Quantas voltas escrita por DiHen Gomes


Capítulo 4
4 - Arnaldo




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Kleverson some de vista, já que o ponto de ônibus aonde ele vai fica na rua perpendicular.

Mais uma oportunidade perdida. O que está acontecendo comigo? Conheço a verdade desde pequeno. Meus pais, que estão entre os obreiros mais dedicados da igreja lá da sede, sempre me incentivaram a permanecer na fé. Sempre vi de perto o belo trabalho deles e de seus colegas. E até pensava em, no futuro, me tornar um deles.

Agora que tenho a oportunidade de fazer o que eles fazem, e estender a mão a alguém que precisa, simplesmente omito a solução. Parece que escondo só para mim que conheço o único que pode mudar aquela situação. Um sentimento até egoísta. Às vezes chego a pensar se realmente conheço… Não, tá amarrado!

Paro de alimentar pensamentos de dúvida. Tudo é pela fé. Certeza. Tenho certeza de quem creio, pois o conheci, sim! Quem pode dizer que não? E preciso estar na fé para continuar a cumprir o meu chamado.

O trajeto está planejado: só vou passar uma água no corpo, comer umas bolachinhas e partir para a guerra. É dia de espalhar a Palavra nas casas. Meu líder faz isso com tanto amor que até me incentiva a fazer. Sim, sei que haverá uma recompensa no futuro, mas, para dizer bem a verdade, não sinto esse amor todo pelas almas. Quero o bem de todos, mas abrir mão de mim por outra pessoa, não me parece inteligente. Se devo amar ao próximo como a mim mesmo, então eu devo amar a mim mesmo antes, senão não tem como amar o próximo! Mesmo assim, disposição não me falta.

Graças a Deus.

Minha mãe faz umas bolachinhas tão boas que, se eu não cuidar, perco a hora! Seus sequilhos derretem na boca, e eu aprecio devagar para durar mais o gosto.

Chego em cima da hora. O pessoal já está de saída.

*

— Boa tarde, senhora! Aceita um jornal?

— Pode deixar aí no portão, depois eu pego.

— Tá bom. Tchau.

Por que é mais fácil falar de Jesus com um desconhecido do que com um amigo tão chegado quanto um irmão? Por exemplo, sábado falei tão naturalmente com uma jovem que estava lá na avenida chorando, claramente sofrendo, e certamente fui usado ali.

Entre uma casa e outra, penso em Kleverson. O que falta na vida dele é exatamente o que estou levando a essas pessoas que, em sua maioria, desprezam com toda a força. Quantas vezes pensei que esse trabalho que faço nas casas é tempo perdido? Nunca vi ninguém que chamei pegar firme.

— Boa tarde, dona. Posso te entregar um jornalzinho bacana?

— Oh, meu fi, pode! Já vou aí…

A senhora de idade anda encurvada e a passos lentos. Enquanto ela se aproxima, meus pensamentos não se afastam de Kleverson. Uma alma que sei que precisa de ajuda, e não ajudo.

— Oi, tudo bem? Aqui, para a senhora conhecer o trabalho da igreja. E também tenho um convite para a senhora ir participar com a gente. De repente a senhora tem algum problema já faz tempo, e não consegue resolver, alguém doente na família, alguém no vício, qualquer problema. Nós podemos te ajudar.

— Ah, muito obrigada, fi. Deus abençoe.

E ainda digo que somos grandes amigos.


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