A Vida e a Arte de Improvisar escrita por Augusto C S de Souza


Capítulo 2
I — Típico


Notas iniciais do capítulo

E aí, olha só quem voltou? Tudo bem com vocês? Queria agradecer aos que comentaram e dizer que estou indo responder nesse exato momento ^^

E bem, espero que gostem do novo capítulo e boa leitura ♥



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— Sr. Chambers, ainda está aqui conosco? — perguntou uma mulher de estatura mediana, com cabelos castanhos um pouco abaixo dos ombros e um pequeno sorriso zombeteiro no rosto.

— Sim, Srta. Fleurie, eu ainda estou aqui — respondeu, olhando ao redor e percebendo os diversos olhares de alunos curiosos apontados para si.

Senhora Fleurie, Alex — a professora corrigiu, acertando levemente o ombro do aluno com o livro —, e já que estava aqui esse tempo todo, acho que você pode me dizer qual foi o acontecimento mais importante da Segunda Guerra Mundial.

— Essa é uma pergunta bem interessante. — Ele sorriu, um pouco sem graça.

— Sei disso, por esse motivo mesmo que eu a fiz.

 

A professora notou que soou um pouco mais rude do que imaginara ao ouvir as risadas da turma. Risadas essas que ela logo fez questão de silenciar ao erguer o dedo indicador. Com uma expressão mais séria em seu rosto, ela fitou os alunos, que rapidamente viraram os rostos ou abaixaram a cabeça, deixando um clima desconfortável na sala. Por alguns segundos, apenas o som do velho ventilador de teto podia ser ouvido.

 

— Desculpa, eu não sei — Alex disse por fim, desviando o olhar.

— Tudo bem. — Assentindo levemente, a professora lhe deu sorriso consolador, antes de virar-se para o quadro. — Srta. Marshall?

— A Batalha de Stalingrado, Sra. Fleurie.

 

A resposta direta e simples veio do fundo da sala, chamando a atenção de Alex, fazendo-o olhar para trás e encontrar uma garota com um sorriso convencido e uma sobrancelha erguida. Ela cruzou os braços e deu de ombros, fazendo os fones vermelhos balançarem ao redor de seu pescoço. Surpreso com a reação da garota, o rapaz assentiu brevemente antes de virar-se novamente para frente, esboçando um sorriso no canto dos lábios.

 

— E qual seria a importância dela? — A Sra. Fleurie continuou, chamando a atenção da aluna.

— Essa foi a segunda derrota da Alemanha e a mais decisiva, já que mostrou que ela poderia realmente ser derrotada, além de empurrá-la de volta para o seu território.

— Muito bom, Srta. Marshall — disse por fim, encostando na mesa e olhando para o seu relógio. — Bem, turma, por hoje é só. Talvez tenhamos um teste semana que vem, talvez não. Durmam com medo essas noites, vejo vocês na próxima segunda.

 

Com o término da aula, os alunos foram guardando suas coisas e deixando a sala. Alguns resmungavam, outros apenas perdiam-se em conversas aleatórias. No fundo do lugar, a Srta. Marshall terminava de ajeitar a sua mochila, enquanto lutava contra alguns fios de cabelo que insistiam em cair sobre seu rosto.

 

— Molly, quer um prendedor? Parece que está precisando, Scar.

 

Olhando para cima, ela encontrou uma garota diante de si. Usava um macacão jeans e uma blusa de manga comprida, com um tom mais escuro de verde. Ela mantinha um sorriso travesso no rosto, junto com um falso olhar de reprovação.

Molly então riu baixo, antes de colocar a mochila em um dos ombros.

 

— E quem diz isso é a Mandy, a versão oxigenada do Mufasa — Molly devolveu, apontando para os fios loiros da amiga.

— Muito engraçada.

 

Sorrindo uma para a outra, as duas seguiram para fora da sala, a tempo de ouvirem o final da conversa entre a Sra. Fleurie e o Alex. Era algo sobre o rapaz precisar melhorar suas notas ou então, química não seria sua única preocupação.

Dando de ombros, Molly saiu na frente, abrindo espaço entre os alunos que faziam de tudo no corredor, menos andar.

 

— Olha o Sam ali — disse Mandy, apontando para um rapaz encostado em um armário, vidrado em algum jogo no seu telefone.

— Como você sempre consegue achar ele tão rápido? — Erguendo uma sobrancelha, Molly fitou a amiga, que apenas deu de ombros.

— Sei lá, acho que só sei para onde olhar.

 

 

Não demorou para que as duas chegassem no armário onde o rapaz estava, já parando ao lado dele. Molly, após piscar para amiga, tomou o telefone de Sam e tentou jogar, o que apenas lhe trouxe uma derrota e a perda de uma vida no Candy Crush. Então, em uma falha imitação do rosto triste do Gato de Botas, a morena devolveu o aparelho do rapaz, que logo o colocou no bolso esquerdo, antes de suspirar pesadamente.

