Não Peça Desculpas escrita por macord


Capítulo 1
Lembretes do que eu fiz errado


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos :D

➸ Tome ciência dos avisos antes de iniciar a leitura.
➸ A fanfic se passa durante o episódio 03x07, quando a Caitlin se transforma na KillerFrost e conta ao Cisco que Dante estava vivo na linha do tempo antes do Flashpoint.
➸ Devido a natureza dos acontecimentos, a personalidade do Cisco poderá oscilar.

~Boa leitura!



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“Mas essas memórias não parecem presentes, parecem lembretes do que fiz errado.”

Parei no último degrau da escada ao notar aquele homem no fim do corredor, ele estava com um copo na mão enquanto olhava pra um quadro de avisos. Durante o tempo que trabalhamos no Star Labs, eu havia passado tempo demais observando Cisco Ramon para não reconhecer imediatamente as costas e os cabelos negros do engenheiro. Só precisei esperar que ele jogasse o copo na lixeira e virar-se completamente pra ter certeza.

Assim que nossos olhos se encontraram, meus batimentos cardíacos aumentaram tão rápido quanto um carrinho que sobe uma montanha russa. Só tive certeza naquele momento de que Cisco ainda conservava a mesma beleza que sempre me fizera ficar com todos os pelos do corpo arrepiados; depois notei que havia algo diferente no latino, quando ele veio na minha direção notei o que era: Ramon estava com o nariz e os olhos vermelhos, estava estampado em seu rosto que ele havia chorado. Fiquei em choque ao vê-lo naquele estado, justamente Cisco Ramon, que era conhecido por suas piadas e seu jeito de deixar o lugar mais leve com o seu humor.

— Oi, Hartley — Cisco murmurou em um fio de voz que em nada lembrava a voz alta e risonha que ele costumava ter.

— Cisco, tudo bem com…

— Eu tenho que ir, até mais — Cisco me cortou antes que eu sequer pudesse terminar a frase.

Fiquei parado vendo Ramon descer a escada, senti um aperto no peito. Aquele prédio era uma das instituições pra onde as Indústrias Rathaway fazia doações, havia vários grupos de apoio; eu tinha ido naquele dia monitorar uma das reuniões de um grupo LGBT, nunca esperava encontrar Cisco.  A única porta aberta naquele andar era do grupo de apoio ao luto, não era necessário ser um mestre de dedução pra descobrir pelo que Cisco estava passando.

Depois que eu me reconciliara com o Team Flash, às vezes, Cisco me ligava pra pedir ajuda com alguma equação, mas nosso contato se resumia a raras ligações e eu nunca adivinharia que Ramon estivesse passando por um momento tão difícil. Mas mesmo que Cisco nunca fosse saber dos verdadeiros sentimentos que eu tinha por ele, eu ainda continuava me importando demais pra apenas ignorar aquilo; eu iria fazer o que estava ao meu alcance pra ajudá-lo.

Por isso desci correndo os outros lances da escada. Quando cheguei no saguão recebi olhares da recepcionista. Minhas pernas ardiam por causa do esforço excruciante e meu peito queimava devido a falta de ar, mas eu precisava alcançar Cisco de qualquer forma. Saí correndo do prédio, quando cheguei na escadaria larga o vento entrou nos meus pulmões e eu vi Ramon atravessando o pátio que ficava na frente do prédio. Usei a última reserva de oxigênio pra gritar Cisco que estava prestes atravessar a rua.

Não tive dificuldade de chegar até Cisco, a única coisa que havia naquele pátio era um chafariz, não havia ninguém ali. Corri com dificuldade, calça social nunca foi a roupa mais indicada pra corridas e meu físico não era um dos melhores desde que eu desistira de ser o Pied Piper. A verdade é que só estava naquele local porque meus pais havia aparecido em meu apartamento e me obrigaram a ser monitor de uma das reuniões; segundo eles não era sadio passar quase todos os dias em casa inventando alguma coisa ou pesquisando pra meus estudos. Apesar de ter ido à reunião praticamente obrigado eu agradeceria à minha mãe e ao meu pai mais tarde, mas naquele momento só consegui me focar em Cisco parado debaixo de um poste de luz.

