O vento suave entrava pela janela junto com o sol deixando uma temperatura agradável dentro do gabinete do capitão do segundo esquadrão, ou melhor, da capitã. Soi fong lia seus documentos com muita calma, uma calma ate desconhecida por muitos, sentada em sua mesa.  

— Soi Fong? – uma voz se fez presente na sala. Uma felicidade percorreu seu corpo ao escutar a voz de Yoruichi. Sua mentora sempre a deixava assim. 

— Yoruichi-sama – porem foi somente ao levantar o rosto que percebeu que havia algo de errado com sua musa inspiradora. Yoruichi estava com semblante visivelmente triste. – Aconteceu algo? - a chinesa perguntou. 

— Você quer dar uma caminhada Soi fong? – a voz um tanto distante fez com que a chinesa apenas afirma-se com a cabeça sem entender muito o que se passava. 

Duas horas depois ambas as mulheres estavam passeando por um antigo campo de treinamento. A temperatura estava tão agradável quanto estava dentro da sala da capitã. Os raio de sol, um tanto fraco para o horario da tarde, tocava suavemente a pele das duas. A cena poderia ser definida como linda, se não fosse o fato de Yoruichi parecer muito distante. Algo que não passou despercebido por Soi Fong foi o fato de a ex-capitã  

— Aconteceu algo com você yoruichi-sama? - a chinesa tornou a perguntar. 

— Não é nada, apenas... - um pequeno suspiro surgiu por parte da morena. 

—É aquele maldito loiro, não é? - Soi Fong falou brava – Eu vou matá-lo assim que o ver! - a mulher praticamente gritou, e tudo que escutou como resposta foi que uma gargalhada forte da sua companhia 

— Você fica muito fofa com ciúmes soi-soi! - Yoruichi falou a abraçando e apertando as bochechas, deixando a atual capitã muito corada – mas na verdade – a morena voltou a falar – realmente tem a ver com ele. 

A morena desviou o caminho em direção a uma arvore mais ao centro do campo de treinamento. A cerejeira era enorme, mostrando assim que a arvore já possuia um bom tempo de vida. 

— Eu nunca lhe contei como eu e Urahara se conhecemos, não é Soi Fong? - a chinesa, vendo o tom nostálgico de sua antiga mestra enquanto ela tocava a arvore com a mão, apenas murmurou um som de negação - Está arvore, faz parte da história... 

"Eu era apenas uma criança, quando a família Shihouin se reunia neste campo para confraternizarmos, o que acontecia frequentemente, apesar de ser dificil hoje em dia. Era um dia muito parecido com esse, agradável e calmo. Os integrantes da segurança estavam treinando, enquanto eu estava escorada nessa arvore apenas observando tudo" 

"Quando de repente escutamos um som muito alto e uma grande nevoa de poeira se formar. Todos se colocaram em posição de batalha e eu me pus de pé. De repente, de dentro da poeira, um garoto magro saiu rolando e bateu na arvore ao meu lado, e acabou cravando a espada na mesma. Ele era loiro, magro, olhos cinzas levemente esverdeados e com um sorriso idiota na cara." 

"Ele me olhou, sorriu, pegou a espada que estava cravada na arvore e saiu correndo em direção a poeira. Aquela, foi a primeira vez que eu vi um shinigami enfrentar um Hollow. A marca da batida da cabeça dele e de sua espada ainda estão nesta arvore" 

A morena passou a mão por uma mancha escura na casca dar árvore, e deu um sorriso de canto. Soi Fong, por mais que odiasse admitir isso, enxergava como Yoruichi ficava feliz ao falar do loiro irritante. 

— E você tem outras lembranças com ele neste campo? - a chinesa perguntou, tentando manter o assunto. 

— Sim – respondeu a mais velha  

 "A uns três quilômetros de distância daqui existe uma caverna e dentro dela uma cachoeira e um pequeno lago. Uma vez, eu discuti com meus pais e, ingenuamente, fugi de casa. Estava chovendo muito aquele dia, então resolvi me esconder na caverna." 