 

— Era a última vida — resmungou, cruzando os braços.

— Ela volta em seis minutos, não chora. — A garota deu de ombros mais uma vez, colocando as mãos na cintura em seguida. — com essa cara de cachorro triste por que?

— Não é nada, só não decidi se termino o resumo de biologia ou se me atualizo em Arrow.

— Sabe, Sam, nesses momentos de dúvidas você precisa respirar fundo e se perguntar: o que o John Cena faria?

— Por que eu ainda escuto você? — Ele riu baixo, meneando a cabeça. — Calça nova? — perguntou, apontando para baixo.

— Não mesmo, mas o rasgo na coxa provavelmente é.

Provavelmente — repetiu ele, erguendo as sobrancelhas e ajeitando a mochila nas costas. — Bem, eu tenho que ir, preciso buscar meu irmão ainda. Overwatch hoje à noite?

— Não se preocupe, a cavalaria estará lá. — Molly sorriu de canto, assentindo brevemente.

— Certo, vejo vocês outro dia. — Também assentindo, o rapaz despediu-se com um aceno. — Até mais.

— Espera… vocês? — A morena perguntou a si mesma, antes de fechar os olhos e respirar fundo. — Mandy, me diz que você não ficou o tempo todo atrás de mim e sem falar nada.

— Eu não fiquei o tempo todo atrás de você e sem falar nada — disse a loira, saindo de trás da amiga, um pouco sem graça.

— Por que você sempre faz isso quando eu com o Sam?

— Bem, ele não fala comigo, então eu não falo com ele. — Mandy deu de ombros, desviando o olhar ao cruzar os braços.

— Sei… — Molly semicerrou os olhos ao observar a amiga, exibindo um breve sorriso em seguida. — Olha, Mufasa oxigenada, eu tenho que ir, um pouco ocupada hoje, então te vejo mais tarde?

— Certo, fica combinado assim.

 

Assentindo, a loira beijou a bochecha da garota, antes de deixá-la ir embora. Mandy acompanhou a amiga com os olhos até perdê-la de vista mais à frente, quando pôde, enfim, deixar o corredor e seguir seu caminho para casa.

Já, Molly, do lado de fora do colégio, terminava de desprender a corrente de sua bicicleta para então poder correr pelas ruas do Queens. Não demorou para que ela adentrasse os subúrbios do lugar, com altos e antigos apartamentos, padarias italianas, lojas de petiscos gregos e diversas barracas de comidas asiáticas. Era uma grande “bagunça organizada”.

Após mais alguns minutos de pedaladas, a garota havia chegado em seu bairro, onde as pequenas e humildes casas eram enfeitadas por árvores prontas para a chegada da primavera.

Chegando em casa, Molly deixou a bicicleta no quintal, ao lado dos degraus que separavam a varanda e a grama. Após destrancar a porta e entrar, ela logo fora recebida por um desajeitado e molhado abraço de uma labradora, com força o suficiente para lhe derrubar.

 

— Também senti sua falta, Diana. — Rindo e tentando respirar, a morena acariciou os pelos do animal, sentindo-os úmidos. — Deitando em poças de novo, mocinha? Nem está tão quente assim.

 

Com um pouco de esforço, Molly conseguiu pôr a labradora para o lado e então, levantar. Deixando que Diana lhe seguisse pela casa, a garota encheu o seu pote de ração para que assim, pudesse ter uma sombra a menos lhe seguindo pelo lugar. Entrando em seu quarto, ela jogou a mochila em sua cama e abriu o notebook que estava na mesa ao lado. Ignorando a bagunça e algumas roupas espalhadas, Molly abriu o Skype, procurando pelo único contato que lhe importava: o de seu pai.

 

— Ausente… — murmurou, observando o ícone vermelho ao lado do contato. — Nada novo até aqui.

 

 

Tentando não deixar que uma expressão entristecida tomasse conta de seu rosto, a garota respirou fundo e deixou o quarto, indo até a cozinha dessa vez. Ao descer e entrar no local, o bilhete na geladeira lhe chamou a atenção:

 

 

“Molly,

Seu almoço está no forno. Coma tudo.

Beijos,

Mãe.”

 

 

— É, fez meu almoço sim. Muito obrigada, mãe — disse ela ao abrir o forno e retirar um prato com lasanha. — Eu até acreditaria se não estivesse vendo a caixa dela na lixeira.

 

Então, pegando uma lata de refrigerante na geladeira, Molly seguiu até a mesa de jantar, onde sentou-se. Com Diana sentada ao seu lado, esperando para que algo caísse e lhe alimentasse novamente, a garota começou a comer. Sozinha.

Mais uma vez.

 

 


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram, não gostaram? Me deixem saber com um review de vocês. Beijos e até semana que vem ♥