Quando cheguei até o latino pude ver seus cabelos sob a luz que incidia sobre ele, notei que os fios negros estavam longos como nunca estiveram. Por força do hábito também olhei qual era a estampa que ele usava dessa vez, era uma camiseta preta com um gato branco.

Só quando estava de frente pra Cisco, tentando restabelecer a minha respiração foi que notei que eu estava correndo como um louco, gritando e eu não fazia a menor ideia do que dizer ao latino.

Nos encaramos durante alguns longos segundos. Voltei a sentir aquele incômodo no peito ao notar as veias vermelhas nos olhos de Ramon, ele parecia mais magro e o rosto estava encovado; engoli seco perguntando-me qual pessoa ele havia perdido.

— Cisco. Tudo bem com você? — eu disse automaticamente.

Cisco alisava um dos braços e seu olhar se tornou incrédulo após ouvir a pergunta.

— Eu pareço bem, Hartley? — ele perguntou cuspindo as palavras com rispidez.

Eu sabia que merecia muito mais do que aquilo, mas ver um cara conhecido por ser gentil e sorridente agir de forma tão grosseira causou um choque em mim, eu olhei pra baixo enquanto sentia minhas bochechas esquentarem.

— Não, Cisco. Claro que não! É só... O que aconteceu?

O latino olhou pro lado antes de me fitar e sorriu, mas não era um sorriso, era um som em forma de escárnio.

— O que você quer, Rathaway? — Cisco perguntou ainda mais ríspido que antes.

— Eu vi você saindo do grupo de apoio ao luto, eu queria saber se você estava bem, se precisa de alguma coisa… — eu disse sentindo as palavras sumindo do alcance da minha boca com aquele olhar vazio que ele me lançava.

— Essa é nova! Justamente você me ajudar? — Cisco perguntou.

Eu sabia que raiva era um sentimento pra suportar o sofrimento, era mais fácil se agarrar à raiva do que enfrentar a dor. Eu me sentia mal ao pensar que Cisco estava seguindo o mesmo caminho que eu seguira no passado.

— O que aconteceu? — insisti.

— Quer saber o que aconteceu, Hartley?! — Cisco questionou elevando a voz. — O Flash matou meu irmão! Foi isso que aconteceu!

— O quê?! — Franzi as sobrancelhas perguntando-me se havia ouvido direito. — Mas o Barry é seu amigo. Ele nunca faria isso.

— Como você sabe que o Barry é o Fla... — Cisco parou de falar no meio da frase e então riu, aquela mesma risada nasalada de escárnio. — Quer saber? Nem sei porque perguntei. Você deve ter escrito um dos seus algoritmos hexagonais.

Ignorei o insulto, só então pensei em como deveria ter sido pra Cisco me aguentar durante todo aquele tempo no trabalho, eu agia exatamente daquela forma com Ramon. Sempre com respostas grosseiras e zombarias.

— Ele realmente fez isso?

— Claro que não foi lá e assassinou Dante. Mas a culpa foi dele sim! — Cisco elevou a voz.

Fiquei aliviado por estarmos sozinhos e aquela rua ser pouco movimentada, Cisco estava falando mais alto do que era recomendável. Eu pedi que Cisco contasse exatamente o que tinha acontecido e apesar de sua má vontade, ele me explicou.

— O Barry voltou no tempo e salvou a mãe dele, criou uma linha alternativa chamada Flashpoint, mas ele teve problemas e tentou restaurar a antiga timeline. Ele conseguiu em partes, mas o que fez causou rachaduras que mudou a vida de todo mundo. Agora a Caitlin ganhou poderes e está se tornando a Killer Frost e eu perdi meu irmão. — Cisco ficou em silêncio, mas enfim começou a falar de novo. — Quando Dante morreu eu pedi tanto pra ele voltar no tempo e então descubro que ele voltou no tempo pra salvar a família dele e… — Cisco não continuou a frase, pois começou apertar uma mão na outra, os dentes estavam fechados fortemente, ele estava tentando conter a raiva que sentia. Eu observei o acesso colérico do engenheiro durante os minutos seguintes, ele apertava a testa, puxava com força os fios do cabelo, até que finalmente pareceu se acalmar e me encarou. — O que você acha?

