Belo Vestido escrita por Jenn Writer


Capítulo 6
Parte I - Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Oláaaa galera, mais um capítulo pra vocêssss



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CAPÍTULO 6

POV Nick

Depois de ter tomado meu banho, tentei apenas me jogar na cama e dormir. Mas acabei relembrando o acontecido de hoje com Yuri, e inevitavelmente, o episódio semelhante com Melissa acabou vindo à minha mente também.

O céu estava nublado, ameaçando chover. Mesmo assim, ela insistiu para que descêssemos à quadra. Queria me ver jogando. É claro que eu não consegui dizer não para ela. Pra ser sincero, nem tentei. Melissa sempre soube como me dobrar a suas vontades, era tipo um dom. Ela tinha aquele jeito de menina mimada que nunca se contentava em não conseguir o que desejava. Foi acostumada a ser assim primeiro pelos pais, depois pelas amigas e em seguida pelos namorados. Para alguns, isso era um defeito irritante. Mas como todos sabem, o amor é cego, e eu não conseguia ver um palmo à minha frente com ela.

Saímos de casa de mãos entrelaçadas e caminhamos até a praça. Infelizmente, Mônica e eu já estávamos aqui com Patrick, como que por ironia do destino, foi a primeira e a última vez que eu trouxe Melissa até essa casa. Mas não seria a última vez em que ela esteve aqui. Enfim, fizemos o trajeto simples e ela se sentou em um murinho de cimento que ficava ao lado da quadra, com os tornozelos cruzados e um sorriso disfarçado dirigido a mim. Um sorriso só meu. Meu peito se encheu só de pensar em como eu era sortudo. Como eu poderia sequer desconfiar que aquele dia ia ser uma merda?

Começamos a jogar, Roger e eu no mesmo time. O time oposto estava forte, mas não eram páreos, ainda mais quando um de nós tinha um bom motivo para ganhar. Quando fazia cestas mais elaboradas, dava uma olhada para a esquerda, onde podia uma Melissa sorridente piscando pra mim e às vezes sussurrando “você é o cara”. Roger e eu estávamos mais entrosados do que nunca, parecia que ele conseguia sentir minha vontade de impressionar a Mel, e estava me ajudando pra caramba com isso. Os outros caras que estavam conosco também não estavam nada mal. Não ventava muito, a chuva que poderia atrapalhar tinha decidido não cair, apesar do céu fechado, e devido a isso também não fazia sol forte. Tudo estava muito bom para ser verdade.

Yuri sempre morou por aquela vizinhança, então ele costumava jogar ali antes mesmo de Roger e eu aparecermos. Isso poderia muito bem ter sido o motivo do nosso desentendimento. Inveja por estarmos ocupando espaço que era dele, por estarmos ameaçando seu domínio como melhor jogador, qualquer coisa do tipo. Mas não foi isso que nos levou aos socos. Assim que ele se escorou na grade, esperando alguém se cansar para substituir, Melissa o reconheceu. Ele ainda não a tinha visto ainda, e eu também não tinha percebido como a expressão dela foi de orgulho para preocupação em tão poucos segundos. Um dos garotos do meu time caiu com o pé mal colocado depois de pular em um arremesso e precisou sentar um pouco. Yuri tomou a posição dele, e depois de não muito tempo de jogo, ele disse para ninguém em especial:

— Aquela é a Melissa?

Eu estava com a bola na mão. Parei na hora, segurando-a. Olhei para ele intrigado, pensando em como ele poderia conhecê-la. Meus três segundos passaram e um dos caras gritou lateral.

— Mel? – Ele perguntou dessa vez olhando pra ela. Isso me encheu de confusão e raiva. Soltei a bola no chão e olhei dele para Melissa, que parecia tão surpresa quanto eu em encontrar alguém chamando sua namorada pelo apelido. Mas surpreendentemente, ela o respondeu.

