O garoto na estação escrita por Júlia


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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 A garota apertou mais o casaco em torno de seu corpo. Faltavam poucos dias para a primavera, quando, finalmente, o clima se tornaria mais quente, mas a temperatura fria não parecia querer se afastar da cidade. Tudo o que ela podia fazer era se manter aquecida até o equinócio. Ela não achava o frio e a neve ruins, muito pelo contrário. Mas às vezes, ela admitiu para si mesma, eles são um pouco inconvenientes.

 Ela atravessou correndo a rua antes que o sinal ficasse vermelho, quase escorregando no caminho por conta da fina camada de gelo que se instalara no asfalto. O caminho do colégio até a estação de metrô estava cheio de pedaços como aquele, onde a neve derreteu e congelou novamente. Por sorte, não era um caminho tão longo. Apenas um quilômetro e meio a separava de sua carona para casa e... Dele.

 A garota suspirou, pensando sobre aquilo. Ela sempre o encontrava na mesma hora, no mesmo lugar, até chegavam a pegar o mesmo metrô. Nunca reparara nele antes, apenas no início do ano o notou, quando acidentalmente esbarrou em suas costas na estação. Após murmurar um pedido de desculpas, ficou fascinada com sua beleza. Os cabelos selvagens e ruivos emolduravam um rosto oval com olhos castanho-avermelhados e nariz e bocas perfeitamente desenhados. Apesar do sobretudo que sempre usava e das calças folgadas, ela percebeu que o corpo dele era esguio, com uns bons 10 centímetros mais alto que ela. Ele olhou para baixo e acenou minimamente com a cabeça. No dia seguinte ele estava lá, e no seguinte, e no posterior. Ela passou a observá-lo desde então, criando coragem para falar com ele. Os dias se tornaram semanas, e então meses, mas ela não conseguia dar o primeiro passo. Amanhã, sempre pensava assim que chegava em casa, amanhã eu falo com ele.

 Despertando de seu pequeno flashback, desceu a escadaria para a estação subterrânea. Como sempre, não demorou muito e estava dentro do metrô. E, como sempre, ele estava lá, em pé em um canto, o olhar perdido no vazio.

 Algumas paradas mais adiante, alguns assentos ficaram vagos. Ela sentou-se em um deles, maquinando um jeito de puxar assunto. Por que não pensei nisso no caminho?, se repreendeu. Para sua surpresa, o garoto sentou ao lado dela, fazendo-a dar um pequeno pulo de susto. Se antes estava nervosa, agora mais ainda. Um ataque de nervos era um exagero, mas ela não podia aquietar as borboletas em seu estômago. Retorceu as mãos sobre o colo por algum tempo, evitando olhar para o lado.

 O metrô parou mais uma vez, esperando que os passageiros saíssem e outros entrassem. A garota piscou confusa quando o garoto ruivo levantou e saiu. Ele nunca descia antes dela, talvez tivesse algo a fazer na região. Antes que ela pudesse fazer algo, as portas se fecharam e o metrô voltou a andar.

 Ela soltou um longo suspiro e olhou para o lado, onde ele estava há poucos segundos. Um papel dobrado estava sobre a cadeira. Ela pegou-o e girou-o entre seus dedos sem abri-lo. Um pequeno sorriso surgiu em seu rosto. Ela tinha o pretexto que queria! Não se conteve e deu uma pequena risada, que saiu mais alta do que deveria. Uma ou duas pessoas ao seu redor olharam-na, mas ela não se importou. Porém, logo em seguida, uma curiosidade tomou conta de sua mente. O que tinha no papel? Ela sabia que podia ser algo íntimo e que ele não gostaria. É claro que sempre existia a opção de mentir, mas ela não era boa mentirosa. Mordeu o lábio. Vou abrir, decidiu-se.

 Com as mãos trêmulas, desdobrou o papel. De início, não entendeu a mensagem. Mas, passados alguns segundos, suas bochechas ficaram vermelhas. No papel, um número estava rabiscado com uma mensagem logo abaixo: “Não demore”. Respirando fundo, ela guardou o papel dentro de sua bolsa. Riu de si mesma. Demorou tanto tempo pra se aproximar dele que ele resolveu dar o primeiro passo.

 Não vou demorar.

 E assim começou a criar coragem para ligar para o garoto.


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