Sangue Eterno - As Crônicas das Relíquias Eternas escrita por Diego C David


Capítulo 1
Capítulo I: A Estrela Caída




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" Eu não vou te machucar... "

O Iluminado

 

* * * * *

 

Dastiel

Dor é um sentimento interessante.
Eu não conhecia nada da dor antes de cair.
Mas já começa na queda.
Você sente sua forma mudar, você se sente realmente tendo um corpo.
A parte mais dolorosa é ver elas queimando. É sentir elas te deixando sem promessa de retorno.
Primeiro pena por pena, depois a pele, a carne, as cartilagens, os ossos, tudo vai se desintegrando, se deteriorando, se desfazendo... Morrendo.
Morrer.
Essa é a palavra que define tudo.
Um anjo morre quando cai.
Um anjo morre quando perde suas asas porque as asas fazem dele, um anjo.
Morre porque em vários aspectos deixa de ser anjo.
Sua essência permanece a mesma. A energia fica mais contida, comprimida.
Se enfraquece pra se adaptar a nova forma que é tão fraca. Tão perecível.
Ser humano pode parecer glorioso quando toda sua existência se baseia nisso.
Mas não para nós. Eu não vejo nem sinto glória alguma em ser tão falho. Tão frágil...
Cair com a força de um meteoro em chamas e perder a força de infinitos meteoros nessa queda.
Mas fora necessário.
Eu tive que morrer para que pudesse garantir que outros sobrevivessem.
Diferentemente de outros, caí do modo mais difícil.
Não escolhi o útero de uma Filha de Eva para nascer como seu filho.
Construí um corpo humano feito de energia, uma casca.
Não há diferença na verdade, não no invólucro em si.
Tive que aprender a respirar, a me locomover com um corpo que pesa mais do que as Bravadias* que já usei em diversas batalhas.

*Bravadias são as armaduras que os Arcanjos usam em batalhas feitas de sua própria energia e com características particulares e individuais de um para outro.

Andei pelas areias de um deserto escaldante até encontrar a caverna pré estabelecida onde pudesse repousar enquanto aguardo aquele que virá em meu encontro.
Cacei alguns roedores para saciar a fome e encontrei água em uma planta para saciar a sede.
Sono, fome, sede... Nada disso me é familiar, muito menos agradável.
A parte pior foi ter que matar uma criatura tão pura e inocente para sustentar um corpo tão medíocre.
Mas fora também necessário. Fui preparado e treinado para todo e qualquer tipo de adversidade que pudesse enfrentar para poder manter esse corpo vivo e poder completar minha missão.
Aprendi tudo sobre ser e lidar com humanos e com a terra onde habitam.
Deitei sobre o chão duro e rochoso, coberto de areia trazida pelo vento e por galhos secos. Galhos esses que foram muito úteis pra acender o fogo para assar a carne, mas que se mostram muito incômodos por sob meu corpo.
Mas cansado, logo adormeci.


Pedro

Como toda manhã, pedi um pingado na mesma padaria, no mesmo horário...
A atendente era uma jovem sorridente, prestativa... mas que não fazia ideia de quem eu era ou de como eu gostava do meu café com leite. Mas sorri de volta quando ela me entregou a xícara, bebi e paguei a conta.
A rua estava movimentada como sempre, abarrotada de turistas com suas roupas praieiras de férias, sorrindo e apontando aqui e ali.
Caminhei pelas ruas de paralelepípedo com minhas pernas cansadas observando as pessoas felizes a minha volta. Parei uma vez para tirar uma foto de dois jovens recém-casados, que sorridentes, me agradeceram e partiram rumo a praça principal onde um trio de capoeiristas apresentavam-se em troca de algumas moedas. Em poucos minutos (e depois de várias acrobacias ao som das palmas e do berimbau), já acumulavam perto de meia centena de reais.
Turistas costumam ser generosos.
Me fez lembrar de tempos atrás... quando eu era um turista generoso. Quando tinha dinheiro, fama, prestígio...
Eu era um pintor muito conceituado. Pintava quadros pós contemporâneos que enchiam os olhos de paixão para intelectuais do mundo todo.
Fora a vida que escolhi para mim enquanto aguardava o momento em que seria convocado para minha missão.
Momentos radiantes, felizes... e trevosos. Alguém como eu não deveria se afastar do seu caminho, mas a vida me deu oportunidades convidativas e gloriosas demais para que pudesse resistir. E cada vez mais me vi sendo capaz de tudo para preservar essa condição.
Conheci o mundo, pessoas influentes.... Fui amado, aclamado, admirado...
Mas um dia isso terminou.
Lutei com todas as minhas forças para continuar sendo visto. Nada foi suficiente para me manter nesse vício que se tornou ser uma estrela das artes visuais.
Hoje, faço pinturas em azulejos para turistas para conseguir apenas sobreviver.
Búzios era uma cidade linda, e cheia de oportunidades para pessoas como eu, que tentavam viver de arte (mesmo que de rua), localizada no estado do Rio de Janeiro.
Mas toda essa história, para mim, chegava ao fim.
Logo, o sol do meio dia já fazia escorrerem gotas de suor pelo meu rosto.
Com os chinelos na mão, meus pés tocaram as areias escaldantes da praia próxima dali.
Eu teria que ser rápido, e discreto.