Honestamente, fiquei surpreso por Cisco pedir minha opinião depois de ter me tratado mal em todas as frases da nossa conversa, talvez ele agora percebesse que eu só queria ajudá-lo.

— O Barry cometeu um erro fazendo essas alterações, por causa disso pois em risco o tempo. Acho que ele só quer te poupar de sofrer os mesmos danos que ele. Você sabe as consequências de uma viagem no tempo?

— Não, Hartley. Eu trabalho com um velocista que voltou no tempo e não sei. — A resposta de Cisco fez meu sangue ferver, eu estava começando a me irritar, mas respirei fundo e me controlei; de irritado já bastava o engenheiro e ele continuou: — Não me surpreende que você fique do lado do Barry. É claro! Foi meu irmão quem morreu.

— Honestamente, Cisco... — comecei. Eu sabia que o outro ficaria irritado, mas precisava dizer. — Você está sendo egoísta.

O latino me fitou por segundos em silêncio, parecia em descrença por eu ter dito aquelas palavras em voz alta.

— Egoísta por querer meu irmão de volta?! — Cisco gritou aproximando-se de mim e eu consegui ver as lágrimas se acumularem nos seus olhos castanhos.

— Egoísta por querer que o Barry volte no tempo para salvar seu irmão! Ele errou por fazer isso e tem que conviver com o fato de ter causado uma morte e de transformar alguém em meta humano. Você quer ter esse fardo também, Cisco?! — falei com a voz firme.  

A vontade que eu sentia era de abraçá-lo e não falar com Cisco como meu pai fazia comigo quando eu era menor. Mas às vezes as pessoas precisam de um choque de realidade. Eu percebi que surtiu efeito quando o latino abaixou a cabeça e ficou olhando o chão, ele estava prestes a chorar quando eu me aproximei e toquei no seu braço. Cisco levantou a cabeça, mas em vez de olhar diretamente pra mim, ficou com o olhar vago durante alguns segundos, quando pareceu recuperar a consciência ele piscou várias vezes e trincou os dentes.

— Eu não acredito que você fez isso! — Cisco gritou parecendo recuperar toda a raiva de forma instantânea.

— O que foi, Cisco? — perguntei sentindo o latino segurar minha mão com força, mas antes que pudesse me perguntar o motivo de Cisco ter segurado minha mão, senti uma tontura e quando abri os olhos não estava mais no pátio em frente ao prédio e sim no acelerador de partículas, que agora funcionava como uma prisão para os meta humanos. Vi Cisco correndo e sendo atingindo por uma explosão, tomei um susto ao notar eu mesmo saindo da cela com a roupa do Flautista. Era como um sonho em que eu via a mim mesmo, tentei correr até Cisco, mas novamente senti a tontura e como da outra vez eu estava de repente sob o poste de luz, na frente do prédio e sentia minha mão sendo apertada com força.

— Eu não acredito que você fez isso! — Cisco gritou empurrando-me.

— O que foi isso? — perguntei, eu estava atordoado com a visão de Cisco machucado na explosão.

— Isso, Hartley, foi uma lembrança da linha do tempo antes de Barry voltar lá! — Cisco disse mordendo o lábio com força. — Eu não acredito que você fez isso!

— Fiz o quê?!

— Você usou seus aparelhos pra fugir da prisão, você podia ter me matado! — Cisco disse.

— O Flash mandou eu tirar os aparelhos, eu não fugi, Cisco. Nós até detemos o Espectro do Tempo juntos, se lembra?

— E vai me dizer que não estava planejando usar seus aparelhos?!

Mexi no meu aparelho auditivo por instinto. Além de estar assustado com a visão de Cisco na explosão eu também não sabia quanto tempo mais eu iria suportar aqueles gritos e acusações.