— Oi, Yuri. – Quase não olhou pra mim durante a fala, e quando o fez, seus olhos pareciam nervosos. A essa altura, o rapazes já estavam mandando a gente se resolver fora da quadra, ao passo que Roger os mandava calar a boca.

— De onde vocês se conhecem? – Perguntei tentando soar calmo. Como eu disse, não conhecia Yuri há muito tempo, porque eu tinha acabado de me mudar. Mas você não precisa provar o açúcar pra saber que é doce, assim como não precisa se tornar próximo de alguém para perceber que não é uma pessoa decente. Yuri não era flor que se cheire, dizendo de forma civilizada. Já tinha ouvido que ele era um traficante. Alguns diziam que era só maconha, outros diziam que tinha coisa mais pesada no meio. Mas não me importava o que fosse, eu não o curtia por isso. Alguém poderia dizer que eu sou do tipo intolerante, que eu preciso aceitar que assim como eu bebo minha cerveja, outros usam uma maconha. Mas eu conheço suficientemente até onde só um pouquinho de maconha pode levar alguém, e eu sempre me oporia a isso.

— Eu e Mel éramos bem próximos há algum tempo... – Yuri deu um sorrisinho de canto, e meu sangue subiu.

— Como é? – Dei um passo à frente. Melissa se levantou e veio entrando na quadra, caminhando na minha direção.

— Calma, amor. – O fato de ela estar perto dele, mesmo que a intenção fosse estar perto de mim, me incomodava. Será que eu era um pouco ciumento?

— Por sinal, antes da sua namoradinha virar um mocinha direita, nós frequentávamos as mesmas festas. Naquela época ela tinha bom gosto pra companhia. – Ele soltou a última frase como se estivesse cuspindo. Olhei pra ela esperando que negasse, mas não foi o que ela fez.

— Nick, não importa o que eu fazia no ensino médio. Isso foi muito antes da gente. Esquece.

— É, Nick, esquece. Que nem eu esqueci como eu costumava levar ela pra um quarto.

Tudo aconteceu bem depressa depois dessa frase. Eu não estava planejando entrar numa briga com ele antes de ouvir isso. Apesar de estar com muito ciúmes e nervoso, eu com certeza apenas iria sair do jogo e ter uma DR com Melissa. Mas eu sempre tive pavio curto, e qualquer provocação me tirava do sério. Aquela principalmente porque, apenas uma semana antes, eu tinha ouvido de fontes não muito confiáveis, e por isso não havia dado muita importância, que Melissa era mais rodada que um prato de microondas. E posso dizer que não é muito legal ficar sabendo que sua namorada já foi pra cama com quase todos os calouros da faculdade dela. Claro que eu não era nenhum santo, mas como disse, eu era muito ciumento, então não importava o que eu tivesse feito, ela não poderia ter sido igual. Além do mais, aquele comportamento simplesmente não combinava com ela. Quer dizer, Melissa foi a garota por quem eu me apaixonei e resolvi assumir um compromisso. Logo eu, que toda semana tinha pelo menos três festas pra frequentar, e quando não, estava sempre nos bares mais cheios, e nunca desacompanhado. Ela foi quem não quis me beijar no primeiro encontro, e me mostrou que estar com alguém não se resume a beijos e rapidinhas. Por ela, eu parei de fazer muitas coisas e comecei a fazer tantas outras. Não poderíamos estar falando da mesma Melissa, poderíamos?

Não hesitei um segundo antes de partir pra cima dele. Eu já tinha feito luta, mas havia muito tempo que não treinava, o que não me impediu nem um pouco de dar um soco no queixo dele. Ele, é claro, não levou de graça. Yuri também não era um cara despreparado. Era até mais alto que eu, e apesar de duvidar que ele tivesse alguma técnica, provavelmente eram muito mais experiente em brigas de rua do que eu. Levou uma das mãos ao meu pescoço sem pestanejar e forçou minha cabeça pra baixo enquanto me prendia com uma chave de braço. Sem conseguir me soltar, aproveitei para desferir dois socos na altura do estômago dele, mas antes que conseguisse dar um terceiro, ele abaixou meu rosto mais um pouco e chocou seu joelho com força de encontro à minha cara, acertando em cheio meu nariz. Fiquei desnorteado por tempo suficiente para ele me dar uma rasteira e chutar minha costela. Quando me encolhi por reflexo, ele se abaixou para continuar o que eu tinha começado, e Roger tentou intervir.

