linha reta oferecia tudo isso. 

A proposta de uma construção de algo novo ou o ajuste de algo velho. 

Queria tanto ter a capacidade de encontrar equipamentos para a reconstrução de si mesma com a mesma facilidade que poderia arranjar produtos para a sua casa imaginária. 

Ainda assim, sabia o quão poderia ser trabalhoso preencher cada lacuna de cor e cada cômodo de conforto. Mas haviam instruções a serem seguidas para cada tarefa. 

Em si, não existiam pistas claras para serem acompanhadas. 

Só havia a névoa mental, o pesar, alguns exercícios de pensamento que eram raros de se surgirem efeitos duradouros devido sua insuficiência de fortalecer-se em meio as advertências. Estava a sós, afinal. 

Casas são feitas para abrigar. Para confortar e para se viver. 

Corpos são feitos para abrigar o próprio ser. 

Em ambos casos, a solidão os arruinaria. 

Pois uma casa sem cuidados é tal como um corpo sem cuidados. Vazia, sombria e caindo aos pedaços. O corpo sem vida é semelhante a essência da casa já em ruínas. 

A mulher que divagava pela loja de construções não tinha forma. Já não tinha mais vida. Estava em ruínas e sozinha da maneira mais absoluta possível. Sozinha em sua angústia, em sua mente, em sua prisão de arrependimentos passados que eram apenas translúcidos no sofrimento constante de sua alma penada. 

E seus olhos, tais considerados as janelas da alma, se fecharam entre lágrimas pesadas provinda de sua reflexão de consciência final, assim que o interruptor da luz do ambiente fora enfim desligado. 


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Notas finais do capítulo

O véu é um tecido transparente que pode ser usado para cobrir ou esconder alguma coisa. Normalmente é uma metáfora usada para aqueles que tem o pretexto de esconder uma realidade.



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