— Sim, mas... Não aconteceu — murmurei. — Isso foi por causa do Flashpoint? Agora eu entendo porque ele disse que estava me pegando de novo…

Apesar do olhar irritado de Ramon ele explicou entredentes que não tinha sido consequência do Flashpoint e sim de uma outra viagem no tempo antes disso.

— Quando eu acho que você não pode piorar, Hartley, eu vejo que piora.

— Pra mim isso nunca existiu, Cisco — me justifiquei. — Essa vibração pareceu bem real, mas você tem certeza que isso realmente aconteceu?!

Cisco me encarou como se fosse me esfolar vivo, a raiva que surgiu por detrás dos seus olhos surpreendeu-me. Assim como o fato dele ter me empurrado com força.

— Você realmente está sugerindo isso, Hartley?! — Cisco gritou. — Eu só vibro coisas reais! Eu não sei porque ainda estou aqui com você! O que você merece é uma surra.

Eu estava assustado, mas sabia que Cisco só estava agressivo daquela forma devido a soma dos problemas, seu irmão estava morto, Caitlin tinha virado uma meta humana e pra completar acabara de ter uma vibração nada favorável comigo.

— E você acha que me bater resolve? — perguntei e me arrependi logo em seguida, o que aconteceu foi que o latino me empurrou tão forte que eu caí contra o chão.

Senti o peso de Cisco sobre o peito, comecei a ter dificuldades de respirar, não era os socos que eu recebia que me atordoavam e sim a forma como Cisco estava. Ele tinha sido dominado pela raiva. Eu não podia crer que aquele era quem eu conhecera e por quem tinha começado a gostar ainda nos primeiros dias de serviço dele no Star Labs. Cisco errou muitos socos, pois como eu tinha reparado, ele estava magro. Eu tinha certeza que Cisco se alimentava mal e sabia da sua insônia porque sempre que ele ligava pra me pedir ajuda era de madrugada. Cisco estava sofrendo e eu fiquei decepcionado ao notar que ele deixara seu sofrimento superar seus princípios.

— Você pode me bater o quanto quiser! — gritei. — Isso não vai diminuir a dor que você está sentindo! A vingança não acaba com o sofrimento, Cisco. Você pode até se sentir aliviado agora, mas você vai continuar do mesmo jeito!

Cisco parou de tentar dar socos, não tinha dado sequer uns cinco, mas foram suficientes pra fazer algumas partes arderem e eu senti um gosto de sangue na boca, mas o que realmente matava era que ele estava em cima dos meus pulmões. Era como se minha garganta fosse estourar de tanto que ardia, mas então Cisco se arrastou pelo chão deixando meu peito livre e eu pude finalmente respirar.

Cisco me lançou um olhar irritado, mas eu podia ver que ele segurava o choro. Os meus pulmões arrebentavam de tanto arderem e eu tentava puxar o oxigênio, mesmo estando ao ar livre numa noite não muito quente, o ar parecia insuficiente. Cisco tinha sentado-se no chão após finalmente me deixar livre. Me levantei com dificuldade e olhei pra Cisco no chão, ele abraçava as pernas.

Enquanto recuperava o fôlego eu o fitava e decidia se falaria ou não, mas Cisco já me odiava outra vez. Contar o que eu planejava contar apenas aumentaria seu ódio por mim e isso eu já possuía; por outro lado, se ao menos ele ouvisse o que eu fosse dizer, talvez  não se tornasse um idiota como eu havia me tornado quando busquei por vingança.

