Quantas voltas escrita por DiHen Gomes


Capítulo 56
56 - Heloísa




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Foram semanas de trabalho duro. Com certeza hoje na vigília a igreja estará cheia. Todos os grupos se empenharam nessa missão, não só os jovens. É verdade que a Ariana deu piti uma vez, mas depois que me contaram sobre a ex-patroa dela, entendi. Acho até que teria uma reação parecida. Mas foi só um dia. Depois ela voltou a ir com a gente evangelizar, e continuou sendo um exemplo para mim. Aprendi muito sobre como tratar as pessoas. Entendi porque ela se preocupa tanto em tratar bem os outros. Isso é dar sem esperar receber.

Onze horas. Primeira vez que fico na primeira fila de cadeiras, bem perto do altar. Hoje será especial, pois não foi a toa que me dediquei tanto nesses dias. Hoje quero algo a mais.

Os jovens e evangelistas ocupam as primeiras cadeiras, o que não seria possível se chegássemos atrasados. A igreja lotada parece até suar. Os ventiladores não dão conta do calor. É tanta gente que desisto de ficar olhando para trás para procurar minha mãe. Deixo de falar até com o jovem novo (e esquisito) ao meu lado para me concentrar. Agora somos só eu e Deus.

Aproximo-me ainda mais do altar quando é quase meia-noite, antes de participar pela primeira vez da Santa Ceia. Nem reparo se vai mais alguém quando o pastor chama quem quer uma vida nova.

Peço perdão por tudo que fiz de errado na minha vida. Por ter me mutilado, fazendo mal ao próprio corpo. Por ter marcado meu corpo de forma permanente com esses símbolos de morte. Por ter sido tão boba de dar mais valor a um rapaz (lindo, mas humano) que a Deus. Por ter destratado meu pai por tanto tempo. Por ter escolhido amigos que me abandonaram e ainda me afastaram do único que nunca me abandonou. Conto tudo, tudo que nunca falei nem para minha mãe. Nem para a obreira Ariana. Vem à minha mente a questão se Deus pode suportar todo esse desabafo, mas ignoro e continuo colocando tudo para fora. Sinto um peso saindo do meu coração, e uma coisa diferente entra. Uma alegria. E a vontade de consertar tudo que posso. É como se Deus estivesse falando que me ama. Como se sua voz fosse audível na minha mente. Alguém que me ama, mesmo depois de ter feito tudo que ele não gosta. Dos meus olhos escorrem lágrimas na beira da pedra do altar.

Deus me ama!

*

Depois da vigília, saio cumprimentando todos os jovens, até mesmo os novos.

— Aôo, gata, meu nome é Felipe, e o seu?

Qual é a desse rapaz? É o que estava do meu lado na primeira fila. Nunca vi antes. Depois de apertar sua mão e levar dele um tapa no braço, vou cumprimentar a Ariana, que não aceita só um aperto de mão. Ela me abraça como se fosse Deus me abraçando durante a oração.

— Helô, como você está?

— Nem sei como dizer, obreira! Tô leve, nova. Diferente.

Ainda falando com a Ariana, vejo um casal chegando por trás. Minha mãe e… meu pai! Não penso duas vezes e vou diante dele, vermelha, sem saber como começar.

— Me desculpa. Pai.

Quantas emoções! Mais um abraço apertado, este triplo, pois minha mãe também nos envolve.

— Helô, eu que preciso pedir perdão. Eu que preciso que você me aceite de volta, pois quero ser o pai que você esperava que eu fosse.

Essa vigília não foi só uma mudança no último dígito do calendário. Foi uma mudança na minha vida.


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