Ana

Os pingos da chuva escorriam pelo vidro do carro na mesma velocidade em que as lágrimas em meu rosto.
Minha mãe dirigia o carro em silêncio ao meu lado, o rosto inchado também mostrava que havia chorado antes. Ela estava se fazendo de durona para não me afetar.
Minha avó fora uma pessoa muito importante na minha vida. Morávamos juntas em São Paulo até a morte do meu pai, há quase dez anos atrás. Então minha mãe resolveu se mudar comigo para São José dos Campos, onde uma de minhas tias, Adelaide, morava já há algum tempo.
Iniciei minha adolescência, fiz grandes amigos, e logo a dor de perder meu pai cauterizara em meu peito.
Me tornei uma garota normal, que deu o primeiro beijo aos 14 anos, que sofreu pelo primeiro amor de colégio, que se sentiu insegura quando os seios de todas as amigas cresceram primeiro que os meus... (Parte desnecessária)
Enfim, uma garota normal e feliz.
Mas a notícia da morte brutal de minha avó Elisa, que fora covardemente assassinada na escola onde lecionava há anos, me fez lembrar de todo aquele vazio que senti quando meu pai também foi assassinado num assalto enquanto voltava do trabalho.
Minha mãe e eu passamos rapidamente em casa, fizemos as malas e fomos direto a rodoviária.
Tia Adelaide já nos aguardava lá com meus primos Mônica e Mateus. Minha mãe e ela deram um longo abraço acompanhados de muito choro, mas sem dizer uma única palavra. Eu abracei a Mônica, que me deu um abraço protetor. Tínhamos a mesma idade, mas ela meio que sempre tentou cuidar de mim. E depois abracei o Mateus, meio sem jeito. Ele era um ano mais novo que eu, e era sempre embaraçoso vê-lo, já que todos suspeitavam que ele nutria algum sentimento não muito fraterno comigo.
Compramos as passagens e fomos direto para o terminal de embarque onde não esperamos muito até já estarmos aconchegados nas poltronas do ônibus de viagem. Minha mãe e minha tia sentaram-se juntas, eu me sentei com Mônica, e o Mateus se sentou ao lado de uma senhora que adormecia na poltrona da janela.
Meu celular tocou:
— Oi Sofia. - atendi.
— Oi amiga. Como você está? - disse Sofia, minha amiga de anos.
— Inconformada. - disse, sinceramente.
Pausa dramática. Respiração funda.
— Queria tanto ir com você, Ana, mas não deu mesmo. - disse Sofia, contendo a voz para não chorar.
— Eu entendo, Fiah... Sei que você não pode abandonar seu trabalho. Relaxa. Vou ficar bem. - disse sem saber se era verdade.
— Se precisar de mim, a qualquer hora, me liga. E manda um abraço e meus pêsames a todos.
— Obrigado. Pode deixar, eu mando sim. - respondi. - Vou descansar um pouco. Preciso dormir pra guardar forças.
— Tudo bem. Até mais, Ana...
— Até... - disse e desliguei.
Guardei o celular e logo adormeci.
Em meus sonhos vi minha avó ensanguentada com um olhar de súplica pra mim. Eu corria a seu encontro, mas meus pés pareciam patinar em algo pastoso e grudento e eu não conseguia alcançá-la. Eu gritava seu nome, mas minha garganta não emitia som algum.
Uma sombra escura do que parecia ser um garoto surgiu atrás de minha avó, com algo nas mãos que se assemelhava a um arpão cintilante.
Ele parou atrás dela e mesmo assim não conseguia vê-lo direito.
O garoto abriu um sorriso perfeito e gargalhou.
Foi a risada mais assustadora que já ouvi na vida.
Jamais esqueceria o som, e aquele sorriso encantador e macabro ao mesmo tempo.

