Rua Seis escrita por Lola Royal


Capítulo 1
Ela




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Mais um dia, outro nascer do Sol e lá estava eu, me encaminhando para a rua seis. Nos últimos meses eu tocava diariamente naquela rua, sem um emprego fixo, eu me via tendo de me virar como podia para sobreviver.

De noite, quando conseguia, tocava em bares e restaurantes, mas as manhãs continuavam sendo todas da rua seis. Eu ficava em uma praça, que desde o começo da manhã era bem movimentada, pessoas de todos os tipos  e lugares passavam por ali, indo para seus trabalhos, escolas, faculdades, ou somente passeando pela cidade.

Uma daquelas pessoas era aquela delicada garota que sempre passava por mim no meio da manhã, todo dia ela parava e me escutava tocar uma música ou duas, até seguir seu caminho. Ela parecia ter uns vinte anos de idade, tinha a pele escura e cabelos negros, como olhos bem castanhos. Seus traços não negavam sua origem, ela tinha ascendência indígena.

A garota costumava sempre usar vestidos, mesmo quando o clima era mais frio, apenas os completando com casacos e meias-calças. Ela também sempre estava com uma delicada pulseira prateada no pulso esquerdo, a única joia que eu a via usando.

No começo, ver aquela estranha parando e apreciando minha música era normal, apenas algo no meio da rotina. Então, com o passar dos dias, eu fui me vendo ansioso pela aparição daquela garota. Ela também sempre me deixava algum dinheiro na capa do meu violão, mas a grana — mesmo que necessária — não iluminava meu dia como aquela menina fazia.

Naquele dia eu estava cantando Luz que me traz paz, do Maneva, quando a garota apareceu. Sorri ao vê-la, mas meu sorriso morreu quando a vi passando direto por mim, com pressa, se parar para me ouvir tocar. Era a primeira vez que aquilo acontecia, o que quebrou meu coração.

Eu me vi passando o resto do dia pensando naquela garota, chateado por ela não ter parado, mesmo que soubesse não ser obrigação dela. Prometi a mim mesmo que da próxima vez que ela aparecesse, eu iria me apresentar a ela.

Então, no dia seguinte a garota parou, eu tocava Exagerado do Cazuza, ela bebia água de uma garrafinha transparente e vi o anel brilhando em sua mão esquerda. Uma joia simples, mas eu sabia o que indicava. Um compromisso, um relacionamento com outro alguém.

Não me apresentei, não tive coragem.

Na outra manhã, a garota não estava mais sozinha. Um cara, que devia ter uma idade próxima a dela, estava junto. Os dois estavam de mãos dadas, sorriam e se beijavam.

— Você canta muito bem — ele falou para mim, depois que terminei de cantar Hoje a noite não tem luar, do Legião Urbana, depositando uma nota de dez reais na capa do meu violão.

— Obrigado — agradeci, com os olhos fixos na garota.

Ela sorriu para mim e se afastou, junto do seu noivo. Aquela foi a última vez que a vi, eu nunca mais voltei a tocar na rua seis.

 


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Notas finais do capítulo

Beijos!

Lola Royal.

15.01.18



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