— Sabe, Cisco, talvez não acredite em mim, mas eu não ganho nada mentindo — comecei a falar, notei que o latino ficou parado, olhava pro chão. Eu sabia que Cisco estava me ouvindo. — Eu realmente tive uma impressão ruim de você quando você foi contratado. Você era muito excêntrico pra um lugar como aquele. No começo eu te subestimei, mas já no primeiro dia você me mostrou que você era digno de trabalhar com a gente. Na verdade, não foi preciso mais que uma semana pra eu reconhecer que você era inteligente, tão inteligente quanto eu. — Sorri com pesar e lágrimas se depositaram nos cantos dos meus olhos. — E eu percebi que você tinha algo que eu nunca tive: você tinha senso de humor, era engraçado, amigável, gentil. Você também sempre foi forte, não deixou que as desavenças com sua família te transformasse em alguém amargo como eu — confessei sem conseguir controlar algumas lágrimas. — Nós éramos de certa forma iguais, éramos inteligentes, mas fomos rejeitados pela família; e ao mesmo tempo éramos opostos porque você lidou de maneira inteligente e eu lidei da maneira mais idiota que existe. Eu culpei aos meus pais por eu ser daquele jeito, "se não tivesse sido expulso de casa eu não trataria as pessoas assim", era o que eu dizia a mim mesmo como justificativa. — Eu engoli seco. Aquela seria a parte mais difícil, mas eu precisava continuar. — Então meu olhar pra você mudou rapidamente de raiva pra admiração. É claro que não aceitei isso, apesar de ser um cientista que descarta uma teoria ao primeiro sinal de refutação isso nunca se aplicou aos sentimentos. Eu neguei que estava começando a desenvolver sentimentos por você e... Eu passei boa parte dos meus dias te olhando às escondidas. Eu nunca tive coragem de admitir pra mim mesmo que estava errado sobre você e então eu tive que sair do Star Labs e desde aquela época não tem um dia que não pense em você. — Fiquei em silêncio durante alguns segundos. — Talvez você não acredite, você tem todo o direito. Depois do show que você acabou de dar, eu só quero te pedir é que você não deixe a raiva e o ódio te transformar naquilo que você sempre desprezou: eu. Você está agindo como eu agi. Não quero que se torne um babaca como eu era. — Quando terminei eu sentia a garganta seca, tinha chorado enquanto falava, sentia-me exposto e confessar tudo aquilo foi como a confirmação de uma verdade que eu sempre negara: Hartley Rathaway admirava Cisco Ramon. Não tinha mais como eu negar isso.

Cisco ajoelhou-se com dificuldade e me encarou.

— Por que você só fala isso agora, Hartley? — ele perguntou levantando-se do chão. Virou-se de costas e levou as mãos até os cabelos, os puxou com força antes de voltar-se para me encarar, deixou as lágrimas caírem. — Por que simplesmente não chegou perto de mim e disse isso? Você me conhece, eu nunca teria contado a ninguém. Nós podíamos ter sido amigos, ou pelo que você disse podíamos ter sido algo mais! Por que só me falar isso agora?! — Cisco gritou chorando ainda mais.

— Eu já disse. — Encolhi os ombros e assisti as lágrimas rolarem. Era dolorido. Eu não sabia o que fazer. — Eu já vou indo... — eu disse, uns segundos depois, não fazia mais sentido continuar ali, Cisco me odiava outra vez.

Mas antes que eu pudesse sair eu senti Ramon segurando meu pulso, era um toque fraco, como se fosse um lembrete de que eu deveria continuar ali apesar de tudo. Fiquei em silêncio até que ouvi Cisco dizendo meu nome fracamente e ele se aproximou e me surpreendeu ao deixar-se cair nos meus braços. Fiquei em choque ao sentir suas lágrimas molhando o tecido fino da minha camisa social. A única coisa que eu via era Cisco aos prantos e a única coisa que ouvia eram seus choros rasgados que rompiam o silêncio da rua. Acariciei os fios negros e permaneci ali até o choro ficar tão baixo que não ouvia mais. Eu não saberia dizer quanto tempo durou. Não soube se alguém passara na rua e vira aquela comoção, eu só conseguia olhar pra Cisco e ouvi-lo. Eu sentia as dores da decepção, da agressão e também a dor de vê-lo naquele estado de enorme dor psicológica.

Eu não sabia porque Cisco tinha me usado pra acalmar a si, mas eu estava agradecido por Cisco confiar em mim a ponto de me permitir consolá-lo. Quando o abraço findou e nós nos separamos eu fitei a boca do menor. Seria fácil tomar os lábios cheios e rosados naquele momento, mas afastei o pensamento, sabia que não era um bom momento; aliás, eu sabia que se tratando de Cisco Ramon talvez nunca haveria uma boa hora para eu beijá-lo.