Meu antigo quarto estava do mesmo jeito. A mesma penteadeira com o espelho empoeirado ainda com a escova que usara a tanto tempo atrás; Minha cama de solteiro que rangia tanto; As paredes amarelas descascadas ainda tinham os adesivos da Sandy & Junior, a dupla por quem fui tão fanática até certa idade, antes de trocá-los pelas guitarras pesadas do rock na parte "revoltada" da minha adolescência.
Até algumas de minhas roupas da infância ainda estavam dobradas no velho guarda roupas branco. Minha avó parecia ter preservado aquele quarto para caso eu voltasse.
O que não fiz.
Minha mãe se acomodou no quarto que foi da minha outra tia, Vera, pois disse que não se sentiria bem no seu antigo quarto, que ainda exalava muito da tristeza que ela há muito tempo abandonou.
O pesadelo do onibus ainda me arrepiava. O garoto lindo e com olhos e sorriso mortais não saía da minha cabeça. Mas talvez fosse a maneira que meu cérebro encontrou de dar rosto ao assassino que, de acordo com a polícia local, ainda era desconhecido. Parecia a mesma história se repetindo... Pois o caso do meu pai fora arquivado. A polícia chegara a conclusão de que foi um assalto que acabou terminando ainda pior pelo fato de meu pai provavelmente ter reagido, e o culpado jamais fora identificado.
Minha mãe entrou em depressão por conta disso, e jamais voltou a ser a mesma.

Desci as escadas até a cozinha para ver se minha prima precisava de ajuda. Ela preparava o jantar enquanto minha mãe e minhas tias tinham ido até a funerária onde o corpo de minha avó seria velado. Mateus e meu tio Carlos (marido de minha tia Vera), estavam colocando uma cama para Mônica em meu quarto, onde dividiríamos no tempo que estivéssemos aqui. Mateus dormiria na sala e minha tia Adelaide dormiria no mesmo quarto que minha mãe. Meus tios Vera e Carlos moravam na mesma rua, a algumas casas de distância.
O cheiro na cozinha era ótimo:
— Posso ajudar em alguma coisa? - perguntei a Mônica.
— Descasque as batatas enquanto eu corto a carne? - disse ela. Mônica sempre ficava séria quando cozinhava.
— Ok. - respondi e prontamente comecei a tarefa.
Paramos uma ao lado da outra:
— Lembra da sua festa de 5 anos? - perguntou Mônica enquanto se juntava a mim na tarefa com as batatas.
— Lembro sim. Tema das princesas. - ri ao lembrar.
— Nós duas queríamos nos fantasiar de Ariel, lembra? Vovó resolveu a briga. - disse Mônica se perdendo em pensamentos.
Minha vó resolveu a briga de modo simples dando a nós exatamente o que queríamos. Fomos as duas de Pequena Sereia e nos divertimos a beça.
Vi que Mônica não falaria mais. Terminei de descascar as batatas e as coloquei na água que já fervia numa panela grande.
Mônica dispensou minha ajuda com o olhar e percebi que ela queria ficar sozinha.
Voltando ao quarto, ouvi quando minha mãe e minhas tias chegaram. Descobri, em minha tentativa frustada de contato com minha prima, que também não estava muito afim de conversa.
Logo adormeci.
Ao acordar, olhei no relógio e eram duas da madrugada. O estômago roncava.
Ao olhar meu armário de cabeceira, uma caixa de porte médio estava lá.
Uma etiqueta estava colada na tampa com fita. Nela, o meu nome estava escrito em letras garrafais.
Era a letra da minha avó.


Sam

"Respira Sam
Respira fundo e vamos lá"

Entrei pela porta giratória de maneira um pouco brusca, mas o importante era manter o rosto confiante.
Com a pasta de documentos numa mão e o smartphone obsoleto na outra, parei por um instante, a fim de olhar bem pro lugar onde passaria grande parte de meus dias.

