Quantas voltas escrita por DiHen Gomes


Capítulo 78
78 - Arnaldo




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Fazia tempo que não ia na Terapia. Apesar de o novo pastor falar duro, sei que é usado por Deus e quer nosso bem. Mas ainda assim é difícil aceitar tudo que ele diz, ainda mais nesse sotaque estranho. Parecia ser tudo uma indireta, ou melhor, direto para mim, mas como esse pastor não me conhece, creio que foi algum alerta.

Você fica aí encucado em achar uma mulher que seja do jeito que você quer, na questão de aparência. Você só tem olhos para as que encaixam no seu perfil e não deixa Deus trabalhar. Você só se interessa pelas raparigas mais bobinhas, que não tomam frente, né? E tem quem vê só quem tem aquela cabeleira ó, lisa (mas é chapinha), olhos claros, talvez você só vê as dos puxadinhos… E a bênção que Deus tem pra você pode ser totalmente o oposto. Eu tenho um colega pastor lá da minha terrinha que só namorava as baixinhas de olhos de japonês antes de vir para a igreja, e pra mode saber, faz um mês que conseguiu se casar, mas foi com uma obreirona afro mais alta que ele! De Deus!

Tudo bem, cada um é cada um. Ainda creio que minha bênção é essa japonesinha baixinha!

Há umas três semanas estive esperando um sinal verde da Heloísa, e finalmente o recebi. Quase um mês depois que levei aquele fora na frente da escola, ela aceitou tomar um açaí comigo depois da Terapia, no mesmo lugar onde íamos quando estávamos juntos. Oro a Deus para que seja feita a vontade dele. Não quero mais quebrar a cara.

Mas espero que a vontade dele seja a mesma minha!

— Então…

Não está fácil arrumar assunto. Ficamos tanto tempo sem nos falar, e agora não sei o que conversar. Então falamos sobre qualquer coisa, como filmes, o tempo e a situação do país, o que parece deixar a Heloísa entediada. Ela nem me olha nos olhos por mais que alguns segundos. Ela termina sua taça primeiro e olha para os lados. Meu celular toca quando estou quase desistindo de continuar aqui.

— O que aconteceu, Bia? … Meu Deus! Eu… eu vou. Já vou. — Você me desculpa, Helô, o papo tá bom mas a gente precisa ir. Talvez a gente saia de novo, não sei, mas aconteceu uma emergência e eu preciso ir ao hospital.

— O que aconteceu?

— Minha irmã. A única que sobrou da minha família, tá lá e… não tá bem. Eu vou com você até o terminal. Vamos?

— Arnaldo, vou sim, mas preciso que você saiba, eu estou focada em outra coisa agora, tá? Não é momento de… a-hem… vida sentimental.

Já imaginei que ela diria isso. Mesmo assim, o baque é forte. Quase vaza pelos olhos.

— Mas é isso aí, Arnaldo. Vai ver sua irmã, ela precisa de você. E não se preocupe com vida sentimental agora. Deus vai te abençoar na hora certa e com a pessoa certa.

Pago o açaí e vamos. No terminal nos despedimos de maneira fria, mas não estou me importando tanto nesse momento, Minha irmã teve um ataque e pode morrer a qualquer momento, mas isso a Heloísa não precisa saber.

Quando chego no hospital, recebo a última notícia.

É tarde.

Agora não tenho mais família.


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