— Então, Cisco, você quer tomar um café? — questionei ao ver que ele parecia desconfortável depois de tudo. — Assim a gente pode conversar com mais tranquilidade e você se acalma.

Pra minha surpresa o latino aceitou e nós achamos um café no fim da rua. Eu fui até o banheiro lavar meu rosto que ardia e quando voltei Cisco já estava sentado segurando uma caneca com as duas mãos; tentei ignorar o quão fofo aquela cena era, mas não consegui impedir que um sorriso brotasse no canto dos meus lábios. Sentei-me na frente de Ramon que me olhou.

— Eu pedi descafeinado. — Cisco empurrou uma caneca na minha direção. — Espero que não se importe.

— Tudo bem — eu disse enquanto secava o rosto machucado com um lenço. — Eu não quero ficar acordado esta noite mesmo.

— Desculpe por isso. — Cisco apontou pro meu rosto.

It’s ok. — Eu bebi o café. — Não é a primeira vez que eu apanho na rua.

Cisco engoliu seco ao ouvir a frase.

— Não deve ter sido fácil ter se assumido.

— Não foi... — eu disse e sorri. — Mas chega um momento em que você tem de viver a sua verdade, mesmo que nem todos concordem com ela.

O latino me encarou por alguns segundos até que um leve sorriso brotou de seus lábios.

— É... — Cisco concordou e depois começou a falar com certa dificuldade. — Hartley, o Barry tá no meu apartamento e a última coisa que eu quero é vê-lo… se não fosse te incomodar muito você deixaria eu passar essa noite na sua casa?

Meus batimentos cardíacos aumentaram, não que eu estivesse com segundas intenções, ainda mais vendo o estado dele, mas fiquei animado com a ideia de tê-lo na minha casa; contive o sorriso ao encará-lo.

— Claro, Cisco, você é bem-vindo.

Assim que eu terminei de falar o atendente se aproximou de nós dois e disse que éramos os últimos clientes do café. Nunca recebi uma indireta mais direta que essa.

— Não precisava ter pagado meu café! — Cisco reclamou enquanto caminhávamos de volta até o prédio onde meu carro estava estacionado.

— Eu te chamei, Cisco. Eu pago! — eu disse dando uma risada e entrei no carro.

Durante todo o trajeto Cisco permaneceu em silêncio. De vez em quando eu o olhava, mas não forcei nenhuma conversa, eu sabia que o latino precisava de um pouco de espaço naquela situação. Só quando chegamos no prédio onde ficava meu apartamento foi que eu anunciei tirando Cisco de seus pensamentos. Ele me seguiu pelo estacionamento, elevador, corredor, até chegarmos em frente a porta onde eu tirei uma chave do bolso. Liguei uma luz e fechei a porta após  entrarmos.

— Essa sala é maior que meu apartamento inteiro! — o latino comentou enquanto olhava pra todos os lados da sala.

— Exageros da senhora Rachel — falei, pois tinha sido minha mãe que havia comprado aquele apartamento e o decorado. — Fique a vontade — eu disse antes de entrar em uma porta.

Voltei pra sala com uma mala onde havia curativos, soluções antissépticas, bandagens e gel anestésicos. Cisco já estava acomodado em um sofá e eu me sentei ao seu lado. Ele segurava um porta-retrato entre as mãos, era uma foto recente onde eu estava junto com meus pais.

— Você parece bem, Hartley — Cisco comentou enquanto eu segurava um espelho pra conseguir tratar as feridas do meu rosto. — Por que estava em um grupo de apoio?

— Oh, isso? — Olhei pra Cisco. — Foi ideia de Rachel, minha mãe e meu pai, Osgood. Eles começaram a frequentar essas reuniões, foi por isso que me aceitaram de volta — expliquei. — Acharam que seria legal se eu monitorasse uma reunião já que eu vivi uma situação difícil com eles.

— Hm. Eu estou indo há alguns meses; nunca tinha te visto lá antes.