"Você precisa desse emprego Sam
Não faça besteiras"

Andei, controlando passo por passo, até o balcão de informações onde uma senhora de óculos de feição carrancuda parecia imersa em pensamentos bem distantes dali.
Coloquei a pasta em cima do balcão e não obtive atenção alguma por parte da senhora identificada no crachá como Marta Campos.
Tamborilei meus dedos gentilmente sobre a madeira, mas ela parecia estar em outra dimensão.
Então pigarreei uma vez. Duas. Três. Vinte vezes e ela nem se moveu.
Uma jovem com os cabelos loiros cuidadosamente presos em um coque que lhe dava uma aparência forte, formal, séria... mas com o sorriso mais lindo que já vira na vida, saiu de uma porta que ficava atrás da cadeira da caquética Marta e veio até mim:

— Bom dia! Como posso ajudá-lo, senhor? - disse parando respeitosamente à minha frente ajeitando o terno do seu traje social como quem se coloca a disposição para lutar na Terceira Guerra Mundial.
— B... B... B... Bom dia. - consegui responder - Eu fui chamado para preencher uma vaga de arquivista. M m m me disseram que eu tinha que t t t trazer os documentos p p p para o registro.

"Droga Sam, pare de gaguejar"

— Ok. - disse ela pegando gentilmente a pasta da minha mão - Só um instante senhor... Samuel - disse ela conferindo meu nome em um dos documentos da pasta e dirigindo-se de volta a porta de onde havia saído.
Abruptamente, fui tirado daquele transe pelo barulho dos hábeis dedos da senhora Marta que parecia ter voltado a vida, digitando tão rápida e violentamente que parecia que iria explodir o teclado de tanta destreza.
De um jeito bom e assustador, a garota conseguiu me acalmar. Era como se já a conhecesse.
— Venha comigo. - disse a garota, que para minha surpresa, já havia voltado e se dirigia novamente ao lugar de onde havia saído.
Passei pela porta balcão rapidamente, não sem antes dar uma última olhada em Marta caquética, que SIM, AINDA continuava perdida em seu próprio universo. Os olhos semicerrados por trás dos óculos que pareciam ter saído de uma daquelas histórias estereotipadas de faz-de-conta.
Alcancei a garota com certa dificuldade, não sem notar que a empresa era maior do que se era possível imaginar, olhando de fora.
— Me chamo Sofia. - disse com um sorriso que dizia 'Eu sei que você é tímido'.
— Ah... p prazer. S Samuel Lima. - ela riu.

"Sério? Nome completo?
O que tem de errado comigo?"

— Prazer, senhor Samuel Lima. - brincou, mas com certo grau de respeito na voz.
— Desculpa. Eu estou nervoso. - respondi.
— Não se desculpe. Isso é normal. - disse ela com um sorriso singelo no rosto. - Esse aqui é o nosso arquivo.

Ao contrário do que imaginei, o corredor não tinha muita papelada. Tudo se baseava num pequeno corredor formado por prateleiras contrapostas com algumas caixas cuidadosamente organizadas em ordem alfabética. No final do corredor, uma mesa solitária contendo alguns itens de escritório e um moderno desktop desligado.
Sofia me explicou que basicamente, a princípio, meu trabalho seria digitalizar todos os arquivos e documentos. A empresa estava se modernizando.
Me entregou um papel com as senhas que eu precisava e logo parti para o trabalho.
Era meio terapêutico, e me senti aliviado por descobrir que ficaria ali sozinho. Pude me sentir confortável e sem pressão alguma.
O tempo passou rápido, e logo Sofia já estava de volta. Era hora do almoço.
Ela me conduziu até o refeitório, que servia comida à vontade, me explicando que esse era mais um dos benefícios da empresa.
Nos servimos e ela perguntou se podia se juntar a mim no almoço. Reparei que apesar do tamanho da empresa, não haviam muitos funcionários, o que dava ao lugar um clima um tanto silencioso e solitário.
Sentamos numa mesa para dois um tanto afastados do único grupo de quatro pessoas que comiam silenciosamente ali.
Não conversamos muito, mais por minha incapacidade de ser uma pessoa normal do que pela simpatia dela.
— Eu sempre como sozinha, geralmente. As pessoas aqui não são muito comunicativas como você pôde perceber.
— Aquela senhora da recepção é sempre assim tão simpática?
Ela riu.
— Marta perdeu seu único filho há alguns meses. Desde então, ela tem estado um tanto... distraída. - disse num tom complacente.