"Todos começaram a me procurar inclusive Kisuke, já éramos amigos nessa época. Eu sempre fui muito boa em esconder minha reiatsu, mas ele sempre foi muito melhor em achar uma, principalmente se fosse a minha." 

"Quando ele entrou na caverna, eu estava sentada no chão, molhada e com frio. Eu sabia que era ele que tinha me encontrado, mas eu não queria vê-lo, pois eu estava com muita vergonha do que eu fiz. Ele não falou nada e eu apenas senti algo cair sobre mim e, quando eu iria reclamar e o xingar, escutei o som de agua. Em cima de mim estava seu casaco, e ele estava apenas com as roupas de baixo dentro da água" 

"Estava fazendo uns 15°C no máximo naquele dia,mas mesmo assim ele conseguiu me convencer de entrar na água, mesmo eu falando que não sabia nadar. Mas isso não era problema para ele. Não para Urahara Kisuke. Ficamos umas quatro horas dentro da água, enquanto ele tentava me ensinar a nadar."  

"Quando saimos, acabei pegando no sono. Acordei apenas no outro dia, já em casa. Algumas horas depois descobri que o loiro tinha me levado para casa" 

— Ele deve ter se encrencado um monte não? - Perguntou a capitã do segundo esquadrão. 

— Um pouco, mas foi divertido – A morena riu alto. 

— Soi Fong – Uma voz grave atraiu a atenção de ambas as mulheres. Byakuya e Urahara tinham acabado de chegar ao local, porem as duas estavam tão imersas na história que não haviam percepido – O comandante está solicitando nossa presença - A chinesa maneou a cabeça positivamente e encarou Yoruichi, em uma silenciosa forma de aviso. 

Ambos os capitães sairam caminhando tranquilamente, em silencio. Andaram por cerca de dez minutos, até Byakuya parar escorado em uma árvore. A mais baixa o encarou sério. 

— Que merda você está fazendo Byakuya? O comandante não está esperando? - Ela perguntou um tanto sem paciencia. 

— Na verdade ninguem está nos chamando – ele falou enquanto retirava sua espada da cintura, o que colocou a capita em estado de alerta – Eu apenas fiz uma aposta com Ichigo. 

— Que tipo de aposta? -Ela viu ele colocar a sua espada de lado e relaxou um pouco. 

— Eu apostei que Kisuke iria ficar junto com Yoruichi ainda hoje, e ele que isso nunca iria acontecer. 

— Então por que estamos parados aqui? - a mulher interrogou novamente. 

— Eu meio que estava perdendo a aposta – Byakuya disse sério - Então eu tive que criar uma situação em que ambos se encontrassem – O homem cravou sua espada no chão e retirou uma pequena tela e um pequeno pássaro de metal de dentro de suas vestes, que rapidamente saiu voando. 

— Então você os manipulou? E por que especificamente hoje? - a chinesa relaxou um pouco. 

— Sim. E porque hoje é dia dos namorados Soi Fong. - o drone filmava Yoruichi e Urahara, que estavam parados no mesmo lugar. 

— E por que você está filmando eles? 

— Apenas testando as novas invenções do instituto de desenvolvimento e pesquisa - ele respondeu enquanto olhava para a tela - Você quer ver o desfecho? - ele perguntou e ela com um suspiro, sentou-se ao seu lado. 

A alguns metros dali urahara e Yoruichi se encaravam em silencio. Ele em seu habitual traje verde e com seu chapeu listrado de mesma cor. Ela vestia seu traje Shinigami preto. 

Ele observou bem os olhos dourados, que naquele dia pareciam pensativos demais, os cabelos arroxados que faziam o contraste perfeito com sua pele morena realmente a deixavam muito linda. 

— Eu não escrevi aquilo Urahara – ela falou rapido. 

— Você diz aquela carta cheia de ofensas sobre mim? - Ela travou, e ele sorriu de leve - É eu sei – Ela levantou o rosto surpresa - Você teria pego bem mais pesado – ele riu de leve, o que arrancou uma gargalhada da morena. 