— Chega, vocês dois! – Ele tentou conter Yuri, que o segurou pela garganta e vociferou:

— Fica quieto, que a briga não é sua.

Em seguida, ele empurrou Roger para onde Melissa estava antes de tudo começar. Nesse meio tempo, fui capaz de me recuperar, e levantei correndo na direção dele. Com meus dois braços, agarrei suas duas pernas e ele acabou caindo. Consegui ficar por cima dele, e juntei todas as minhas forças para socá-lo. Soquei seus olhos que tinham se demorado tempo demais olhando para ela. Soquei seus lábios que tinham pronunciado o nome dela de uma maneira indevida. Soquei seus dentes que tinham se aberto em um sorriso sacana assim que a viu. Soquei toda a extensão de seu rosto, como se assim que pudesse apagá-lo da mente dela. Ou talvez fosse da minha.

Fui obrigado a parar quando dois pares de mãos agarraram minha blusa, cada uma de um lado, e me puxaram com força para trás. Caí com as costas na quadra, mas não dei muita importância à dor. Estava pronto para continuar. Yuri aproveitou o livramento e se apressou em se jogar pra cima de mim e devolver tudo, mas foi aparado pelos mesmos caras que me tiraram de cima dele. Descobri mais tarde que um deles era Roger. Outros rapazes que antes de toda a confusão estavam jogando vieram me segurar. Eles conseguiram nos separar e assim que voltei da euforia, peguei Melissa pelo braço e a puxei para fora da quadra. Ela estava chorando. Ignorei isso enquanto a puxava pela praça.

— Vamos sair daqui agora. – Disse enquanto voltávamos para minha casa.

Suspirei, me lembrando perfeitamente como aquele dia foi um dos piores da minha vida. Desci e peguei um copo de água . Quando voltei, havia uma mensagem de Roger na tela do meu celular. Abri a conversa para ler.

Basquetão amanhã?

Pensei em como não seria nada bom encontrar Yuri outra vez.

Não sei se é uma boa...

Roger com certeza me conhecia e por isso sabia o motivo da minha hesitação, por isso respondeu:

Vamos antes do almoço. Talvez esteja mais vazio.

Com “mais vazio” eu sabia que ele queria dizer “menos Yuri”, e assim estava bom.

Pode ser.

Fechado.

Fechei os olhos e tentei dormir o mais depressa possível.

****

Acordei com o celular vibrando do meu lado. Meu despertador estava sem som, mas como me esqueci de colocar o celular no criado mudo ontem à noite, foi o suficiente para me despertar. Era umas 9h. Tomei uma ducha fria pra ficar bem alerta, estranhando um pouco que o banheiro parecia estar molhado e vesti minha roupa de jogo. Roger levaria a bola dele, porque a minha havia furado, então não havia mais nada para pegar. Fui trotando até a quadra para me aquecer, e chegando lá, me deparei com ninguém mais, ninguém menos que Christina batendo o maior papo com Roger.

POV Christina

Acordei sobressaltada com uma luz na cara. Tinha me esquecido de fechar as cortinas, e agora a luz do sol estava bem na minha cara. Procurei meu celular e vi que tinha descarregado. Coloquei-o na tomada e esperei ligar para ver as horas. Quase 8h. Não sei se conseguiria dormir muito mais. Decidi tomar um banho e correr um pouco na praça. Peguei uma pêra e quando estava saindo, escutei um chorinho. Virei-me e vi o pequenino pulando na minha direção, puxando a coleirinha que Pat havia comprado pra ele. Seus olhinhos pareciam falar o que ele não podia. “Me leve com você!” Não consegui resistir e saímos para uma voltinha matinal.