"E você julgando a pobre senhora. Parabéns por ser um tremendo babaca, Samuel."

— Que triste... - foi só o que consegui dizer.

Sofia me deu outro sorriso e continuou comendo. Ela parecia uma pessoa muito madura, apesar de não aparentar ter mais que vinte anos.
Mas por trás daquele sorriso que estava tentando ser gentil e me passar tranquilidade, eu podia ver que algo a preocupava.
Lógico que não me atrevi a perguntar, mas podia sentir.
Logo terminamos o almoço e voltamos ao trabalho.


Dastiel

A maré estava baixando.
Meus pés descalços podiam sentir os grãos de areia dançando em volta.
O sol dava as caras timidamente no horizonte. Respirei fundo pra sentir o cheiro salgado da maresia que inundava meus pulmões.
Estava no local correto, só um pouco perdido no horário.
Minha mente ainda estava uma bagunça, tentando acostumar-se com esse plano. Mas logo eu estaria bem.
Uma moça passou por mim com olhos espantados. Não entendi a princípio, mas senti uma ardência nas bochechas quando realmente entendi: Eu estava nu.
Corri para a água, onde permaneci com água até meu peito.
Muito tempo se passou até que o sol alcançasse o topo. Estava próximo da hora combinada.
Um senhor sorridente se aproximou, sem entrar na água, com os chinelos na mão. Remexeu na bolsa que pendia sobre seu ombro e retirou uma camiseta larga e uma sunga. Ele arremessou a sunga para mim e eu vesti-a sob a água.
Ele deu meia-volta e fez menção para que o seguisse, e eu prontamente o fiz.
Mesmo com a aparência frágil e debilitada, eu podia sentir a forte energia que dele emanava. Ele era muito mais do que aparentava.
Caminhamos em silencio pelas ruas abarrotadas de turistas até chegarmos a uma ruazinha estreita e vazia. E então, violentamente rápido, ele me atacou.
Por pouco, a mão que ele usava em modo de faca, não me partia ao meio como manteiga. Logo em seguida, ele avançou sobre mim com uma força descomunal, e apesar de ainda ter dificuldades de me mover com esse corpo humano, consegui me esquivar de seu ataque fatal.
Concentrei parte de minha energia sagrada em meu punho mas ele se livrou do soco facilmente. Ainda estava muito lento.
A faca mortal que há instantes fora uma mão trêmula e enrugada desceu novamente sobre mim, desta vez, rasgando a camiseta e a pele do meu peito com rapidez humanamente impossível.
O adorável velhinho de outrora, agora estava morbidamente pálido e em sua pele, as veias saltavam completamente roxas. Seus dentes brancos, agora estavam amarelos e com uma aparência podre. Seu peito chiava alto como um tuberculoso, uma respiração doentia, profunda e lenta.
Podia sentir o véu da realidade tremendo a nossa volta. Era uma película fina e incolor vibrando como a superfície da água reagia a vibração do som.
Ele então dobrou seus dedos em forma de garras e avançou sobre mim, muito mais rápido que antes. O golpe acertou-me em cheio no dorso, o sangue quente enxarcando minha camiseta em segundos.
Concentrei meu poder no punho mas editei. Não podia machucar a pessoa inocente que servia de recipiente para este ser infernal. Mas se não fizesse nada ele terminaria por destruir meu corpo.
Foi quando algo aconteceu tão rápido que por pouco ficaria sem entender. Um homem, também de idade avançada, apareceu do nada e agarrou o possesso, posicionando uma mão na testa e a outra no queixo e começou a falar o que pareceu uma oração em latim:

—"Crux Sacra Sihi mihi lux;
non draco sihi mihi dux;
vade retro satana...!

O corpo do pobre senhor arcou-se para trás e ficou rígido imediatamente. O grito agonizante e gutural ecoou pela rua deserta enquanto o demônio era expelido na forma de uma fumaça negra e espessa pela boca do recipiente inocente. Assim que acabou, o corpo do pobre senhor ficou flácido e foi amparado pelo outro enquanto caía inconsciente.
O homem que expulsara o demônio posou seus olhos para o pobre velhinho com um olhar complacente e abriu um sorriso. Depois olhou diretamente para mim:

— Desculpe o atraso, Dastiel. Eu sou Pedro... seu Guardião. - disse como quem reencontra um velho amigo.


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