Quantas voltas escrita por DiHen Gomes


Capítulo 34
34 - Heloísa




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Sem o Arnaldo nada mais tem graça. Ninguém na igreja liga para mim, mas, mesmo assim, tentei ir. Fui hoje na sede, para não ter que ver Arnaldo nem seus amigos. Com certeza nem notaram minha falta lá na do Mazini. Nenhuma mensagem perguntando sobre mim. Volto para casa a pé e deslizando o feed de notícias do Facebook durante a longa caminhada. Que chatice!

Ao chegar em casa vou direto para meu quarto e me tranco. Minha mãe nem pergunta nada também. Trancada ligo o som no último. Um álbum que não ouço há meses.

Am I that unimportant?

Am I so insignificant?

Isn’t something missing?

Isn’t someone missing me?

Even though I’d be sacrifice

You won’t try for me, not now.

Though I’d die to know you loved me

I’m all alone…

De bruços na cama sinto o vazio apertado aumentando dentro de mim. Uma dor na alma! Derramo-me em lágrimas no travesseiro sem conseguir tirar a rejeição de Arnaldo de meus pensamentos. Tudo foi uma mentira. Alegria é só fachada. Paz é uma ilusão. Amizade é uma encenação. Ninguém está nem aí para o próximo.

Alguém bate à porta, mas finjo não ouvir. Está trancada mesmo. Levanto-me para fechar a janela também, quando me lembro de um pequeno baú que está na última gaveta do criado-mudo, que não abro há meses. Havia um diário no qual escrevia todas as minhas tristezas e assinava com sangue. Sim, havia também algumas lâminas. Para minha surpresa, está tudo ali, intocado. A lâmina é tentadora. Sei que vai doer muito, mas a dor do abandono nem se compara.

Toco a lâmina no pulso esquerdo. Lágrimas escorrem do meu rosto e pingam no meu colo. Faz tempo que não faço isso, não sei se ainda tenho coragem. Oh, Deus, por quê? Por que me sinto assim? Eu não queria me sentir assim! Roço a lâmina e começo a relembrar meu passado e todas as suas tristezas.

Por todos os cortes que marcaram meu braço, nem sinto mais tanta dor. Por isso vou apertando mais até escorrer o sangue e manchar meu jeans com vermelho vivo. Não penso em nada além do passado. Aperto um pouco para sentir mais, e faço o corte mais profundo que já fiz em toda minha vida, mas ainda sai pouco sangue. De repente começo a sentir uma tontura e ouço um barulho alto, mas não consigo me virar para ver o que é.

Apago.


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