Se cada Sakamaki fosse um pecado, Reiji seria ou a inveja, ou o orgulho.

E sim, tinha bastante senso crítico para saber disso. Não gostava de admitir, mas sabia os defeitos que tinha e o quão graves eram.

E é por isso que precisava admitir que Lúcia estava certa.

Era um grave defeito continuar carregando ódio dentro de si.

E ele não gostava de ter defeitos.

Por isso procurou Shu.

—Quero falar com você.

Ele nem abriu os olhos.

—Diga.

Reiji respirou fundo. As palavras custavam a sair. Era o momento mais difícil de sua vida.

—Me perdoe.

Shu abriu os olhos e os arregalou, sentando no sofá completamente chocado.

—Quê? Como? Hein?

—Me perdoe por Edgar. Pelo vilarejo. Por nossa mãe.

—De onde veio isso?

—Conversei com a Lúcia e refleti sobre algumas coisas.

—Ela teve um impacto tão grande assim?

—Sim. Pensei sobre a situação dela. Ela não tem mais nada nem ninguém. E eu tenho irmãos e uma casa. Ela me fez ver o quanto meu ódio não está acrescentando nada. Eu fiz coisas horríveis para te ferir e no fim não senti satisfação nenhuma. Está na hora de deixar o passado para trás. Por muito tempo te culpei por minha mãe não me dar atenção mas a culpa era dela, e minha também por sentir falta de alguém que nunca me deu afeto. Quero deixar aquela criança triste para trás e só vou conseguir se parar de odiar você.

Shu ainda estava mudo de surpresa.

—Sei o que fiz. Sei o tamanho do que fiz. E por isso entenda que vai demorar para que processe tudo o que disse. Mas se um dia sentir que está pronto... Se sentir que quer tentar... Aqui estarei.

Ele iria sair mas Shu o interrompeu.

—Eu quero! Eu preciso tentar! Eu nunca quis que me odiasse Reiji! Não vai ser hoje... Vai levar tempo para por uma pedra no passado mas saiba que quero essa chance.

Reiji pela primeira vez em muito tempo sorriu para Shu.

Sim, muita coisa tinha acontecido.

Muitos erros cometidos.

Ainda havia dor e mágoa.

Mas Reiji e Shu ainda eram irmãos e eram fortes o suficiente para serem aquilo que sempre deviam ter sido.

Unidos.

FIM