Ele foi cheirando cada árvore e cada poste por onde passávamos, em algumas, urinava. Eu tinha que ficar parando para esperar o bonito atender ao chamado da natureza. Quando chegamos até a praça, vi uma figura masculina na quadra em que Nick estava jogando ontem. Era um rapaz moreno, e acertava a tabela com facilidade. Estava caminhando até uma árvore quando o cachorro começou a latir para um gato deitado em cima dela. Isso chamou a atenção de dois senhores que jogavam xadrez ali por perto e do rapaz em quadra também. Ele nos olhou por alguns instantes, então soltou a bola e veio andando na nossa direção.

— Ei! – Sorriu.

— Oi.

— Você é a Christina, certo? – Olhei desconfiada, pois ainda não tinha conhecido ninguém nessa cidade além das pessoas com quem moro, e ele pareceu perceber. – Eu sou Roger, sou amigo do Nick. Tava jogando com ele ontem. – E apontou para a quadra.

— Ah, sim. – Me lembro mesmo de tê-lo visto conversando com Nick assim que chegamos. – É, nesse caso, eu sou a Christina, sim. – Rio. – Nick já explicou como eu vim parar na casa dele?

— É... mais ou menos. – Ele parece não ter certeza se deve dizer ou não, então desvia de assunto. – Esse é o novo mascote de vocês? – Aponta para o vira-lata na coleira que estou segurando.

— Pois é. Ele entrou pra família recentemente, assim como eu. – Brinco.

— Certo. E qual é o nome dele?

— Bom, ele ainda não tem um, na verdade.

— Como assim? Um cachorro anônimo? – Eu rio. - Não, vocês têm que dar um jeito nisso. Nick não quis dar nenhum nome famoso pra ele?

— Não, ele não é muito o fã número um desse cachorro, pra ser sincera.

— Ah, tá. Mas ele sempre teve ótimas ideias pra nomes. A gente sempre ficava dando nome pros cachorros que passavam na rua antiga de onde ela. Lá perto tinha um cara que dava comida pra animais sem donos, então você pode imaginar quantos cães Nick não tinha que nomear.

— Não consigo imaginá-lo fazendo isso, mas vou te dar o benefício da dúvida e lançar a tarefa de escolher um nome pra esse aqui, então.

— Falando nele, olha só.

Olho pra direção em que Roger está olhando e vejo Nick em roupas parecidas com a do moreno vindo até nós.

— E aí. – Roger o cumprimenta com um High-Five.

— Tudo bem? – Pergunta ao amigo, e depois se dirige a mim: - Não sabia que tinha saído.

— É, eu acordei cedo e vim passear com o nosso cachorro anônimo. – Uso a piada de Roger e rio olhando pra ele.

POV Nick

Fico um pouco incomodado quando vejo Roger e Christina rindo juntos, mas ignoro o chamando para jogar. Já é estranho o suficiente que ela esteja aqui junto com a gente, não preciso ficar fazendo sala.

— Você quer jogar com a gente? – Roger pergunta pra ela, o que me faz lançar um olhar quase fulminante pra ele.

— Ah, não. Vocês já combinaram e vieram vestidos pra isso. – Comenta apontando nossos shorts e regatas de times da NBA. Quase digo a ela que viemos calçados também, mas ela não deve nem saber a diferença entre uma chuteira e um tênis para basquete.

— Nada a ver, você devia jogar com a gente. – Ele insiste.

— Eu nem sei jogar basquete. Nunca joguei pra valer.

— Pra tudo tem uma primeira vez. – Me vejo dizendo, mesmo sem estar com muita vontade de que ela jogasse. Ela parece analisar minha frase e em seguida responde:

— Tá, então me ajudem a prender a coleira na grade pra esse aqui não escapar.


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Notas finais do capítulo

:) #vemcomentário



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