— Eu estou falando sério Urahara  - ela disse após parar um pouco de rir 

— Eu também Yoruichi 

Um silencio tenso surgiu no ar, nenhum dos dois ousava em falar algo, porem ambos sabiam que algo precisava ser dito. 

— Eu me lembro dessa arvore – falou Urahara, caminhando em direção a mesma, passando ao lado da morena – ELa me lembra coisas boas – Ele se abaixou em frente ao antiga cerejeira. 

— Eu estava falando a mesma coisa para Soi fong e da caverna também. 

— Nessa arvore que nos conhecemos não é mesmo? - ela afirmou positivamente – e a caverna foi onde você aprendeu a nadar – ela murmurou algo positivamente - Você sabe que está arvore tem mais duas historias além da que nos conhecemos? 

— Duas? - ela perguntou confusa. 

— Sim – ele, vendo a cara de confusão dela, resolveu continuar – Um dia em que você e Rangiku-san sairam para beber, você saiu muito mal do bar em que estavam e acabou discutindo com Byakuya. Então, com mais uma garrafa de sake, você saiu em direção ao campo de treinamento. Eu a segui, então você se sentou aqui e começou a reclamar de como você Byakuya era um garoto mal criado por discutir sempre com você - ele deu uma risada - Você falou por quase tres horas, para então adormecer. Então, para variar eu a carreguei de volta para sua casa. - Yoruichi tinha uma vaga lembrança de isso realmente ter acontecido. 

— Qual a segunda história? - ela perguntou 

— Aqui foi o local onde damos o nosso primeiro beijo – ele falou ainda sem se virar para, apenas desenhando algo no chão 

— Qual beijo? - ela perguntou exasperada 

— Este!  

Yoruichi sentiu as mãos firmes de Urahara lhe tocar suavemente o rosto, os labios dele lhe tocaram tão sutilmente quanto o orvalho toca uma rosa pela manha. O contato dos labios fez uma corrente eletrica passasse por seu corpo e, quando ele tentou aprofundar o beijo, ela o aceitou de prontidão, suas mãos derrubaram o chapeu listrado dele para que pudesse puxar, levemente, os fios loiros. 

Quando o beijo acabou ela abriu os olhos devagar e enxergou os olhos dele. Para ela aqueles olhos cinzas levemente esverdeados nunca estiveram tão próximos de si. E para ele, os olhos dourados dela mostrou a beleza que ele tanto enxergava nela. 

— Desculpe – ele falou calmo – Eu so não poderia deixar esse... -enquanto ele procurava as palavras certas ela o cortou 

— Está tudo bem Kisuke – ela respondeu sorrindo – apenas, deixe rolar? - ela perguntou receosa 

— é... Parece bom para mim – ele sorriu e ela lhe beijou novamente. 

A alguns metros dali uma chinesa bufava enquanto assistia tudo de camarote. 

— Eu não acredito nisso?! - ela esbravejou 

— Pra quem não queria nada você está bem nervosa? - Byakuaya comentou calmo 

— E o que você tem a ver com isso?! - Ela quase gritou para ele  

— Tudo, desde o momento em que você se sentou em meu colo – ele falou com a mesma calmaria de sempre, enquanto ela corou violentamente e deu um pulo. Ela não havia percebido que tinha sentado em seu colo enquanto assistia a cena de sua mestra. 

— Nós temos que ir – ela disse já saindo a caminhar e ele apenas a se seguiu – Se você - ela se virou de súbito e apontou um dedo no rosto do Kuchiki – ousar falar o que aconteceu hoje para alguém eu juro que lhe mato – Ele apenas levantou uma mão em forma de rendição e ela voltou-se a caminhar pisando duro. 

Quando Yoruichi e Urahara finalizaram outro beijo, ele sorriu. 

— Você sabia que essa arvore é meu lugar favorito? - ele falou calmo. 

— Isso por que você não viu meu quarto – ela falou e sorriu malicioso, arrancando uma gargalhada dele. 

— Isso soa como uma ideia muito interessante, sabia? 

— Essa era a intenção. Feliz dia dos namorados Kisuke - ela falou e logo após o beijou novamente