— Hoje foi a minha primeira reunião.

— E você pretende continuar?

— Não sei, eu gostei. Mas eu tenho outros planos.

— Desculpe — Cisco falou de repente.

Desviei o olhar do espelho para o fitar.

— Desculpe ter te batido. Eu não sei onde estava com a cabeça.

— Você estava com raiva, Cisco. Além disso, eu já fiz coisas piores com você.

— Independente do que você tenha feito comigo eu não tinha o direito de te agredir. Eu estou morrendo de vergonha por ter feito isso.

— Eu já te perdoei, Cisco — assegurei e trocamos um olhar tão longo que chegou a ser desconfortável.

Cisco me encarou novamente e mordeu o lábio nervoso.

— Posso?

Ao notar a intenção do latino eu pousei o espelho na mesinha de centro e passei a gaze molhada de antisséptico pra Cisco. Eu estremeci quando Cisco retirou meus óculos, o latino sentou-se na mesa de centro na minha frente pra limpar meu rosto. Eu arfei ao vê-lo tão perto. Eu já tinha abraçado o menor mais cedo e ainda recebia os cuidados dele na mesma noite? Eu achei que fosse infartar se fosse julgar pelo quão rápido meus batimentos estavam. A saliva se acumulava na minha boca enquanto eu fitava os lábios cheios do latino.

— Melhor? — Cisco perguntou quando terminou de limpar e esticou o braço pra pegar curativos na maleta com os primeiros socorros.

Eu sorri, só o fato dele estar ali já me deixava bem, ser cuidado por ele então... Nunca estive melhor.

It's ok, Cisquito. — Arrisquei o apelido e me surpreendi ao ver um sorriso tímido surgir nos lábios de Cisco.

Ele pôs os curativos e me encarou.

— Desculpe — Cisco falou de novo.

— Tudo bem, Cisco. — Coloquei a mão no ombro do menor. — Às vezes a dor é tão grande que pode nos cegar.

Cisco que encarava o chão levantou os olhos e nos encaramos. Ele estava sentado bem na minha frente e bem próximo. A minha mão continuou pousada no seu ombro.

Eu sabia que não teria outras chances de fazer aquilo, sabia que Cisco estava vulnerável e que quando o latino se reconciliasse com os amigos não ia ter brechas pra mim na vida dele. Meu peito apertou ao pensar nisso, por fim decidi não perder aquela oportunidade, mesmo que Cisco saísse correndo da minha casa, era melhor me arrepender de ter tentado do que viver na angústia do poderia ter sido. Eu já tinha fodido tanto com a vida dele, o que era um beijo roubado perto de uma explosão e meses de bullying no trabalho?

Com rapidez beijei Cisco, senti a maciez da pele do outro que entreabriu os lábios me dando passagem, mas não mostrou nenhuma outra reação e eu me afastei olhando pra baixo com vergonha.

— Desculpe — murmurei retirando a mão de seu ombro.

Alguns segundos depois eu senti algo macio e quente no meu queixo, Cisco levantou meu rosto com delicadeza. Eu pude encarar seus olhos, ainda tinha pista do seu choro, mas eu estava mais ocupado reparando em como a cor castanha dos seus orbes era bonita e como combinava com sua pele bronze. O latino suavizou as sobrancelhas, e voltou a sua típica expressão leve.

— Não peça desculpas, Hart... — Cisco disse descendo os dedos do meu queixo para o meu pescoço e se aproximou tanto que eu senti o roçar dos seus lábios. — Desde que o Dante morreu essa é a primeira vez que eu me sinto bem.


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Notas finais do capítulo

Hello again~

Esse casal significa muito pra mim ♥
Eu fiquei com raiva do Cisco nessa fanfic porque ele bateu no meu Hart ;-; (A doida que fica com raiva sendo que foi ela quem escreveu)
Eu estava revendo o episódio 2x17, lá percebi que o Hartley já sabia a identidade do Barry (erro meu :v sorry)
Cuide bem de você mesmo, você é muito importante ♥

Até a próxima!



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